Dos campos de trabalho forçado à CEO do Epoch Times: A jornada de Janice Trey para “dar voz àqueles que não têm voz”

Em uma entrevista, Trey discute por que o regime comunista chinês se opõe à tradição e a importância de defendê-la.

Por Eva Fu
16/11/2024 16:02 Atualizado: 23/11/2024 18:07

A determinação pela busca da verdade da CEO do Epoch Times, Janice Trey, nasceu de um lugar improvável: um campo de trabalho forçado na China.

Ela nasceu no meio da Revolução Cultural—uma das campanhas do líder do Partido Comunista Chinês (PCCh), Mao Zedong, que tinha como alvo a cultura tradicional chinesa, resultando na morte estimada de milhões de pessoas.

As autoridades classificaram pessoas como os pais de Trey, engenheiros com formação universitária, como uma classe inferior e os enviaram para um campo de trabalho forçado numa aldeia remota no sul da China. Lá, Trey passou seus primeiros nove anos, cultivando cana-de-açúcar, carregando fertilizantes até o topo da colina e colhendo safras durante a época da colheita. Seus pais trabalhavam na agricultura e costuravam. Para ir à escola, Trey caminhava 1 hora e meia todos os dias até outra aldeia, atravessando colinas, cemitérios e encontrando cobras, conforme ela confessou à CEO da PragerU, Marissa Streit, no podcast Real Talk.

Ela nunca viu geladeiras ou carros no campo, coisas que lia em panfletos que chegavam pelo mar em balões vindos de Taiwan, a ilha democrática vizinha da China continental. Ela se perguntava se aquilo era verdade.

Viver seus primeiros nove anos no campo e depois sair da China deu a Trey uma visão interna de dois mundos completamente diferentes e a marcou com um compromisso de buscar—e divulgar—informações verdadeiras, uma tarefa que ela tem desempenhado com dedicação no The Epoch Times.

“Liberdade e regimes totalitários são opostos,” disse Trey durante o programa, exibido em 13 de novembro. E para ter liberdades verdadeiras, afirmou ela, manter as pessoas informadas é essencial.

Quando a família de Trey escapou da China continental para Hong Kong, ela imediatamente sentiu um “sopro de ar fresco”, ressaltou. Não precisava mais cantar canções elogiando o PCCh ou estudar livros cheios de propaganda. Ela teve acesso a livros didáticos da mesma época vindos de vários lugares—Hong Kong, Taiwan e China continental—e notou como eram diferentes.

Qualquer ilusão restante que ela pudesse ter sobre o regime chinês foi destruída cerca de uma década depois, quando Pequim abriu fogo contra estudantes desarmados que protestavam por reformas políticas na Praça da Paz Celestial.

As autoridades chinesas negaram qualquer derramamento de sangue. Mas Trey sabia a verdade. Sua melhor amiga, uma estudante de medicina, estava na Praça da Paz Celestial em 4 de junho de 1989, transportando corpos para o hospital na esperança de que pudessem sobreviver.

Trey, ao refletir sobre os mais de 70 anos de regime comunista, percebeu um padrão.

“Se você olhar para a história comunista, a cada década um grupo inocente de pessoas foi escolhido [como alvo], e isso faz com que o resto das pessoas vivam sob autocensura. É assim que o Partido Comunista tenta suprimir qualquer oposição,” disse ela. Exatamente 10 anos após o Massacre da Praça da Paz Celestial, Pequim começou a perseguir outro segmento da sociedade que somava dezenas de milhões de pessoas: o grupo de praticantes do Falun Gong, uma fé que enfatiza os valores de verdade, compaixão e tolerância.

Há uma razão para o PCCh, que é ateu, atacar tradições e espiritualidades, afirmou ela.

Red Guard members wave copies of Chairman Mao’s “Little Red Book” at a parade in Beijing during the Cultural Revolution in June 1966. (Jean Vincent/AFP via Getty Images)
Membros da Guarda Vermelha acenam com cópias do “Pequeno Livro Vermelho” do presidente Mao em um desfile em Pequim durante a Revolução Cultural em junho de 1966. (Jean Vincent/AFP via Getty Images)

Por mais de 5.000 anos, a China não teve comunismo, e “os líderes do Partido Comunista estavam muito assustados com o ressurgimento dos valores tradicionais,” disse Trey. “É por isso que queimam livros, destroem estátuas e até mudam os caracteres chineses.”

Como exemplo, ela citou o caractere chinês para “progresso.” A versão tradicional da palavra é composta por dois caracteres que juntos significam alcançar um lugar melhor, mas após a simplificação realizada pelas autoridades chinesas, os caracteres agora descrevem entrar em um poço—um beco sem saída. De maneira semelhante, ela observou que o caractere simplificado para “amor” perdeu o “coração.”

Essa destruição sistemática do patrimônio tradicional é a razão pela qual o Epoch Times assumiu a missão de trazer “verdade, tradição e esperança,” afirmou Trey.

Os fundadores do Epoch Times vivenciaram em primeira mão a situação dos direitos humanos na China. Muitos fugiram após anos de perseguição brutal, uma experiência que lhes incutiu “um compromisso inabalável com a integridade, a veracidade na reportagem e o respeito pelos direitos humanos e pela liberdade,” conforme descrito na página Sobre Nós da publicação.

Começando em um porão em Atlanta em 2000, o The Epoch Times tinha como objetivo inicial fornecer notícias não censuradas da China. Ao longo dos anos, tornou-se um jornal internacional, com edições em 22 idiomas, alcançando 36 países e regiões. Quando o SARS surgiu na China em 2003, o jornal relatou a questão semanas antes de Pequim reconhecer o vírus—um padrão de encobrimento que continuou quase duas décadas depois, permitindo que outro vírus mortal se espalhasse pelo mundo.

As reportagens ajudaram a alertar alguns leitores sobre riscos à saúde dos quais não tinham conhecimento, disse Trey, que relatou como leitores enviaram notas de agradecimento dizendo que cancelaram seus voos para a China após lerem artigos do Epoch Times.

“A mídia também desempenha um papel em salvar vidas,” disse ela.

Trey destacou que, em 2004, o The Epoch Times publicou os Nove Comentários sobre o Partido Comunista Chinês para expor a verdadeira natureza do PCCh, inspirando um movimento de base entre os cidadãos chineses para romper seus laços com organizações afiliadas ao partido. O jornal também foi o primeiro a relatar, em 2006, a prática de extração forçada de órgãos, expondo o esquema lucrativo sancionado pelo Estado para matar praticantes do Falun Gong presos para remover seus órgãos.

Epoch Times CEO Janice Trey speaks during an interview with PragerU's Real Talk, released on Nov. 13, 2024. (Screenshot via The Epoch Times)
Janice Trey, CEO do Epoch Times, fala durante uma entrevista ao programa Real Talk, da PragerU, lançada em 13 de novembro de 2024 (captura de tela via The Epoch Times)

Desde sua fundação, Trey destacou que o Epoch Times está na lista negra de Pequim. No final de 2000, as autoridades chinesas prenderam mais de 30 pessoas que reportavam, editavam ou contribuíam para a mídia na China em diversas funções. Vários deles foram condenados a até uma década de prisão.

A gráfica do jornal em Hong Kong, que suspendeu suas operações em setembro, sofreu repetidamente invasões e outros atos de sabotagem, incluindo um ataque incendiário no final de 2019. Homens suspeitos seguiram e, em seguida, agrediram um repórter do Epoch Times em Hong Kong com um bastão de alumínio. O site do Epoch Times frequentemente sofre ciberataques ligados à China, e repórteres nos Estados Unidos, assim como empresas que anunciam na publicação, receberam ameaças.

“Somos o único meio de comunicação que o Partido Comunista Chinês mais teme,” afirmou Trey. Apesar do bloqueio contínuo do regime chinês na internet, que impede o acesso ao Epoch Times dentro da China, as pessoas têm usado ferramentas especiais, como VPNs, para acessar o conteúdo “porque sabem que estamos dizendo a verdade” completou.

O Epoch Times dá grande destaque às violações de direitos humanos em andamento contra vários grupos na China, incluindo os 25 anos de perseguição ao Falun Gong.

“Pequenas velas podem iluminar todo o cômodo,” disse Trey. Após o Holocausto, “quando pensamos em ‘nunca mais’, isso está acontecendo com a perseguição ao Falun Gong, e há muitos espectadores que não se pronunciaram.”

“Pequenas velas podem iluminar toda a sala”, disse Trey. Depois do Holocausto, “quando pensamos em ‘nunca mais’, isso está acontecendo com a perseguição ao Falun Gong, e há muitos espectadores que não se manifestaram”.

Tendo sobrevivido a uma campanha comunista em massa e testemunhado outras duas em ação, Trey disse que aprecia a oportunidade de fazer a diferença no Epoch Times—de “dar voz àqueles que não têm voz”.