CDC identifica primeiros casos de HIV transmitidos através de agulhas cosméticas

Os pacientes receberam tratamentos faciais em um spa.

Por Zachary Stieber
02/05/2024 02:29 Atualizado: 02/05/2024 02:29
Matéria traduzida e adaptada do inglês, originalmente publicada pela matriz americana do Epoch Times.

Várias pessoas contraíram o vírus da imunodeficiência humana (HIV) através de agulhas cosméticas após receberem tratamentos faciais em um spa não licenciado no Novo México, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC).

Três mulheres que receberam tratamentos faciais com microagulhamento com plasma rico em plaquetas (PRP), também conhecidos como tratamentos faciais de vampiro, no spa contraíram o HIV e uma investigação apontou os tratamentos faciais como método de transmissão, as informações estão no novo estudo  dos cientistas do Estado e do CDC.

O spa em questão, VIP Salon, já fechado, foi apelidado de spa A no jornal.

“Esta investigação é a primeira a associar a transmissão do HIV a serviços de injeção de cosméticos não esterilizados. Uma exposição comum entre clientes do Spa A que não possuíam comportamentos associados à aquisição do HIV ajudou a identificar uma possível associação de agrupamentos [ou seja, através de uma técnica chamada Clustering, foi encontrado um padrão comum entre os clientes] e a análise dos dados adicionais sugeriu que a transmissão do HIV provavelmente ocorreu através da recepção de PRP com procedimentos faciais de microagulhamento”, disseram os cientistas, que trabalharam com as Autoridades de Saúde do Novo México.

A origem da contaminação permanece desconhecida.

Os tratamentos faciais com microagulhamento PRP envolvem tirar sangue de uma pessoa e separar o PRP. Em seguida, uma microagulha faz furos na pele da pessoa e o PRP é aplicado nos furos.

As autoridades do Novo México anunciaram em 2019 que estavam investigando o VIP Spa depois de pessoas contraírem o HIV após visitas ao spa. As autoridades estavam oferecendo testes gratuitos para qualquer pessoa que recebesse tratamentos, incluindo tratamentos faciais com microagulhamento.

Uma fiscalização das autoridades levou ao encerramento do VIP Spa após a identificação de práticas inseguras.

Maria de Lourdes Ramos de Ruiz, ex-proprietária do spa, foi posteriormente acusada de crimes, incluindo praticar medicina sem licença. Ela se declarou culpada em 2022 de cinco acusações.

“Este é um aviso para aqueles que colocam o lucro acima da saúde e segurança dos consumidores do Novo México. Eu continuo muito preocupado com o fato de esses procedimentos não estarem sendo regulamentados nos níveis estadual e federal”, disse o procurador-geral do Novo México, Hector Balderas, na época.

Investigação

Autoridades do Novo México descreveram anteriormente dois casos de HIV entre clientes de spas. Uma investigação mais ampla identificou pacientes adicionais, disseram cientistas do Estado e do CDC no novo artigo.

Através de chamadas, inquéritos e outros métodos, as autoridades encontraram cinco pessoas com HIV, quatro das quais receberam microagulhamento no spa em 2018. A quinta mantinha relações sexuais com um cliente do spa. A análise do sangue dos pacientes mostrou que seus casos estavam todos relacionados ao Spa.

Os casos envolvendo homens e mulheres numa relação sexual eram de fase 3 ou HIV crônico, o que sugere “que as suas infecções foram provavelmente atribuídas a exposições antes de receberem serviços de injeção cosmética”, segundo os cientistas.

Mas não foram descobertas explicações alternativas para as infecções entre as outras três pacientes do sexo feminino.

“Os outros três pacientes deste grupo não tinham contato social conhecido entre si e nenhum mecanismo específico de transmissão entre estes pacientes foi confirmado”, disseram os cientistas. “As evidências sugerem que a contaminação de uma fonte indeterminada no spa durante a primavera e o verão de 2018 resultou na transmissão do HIV-1 a estes três pacientes.”

O HIV é um vírus que ataca o sistema imunológico e pode causar a síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS) se não for tratado. Os sintomas incluem dor de garganta, fadiga e úlceras na boca. A maioria das pessoas que contraem a doença são gays ou bissexuais. Embora não haja cura para o HIV, ele pode ser controlado através dos tratamentos disponíveis.

Quase 200 outros clientes do spa e seus parceiros sexuais foram testados até 2023 como parte da investigação, mas nenhum deu positivo para HIV, hepatite B ou hepatite C, de acordo com o jornal.

As descobertas destacam a importância de procurar “novas fontes de transmissão do VIH entre pessoas sem fatores de risco de HIV conhecidos”, afirmaram os cientistas.

Também incentivaram as instalações a implementar práticas de controle de infecções para tentar prevenir a transmissão de agentes patogênicos transmitidos pelo sangue.

Resultados de inspeção

Quando o spa foi inspecionado em 2018, as autoridades constataram práticas preocupantes.

No balcão da cozinha, por exemplo, havia uma centrífuga, um banho seco aquecido e uma prateleira de tubos sem rótulo e com sangue.

Em uma geladeira onde se guardava alimentos, as autoridades encontraram tubos de sangue sem rótulos, além de injetáveis ​​médicos, como Botox.

As seringas desembaladas estavam localizadas em vários lugares, inclusive em gavetas.

Não havia esterilizador a vapor e alguns itens destinados a serem descartados ​​foram limpos e reutilizados pelos funcionários do spa, disseram as autoridades.

A investigação foi prejudicada por registros desorganizados, inclusive pela falta de sistema de agendamento de consultas, segundo o jornal. Esses sistemas geralmente incluem informações de contato dos clientes. Os investigadores vasculharam registros manuscritos e outros documentos para identificar pessoas que podiam ter sido submetidas ao procedimento de microagulhamento.

“Registros incompletos de clientes de spa representaram um desafio substancial durante esta investigação, necessitando de uma abordagem de divulgação em larga escala para identificar casos potenciais, em vez de uma comunicação direta com todos os clientes”, disseram os pesquisadores. “Exigir a manutenção de registros dos clientes de maneira que seja possível garantir o rastreamento adequado por parte de empresas regulamentadas que fornecem serviços de injeção poderia garantir a condição adequada para conduzir o rastreamento.”