Brasil disputa seu lugar como produtor de chocolate de alta qualidade

20/01/2016 10:33 Atualizado: 20/01/2016 10:33

Como quinto maior produtor de cacau, o Brasil esteve ausente do mercado de chocolates de alta qualidade até recentemente. No entanto, um grupo de pioneiros luta por um lugar neste saboroso universo, com barras de cacau puro, aromatizadas com café ou recheadas com frutas amazônicas.

A empresa Mendoá, sediada no sul de Salvador, na Bahia, apareceu inclusive entre os 50 melhores produtores de chocolate do mundo no último Salão de Paris.

O presidente da empresa declarou que pretende parar de exportar matéria-prima, já que acredita na possibilidade de vender um produto final de alta qualidade, assegurou Rodrigo Aquim.

O tablete que mencionou com orgulho, gravado com motivos geométricos, já encantou a rainha da Inglaterra e a família imperial do Japão.

Explicou que o sabor de seu produto evolui de acordo com a colheita: utilizou notas frutadas em 75% da produção de 2014, e intensificou seu uso em 2015.

Ele ressaltou que todo o cacau usado na barra de chocolate vem de uma única parcela da plantação. Por isso, a quantidade de chuva ou de sol durante o ano afeta o gosto do chocolate, explica Alexandre Michelon, representante da marca.

Leia também:
Além do Walmart, Casas Bahia e Ponto Frio também fecham lojas
Presidente da Samarco afirma que barragem de Mariana não será reconstruída

Evolução do sabor

Michelon mostra fotos da “fazenda”: primeiro a sombra enevoada de uma selva tropical, sob a qual crescem arbustos de cacau. Em seguida, os barris de aço inoxidável, onde são fermentadas as frutas, cobertas com polpa esbranquiçada antes da secagem ao sol da Bahia.

Imortalizada nos romances de Jorge Amado, a produção brasileira de cacau é uma das maiores do mundo, e cerca de 90% é destinada à exportação. As 780 mil toneladas de chocolate nacional, no entanto, são quase completamente consumidas no país.

A maioria dos brasileiros prefere chocolate ao leite, adoçado e aromatizado. Um tablete bem escuro com 80% de cacau lhes provoca caretas.

Ele descreveu que o paladar dos consumidores brasileiros evolui lentamente, e que com o aumento do poder de compra, especialmente, buscam produtos gourmet como vinho, queijo… e chocolate de alta qualidade, salientou Caio Tomazelli, da Associação Brasileira da Indústria de Chocolate e Cacau.

Competindo com Suíça ou Bélgica

A produção de chocolates “premium” ainda é modesta. Somando uma infinidade de marcas menores, como Amma ou Montanhês, e cadeias de boutique como Kopenhagen ou Cacau Show, temos 7% de produção nacional.

Mas estes produtos de alta qualidade ganham compradores a cada ano, enquanto as vendas mundiais de chocolate diminuem no país.

De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau e Amendoim (ABICAB), o Brasil – terceiro produtor mundial de chocolate e quarto consumidor mundial – tem os ingredientes necessários para competir um dia com a Suíça ou a Bélgica.

“Nós produzimos todas as matérias-primas em nosso território: o cacau, a cana de açúcar e o leite. Começamos a dominar a tecnologia e treinar nossos chefs em nossas escolas de culinária”, disse Caio Tomazelli.

Leia também:
Quanto pior, melhor: razões inconscientes para o sucesso nas vendas
ENEM 2015 esquece das 65 milhões de mortes causadas pelo comunismo chinês

Na Mendoá, que financiou clínicas e escolas no povoado vizinho à plantação, a tônica está no respeito aos funcionários. “É uma vantagem do chocolate brasileiro em relação aos países que ainda praticam a escravidão ou o trabalho infantil”, disse Leandro Almeida, presidente da marca.

Graças ao seu sucesso internacional, pioneiros brasileiros esperam seduzir os consumidores domésticos, sempre dispostos a imitar a Europa ou os Estados Unidos.

“Quando uma criança sonha com um chocolate, deve sonhar com uma selva tropical, não com uma vaca nas montanhas suíças”, disse sorrindo Rodrigo Achim, que exporta principalmente para a Grã-Bretanha e Portugal.

A prática continua sendo arriscada. Com 12 toneladas de produção anual, o ramo do “chocolate” de empresas familiares acaba de alcançar o equilíbrio em suas contas, depois de sete anos de atividade no Brasil.