A batalha para recuperar o Rio de Janeiro

01/12/2010 03:00 Atualizado: 14/11/2014 00:52

Rio de Janeiro, 30 de novembro 2010. Um total de 130 pessoas foi preso e mais de 37 mortos, além de muitas armas e drogas confiscadas. (Jefferson Bernardes/AFP/Getty Images)Com o relógio correndo para a Copa do Mundo e as Olimpíadas, o governo pretende erradicar os maiores grupos do tráfico

RIO DE JANEIRO – Bandeiras de vitória balançam no alto do Complexo do Alemão, um marco da maior ofensiva contra o narcotráfico já vista no Brasil. A mobilização do governo posta em marcha na semana passada envolveu 2.700 oficiais de diversas forças de segurança.

Três gangues se uniram pela primeira vez para lutar contra o Estado e tomaram conta das favelas nos distritos pobres do Rio de Janeiro. Esses territórios têm estado em perpétuo conflito no Rio por um longo tempo. Por um lado, há o crime organizado, por outro, policiais mal pagos e corruptos. No centro, estão os cidadãos da cidade.

Magdalene Eliene Dutra, uma funcionária do governo de 56 anos, diz que a violência do governo “espalhou medo e insegurança”, mas, por sua vez, ela sente que a violência das gangues chegou ao extremo e apoia a ofensiva do governo. No entanto, ela também suspeita “de abuso no uso da força pela polícia”.

O Rio sediará a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. Diante de tal exposição internacional, o governo provavelmente decidiu que agora é o momento de readquirir o controle da cidade das mãos dos traficantes de drogas.

“A reconquista do território do Complexo do Alemão pelo Estado é um passo fundamental e crucial na política de segurança pública que temos estabelecido para o Rio de Janeiro. Mas o trabalho para garantir de uma vez para sempre o direito de bons cidadãos de ir e vir livremente apenas começou. O objetivo principal de médio a longo prazo é recuperar 30 anos de negligência das comunidades pobres”, disse Sergio Cabral, governador do Rio de Janeiro, num comunicado neste domingo.

Cabral foi reeleito governador do Rio de Janeiro em outubro, com mais de 66% dos votos, de acordo com o Tribunal Eleitoral. Um dos principais pontos em sua campanha foi o programa de segurança.

Para recuperar a “terra de ninguém” do Rio, o governador criou as Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) e instalou-as nas favelas.

Em resposta à crescente pressão da polícia na semana passada, os traficantes atacaram postos policiais, queimaram carros e ônibus, e transformaram a cidade numa zona de guerra.

A grande batalha pelo rio começou

Considerada a maior operação de segurança na história do Brasil, os governos federal e estadual estão usando cada braço do aparelho de segurança do país, o exército, a marinha, a força aérea, as tropas de elite e a polícia, num meticuloso plano de segurança para retomar a cidade.

A operação começou cercando o Complexo da Penha e logo se expandiu para o Complexo do Alemão. Expulsos de outros bairros pobres pelas UPPs, os traficantes fugiram e se concentraram nesta região, uma área composta por 10 bairros, 40 favelas e lar de cerca de 400 mil pessoas.

“Este é o meu compromisso, eu reitero: pacificar todas as comunidades onde há predominância do poder paralelo”, disse Cabral numa declaração oficial no sábado.

Embora da área tenha se tornado um campo de batalha, a população apoia em grande parte as operações e se mostra otimista, esperando que desta vez o governo finalmente seja capaz de libertar a cidade do tráfico de drogas.

Mas, ao mesmo tempo, há questionamentos sobre se combater a violência do tráfico com violência é o caminho correto, e se será efetivo em criar resultados duradouros.

“Eu não acredito em mudanças em longo prazo. Eu penso que deveria haver tratamento para os viciados em drogas”, disse Adel Pereira, um residente de 51 anos do Rio, acrescentando que uma melhor infraestrutura de saúde pública é o que o governo tem de construir para alcançar mudança real.

Com contribuições adicionais de João Felipe.