Internet chinesa alivia censura por um dia sobre dados de perseguição

27/12/2013 12:40 Atualizado: 27/12/2013 13:40

Em 22 de dezembro, a liderança do regime chinês enviou uma mensagem de que não quer assumir a responsabilidade pelos crimes envolvidos na perseguição à disciplina espiritual do Falun Gong, segundo comentaristas políticos.

A mensagem foi comunicada ao permitir uma brecha muito específica no normalmente impenetrável Grande Firewall da China. Notícias sobre a perseguição ao Falun Gong, que têm sido rigorosamente censuradas na internet chinesa, de repente estavam disponíveis pesquisando-se o nome “Li Dongsheng”.

Até poucos dias atrás, Li Dongsheng chefiava a Agência 610, uma organização extralegal do Partido Comunista Chinês (PCC), criada para erradicar a prática do Falun Gong. Em 10 de junho de 1999, o então líder chinês Jiang Zemin criou a Agência 610 em antecipação ao lançamento da campanha de perseguição ao Falun Gong, posta em movimento pouco mais de um mês depois.

Jiang temia a popularidade do Falun Gong, também conhecido como Falun Dafa, e que os ensinamentos morais tradicionais do Falun Gong se tornassem mais atraentes ao povo chinês do que a ideologia ateísta do PCC. Li Dongsheng estava lá desde o início para ajudar Jiang, nomeado inicialmente vice-diretor da Agência 610 e encarregado da propaganda.

De acordo com um anúncio de uma frase em 20 de dezembro no website do órgão disciplinar do PCC, Li está sendo investigado por “graves violações da lei”, embora não especificadas. Li está sendo submetido a uma forma especial e abusiva de interrogatório que o PCC reserva para o seu pessoal, chamado “shuanggui”; e privação do sono e tortura o esperam em algum local secreto.

Extração forçada de órgãos

Em 22 de dezembro, um repórter do Epoch Times pesquisou no Baidu, o principal engenho de busca da internet chinesa, as palavras-chave “Li Dongsheng, colheita de órgãos”.

O primeiro resultado foi um artigo intitulado “Lista de nomes importantes envolvidos no golpe de Estado organizado por Zhou Yongkang”, informou a edição chinesa do Epoch Times em 10 de dezembro. Zhou Yongkang, o ex-chefe da segurança pública da China, junto com o político poderoso agora desgraçado Bo Xilai e outros, planejaram um golpe de Estado para tomar o poder na China.

O segundo resultado da pesquisa mostrou uma reportagem da emissora nova-iorquina NTDTV, intitulada “Milhões de pessoas em todo o mundo apelam pelo fim da extração forçada de órgãos promovida pelo PCC“.

De acordo com investigadores independentes, o regime chinês começou a colheita forçada de órgãos de praticantes vivos do Falun Gong para suprir o comércio de transplante em 2000. Funcionários da Agência 610 foram implicados em ajudar a capturar os adeptos do Falun Gong para a coleta de seus órgãos. Dezenas de milhares de pessoas já foram mortas dessa forma.

Hong Wei, um comentarista político independente, disse à Rádio Som da Esperança (SOH): “Isso [os resultados da pesquisa por ‘Li Dongsheng, colheita de órgãos’] mostra que as autoridades atuais entendem que o crime da colheita de órgãos é tão grande que deve ser julgado pela sociedade internacional. Eles querem que os chineses saibam que a pressão internacional foi criada por causa de Zhou Yongkang, Jiang Zemin, [o ex-chefe da Agência 610] Luo Gan e assim por diante.”

Autoimolação

O repórter do Epoch Times também pesquisou por “Li Dongsheng, Fogo Falso”.

Como vice-diretor da Agência 610 encarregado da propaganda, Li Dongsheng teria ajudado a encenar um incidente na Praça da Paz Celestial em janeiro de 2001, quando supostos cinco praticantes do Falun Gong teriam se imolado. A emissora estatal China Central de Televisão (CCTV) começou imediatamente a exibir um vídeo de propaganda mostrando as figuras falsamente em chamas.

O incidente teve um efeito profundo no povo chinês e em muitas pessoas ao redor do mundo. Muitos ficaram desconfiados do Falun Gong e até hoje esse vídeo ainda afeta o julgamento de muitos a respeito do Falun Gong. Um documentário chamado “Fogo Falso“, juntamente com artigos em várias mídias internacionais, desmascarou o vídeo da CCTV.

O primeiro resultado desta última pesquisa na internet chinesa foi um artigo que explicava como a CCTV encenou as autoimolações, intitulado “A verdade sobre o vídeo de autoimolação na Praça da Paz Celestial”. Os próximos resultados na primeira página eram reportagens da NTDTV, que revelavam que Li Dongsheng havia dirigido e produzido o incidente de autoimolação em janeiro de 2001 para difamar o Falun Gong.

Essas informações nunca foram permitidas aparecer na internet chinesa no passado.

Uma mensagem de cima

Zhang Sutian, um comentarista político independente, diz que, ao liberar resultados de pesquisa surpreendentes no Baidu, a atual liderança do Partido Comunista quer que o povo chinês saiba que eles estão assumindo uma postura diferente em relação à perseguição ao Falun Gong.

“Isso deve ter sido encomendado no mais alto escalão. O objetivo é vazar as informações e deixar que o povo chinês saiba esta informação privilegiada sobre a perseguição ao Falun Gong”, disse Zhang Sutian à SOH.

“O conteúdo permitido no Baidu é totalmente sobre os crimes e a perseguição ao Falun Gong que o PCC mais procurou esconder no passado”, disse Zhang. “Isso significa que há pessoas no PCC que não querem assumir a responsabilidade pelos crimes de Jiang Zemin.”

Zhang disse que a divulgação da informação por meio do Baidu também ajudou a estabelecer uma base para o movimento contra outros funcionários. Vários altos funcionários que desempenharam papéis importantes em perseguir o Falun Gong têm sido demitidos um após o outro, disse Zhang, o que mostra que a perseguição está se tornando difícil de sustentar.