O Partido e a profissão: abuso de transplante de órgãos na China

A profissão global de transplante tem, lamentavelmente, se tornado parte do problema

09/11/2017 12:15 Atualizado: 21/06/2018 13:14

Uma análise da situação atual

O Partido Comunista Chinês (PCC) tem praticado há anos o assassinato em massa de prisioneiros de consciência com o objetivo de coletar seus órgãos. A evidência com relação a este crime é detalhada, consistente, verificável, corroborada e irrefutável. A maioria das informações sobre as quais as conclusões são baseadas provém diretamente de fontes oficiais chinesas.

A esmagadora maioria das vítimas tem sido praticantes da série de exercícios com base espiritual Falun Gong. Mas também têm havido muitas vítimas tibetanas, uigures e cristãs.

O Partido

Quando a China foi isolada do resto do mundo, o PCC simplesmente ignorou as críticas às suas violações maciças dos direitos humanos. Agora que a China está envolvida com o resto do mundo, ignorar as críticas não é tão fácil. Não abordar as críticas é possível e, de fato, comum em fóruns intergovernamentais ou bilaterais. Os delegados chineses enviados ao exterior para esses fóruns estão misturados no emaranhado de membros do PCC que passam despercebidos pelos críticos estrangeiros.

No entanto, hoje as permissões de saída do governo chinês não se limitam àqueles que o PCC considera ideologicamente afinados. Em parte, o envolvimento chinês com o resto do mundo tem possibilitado que um grande número de cidadãos chineses viagem para o exterior.

Aqueles que manifestaram o que o Partido considera impureza ideológica terão seu pedido de saída negado. Mas o ônus tem se invertido. Antes, uma pessoa tinha que provar o seu valor para que o Partido desse permissão para sair. Agora, uma pessoa tem que apresentar um dano já que causou ou que possa causar ao Partido para que tenha a autorização de saída negada.

As permissões de saída hoje não são apenas concedidas aos turistas. As licenças são concedidas a estudantes, empresários, profissionais que vão às conferências e assim por diante.

O PCC vê esta saída como benéfica: expande o comércio, adquire status, obtém conhecimento de tecnologia estrangeira e assim por diante. O líder chinês e secretário do Partido Deng Xiaoping disse: “Não importa se o gato é preto ou branco, contanto que ele pegue os ratos”¹. Este lema foi usado, de muitas maneiras, para impulsionar o sistema comunista chinês para o topo. O PCC se tornou tão agressivamente internacionalista como era antes hermético. O que interessa ao PCC não é o meio, mas os fins, os benefícios produzidos.

O internacionalismo tem trazido muitos benefícios para a China. Mas para o PCC também houve custos. A exposição nacional chinesa ao mundo no exterior significou exposição das críticas ao PCC por suas violações dos direitos humanos.

A crítica ao PCC alcançou o ponto de não poder mais ser ignorada, como costumava acontecer nos velhos tempos, quando o PCC sabia que aqueles que deixavam o país defenderiam o PCC, a qualquer preço, em parte porque eram cúmplices dos próprios abusos de que estavam sendo condenados. A crítica ao PCC hoje deve ser respondida de alguma forma.

O PCC não pôde responder objetivamente às evidências de assassinatos em massa de prisioneiros políticos para obtenção de seus órgãos, pois essa evidência era irrefutável. Nem poderia conseguir que esta questão fosse completamente ignorada, devido à abordagem privilegiada de evidências irrefutáveis de violações em massa dos direitos humanos nos antigos dias herméticos. Logo, o Partido participou de uma variedade de técnicas evasivas.

As técnicas utilizadas foram:

Pretensão

Os funcionários do Partido e do Estado fingem que os investigadores escreveram algo diferente do que foi realmente escrito e discordam de declarações finais atribuídas falsamente aos pesquisadores. Uma atribuição falsa comum é a afirmação de que os pesquisadores confiaram em rumores.

No entanto, nenhuma investigação é baseada em rumores. Os funcionários do PCC e do Estado chinês chegam até a fazer citações falsas, produzindo declarações entre aspas para induzir que a pesquisa se baseia em rumores e, em seguida, alegar que essas citações vieram dos investigadores, mesmo que não tenham vindo.

Negação

Os funcionários do PCC e do Estado negam afirmações diretas e dados provenientes deles, mesmo quando as citações são gravadas e filmadas. As citações e os dados são todos arquivados, para que pesquisadores independentes possam acessar. O Partido-Estado ainda nega afirmações e dados de seus próprios funcionários, enquanto as citações e dados permanecem em sites oficiais.

Ataques aos pesquisadores

O Partido-Estado ataca a motivação dos investigadores, alegando que eles são anti-China. No entanto, uma pessoa verdadeiramente anti-China seria indiferente ao assassinato em massa de inocentes na China. Para o Partido-Estado, o que significa ser anti-China é o posicionamento contra o PCC. O Partido se identifica com a China. Mas a China e o comunismo são diferentes.

Alegam haver manipulação

O Partido-Estado afirma que os investigadores estão sendo manipulados. O argumento é que a comunidade que foi vítima não é realmente a vítima, mas sim manipuladores, estimulando os investigadores com pesquisas falsas no intuito de executarem as agendas políticas das comunidades supostamente manipuladoras. Para ser específico, o Partido-Estado afirma que os investigadores estão sendo manipulados pelo Falun Gong, tibetanos, uigures, cristãos, a fim de que promovam as agendas políticas destas comunidades.

Esta acusação ignora a gênese da pesquisa. Nem os dados nem o financiamento nem a diretriz para a pesquisa vieram destas comunidades. As comunidades vítimas estão compreensivelmente interessadas nos resultados que os investigadores produziram. Mas os dados e os resultados vieram do trabalho dos pesquisadores e não das comunidades vítimas.

De fato, a direção do fluxo é inversa. Os investigadores não estão repetindo o que as comunidades vítimas lhes disseram. As comunidades vítimas estão repetindo o que aprenderam com os pesquisadores. As vítimas, dispersas e desorganizadas, sabem o que aconteceu pessoalmente. Mas, para compreender o que está acontecendo contextualmente e de forma abrangente, eles tiveram de confiar no trabalho dos pesquisadores.

Falso atributo

Indo mais longe, o Partido-Estado ignora completamente os investigadores e acusa explicitamente as comunidades vítimas de serem a fonte da pesquisa. Esta falsa atribuição é feita paralelamente ao prosseguimento e intensificação da demonização da comunidade vítima, tipo de ataque que primeiramente a vitimizou.

A atribuição da pesquisa ao Falun Gong pelo Partido exigiu duas etapas. Falun Gong, como observado, é um conjunto de exercícios com base espiritual, o equivalente chinês do yoga. Atribuir investigação aos exercícios é um disparate. Então, a propaganda do Partido teve de dar um primeiro passo antes da atribuição, caracterizando todos aqueles que podem fazer os exercícios como um movimento político oposto ao Partido e, além disso, um “culto do mal”.

Estatísticas sem sentido

O Partido-Estado às vezes “tira o coelho da cartola” perante as estatísticas para tentar afirmar que o trabalho dos investigadores está errado. Por exemplo, eles afirmam que o volume de drogas antirrejeição usadas na China evidencia que os volumes de transplantes devem ser muito inferiores aos volumes explanados pelos pesquisadores. No entanto, as estatísticas que o Partido produz sobre o volume de medicamentos antirrejeição são apenas afirmações sem qualquer base verificável.

Exibições de Theresienstadt

O Partido-Estado guia visitas pré-organizadas para tentar mostrar aos visitantes que nada de insólito está acontecendo em seus hospitais. Os esforços são análogos ao esforço nazista para apresentar o campo de concentração de Theresienstadt, na Tchecoslováquia ocupada pelos nazistas, ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha. As visitas de inspeção sem aviso prévio e o acesso aos arquivos são proibidos.

Alavancagem política

Para instituições multilaterais, e bilateralmente, a China usa “músculo” político. A China interrompe todo discurso político ou qualquer tentativa de investigação. Qualquer investigação governamental ou intergovernamental sobre o abuso de transplantes na China significa confrontar a China diretamente, algo que a maioria dos governos e instituições intergovernamentais estão relutantes em fazer. Na verdade, a influência da China em alguns governos e em algumas instituições intergovernamentais é tal que possui poder de veto vigente ou efetivo, frustrando ações contrárias aos desejos do Partido.

Fontes falsas

O Partido reconhece que tem um problema: vastos números de transplantes de órgãos que requerem pelo menos alguma explicação sobre sua fonte. O Partido tem se atrapalhado há anos nesta explicação.

A explicação inicial foi doações, embora a China não tenha então um sistema de doação de órgãos. O Partido, então, abandonou a alegação de doação e mudou para de prisioneiros condenados à morte como a explicação para o abastecimento, sem divulgar, porém, as estatísticas da pena de morte. No entanto, a lei chinesa exige execução dentro de sete dias da sentença; além disso, existe uma epidemia de hepatite B em mais de 60% da população prisional criminal, tornando inúmeros órgãos inutilizáveis, e não existe um sistema de distribuição de órgãos para órgãos de prisioneiros.

O Partido, então, abandonou a explicação sobre prisioneiros com pena de morte e voltou à explicação da doação, fingindo que um sistema de doação que produz números pequenos está produzindo muito mais. Mais recentemente, o Partido acaba de desistir novamente desta versão, argumentando, agora, que os números que seus próprios hospitais produzem sobre o volume de transplantes não podem ser reais.

Cegueira proposital

Os transplantes de órgãos envolvem duas equipes médicas, a equipe de aquisição e a equipe de transplante. A equipe de transplante finge não saber o que a equipe de aquisição está fazendo.

Este pretexto de ignorância não justifica o sistema de matança, mas é usado para absolver a equipe de transplante. Esta desculpa é útil para o Partido-Estado, porque permite que o Partido-Estado promova a interação global com os profissionais das equipes de transplantes.

Elogio

O Partido-Estado atribui falsamente elogios provenientes de figuras com autoridade no tema de transplante. Neutras declarações profissionais são distorcidas. Ações profissionais internacionais despretenciosas são distorcidas para se converterem em endossos e aprovação das práticas chinesas de transplante.

Aprovação

Existem alguns endossos e aprovações profissionais reais sobre o que está acontecendo na China. A profissão de transplante global, com certeza, não endossa o assassinato de prisioneiros de consciência para obtenção de seus órgãos na China. No entanto, alguns profissionais estrangeiros de transplante se mantêm em silêncio sobre o abuso e levam a sério os pronunciamentos sobre reforma do Partido-Estado. O Partido-Estado então se esconde por trás do que eles afirmam ser aprovação internacional para negar os dados que os envolvem no assassinato em massa de inocentes.

Eu tenho elaborado em outros formatos sobre as dez primeiras técnicas². A seguir, quero abordar especificamente as duas últimas.

A profissão

Os profissionais de transplante contemporâneos e os profissionais de saúde mental enfrentaram problemas semelhantes, mas reagiram de forma bastante diferente. Na época da União Soviética, os profissionais de saúde mental enfrentaram globalmente a prática do abuso psiquiátrico na União Soviética e agiram intensamente contra ela.

Hoje, os profissionais de transplantes enfrentam globalmente o abuso da cirurgia de transplante na China comunista. No entanto, a resposta profissional global não tem sido nada enfática. A razão desta resposta diferente foi o tema que explorei em apresentações anteriores nesta academia.

A luta contra o abuso de transplantes na China enfrenta um paradoxo. Aqueles que estão fora da China que sabem mais sobre a situação e estão mais preparados para agir são os menos prováveis de ser efetivos em deter o abuso. Aqueles fora da China mais prováveis de ser efetivos no combate ao abuso sabem pouco ou nada sobre a situação e estão entre os menos preparados para detê-lo.

Os que estão fora da China que sabem mais sobre a situação e estão mais capacitados para fazer algo são os investigadores do abuso de transplantes, os pesquisadores sobre direitos humanos na China e os especialistas em assuntos estrangeiros da China. No entanto, o Partido considera tão fácil ignorar a sociedade civil no exterior quanto em casa. Os diplomatas da China operam a portas fechadas e se envolvem com os mais arrogantes membros do Partido, que são indiferentes até mesmo à crítica mais contundente e bem fundamentada.

Aqueles fora da China mais prováveis de ser eficazes são profissionais estrangeiros de transplantes, devido ao fato de poderem exercer pressão em seus próprios círculos profissionais. Mas, em geral, eles sabem pouco ou nada sobre a situação e estão portanto entre os menos capacitados a realizar uma ação significativa.

Os direitos humanos pertencem a toda a humanidade. Estes direitos deveriam ser garantidos a todos. No entanto, ainda existe essa coisa de ‘expertise em direitos humanos’ — conhecimento dos instrumentos internacionais de direitos humanos, familiaridade com o discurso e padrões de comportamento dos violadores dos direitos humanos, conhecimento das lições da história e assim por diante. Esta é uma expertise que os profissionais de transplante geralmente não possuem.

O discurso do Partido Comunista Chinês sobre o abuso de transplantes de órgãos é semelhante ao discurso sobre uma longa lista de outras violações bem documentadas: a Grande Fome de Mao, a Revolução Cultural, o Massacre da Praça Tiananmen, os abortos forçados e as esterilizações, as torturas, os campos de trabalho forçado, o tráfico sexual, a censura, as condições de prisão e assim por diante. Os profissionais de transplantes geralmente não estão familiarizados com o histórico de violações dos direitos humanos do Partido e o discurso de propaganda que o Partido tem praticado para se evadir.

A profissão global de transplante pode ser dividida em três grupos: o consciente, o ingênuo e o tolo. Os conscientes têm se preocupado em se esforçar para ler as pesquisas e perceber que o que está acontecendo na China com com relação aos transplantes de órgãos é, na verdade, um acobertado assassinato em massa de inocentes. Eles reagem conforme suas consciências, distanciando-se dos profissionais de transplantes chineses e incentivando os outros a fazerem o mesmo.

Os ingênuos não consideram a investigação e alegam que está fora da sua esfera de responsabilidade. Eles ouvem as conclusões da investigação, de um lado, e a propaganda do Partido Comunista Chinês, de outro lado, e não extraem conclusões de nenhuma forma sobre o assunto. Eles apoiam mudanças na China e aceitam alegações da China de mudanças.

Os tolos são fisgados pela propaganda chinesa e naufragam. Eles reproduzem o discurso do Partido de que as evidências da matança em massa de inocentes para a obtenção de órgãos para transplantes compiladas pela investigação são baseadas em rumores, apesar de não serem. Eles repercutem as palavras do Partido de que a investigação não é verificável, embora seja verificável e verificada. Eles repetem a declaração do Partido de que os abusos estão no passado, quando não estão. Eles fazem a absurda afirmação de que pesquisadores desinteressados são politiqueiros e que os funcionários do Partido Comunista Chinês são acadêmicos. Eles aceitam as fachadas de Theresienstadt como realidade. Eles endossam a mentira que os engana afirmando de todo o coração que aquela é a verdade do que está acontecendo na China.

A interação

Um custo específico do internacionalismo chinês para o Partido é o retrocesso global. Quanto mais chineses vão para o exterior, mais chineses envolvidos em abusos dos direitos humanos são os que vão para o exterior. Na verdade, os perpetradores são mais propensos a sair para o exterior do que as vítimas, uma vez que muitos dos perpetradores são do próprio Partido e muitas das vítimas são hostis ao Partido.

Muitas pessoas não chinesas facilmente fecham os olhos às violações dos direitos humanos dos chineses. Mas há um número suficiente de indivíduos que se importam e estão preparados para agir contra o Partido. Perpetradores podem ter permissão para sair da China, mas têm sua entrada negada em países estrangeiros. O Partido pode permitir e até mesmo encorajar os cúmplices de abusos a ensinar, estudar ou participar de conferências no exterior, mas os estrangeiros negarão as oportunidades que eles pleiteiam.

O assassinato em massa de prisioneiros de consciência para obtenção seus órgãos faz parte da nova China. Desenvolveu-se através da introdução da tecnologia moderna e atendeu a um mercado internacional de turismo de transplante. Mas teve um efeito colateral involuntário: o ostracismo global da profissão chinesa de transplante.

Nos velhos tempos, este tipo de ostracismo não teria sido importante. Mas na nova e internacionalmente focada China, isto importa.

The Transplantation Society (TTS), uma associação global de profissionais de transplante, recusou-se a autorizar a participação de 35 chineses no Congresso Mundial de Transplante em São Francisco, em julho de 2014, por razões éticas³. Na conferência de transplante da China de 2014, em Hangzhou, muitos estrangeiros especialistas em transplante convidados não compareceram. Um ano antes, em outubro de 2013, no Congresso de Transplantes da China, também realizado em Hangzhou, somente metade dos participantes estrangeiros compareceram.

Os profissionais em ostracismo não possuem conexões profundas com o Partido, o que lhes facilitava ignorar tal comportamento estrangeiro. Eles se importam mais com sua própria carreira. Então, o Partido precisou reagir.

A estratégia escolhida para contornar o problema específico do ostracismo dos profissionais chineses em relação a seus pares globais de transplante foi iludir a profissão global de transplante. Traga-os a bordo ou, pelo menos, engane seus próprios profissionais para que pensem que os profissionais estrangeiros estão a bordo e que o problema específico que estava assombrando sua própria profissão de transplante está sendo resolvido.

I) Hong Kong, agosto de 2016

The Transplantation Society tinha planejado sua conferência de 2016 para Bangkok, mas decidiu transferi-la para Hong Kong devido à intervenção militar na Tailândia. Dr. Jay Lavee, presidente da Israel Transplantation Society, cirurgião de transplante de coração, e ex-membro do Comitê de Ética, boicotou a conferência. Ele escreveu que fornecer à China uma plataforma global ao mesmo tempo em que ela ignora os relatórios de remoção de órgãos de prisioneiros de consciência “é uma mancha moral no código de ética da TTS”⁴.

Esta transferência de local se tornou uma oportunidade para o Partido Comunista Chinês. O jornal do Partido-Estado, Global Times, publicou:

“Os estudiosos dizem que este encontro especial de transplante de órgãos na China confirma que o universo de transplante de órgãos chinês foi realmente aceito pela The Transplantation Society”⁵.

Philip O’Connell, o então presidente da Transplantation Society, rejeitou este alarde, mas de uma maneira peculiar. Ele disse:

“É importante que você entenda que a comunidade global está consternada pelas práticas que os chineses têm aderido no passado… Como resultado dessas práticas, os centros de transplante chineses propiciaram uma tremenda oposição política ao seu governo de prosperar.”

Qual é essa oposição política a que ele se refere? The New York Times escreveu que “ele pode ter se referido ao Falun Gong, um movimento espiritual que está fora da lei na China e que acusa as autoridades chinesas de extrair órgãos de seus membros”.

O que O’Connell está dizendo, tal como interpretado pelo New York Times, precisa ser melhor explicado. Ele endossou, embora de forma subjacente, quatro elementos da propaganda do Partido Comunista Chinês.

Um deles é que o Falun Gong seria um movimento político oposto ao Partido Comunista Chinês. O segundo é que a conclusão do assassinato de prisioneiros de consciência para obtenção de seus órgãos viria desse movimento político. O terceiro é que praticamente toda fonte de órgãos para transplantes no passado seria prisioneiros condenados à morte e então executados. O quarto é que estes abusos seriam história do passado.

O’Connell, após ter adentrado este cenário imaginário, ainda prosseguiu para dar conselho político ao Partido Comunista Chinês. Ele sugeriu que a China não deveria ter usado órgãos de prisioneiros condenados à morte e então executados porque esta fonte forneceu uma oportunidade para a oposição política Falun Gong fabricar acusações de abuso de transplante de vítimas presos políticos.

Os prisioneiros condenados à morte e então executados não devem, é claro, ter seus órgãos extraídos. Entretanto, mesmo desconsiderando a sequência de suposições factualmente incorretas sobre as quais a sugestão de O’Connell se baseia, apenas sua sugestão de que o fornecimento de órgãos de prisioneiros condenados à morte tenha enfraquecido o poder do Partido Comunista Chinês sobre a China já é um disparate.

Suponha que o Falun Gong realmente fosse um movimento político. Por que O’Connell deveria dar conselho ao Partido Comunista Chinês sobre como evitar uma oposição política para prosperar? É improvável que ele desse este conselho ao Partido governante de seu próprio país. Por que ele deveria dar tais conselhos a um Partido governante de outro país, e ainda mais a um Partido mais repressivo, não menos?

A implicação do conselho que ele dá é horripilante. Sua linha de raciocínio leva à conclusão de que aqueles que querem se opor ao Partido Comunista Chinês, que desejam que a oposição política prospere, deveriam endossar o abastecimento de órgãos provenientes de prisioneiros condenados à morte. Esta sorte de conclusão não faz sentido e o que ele sugeriu é algo improvável.

Não pretendo me aprofundar em tecnologia de transplante. Eu não cogitaria entrar em uma sala de operação e aventurar-me a realizar um transplante, mesmo que isso me fosse permitido. Estou certo de que, se tentasse, eu faria uma confusão geral na operação e colocaria a vida do paciente em risco. O’Connell faz confusão semelhante ao falar sobre violações dos direitos humanos na China, tanta confusão quanto a que eu faria numa sala de operação de transplante.

A conclusão final de O’Connell sobre o Partido, de que a comunidade global ficou consternada com as ‘práticas chinesas passadas’, foi infeliz. Ainda, ao chegar a esta conclusão, ele engoliu e vomitou a propaganda do Partido.

O’Connell abordou a questão do abuso de transplante de órgãos da forma como o Partido esperaria que algum bom camarada do Partido Comunista Chinês o fizesse, isto é, se baseando na propaganda do Partido e da perspectiva do que é bom para o Partido. A “repreensão” que O’Connell fez ao Partido deve ter levado os oficiais do Partido a esfregar as mãos com satisfação.

II) Vaticano, fevereiro de 2017

O Vaticano organizou uma cúpula em fevereiro de 2017 sobre tráfico de órgãos e turismo de transplante. O convite de funcionários de saúde do Estado-Partido Comunista Chinês à cúpula se tornou um inflamado ponto de controvérsia.

O jornal do Partido Global Times publicou: “Funcionários sêniores de saúde chineses estão se preparando para participar de uma cúpula de alto nível no Vaticano sobre tráfico de órgãos na terça-feira, um convite que reconhece as conquistas recentes da China na área”.

O cirurgião de transplante israelense dr. Jay Lavee se opôs ao convite. Sobre Huang Jiefu, o chefe do Partido-Estado e oficial de saúde convidado, Lavee disse:

“Devido ao seu histórico pessoal e ao fato de ele ainda não admitir o uso de órgãos de prisioneiros de consciência, ele não deveria ter sido convidado.”

O dr. Francis Delmonico, ex-presidente da The Transplantation Society, que organizou a cúpula, defendeu o convite das autoridades chinesas. Ele disse na ocasião que a cúpula era “uma oportunidade para que elas proclamassem um novo dia e prestassem contas” de que a prática parou.

Os oficiais do Partido chinês estão bastante felizes por proclamarem um novo dia, todos os dias. Quanto a prestarem contas, não há nada previsto. Não existem mecanismos de prestação de contas. E Delmonico também não propôs nenhum. Quanto a prestação de contas feita através de uma investigação independente, Delmonico simplesmente não está interessado.

Em uma audiência parlamentar sobre os abusos chineses de transplante de órgãos realizada em Washington DC em junho de 2016, Delmonico foi questionado:

“Como você verificaria de forma independente que, mesmo que ele [Huang Jiefu] possa ter sido tão sincero que qualquer coisa que ele diga, como por exemplo que houve zero cliente estrangeiro envolvido no tráfico de órgãos em 2016, como você verificaria de forma independente se não houve um terrível jogo duplo nos bastidores, mentiras e enganação por parte do governo?”

A resposta que Delmonico deu foi esta:

“Não estou aqui para verificar isso. Este não é o meu trabalho.”

Então, Delmonico quer a prestação de contas, mas não verificará por conta própria. Delmonico enxerga a verificação ou a prestação de contas como o trabalho de outra pessoa. Mas quem seria essa outra pessoa?

A separação entre as autoridades de saúde chinesas anfitriãs, de um lado, e a verificação ou prestação de contas, de outro, significaria que não há vínculo entre os dois. Delmonico estava disposto a recepcionar funcionários de saúde chineses não importando o que eles fizeram ou fariam, desde que dissessem o que é certo: proclamar um novo dia. Decidindo que tal palavrório significaria qualquer coisa que ele deixaria para outra pessoa averiguar.

Verificação, para Delmonico, não seria tão difícil. Ele não teria que fazer a própria investigação. Tudo o que ele teria de fazer é lê-la e avaliá-la. Mas isto, diz ele então, não é o trabalho dele.

Lavee disse que Delmonico “está simplesmente disposto a tapar um de seus olhos e fingir-se de cego para a barbaridade que continua a acontecer, enquanto festeja o fato de que houve alguma reforma na China.” Para o Partido Comunista Chinês, está tudo bem.

III) Kunming, Yunnan — China, agosto de 2017

Funcionários estatais de saúde do Estado-Partido Comunista Chinês sediaram uma conferência de transplante em agosto de 2017 em Kunming, Yunnan, China, na qual muitas figuras internacionais da área de transplantes emitiram declarações de apoio ao programa de transplante chinês. E enquanto a mídia internacional ignorou a conferência, com apenas uma ligeira referência tendo saído em uma matéria da Associated Press, a imprensa do Partido Comunista deu grande dose de atenção ao evento.

O Global Times, antes da reunião, escreveu:

“Em um movimento sem precedentes, quatro grandes organizações internacionais de saúde expressaram seu apreço pelos esforços da China na reforma de transplante e doação de órgãos, e também suas expectativas de mais envolvimento do país com a governança global no setor.”

O reconhecimento teria sido expresso em uma carta enviada a Huang Jiefu, ex-vice ministro chinês de Saúde e atual chefe da Comissão Nacional de Transplante e Doação de Órgãos Humanos, antes da conferência nacional sobre transplante de órgãos que ocorreu na semana seguinte.

A carta, que foi divulgada na mídia em uma quarta-feira, informava que a reforma da China de seu programa de transplante e doação de órgãos tinha sido “eticamente apropriada” e foi saudada por especialistas e oficiais como uma poderosa resposta às críticas e ceticismo que o país enfrenta há anos.

“A carta também mostrou que o modelo da China de construir um sistema aberto e transparente de doação e distribuição de órgãos é reconhecido pela sociedade internacional”, acrescentou Huang.

“O reconhecimento das quatro organizações é histórico, pois esta é a primeira vez que expressaram conjuntamente uma claríssima e positiva avaliação sobre o progresso da China na reforma do transplante de órgãos”, disse Haibo Wang, chefe do Sistema de Resposta do Transplante de Órgãos da China, ao Global Times.

“A carta foi assinada por diretores e altos funcionários da Organização Mundial da Saúde (OMS), da Pontifícia Academia de Ciências do Vaticano (PAS), da The Transplantation Society (TTS) e do Grupo de Custódia da Declaração de Istambul (DICG), quatro das mais influentes sociedades na promoção global de práticas éticas em transplante de órgãos.”

O artigo acrescenta:

“A aprovação dos organismos internacionais de transplante de órgãos se deve aos esforços da China em introduzir o seu progresso e reforma ao mundo, inclusive para aqueles que mantêm uma atitude cética ou mesmo hostil em relação aos sistemas de transplante de órgãos da China, disse Huang.”

“Precisamos manter nossos amigos próximos e nossos inimigos mais próximos, disse ele.”

Assim como a maioria da propaganda feita pelo Partido Comunista, esta história é incerta. Na verdade, o leitor pode obter um retrato melhor da realidade ao assumir o exato oposto.

Apesar da afirmação de que a carta das quatro organizações foi emitida para a mídia, ela não está disponível publicamente e não sabemos o que ela diz. À luz da propensão do Partido à fabricação de citações, não sabemos inclusive se as alegadas citações da carta são precisas.

Além disso, a declaração de um esforço para se envolver “aqueles que detêm uma atitude cética ou mesmo hostil em relação aos sistemas de transplante de órgãos da China” é uma fabricação. Nenhum dos céticos foi convidado para a reunião de Kunming.

A referência aos críticos como “inimigos” é um retrato fiel da maneira como o Partido os enxerga. Dizer que o Partido fez algo errado, mesmo sendo preciso, não lhe torna um inimigo apenas do que foi feito de maneira errada; isso torna você um inimigo do Partido.

A Televisão Central da China ou CCTV veiculou um vídeo de Jose R. Nunez, da OMC, que participou da reunião de Kunming, dizendo:

“Bem, acho que a China, especialmente desde janeiro de 2015, quando decidiram não mais usar órgãos de prisioneiros, tem realizado uma grande reforma. É uma reforma difícil de fazer. Mas eles estão fazendo e eles estão se movendo na direção certa agora, e o que eles estão conseguindo hoje é simplesmente incrível!”

Nunez, como se pode ver, equipara o Partido Comunista Chinês com a realidade. O Partido anuncia a reforma. Nunez declara que a reforma está acontecendo.

A CCTV também televisionou um depoimento de Nancy Ascher, atual presidente da Transplantation Society:

“Nós estávamos em uma recente reunião no Vaticano, onde cada país falou sobre seu povo que sai de seu próprio país para obter transplantes em outros lugares. E o que ficou claro nesta reunião é que as pessoas que procuram transplantes ilegais não estão vindo para a China.”

Parece não ocorrer a Ascher que as pessoas que estão vindo para a China e os médicos dos países de onde elas vieram podem não querer falar sobre isso abertamente. Ainda, há uma abundância de evidências neste sentido, o turismo de transplantes na China está escondido por detrás de uma conspiração silenciosa.

CGTN, a Rede Global da China de Televisão, em uma reportagem sobre a reunião de Kunming citou Jose Nunez da OMC dizendo:

“Eu acho que a reforma na China é excelente, especialmente desde janeiro de 2015, quando eles decidiram não usar mais órgãos de prisioneiros. Eles estão avançando em uma direção correta agora.”

A essência é a mesma que a da filmagem da CCTV segundo a qual o que o Partido Comunista Chinês diz em sua propaganda é realidade.

CGTN cita Nancy Ascher da The Transplantation Society afirmando:

“O que eu vi nesta visita é que os chineses estão adotando a noção de transplante de órgãos e não tenho dúvidas de que se poderá conseguir um grande número de doadores voluntários. Eu penso que, à medida em que os profissionais chineses de transplante se envolverem, eles também irão alcançar altos patamares e poderão ensinar o resto do mundo, porque as experiências chinesas serão em breve maiores do que as do resto do mundo.”

A noção de que os chineses dentro da China são livres para abraçar ou não abraçar a propaganda do Partido Comunista Chinês conforme o próprio discernimento é algo que alguém que não conhece a China poderia dizer. Não apenas Ascher dá ao Partido o benefício da dúvida; sua fé no Partido é livre de dúvidas, uma fé em que ela “não tem dúvidas”.

Delmonico, em seu depoimento ao Congresso em junho de 2016, observou que Haibo Wang, o representante oficial de Saúde de Huang Jiefu, havia sido posto em prisão domiciliar devido a seus esforços na reforma de transplante. No Congresso Mundial de Transplantes de São Francisco em 2014, em que participei, fui escutá-lo falar, mas ele não apareceu, porque ele tinha acabado de ser preso naquele momento.

Mesmo que a liderança global de transplantes não tenha tempo para ler a investigação sobre o abuso de transplantes na China, ou a generosidade para convidar investigadores aos eventos que a liderança ajuda a organizar, eles deveriam pelo menos ouvir o que eles mesmos estão dizendo. As pessoas na China, especialmente autoridades do Estado, que se desviam da linha do Partido, são presas. Isto permeia todas as áreas da política, e não é algo que acontece apenas na área de transplantes. Eles são liberados somente se eles se comprometem, após a liberação, a se adequar à linha do Partido. Não há outra base para a liberação, exceto em caso de doenças extremas. Então, quando líderes estrangeiros de transplante acreditam no que um oficial libertado diz, sem investigação ou verificação, isso significa que eles também estão adotando a linha do Partido.

Fora da China, as fontes de órgãos estão ou mortas (pelo menos tiveram morte cerebral), tanto antes quanto depois da doação, ou vivas, tanto antes quanto depois. A China é o único país onde as fontes são assassinadas para extração de órgãos, onde as fontes estão vivas antes e morrem em seguida.

Esta prática, além de ser assassina, apresenta problemas incomuns de transplante, porque a prática aumenta a quantidade e os tipos de produtos farmacêuticos necessários de ser injetados na fonte de órgão(s). Este aumento pode causar problemas para o paciente que recebe o órgão. A pesquisa chinesa substancial de transplante passou a contornar este problema, tentando várias combinações de drogas que pudessem criar a reação desejada na fonte sem comprometer o órgão que está sendo transplantado.

Os profissionais chineses de transplante podem bem vir, algum dia, a ensinar estrangeiros o assassinato de prisioneiros políticos para obtenção de seus órgãos. Mas nós, que estamos fora da China, devemos fazer o que pudermos para evitar isso.

Antes da conferência de Kunming, a agência de notícias Xinhua publicou:

“O recente contato com a Organização Mundial da Saúde (OMS), com a Pontifícia Academia de Ciências, com a The Transplantation Society (TTS) e com o Grupo de Custódia da Declaração de Istambul surpreendeu bastante Huang, quando sua dedicação aos transplantes de órgãos foi reconhecida pelos profissionais do mundo.”

“Você é amplamente reconhecido como um líder acadêmico que revitalizou o transplante hepático na China e liderou a reforma de transplante por profissionais de transplante chineses, com regulamentos de transplante de órgãos na China consistentes com os princípios de prática (internacionais) da OMS e compartilhados pela comunidade global, afirmou num e-mail.”

Existe uma equação aqui da lei e da política chinesas com a prática, em que se demostra uma falta de consciência de que a lei na China não pode ser aplicada contra o Partido, uma vez que o Partido controla todos os aspectos da aplicação do sistema legal. As quatro organizações estão satisfeitas que o Partido tenha dito o que eles queriam ouvir.

Geralmente, regimes repressivos, quando confrontados com a crítica de seus registros de direitos humanos, produzem uma dentre duas respostas. Ou eles dizem: “Vá embora, este é o nosso negócio, seu próprio país tem muitas violações dos direitos humanos sobre as quais você deveria se preocupar”. Ou eles dizem: “Você está certo, venha nos ajudar, precisamos da sua experiência”, mas nada muda. Em ambos os casos, o resultado, em termos de respeito aos direitos humanos, é o mesmo. A única diferença é que, no segundo caso, os seduzidos são infelizes. A falta de experiência em direitos humanos inclui a ignorância deste padrão, uma ignorância que as quatro organizações manifestam.

Os governos geralmente enfrentam a questão de se envolver ou boicotar. As relações entre governos abrangem uma ampla gama de temas. Decidir se envolver ou boicotar implica a perda de comércio. Vale a pena cortar relações em áreas onde o engajamento é benéfico para expressar com suficiente contundência a repugnância do comportamento que provocou o apelo a um boicote?

A profissão de transplante não tem de considerar qualquer perda de comércio. As relações entre as profissões estrangeiras e chinesas de transplante concernem apenas ao transplante. A questão de saber se o valor de se engajar em uma área compensa a perda sofrida por não boicotar um comportamento repugnante em outra área não surge. Os profissionais de transplante que pregam o envolvimento ao invés do boicote como forma de promover a mudança na China desconhecem esta diferença.

Nas citações da Xinhua, as quatro agências se referem a um propagandista do Partido Comunista como um acadêmico, dando a ele e ao Partido uma falsa aura de expertise e autoridade. O problema aqui não é apenas um propagandista, é transformá-lo em acadêmico. Conforme mencionado anteriormente, The Transplantation Society transforma investigadores independentes em indivíduos motivados politicamente. Este é o tipo de inversão da realidade que torna o Partido Comunista Chinês arrogante.

O’Connell, o último ex-presidente da The Transplantation Society, disse na conferência de Kunming:

“Agora, ninguém aqui tem qualquer evidência que apoie as alegações do Falun Gong. Se nós tivéssemos, não estaríamos aqui.”

A declaração de O’Connell de que “ninguém aqui”, isto é, em Kunming, possuía qualquer evidência do assassinato de prisioneiros de consciência para obtenção de seus órgãos provavelmente seja verdade, já que ninguém que possuía aquela evidência ou mesmo que estivesse ciente desta evidência foi convidado. Ele confirma a análise do New York Times sobre os comentários que ele fez à época da conferência de Hong Kong — primeiro, que ele endossa a propaganda do Partido Comunista Chinês sobre o Falun Gong de que um conjunto de exercícios é uma organização; segundo, ele atribui investigações provenientes de investigadores desinteressados que não praticam os exercícios para esta organização imaginária.

Conclusão

O Partido Comunista Chinês não possui respostas factuais credíveis ao trabalho de pesquisadores independentes que têm demonstrado a matança em massa de inocentes para realização de transplante de órgãos. Na realidade, dada a escala massiva do negócio de transplante na China, é impossível negar de alguma forma credível esta investigação. A propaganda do Partido, negando dados oficiais, fingindo que não existem, pode persuadir apenas os crédulos ou os voluntariamente cegos.

Uma linha principal de defesa tem se tornado as declarações destes crédulos ou voluntariamente cegos, a quem os comunistas se referem como idiotas úteis. O Partido publica e exagera os endossos dos ingênuos e dos tolos.

Só se pode esperar que a vontade de enfrentar a verdade sobre a China venha a prevalecer na profissão de transplante como um todo antes que muitos outros inocentes sejam mortos por seus órgãos.

A profissão psiquiátrica global, à época do abuso soviético da psiquiatria, foi parte da solução daquele abuso. A profissão global de transplante, com poucas exceções notáveis, quando se trata do abuso de transplantes na China, tem, lamentavelmente, se tornado parte do problema.

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¹ Citado em Hung Li, ‘China’s Political Situation and the Power Struggle in Peking’, 1977, página 107

² Vide ‘Bloody Harvest: The Killing of Falun Gong for their Organs’, com David Kilgour, Seraphim Editions, 2009; ‘State Organs: Transplant Abuse in China’, co-editado com Torsten Trey, Seraphim Editions, 2012; ‘An Update to Bloody Harvest and the Slaughter’, 2016, com David Kilgour e Ethan Gutmann em www.endorganpillaging.org

³ http://www.cmt.com.cn/detail/623923.html. Vide Matthew Robertson, ‘From Attack to Defense, China Changes Narrative on Organ Harvesting’, Epoch Times, 24 de novembro de 2014, https://www.theepochtimes.com/from-attack-to-defense-china-changes-narrative-on-organ-harvesting_1099775.html

⁴ Matthew Robertson, ‘A Transplant Conference Plays Host to China, and Its Surgeons Accused of Killing’, Epoch Times, 2 de agosto de 2016 http://www.theepochtimes.com/n3/2130297atransplant
conferenceplayshosttochinaanditssurgeonsaccusedofkilling/

⁵ Didi Kirsten Tatlow, ‘Chinese Claim That World Accepts Its Organ Transplant System Is Rebutted’, New York Times, 19 de agosto de 2016 https://www.nytimes.com/2016/08/20/world/asia/chinahongkongorgantransplants.html

http://www.pas.va/content/accademia/en/events/2017/organ_trafficking.html

⁷ ‘China to attend highlevel Vatican summit against organ trafficking’, 6 de fevereiro de 2017, http://www.globaltimes.cn/content/1031556.shtml

⁸ Josephine McKenna, ‘Vatican defends including China at organtrafficking summit’, National Catholic Reporter, 8 de fevereiro de 2017 https://www.ncronline.org/news/justice/
vaticandefendsincludingchinaorgantraffickingsummit

⁹ Ryan Connelly Holmes e Dan Sagalyn, ‘One doctor’s war against global organ trafficking’, PBS Newshour, 29 de maio de 2017
http://www.pbs.org/newshour/updates/onedoctorswarglobalorgantrafficking/

¹⁰ https://foreignaffairs.house.gov/hearing/joint-subcommittee-hearing-organ-harvesting-examination-brutal-practice/

¹¹ Christopher Bodeen, ‘AP Interview: China to lead in organ transplants by 2020’, 26 de julho de 2017, https://www.apnews.com/df0ae8c724044cedb4c17df2b80f8849

¹² Li Ruohan, ‘Organizations praise China’s progress in organ donation’, 26 de julho de 2017, http://www.globaltimes.cn/content/1058270.shtml

¹³ ‘Organ transplant experts assess China achievements over past decade’, 4 de agosto de 2017, http://www.cctvplus.com/news/20170805/8057520.shtml

¹⁴ ‘An Update to Bloody Harvest and the Slaughter’, 2016, com David Kilgour e Ethan Gutmann, em www.endorganpillaging.org

¹⁵ Fan Yixin, ‘China’s organ transplantation reform hailed by international community’, 6 de agosto de 2017, https://news.cgtn.com/news/3d557a4d3145544e/share_p.html

¹⁶ ‘An Update to Bloody Harvest and the Slaughter’, 2016, com David Kilgour e Ethan Gutmann, em www.endorganpillaging.org

¹⁷ ‘Organ transplant reform in China: a journey of hardship and progress’, 5 de agosto de 2017, http://www.china.org.cn/business/201708/05/content_41354780.htm

¹⁸ Li Ruohan, ‘China to be selfsufficient in organ transplants by 2030’, Global Times, 6 de agosto de 2017, http://www.globaltimes.cn/content/1059947.shtml

Sobre o autor

David Matas é um advogado internacional de direitos humanos, autor e pesquisador radicado em Winnipeg e atualmente atua como consultor honorário sênior da B’nai Brith, Canadá. Ele serviu ao governo do Canadá em diversos cargos, incluindo como membro da delegação canadense na Conferência das Nações Unidas sobre um Tribunal Penal Internacional; da Força-tarefa para a Cooperação Internacional em Educação, Recordação e Pesquisa sobre o Holocausto; e da Organização sobre Segurança e Cooperação em Conferências na Europa sobre Antissemitismo e Intolerância. Ele também tem estado envolvido em numerosas organizações distintas, incluindo o Canadian Helsinki Watch Group, Beyond Borders, Amnesty International, e a Canadian Council for Refugees.

O sr. Matas recebeu inúmeros prêmios e honrarias, incluindo o Manitoba Bar Association Distinguished Service Award, em 2008, a Order of Canada, em 2009, o Canadian Bar Association National Citizenship and Immigration Section Achievement Award, em 2009, e a International Society for Human Rights Swiss Section Human Rights Prize, em 2010.
Em 2006, o sr. Matas foi co-autor do livro ‘Bloody Harvest: Organ Harvesting of Falun Gong Practitioners in China’ ao lado do hon. David Kilgour. Tanto o sr. Matas quanto o sr. Kilgour foram indicados ao Prêmio Nobel da Paz de 2010 por este trabalho.

David Matas é co-autor do relatório investigativo de 2016 ‘An Update to Bloody Harvest and The Slaughter’. O relatório examina meticulosamente os programas de transplante de centenas de hospitais na China, com base em reportagens da mídia, propaganda oficial, revistas médicas, websites de hospitais e uma grande quantidade de sites excluídos encontrados em arquivos.

Seus outros trabalhos incluem ‘Why Did You Do That? The Autobiography of a Human Rights Advocate’; ‘Justice Delayed: Nazi War Criminals in Canada’, com Susan Charadaff; ‘Closing the Doors: The Failure of Refugee Protection’, com Ilana Simon; ‘No More: The Battle Against Human Rights Violations’; ‘Bloody Words: Hate and Free Speech’; e ‘Aftershock: Antisemitism and Anti-Zionism’.

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