China: a parceria corrupta, mas mutuamente benéfica, entre poder político e educação

06/02/2018 22:41 Atualizado: 06/02/2018 22:41

As autoridades chinesas são conhecidas por usarem os estratagemas mais criativos para acumular riqueza ilícita, mas recentemente outro tipo de fraude foi identificada: forjar suas credenciais acadêmicas.

Uma revista estatal chamada “Half-Month Talk” publicou um artigo em 26 de janeiro detalhando como 142 funcionários do alto escalão, que foram purgados por envolvimento em corrupção desde a última transição da liderança do Partido Comunista Chinês, teriam falsificado seus antecedentes acadêmicos.

Desde o 19º Congresso Popular Nacional em 2012, Xi Jinping assumiu o poder como líder principal do Partido Comunista Chinês e lançou uma ampla campanha anticorrupção para se livrar de funcionários que demonstraram má conduta.

Muitos deles tinham diplomas em campos fora de suas experiências de trabalho. Por exemplo, o ex-chefe do Ministério da Segurança Pública, Wu Changshun, nunca deixou o campo da polícia, mas recebeu um mestrado em administração de empresas (MBA) e um doutorado em engenharia, num campo muito específico de design de máquinas.

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Enquanto isso, um ex-vice-governador da província de Yunnan, Shen Peiping, se graduou em língua chinesa, mas recebeu um doutorado em geografia de uma universidade de renome em Pequim. Cinco meses depois, ele foi contratado por essa instituição para ser professor em seu instituto de recursos naturais.

Outros receberam diplomas de ensino superior em períodos de tempo surpreendentemente curtos. O ex-secretário do Partido Comunista na província de Hebei, Zhou Benshun, recebeu um diploma de direito num prazo de um ano da Universidade de Wuhan.

De acordo com o currículo do ex-chefe do Departamento dos Trabalhos da Vanguarda Unida na província da Mongólia Interior, Wang Suyi, ele estava estudando para um doutorado em teoria jurídica e um MBA ao mesmo tempo.

Esses funcionários querem usar suas credenciais acadêmicas como um meio de conseguir prestígio e para aumentar suas chances de promoção política, enquanto as universidades e as instituições de ensino superior estão ansiosas para agradá-los porque as autoridades têm o poder de alocar recursos para elas, de acordo com um especialista do Instituto de Pesquisa da Educação do Século 21, baseado em Pequim, citado no artigo da “Half-Month Talk“.

Este tipo de troca de favores beneficia ambos os lados: as instituições de ensino estabelecem as conexões políticas que precisam para prosperar na China, enquanto as autoridades têm como “substanciar” suas capacidades.

Alguns funcionários vão ainda mais longe. O ex-prefeito de Nanjing, Ji Jianye, obteve um doutorado numa universidade de prestígio na província de Jiangsu enquanto também servia no conselho da instituição. Ji Jianye poderia ajudar a universidade a obter recursos por meio de seu cargo no governo enquanto sua posição no conselho universitário garantia vagas preferenciais para seus filhos no futuro.

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