Manifestantes pedem impeachment de Dilma Rousseff e anulação das eleições

30/11/2014 04:28 Atualizado: 19/01/2015 03:09

RIO DE JANEIRO – Milhares de brasileiros voltaram às ruas na tarde deste sábado (29) para se manifestar contra a presidente Dilma Rousseff, o Partido dos Trabalhadores e o Foro de São Paulo. Em São Paulo, mais de quatro mil pessoas se concentraram no vão do Museu de Arte de São Paulo (MASP), na Zona Sul da cidade, para exigir auditoria nas urnas eletrônicas, impeachment da presidente e anulação das eleições. Dentre as exigências também estavam a instalação da CPI da Petrobrás e derrubada do Projeto de Lei Número (PLN) 36, que acaba com a responsabilidade fiscal.

Agitando bandeiras do Brasil, portando faixas e cartazes onde se liam “Dilma cometeu crime de lesa pátria”, “Fraude eleitoral” e “Enganação, Lei do calote não” e bradando “Fora PT”, “A nossa bandeira jamais será vermelha” e “Vem pra rua”, os manifestantes marcharam pela metade uma das pistas da Avenida Paulista até a sede da Petrobras, sem impedir o tráfego, acompanhados pela Polícia Militar. Conforme tem revelado pela Operação Lava-jato da Polícia Federal, a estatal tem desviado vultosas quantias para partidos políticos.

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O hino nacional e “Ôôô, o PT roubou” ecoaram por longo tempo, repetidas vezes. O protesto contou com um caminhão de som com faixas em português e também em inglês, para a imprensa internacional: “Impeachment já”, “Punição para os ladrões do Petrolão” e “Let all the world know: We aren’t stupids” (Deixe todo o mundo saber: nós não somos estúpidos) e “Petrobras Brazilian Shame” (Vergonha brasileira na Petrobras). Iniciado às 14h, o ato prosseguiu até às 18h30.

O cantor Lobão compareceu e discursou contra o governo e a intervenção militar. “Alô rapaziada! Vamos conseguir tirar o PT da vida pública brasileira. Queremos agradecer aos militares por não terem comparecido. Não estamos pedindo nenhuma intervenção, porque é tiro no pé, quem tem que fazer a resistência é o povo brasileiro. Nós precisamos é do apoio institucional, nós queremos os parlamentares aqui, junto com o povo.”

“O povo não quer o PT, não é só os 51 milhões que votaram no Aécio, mas também todos os 37 milhões que votaram em branco e nulo, todos votos anti-PT. Nosso povo é amoroso, nós temos que tirar o PT do governo, estão desrespeitando a nossa dignidade como povo brasileiro”, discorreu, defendendo a união dos brasileiros.

Lobão também apoiou o trabalho e a luta da Polícia Federal por independência e condições de trabalho. “Um salve para a Polícia Federal, viva a Polícia Federal. Nós não fazemos parte da direita hidrófoba, raivosa e burra. Fora Dilma! Fora PT!”, completou Lobão, que foi aplaudido e cumprimentou as pessoas na rua.

Marcello Reis, do grupo Revoltados On-line, discursou contra a urna eletrônica, a corrupção endêmica e o fisiologismo do governo com o narcotráfico. “Vocês sabem quem fazem parte do Foro de São Paulo? As Farc, da Colômbia! Eles sequestram, matam! O PT mata, Celso Daniel morreu, eles matam! Fora!”

Reis também criticou os impostos abusivos e o descontrole da inflação. “Eu não sou de nenhum partido, sou um cidadão que não aguenta mais tantos impostos, tanta corrupção. Aumentou a comida, aumentou a gasolina, e ainda vão aumentar mais os impostos!”

“O foco do PT e PMDB, e aliados, é destruir a família”, afirmou, e pediu a “a cassação do registro do Partido dos Trabalhadores”. “Nós não queremos o comunismo, nós queremos a liberdade.” Ele completou divulgando o site de uma petição pelo impeachment de Dilma e anulação das eleições (www.fraudenasurnas.com), informando que o site está hospedado fora do país para prevenir intervenção do governo.

O professor e ex-candidato a deputado federal Hermes Nery, do Movimento Legislação e Vida, discursou contra o aliciamento ideológico de fiéis por padres e bispos da CNBB pedindo plebiscito para Constituinte. Após sua fala, Nery deu seu depoimento para Fabiana Ferrante, uma das mídia-ativistas que cobriu o protesto.

“Estamos aqui mais uma vez, com Lobão e outras lideranças, dando apoio a um movimento cívico, que vai crescer, agregar outras lideranças, artistas, e todos os setores da sociedade, para que, pela via institucional, via democrática, estado de direito, nós possamos combater derrubar o PT. Pelo caminho da democracia nós podemos restaurar a democracia nesse Brasil”, disse Nery.

Fábio Barsotti, do grupo Caras Pintadas, discursou: “O governo está inteiramente tomado pela corrupção do PT. Como se não bastassem o mensalão, o petrolão, eletrolão e tantos outros escândalos, também um sistema eleitoral que não permite recontagem dos votos já é, em si mesmo, fraude. E a empresa das urnas, Smartmatic, é venezuelana!” Também esteve presente o Movimento Viva Brasil.

Crianças também compareceram. Comovida, Yara, de 8 anos, denunciou ao microfone: “A minha escola foi assaltada e agora não temos mais brinquedos”. “Ela é o futuro do nosso país”, disse a mãe, abraçando-a.

“Eu estou obrigado a pagar imposto para vagabundos, políticos corruptos, ladrões incapazes que estão massacrando o povo brasileiro”, desabafou para Ferrante um idoso que não se identificou.

“O povo precisa saber o poder que ele tem. A gente vai conseguir sem precisar de militar, o povo já conseguiu tirar o Collor, o povo conseguiu fazer as manifestações de 2013, há provas suficientes, a gente precisa tirar ela [Dilma] e o Foro de São Paulo de lá. Não estamos menosprezando o exército, só estamos falando que o povo tem força e vai fazer acontecer”, declarou a mídia-ativista Fabaiana Ferrante.

“Liberdade de Imprensa”, “Ordem e progresso”, “Fora corruPTos”, “Papuda já” e “Abaixo o Foro de São Paulo” se liam em cartazes manufaturados por toda a avenida. Médicos e professores também marcaram presença: “SOS Educação”, “Não faltam médicos no Brasil, faltam condições de trabalho”.

A manifestação teve poucos incidentes. Um homem que usou um megafone para pedir intervenção militar acabou causando tumulto e foi retirado do local por policias aos gritos de “Fora”. Inicialmente ignorado, ele chegou a ser convidado a subir no caminhão de som para expressar sua opinião, mas preferiu seguir com seu megafone.

Mais cedo, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, foi visto em frente ao MASP panfletando contra o protesto em traje comum, juntamente com um rapaz de camisa vermelha de um time russo em que se lia “Moscou”.

Durante o ato, um grupo de 20 pessoas fantasiadas de personagens do seriado mexicano Chaves fazia no vão do MASP uma homenagem ao ator Roberto Bolaños, falecido nesta sexta-feira (28). Eles não sabiam sobre o protesto marcado no mesmo local.

Rio de Janeiro

No Rio, cerca de 60 pessoas se reuniram na calçada entre as pistas da Avenida Atlântica, em frente ao Copacabana Palace, em Copacabana, Zona Sul da cidade, para protestar contra o PT e o Foro de São Paulo. Como no ato anterior, manifestantes pró-impeachment e pró-intervenção militar conviveram e não houve incidentes. Iniciado às 14h, o protesto seguiu até as 18h no mesmo local, sem se deslocar. Dentre as exigências também constavam a investigação da Smartmatic e a derrubada do decreto 8243 e do PLN36.

Com faixas e cartazes como “PT, o Brasil também precisa de portos, aeroportos, hospitais e escolas”, “Por um Brasil livre do comunismo”, “500 mil assassinatos nos 12 anos do PT”, “Todos contra a clePTocracia”, “Impeachment já, mobilize sua cidade” e também “Intervenção já”, os manifestantes bradaram “Fora Dilma” e “Não adianta fugir de jato, a operação é Lava-Jato”. Houve bozinaços.

“Isto tem que acabar: Porto no Uruguai – US$2,6 bilhões; Metrô na Venezuela – US$1,5 bilhão; Porto em Cuba – US$2,5 bilhões; Hidrelétrica na Nicarágua – US$2,3 bilhões; Rodovia para escoação de cocaína da Bolívia – US$353 milhões; Compra de Pasadena – US$1,18 bilhão; Doação a ditaduras africanas – US$2,3 bilhões”, liam-se num dos cartazes.

Ao parar no sinal, militares num caminhão do Exército que passava pelo local em direção ao Círculo Militar, na Urca, foram aplaudidos e acenaram apoiando a manifestação.

“Nossa Constituição já é uma das mais humanitárias e socialistas que existem e eles querem fazer uma nova”, discursou um dos manifestantes ao microfone, se referindo à mobilização política dos movimentos e partidos de esquerda para realizar a reforma política por meio de plebiscito em vez de referendo. O pequeno carro de som que acompanhava o ato tocou ‘Que país é esse’, da banda Legião Urbana.

A hashtag #brasilnasruashj foi top trend do dia no Twitter. A próxima manifestação está prevista para terça-feira (2), em Brasília, e será principalmente contra o PLN36, que atualmente tramita no Senado Federal.