EUA evacua parcialmente embaixada do Iraque após acusar Irã de elevar tensões na região

16/05/2019 22:33 Atualizado: 17/05/2019 11:09

Por Petr Svab

A administração Trump ordenou a retirada de todo o pessoal, não emergencial, da missão diplomática dos Estados Unidos no Iraque, depois que o governo anunciou que o Irã ou seus representantes na região eram uma ameaça crescente.

Helicópteros decolaram durante todo o dia a partir do complexo da embaixada perto do rio Tigre, transportando funcionários, de acordo com uma fonte iraquiana e uma fonte diplomática dentro da Zona Verde fortificada de Bagdá. A fonte iraquiana disse que a equipe dos Estados Unidos está indo para uma base militar no aeroporto de Bagdá.

Um alerta no site da Embaixada dos Estados Unidos, em Bagdá, disse que todos os funcionários públicos não essenciais e não emergenciais do governo foram instruídos a deixar o Iraque imediatamente sob as ordens do Departamento de Estado. Isso inclui aqueles que trabalham no Consulado dos Estados Unidos em Erbil, a capital da região semi-autônoma do Curdistão. O Consulado dos Estados Unidos em Basra está fechado desde setembro, após um ataque com foguetes, atribuído a milícias apoiadas pelo Irã.

“Garantir a segurança dos funcionários e cidadãos do governo dos Estados Unidos é nossa maior prioridade … e queremos reduzir o risco de danos”, disse um porta-voz do Departamento de Estado.

Razões pouco claras

O governo recusou-se a especificar o que provocou especificamente a retirada do pessoal, mas autoridades de defesa e segurança alertaram nas últimas semanas que houve “indicações e advertências crescentes” e uma “ameaça crível” imposta pelo Irã.

O secretário de Estado, Mike Pompeo, disse à imprensa em 6 de maio que “é sem dúvida o fato de termos visto uma ação crescente advinda dos iranianos”,  ele também disse que não poderia ser mais explícito.

Os Estados Unidos anunciaram, no dia 5 de maio, que estavam enviando um grupo de bombardeiros e um grupo de ataque para a região, embora o grupo de ataque já estivesse programado para atravessar a região em algum momento.

Em 14 de maio, os rebeldes houthis do Iêmen, alinhados com o Irã, lançaram um ataque coordenado de drones em um oleoduto crítico na Arábia Saudita, o maior rival de Teerã na região.

Anwar Gargash, ministro das Relações Exteriores dos Emirados Árabes Unidos, disse a repórteres em Dubai que a coalizão liderada pela Arábia Saudita vai “retaliar duramente” os ataques a alvos civis, sem dar mais detalhes.

A Saudi Aramco, companhia de petróleo controlada pelo governo, disse que fechou temporariamente o gasoduto e conteve um incêndio, o que causou pequenos danos a uma estação de bombeamento. Acrescentou que o fornecimento de petróleo e gás não foi afetado.

Quatro petroleiros – dois sauditas, um dos Emirados e um norueguês – foram atacados em 12 de maio perto do Estreito de Hormuz, por sabotadores não identificados. Autoridades norte-americanas disseram à Reuters que o Irã encorajou os houthis ou milícias xiitas do Iraque a realizar os ataques.

Uma fonte disse que os Estados Unidos acreditam que o papel do Irã tem sido o de encorajar ativamente os militantes a empreender tais ações e foi além de simplesmente deixar pistas. No entanto, a fonte indicou que os Estados Unidos atualmente não têm evidências de que o pessoal iraniano tenha desempenhado algum papel operacional direto.

O Irã negou envolvimento, apesar de ter repetidamente ameaçado bloquear o estreito, através do qual transmite cerca de um quinto das remessas mundiais de petróleo, se os Estados Unidos tentarem impedir que o Irã exporte petróleo.

O governo Trump recentemente se recusou a renovar as sanções dos Estados Unidos aos principais importadores de petróleo iraniano como parte de um esforço para forçar Teerã a negociar a cessação de uma série de atividades, incluindo seus programas nucleares e de mísseis balísticos, além de apoiar terroristas e militantes em todo a região.

“Tenho certeza de que o Irã vai querer conversar em breve”, escreveu o presidente Donald Trump no Twitter em 15 de maio.

Trump deixou o acordo nuclear com o Irã em maio de 2018 e gradualmente reimplantou as sanções ao país.

Em abril, Trump anunciou que designaria o Corpo de Guardas da Revolução Islâmica (IRGC) do Irã como uma organização terrorista estrangeira – a primeira vez em que os Estados Unidos marcaram uma ramificação das forças armadas de um país estrangeiro como tal.

‘No limite’

Tanto os Estados Unidos quanto o Irã afirmaram que não querem a guerra, mas o comandante do IRGC disse, em 15 de maio, que estava “à beira de um confronto em grande escala com o inimigo”, informou a agência de notícias iraniana Fars.

“Este momento na história, porque o inimigo entrou no campo de confronto com toda a capacidade possível, é o momento mais decisivo da revolução islâmica”, disse o general Hossein Salami.

O IRGC é controlado diretamente pelo líder supremo do regime islâmico Ali Khamenei e Salami foi nomeado seu chefe no mês passado.

Na semana passada, o Irã notificou signatários não americanos do acordo nuclear – China, França, Alemanha, Rússia e Reino Unido – de sua decisão de suspender alguns compromissos sob o acordo nuclear.

Segundo o acordo, Teerã foi autorizado a produzir urânio pouco enriquecido em um limite de cerca de 272 kg e produzir água pesada com um estoque limitado a cerca de 130 toneladas. Teerã poderia enviar as quantias em excesso para fora do país para armazenamento ou venda.

O Irã não reconhece mais o limite para a produção de urânio enriquecido e água pesada, disse à agência de notícias ISNA, em 15 de maio, um funcionário informado do órgão de energia atômica do país.

As ações iniciais do Irã não parecem violar o acordo nuclear até o momento. Mas o Irã ameaçou que, a menos que as potências mundiais protejam a economia do Irã das sanções dos Estados Unidos dentro de 60 dias, o Irã começará a enriquecer o urânio em um nível mais alto.

A União Européia e os ministros das Relações Exteriores da Alemanha, França e Grã-Bretanha disseram que ainda estavam comprometidos com o acordo, mas não aceitariam ultimatos de Teerã.

EUA no Iraque

O Iraque é um dos únicos países que mantém estreitas relações com os Estados Unidos e o Irã. Ele disse que manterá fortes laços com o Irã, e também com os Estados Unidos e os vizinhos árabes da região, alguns dos quais, como a Arábia Saudita, consideram Teerã um arquirrival.

Os Estados Unidos mantêm cerca de 5 mil soldados no Iraque, que estão ajudando as forças de segurança iraquianas a combater os terroristas do Estado Islâmico. Enquanto o ISIS foi despojado de todo o seu território no Iraque, ele ainda controla milhares de combatentes e conduz ataques terroristas.

Quatro policiais federais iraquianos foram mortos em 15 de maio em um ataque armado contra seu veículo militar, a cerca de 40 quilômetros a sudoeste da cidade petrolífera de Kirkuk, segundo uma fonte de segurança local.

Os Estados Unidos invadiram o Iraque em 2003 para derrubar o ditador Saddam Hussein, ocupando o país até 2011, e depois enviando tropas de volta em 2014 para ajudar a combater o Estado Islâmico, que estava rapidamente espalhando seu autoproclamado califado por grandes áreas do Iraque e da Síria. O Irã tem laços estreitos com poderosos partidos políticos iraquianos e apóia poderosos grupos milicianos xiitas.

A Reuters e a Associated Press contribuíram para esta reportagem.