“Ciência da vida”: Princípios ayurvédicos para uma primavera saudável

Ayurveda enfatiza a importância de estar em sintonia com a natureza e trabalhar com as estações do ano, e não contra elas.

Por Jennifer Galardi
06/04/2024 00:04 Atualizado: 06/04/2024 09:44
Matéria traduzida e adaptada do inglês, originalmente publicada pela matriz americana do Epoch Times.

Assim como a sabedoria da Mãe Natureza orienta os botões a brotarem e a grama a crescer durante os meses da primavera, o Ayurveda, o antigo sistema de saúde da Índia, pode nos ajudar a aproveitar os rituais para obter saúde e bem-estar ideais durante essa época do ano.

Para aqueles que estão pensando em embarcar em uma jornada para melhorar a saúde, a primavera — a estação dos recomeços e do renascimento — é um excelente momento para isso.

Estamos fora de equilíbrio com a natureza?

“Quando o clima começa a mudar, ele afeta nossa saúde e bem-estar”, disse Laurie Dean, médica ayurvédica certificada pela National Ayurvedic Medical Association (NAMA), ao Epoch Times.

Ayurveda significa “ciência da vida” e foi apresentada há mais de 5.000 anos em textos védicos como ensinamentos abrangentes sobre a preservação e a manutenção da saúde. Uma das principais doutrinas do Ayurveda é que os seres humanos são simplesmente um microcosmo do macrocosmo. Dessa forma, reagimos não apenas às mudanças ambientais diárias, mas também às sazonais.

Essa resposta se manifesta em nossos desejos por alimentos em determinadas épocas do ano. O inverno geralmente traz o desejo por alimentos quentes, densos e nutritivos, como sopas, ensopados e pães. No verão, é mais provável que a pessoa deseje alimentos hidratantes e refrescantes, como melancia, saladas e até mesmo sorvete.

O Ayurveda postula que os cinco elementos encontrados na natureza — éter (ou gás), ar, fogo, água e terra — também estão presentes no corpo humano. Entender como esses elementos emergem e interagem e como o corpo responde às mudanças do ambiente é a ciência do Ayurveda. De acordo com a sabedoria ayurvédica, a natureza humana é composta por uma mistura de três combinações de elementos: “vata”, que combina os elementos de éter e ar; “pitta”, que combina fogo e água; e “kapha”, uma fusão de terra e água – com um deles geralmente predominante. Esses são conhecidos como os “doshas” ou constituições primárias. Equilibrá-los de acordo com os ritmos da natureza é a chave para a saúde fisiológica, mental e espiritual definitiva.

“A natureza sempre nos trouxe nosso remédio e nosso alimento”, disse Kathryn Templeton, conselheira profissional licenciada e praticante ayurvédica certificada pela NAMA, ao Epoch Times. “Agora, é diferente”, ressaltou ela. “Estamos fora do relacionamento com a natureza.” Os alimentos que normalmente só são cultivados no verão, como os morangos, agora podem ser adquiridos em qualquer época do ano, assim como os alimentos não nativos de nossa terra. De acordo com os princípios ayurvédicos não comer o que a natureza oferece em épocas específicas do ano pode causar problemas digestivos e, eventualmente, pode até levar a doenças se os desequilíbrios não forem tratados com antecedência suficiente.

A Sra. Templeton comentou que, atualmente, a maioria das pessoas também está se nutrindo menos e comendo mais, o que contribui para doenças crônicas como a obesidade. “Todos os seus sentidos comem; todos eles nutrem”, disse ela. Nutrir-se deve ser uma experiência sensorial. De acordo com a Sra. Templeton, “a comida tem que parecer apetitosa, tem que ter um cheiro apetitoso, tem que ter um sabor apetitoso”. Ela também afirma que comer com as mãos – uma prática que muitas culturas mantêm – é uma experiência muito mais satisfatória.

Alinhando os hábitos com o sol

Muitos especialistas modernos em saúde estão dando uma nova interpretação a alguns dos princípios fundamentais do Ayurveda e os comercializando como algo novo, como o jejum intermitente.

Teoricamente, a alimentação deve cessar quando o sol se põe. “Não precisamos de comida depois disso”, afirmou a Sra. Templeton. Comer de acordo com os ritmos circadianos — quando o sol se põe e nasce — também permite naturalmente um período de jejum prolongado. O sono profundo permite que o corpo descanse, repare e digira pensamentos e emoções. Ele não pode fazer isso bem ou com eficiência se estiver muito ocupado digerindo uma refeição grande e pesada. Estudos demonstraram que uma rotina noturna atrasada pode levar à alteração dos ritmos circadianos e à disfunção metabólica.

Um novo começo para a temporada

A primavera é a estação do nascimento e é “a época do ano mais exuberante, mais madura e mais voltada para o crescimento”, disse a Sra. Templeton.

É também um período vital de transição, e alterar nossas dietas e hábitos diários é crucial para administrar a mudança e prosperar. A Sra. Dean ofereceu algumas dicas para aproveitar essa época do ano e sua oportunidade de renovação.

Primeiro, acorde mais cedo. Isso pode ser mais difícil nos primeiros dias da primavera, principalmente quando os relógios adiantam e ainda pode estar escuro às 7h da manhã. Entretanto, acordar antes das 6h ajudará o corpo e a mente a se sentirem mais energizados. Se você não for uma pessoa que gosta de acordar de manhã, a Sra. Dean recomenda começar devagar. Coloque o despertador 15 minutos mais cedo do que o horário habitual de acordar por alguns dias e aumente gradualmente até atingir a meta prescrita. Com a chegada da primavera, seu corpo começará a se sincronizar com o nascer do sol mais cedo.

A Sra. Dean também recomenda movimentar-se pela manhã para revitalizar seu corpo e observar e apreciar a mudança no ambiente ao seu redor.

Quanto à dieta, a primavera pode exigir a incorporação de alimentos mais leves. Dar preferência a alimentos com sabores pungentes, adstringentes e amargos ajudará o corpo a eliminar o peso e a umidade do inverno. Brotos de folhas mais escuras, como urtigas e dentes-de-leão são naturalmente purificadores e podem ser transformados em chás. A Sra. Dean gosta de começar o dia com chá de Tulsi (também conhecido como manjericão sagrado) com uma pequena quantidade de mel. O Tulsi, descrito como a “Rainha das Ervas” tem um efeito de aquecimento suave e ajuda a eliminar o excesso de peso dos pulmões e do trato respiratório. O mel tem um efeito de raspagem e oferece doçura e suporte digestivo.

Mostarda, rúcula, espinafre, couve e aspargos são excelentes opções. A Sra. Dean também sugere adicionar pequenas quantidades de gengibre, alho fresco, pimenta-do-reino ou pimenta-caiena aos pratos para “dar uma faísca que ajude a animar seu paladar e a si mesmo”.

Embora a mudança da dieta diária para uma mais sinérgica com a estação seja incentivada, uma limpeza mais focada e intensa pode ser necessária, dada a cultura atual de ritmo acelerado e a desconexão com a natureza. O protocolo específico de desintoxicação e rejuvenescimento do Ayurveda é conhecido como “panchakarma”, que significa “cinco terapias“. Ele pode ser realizado por apenas três dias ou até um mês e, normalmente, inclui ervas especiais, oleação diária — a ingestão de óleos — para ajudar a soltar e remover as toxinas dos tecidos e outras terapias de limpeza.

A Sra. Dean incentiva aqueles que desejam aproveitar a estação para adotar uma saúde melhor a “reservar um tempo para refletir sobre como seria e como se sentiria para você. Em seguida, tome medidas para adotar uma nova rotina sazonal que o ajudará a entrar na natureza revitalizada da primavera”.