Uma perseguição diabólica sem precedente – Capítulo 18

Um olhar sobre as diferentes jornadas de uma cultura divina na China e no exterior por meio da dança clássica chinesa

13/01/2020 07:00 Atualizado: 11/01/2020 15:07

Originalmente publicado em inglês em 2016, o Epoch Times tem o orgulho de republicar “Uma perseguição diabólica sem precedente: um genocídio contra o bem na humanidade” (editores Dr. Torsten Trey e Theresa Chu. Clear Insight Publishing, 2016). O livro ajuda a entender a extração forçada de órgãos que ocorre na China, explicando a causa fundamental dessa atrocidade: o genocídio cometido pelo regime comunista chinês contra os praticantes do Falun Gong.

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Capítulo 18: Um olhar sobre as diferentes jornadas de uma cultura divina na China e no exterior por meio da dança clássica chinesa

Por Vina Lee

Eu nasci na China continental no início dos anos 60. Minhas primeiras lembranças coincidem com a Revolução Cultural. Ocasionalmente, eu ouvia conversas abafadas de adultos sobre alguns incidentes infelizes e recentes de enforcamentos suicidas, espancamentos ou outras violências. Em uma idade tão tenra, eu não conseguia entender essas conversas, só sabia que deveria que ter muito cuidado ao sair de casa.

Naqueles dias, os únicos programas de entretenimento cultural na China eram as oito “Óperas de Pequim” e os balés chineses que repetiam a mesma propaganda, cantando louvores às “glórias e conquistas” de Mao Tsé-tung e do Partido Comunista. Estes eram os chamados “Oito Espetáculos Revolucionários Exemplares”. O balé chinês intitulado “A Menina de Cabelos Brancos” era um desses. Um ato, “O Vento Norte Sopra”, marcou o início da minha carreira na dança. Eu era autodidata na época, pois havia assistido ao filme e às performances ao vivo da peça várias vezes.

Naquela época, os “Oito Espetáculos Revolucionários Exemplares” eram exibidos em todo o país e todos, desde grupos profissionais de arte performática, também conhecidos como “conjuntos de música e dança”, até equipes de propaganda amadoras, independentemente da idade ou sexo, conheciam esses oito shows vangloriados. Os shows também se infiltraram em todos os aspectos do dia a dia das pessoas comuns. Um velho ditado chinês, traduzido aproximadamente, “Toda família e cada indivíduo sabem disso”, ilustra o caso. Todos não apenas as conheciam, mas também podiam reencenar e executar as peças. Mas, isso não era por vontade própria.

Antes do final da Revolução Cultural, eu fui admitida em um conjunto de performances e comecei a estudar dança em tempo integral. Meu pai havia trabalhado no campo das artes, mas acabou sendo forçado a mudar de carreira devido às circunstâncias desfavoráveis da época. Ele estava muito hesitante em deixar sua filha seguir uma carreira profissional nas artes. Ele sabia que a verdadeira arte deveria refletir a elevação genuína do caráter moral de um artista. Sem virtude, a arte não seria arte. No entanto, naqueles dias, nenhum artista poderia buscar a verdadeira arte com base em qualidades internas criativas elevadas. Se um artista expressasse sentimentos e emoções genuínos, como bondade ou honestidade, quase certamente enfrentaria alguma agressão ou prisão. No entanto, se o artista deixar de lado a consciência e “cantar louvores ao Partido”, ele ou ela não mereceriam ser chamados de “artistas”.

Eu cresci em uma sociedade permeada pela propaganda do Partido Comunista, com slogans como “Todas as pessoas no mundo vivem em miséria infernal, enquanto nós, os chineses, somos as pessoas mais privilegiadas e mais felizes do mundo” ou “Nosso maior inimigo é o imperialismo norte-americano”. Fomos ensinados a acreditar que, sem o Partido Comunista, seria o nosso fim. Uma vez perguntei a minha mãe: “Por que você não é membra do Partido? Todas as mães das outras crianças são membras do Partido.” Minha mãe respondeu: “Uma pessoa que não é membra do Partido não é necessariamente uma pessoa má.” Logo depois, contra sua vontade, minha mãe se juntou ao Partido simplesmente para que sua filha fosse capaz de manter a cabeça erguida entre os colegas. Anos mais tarde, sempre que esse incidente era abordado, ela dizia: “Se você não tivesse me feito essa pergunta, eu não teria me filiado ao Partido.” O amor de uma mãe por seus filhos pode ser tão desinteressado que ela pode sacrificar voluntariamente seus próprios sentimentos pelo bem deles. Felizmente, logo após o Epoch Times publicar a série editorial, Nove Comentários sobre o Partido Comunista, minha mãe deixou de ser membra do Partido.

Durante a década de 1970, o único método disponível de treinamento em dança na China era uma mistura de dança clássica chinesa e balé clássico. Nesse período, tudo o que existia era com o objetivo de servir o Partido Comunista Chinês, e a importância do Partido era colocada acima de tudo. A arte não era mais uma manifestação da elevação espiritual, ela foi reduzida a uma ferramenta para glorificar o Partido. O esporte não era mais uma forma de recreação e entretenimento para o povo, mas um meio de ajudar o Partido Comunista a se firmar no cenário internacional. Na década de 1970, o trabalho árduo e o esforço dos artistas de renome da China, muitos dos quais haviam se submetido a métodos tradicionais de treinamento com mestres russos, foram quase destruídos pelas consequências das relações sino-russas e pela Revolução Cultural. Muitos foram perseguidos, exilados e enviados para campos de trabalho rural, e muitos outros foram forçados a recorrer a outras ocupações ou profissões. Em um clima cultural de “Se o Partido quer que você morra, você não viverá”, um punhado de artistas sobreviventes se transformou cegamente em propagandistas e aduladores do Partido, conforme ilustrado nos “Oito Espetáculos Revolucionários Exemplares”.

A partir do slogan do Partido, “Faça o passado servir o presente, faça o estrangeiro servir a China”, surgiu uma mistura de dança clássica chinesa e balé clássico. Essa forma de dança mista carecia principalmente: dos aspectos da dança clássica chinesa de yun (sentimento interior) com sua vasta gama de técnicas difíceis; da elegância refinada dos movimentos do balé clássico; e da beleza majestosa do reino divino. Tudo, desde as rotinas de treinamento de dança até as apresentações de balé chinês, foi repleto de propaganda comunista e elogios ao Partido. As performances deixaram as pessoas com um sentimento de vazio, as narrativas e a atuação dos artistas cheiravam mal com falta de sinceridade. No entanto, esse era a condição de toda a sociedade e as pessoas não tinham escolha a não ser aceitar isso como norma.

No entanto, o esplendor dos cinco mil anos de cultura divinamente inspirada da China não pode ser apagado e permanece em muitos aspectos hoje. A dança clássica chinesa tem uma história de milhares de anos. Os caracteres chineses de “dança” e “artes marciais” compartilham a mesma pronúncia, “wu”. Isso é um exemplo das profundas nuances e maravilhas da cultura chinesa. As artes marciais, tradicionalmente usadas para autodefesa e combate, estabeleceram certos movimentos e não devem ser alteradas para assim preservem seus efeitos práticos. Até hoje, os movimentos de artes marciais permaneceram basicamente inalterados por milhares de anos. Nos tempos antigos, os guerreiros atuavam nas cortes imperiais. Essas apresentações eram para fins de entretenimento, e os movimentos das artes marciais foram ajustados de acordo, resultando em uma forma de dança. A dança clássica chinesa é imbuída de yun, ou sentimento interior, uma característica única do povo chinês. A expressão desse sentimento distintivo pode ser observada em todos os movimentos e gestos do dançarino. A dança clássica chinesa foi inspirada e preservada por meio da cultura divina.

A ginástica moderna e acrobacias derivaram muitos dos seus movimentos difíceis da forma de arte imensamente expressiva da dança clássica chinesa, que tem uma ampla gama de formas de expressão que permite aos dançarinos darem vida a narrativas elaboradas e personagens complexos no palco. Da masculinidade à feminilidade, dos movimentos suaves e fluidos aos movimentos estruturados, dos movimentos longos e estendidos às formas graciosas, a dança clássica chinesa tem um vocabulário rico.

Quando a Revolução Cultural terminou em 1976, a China entrou no chamado período de “Abertura da China”. Alguns mestres de dança clássica voltaram ao ensino e tentaram recuperar as características únicas da dança chinesa. Embora não pudessem escapar completamente da influência do método misto politizado da dança clássica chinesa e do balé clássico no treinamento fundamental, eles foram capazes de desenvolver métodos de ensino relativamente sofisticados para o shen yun, ou orientação interior. Eles também pensaram que os movimentos de dança foram extraídos, desenvolvidos e evoluídos a partir das artes marciais, e também do xiqu (ópera) e teatro tradicionais chineses. Na realidade, os movimentos realmente se originaram na antiga cultura divinamente inspirada da China.

Durante esse período, a Academia de Dança de Pequim comemorou seu primeiro grupo de formandos. Eu me formei nessa classe e nos graduamos em um dos três campos diferentes: dança clássica chinesa, balé ou coreografia.

Com a política de “Abertura da China”, que visa introduzir a cultura ocidental, as interações entre os chineses e a comunidade internacional de dança se tornaram mais frequentes. No entanto, a maioria dessas comunicações girava em torno do balé e da dança moderna. Um pequeno número de professores chineses de dança se aventurou no exterior, mas o único conhecimento que eles trouxeram foi uma admiração obsessiva pelos elementos da dança contemporânea. O interesse da comunidade de dança chinesa nesses novos elementos estrangeiros excedeu em muito seu interesse na dança clássica chinesa. Muitos dançarinos voltaram sua atenção para a dança contemporânea. O destaque do balé também aumentou na China, com bailarinos chineses ganhando frequentemente prêmios em competições internacionais de balé. Muitos dançarinos talentosos deixaram a China para avançar em suas carreiras no exterior. O desinteresse geral da sociedade pela dança clássica chinesa forçou um grande número de excelentes dançarinos chineses clássicos a mudar para outros campos da dança, como o balé ou a dança contemporânea, ou aposentar-se precocemente.

Embora o Partido Comunista Chinês aparentemente tenha acolhido as ideias ocidentais durante o período de “Abertura da China”, ele ainda estava muito preocupado com a ameaça potencial que isso representava para a ideologia comunista. Isso resultou em uma aceitação superficial das ideias ocidentais, que só permitiam às pessoas participarem em atividades materialistas, com proibição estrita de qualquer coisa que tocasse em assuntos religiosos ou espirituais.

A comunidade de dança chinesa rapidamente dominou as técnicas de dança ocidental, mas não conseguiu compreender os sentimentos internos e a essência artística das formas de dança ocidental. Isso resultou em uma imitação superficial da cultura ocidental, fundida com a supressão do conteúdo espiritual da cultura chinesa, e levou a trabalhos coreográficos distorcidos que procuravam escapar da realidade enquanto recorriam à mente subconsciente. Esse “estilo chinês” transformou a dança chinesa em um medley misto, uma fusão caótica de diferentes formas de dança. Com exceção das apresentações de dança dedicadas à glorificação do Partido Comunista, as apresentações de dança predominantes daquela época giravam em torno do surrealismo e do ultramodernismo. Se o público não conseguia compreender o desempenho, era considerado um desempenho superior; se os próprios artistas não conseguiam entender o desempenho, isso era considerado notável. Certa vez, tive uma discussão com um renomado diretor chinês sobre o tema da dança chinesa pós-década de 1990. Ele disse: “As performances hoje em dia… mesmo um profissional de dança como eu não conseguem entender o que estão tentando transmitir, muito menos o público comum.” Até as performances que retratam clássicos chineses, completas com trajes tradicionais chineses, foram infundidas com uma pesada dose de “estilo chinês”, um produto distorcido da ideologia moderna distorcida.

Ao olhar para a jornada da dança clássica chinesa, realmente ninguém valorizou a genuína cultura chinesa? Ou foi o Partido Comunista que destruiu deliberadamente a cultura divinamente inspirada da China?

Por meio do seu regime totalitário, o Partido Comunista forçou o ateísmo no sistema de crenças do povo chinês. O Partido coagiu as pessoas a abandonarem valores tradicionais como “o bem será recompensado e o mal será punido” e substituiu esses valores por doutrinas como “faça como o todo-poderoso Partido ordena”. Nesse tipo de ambiente moralmente corroído, em que todos vivem e respiram a ideologia maligna e antidivina do Partido, o povo chinês perdeu inadvertidamente sua confiança mútua e se tornou cada vez mais egoísta e ganancioso. A vida nesse ambiente implica estados anormalmente elevados de medo e suspeita; o povo chinês foi levado a acreditar que esse é o único modo de vida. O Partido Comunista Chinês destruiu cinco mil anos de valores, tradições e história da civilização chinesa. Isso não se refere apenas à destruição intencional de inúmeros tesouros e artefatos nacionais inestimáveis, mas à devastação do tecido moral fundamental da cultura chinesa.

Depois de migrar para a Austrália em 1998, tive a sorte de encontrar a disciplina espiritual do Falun Dafa, uma prática de cultivo baseada nos princípios universais da “Verdade, Compaixão e Perseverança”. Isso me levou a repensar minha vida, e me deu uma perspectiva totalmente nova sobre mim e o mundo ao meu redor. Para minha surpresa, os elementos da cultura tradicional chinesa que eu não gostava nem entendia antes, como as pinturas de paisagens chinesas, foram realçados sob uma luz completamente nova. Essas pinturas aparentemente simples capturavam o estilo de vida tranquilo dos antigos, ilustrações vívidas da filosofia chinesa antiga de “harmonia entre o Céu e a humanidade”. Não pude deixar de lamentar o quanto perdi no passado!

Em 2003, recebi um convite da New Tang Dynasty Television de Nova York para participar da apresentação da Gala de Ano Novo da NTDTV em 2004. Aceitei o convite e conheci vários artistas chineses estrangeiros e descobri que compartilhamos jornadas muito semelhantes. Crescemos na China e adquirimos nossas habilidades profissionais sob a cultura do Partido Comunista Chinês. Depois de morar no exterior por alguns anos, percebemos como o Partido Comunista Chinês distorceu nossa cultura e nossas vidas. Então, percebemos quão preciosa era nossa cultura e herança ancestral. Em 2004, também compartilhamos um objetivo comum de mostrar ao mundo a profundidade da cultura e dos valores tradicionais chineses por meio das artes cênicas.

Alguns anos depois, tive o privilégio de ingressar no Shen Yun Performing Arts. A missão do Shen Yun, cuja tradução significa “a beleza dos seres divinos dançando”, é reviver os cinco mil anos de cultura e valores chineses divinamente inspirados por meio da dança e música clássicas chinesas.

Desde sua criação em 2006, todo ano o Shen Yun realiza um conjunto completamente novo de programas em centenas de cidades ao redor do mundo. As performances do Shen Yun são principalmente de dança e música clássica chinesa. Os programas apresentam atos dramáticos de dança baseados em histórias de personagens, mitos e lendas chineses. As danças femininas são graciosas e belas, como se poderiam imaginar donzelas celestes dançando. As danças masculinas deslumbram e impressionam com técnicas executadas com maestria. As performances capturam verdadeiramente o espírito da dança clássica chinesa e o compartilham com o público. A música do Shen Yun é uma bela harmonia do Oriente e do Ocidente, sintetizando uma mistura única de instrumentos chineses e orquestra ocidental. A música se funde perfeitamente com os dançarinos no palco, dando vida aos ricos sabores da cultura chinesa. A performance do Shen Yun também possui uma variedade de trajes de tirar o fôlego, cada traje é de fato uma obra de arte em si. A performance é aprimorada ainda mais pela engenhosa integração de um cenário 3D digital animado, com os artistas dançando no palco em um momento e interagindo com a cena virtual num momento seguinte.

O Shen Yun realiza várias centenas de shows a cada ano, incentivando e inspirando inúmeros membros da plateia com sua positividade. Em troca, o público recompensou o trabalho e a dedicação dos artistas do Shen Yun com genuínos aplausos e lágrimas de apreciação.

Os artistas do Shen Yun mantêm rigorosamente os padrões profissionais e se esforçam diligentemente para aderir aos princípios morais da Verdade, Compaixão e Perseverança. Consequentemente, não surpreende que, sejam os movimentos de um dançarino ou as notas musicais de um músico da companhia, haja uma bondade e pureza poderosas e imanentes ao longo da performance. Isso reflete conceitos da cultura divinamente inspirada da China, como a “unidade do Céu e da humanidade”, o “equilíbrio de força e gentileza” e a “harmonia interna e externa”. A verdadeira beleza e virtude não podem ser mascaradas. Uma pessoa que é bela interna e externamente, em seu caráter moral e atitudes ou gestos, é digna de admiração.

Como resultado de minha participação nas apresentações do Shen Yun, minha compreensão da cultura divinamente inspirada da China se aprofundou. Graças ao Shen Yun, eu tive a oportunidade de redescobrir e reaprender a pura dança clássica chinesa. Cinco mil anos de civilização chinesa contêm tamanha riqueza de recursos artísticos, uma abundância aparentemente inesgotável de materiais e inspiração. Claro, é muito mais do que apenas recursos artísticos; também abrange uma infinidade de princípios morais e valores universais. A cultura chinesa não é apenas a riqueza da China, mas também um tesouro inestimável para o mundo inteiro.

O mal nunca triunfará sobre o bem; a boa vontade finalmente triunfará sobre o mal. Essas são crenças dadas por Deus. A dança clássica chinesa é muito mais do que apenas uma forma de arte; é uma manifestação dos valores espirituais de uma cultura divinamente inspirada. A excelência profissional e o desenvolvimento do caráter moral andam de mãos dadas para um dançarino chinês clássico verdadeiramente virtuoso e de excelência.

Sinto-me extremamente grata por saber que o Shen Yun Performing Arts, baseado nos EUA, é capaz de compartilhar a autêntica dança clássica chinesa com o mundo. Acredito que o Shen Yun leva ao público muito mais do que apenas uma bela performance de palco, mas uma mensagem espiritual de esperança.

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