Greve e Copa do Mundo, tudo a ver

31/05/2014 11:28 Atualizado: 31/05/2014 13:27

O estouro de greves pelo país às vésperas da Copa do Mundo de Futebol FIFA 2014 não é de se estranhar. O pós-doutor em economia pela University of Alabama, Adolfo Sachsida, avisou em 2013 que haveria tais greves. Mas por quê?

Ora, estamos próximos à Copa do Mundo, que consumiu bilhões do dinheiro dos pagadores de impostos, tem obras inacabadas e outras que sequer saíram do papel, Estádios “prontos” de última hora, nenhum investimento público em transportes, mobilidade e estrutura e (o que é pior) impossibilitam a iniciativa privada de fazer tais investimentos, pois sabem que são incompetentes para tal, que essa incompetência é clara para a maioria dos cidadãos, que a iniciativa privada faz melhor, gastando menos e sem socializar os custos e prejuízos e que tudo isso aumentaria ainda mais o mico. Resumindo, o Estado detesta e teme a concorrência, pois sabe que ela escancara sua ineficiência frente à eficiência da iniciativa privada.

Sabendo de tudo isso, por que os funcionários públicos e de serviços considerados essenciais como transportes, eletricidade, etc, não fariam greves? É a oportunidade perfeita para chantagear o Estado: “ou nos atendem em nossas reivindicações, ou os serviços continuarão paralisados e o mico da Copa será ainda maior”, ou então: “ou nos atendem, ou paralisaremos os serviços durante a Copa”. Qual a opção que o Estado escolherá?

Além dos bilhões despejados irresponsavelmente em um evento que poderia ser muito melhor organizado pela iniciativa privada, sem a socialização dos prejuízos aos pagadores de impostos. Tanto é verdade que nas edições onde a responsável foi a iniciativa privada, as obras foram concluídas muito antes da Copa, como na França em 1998 e na Alemanha em 2006, com custos menores que os nossos.

Não bastassem os custos já inicialmente altos, houve aumento significativo dos gastos, que em alguns casos alcançaram os 166% de aumento em relação ao projeto inicial (o caso da obra aeroportuária em Salvador/BA, que de R$30 milhões subiu para R$79 milhões).

Portanto, entre aceitar as demandas dos grevistas, ou recusá-las e ver a Copa do Mundo de Futebol ainda mais prejudicada pela falta dos serviços, qual será a decisão do Estado? No fim, os pagadores de impostos novamente arcarão com o prejuízo gerado pelo oportunismo daqueles que sustentamos e da estupidez de um governo que se colocou na posição de refém desses indivíduos. Como todo custo extra impacta no orçamento, não será surpresa se houver aumento de impostos.

No fim de tudo, pagamos pelas obras inflacionadas, pela irresponsabilidade, ineficiência e incompetência do Estado e pelo oportunismo de grevistas que se aproveitam da situação para aumentar os próprios ganhos e nos prestarem serviços inferiores e mais caros.

Roberto Lacerda Barricelli é jornalista e assessor de imprensa do Instituto Liberal

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