Nove Comentários sobre o Partido Comunista – Capítulo 6

Por Redação Epoch Times Brasil
29/11/2024 19:38 Atualizado: 30/11/2024 15:09

COMENTÁRIO SEIS

Como o Partido Comunista Chinês Destruiu a Cultura Tradicional

Prefácio

A cultura é a alma de uma nação. Esse fator espiritual é tão importante para a humanidade quanto fatores físicos como a raça e a terra.
Os fenômenos culturais determinam a história da civilização de uma nação. A destruição completa de uma cultura nacional leva ao seu fim. Nações antigas que criaram civilizações gloriosas foram consideradas mortas quando suas culturas desapareceram, mesmo que remanescentes desses povos possam ter sobrevivido. A China é a única civilização do mundo que transmitiu sua cultura continuamente por mais de 5.000 anos. A destruição de sua cultura tradicional é um crime imperdoável. 

Para os chineses, sua cultura é um legado outorgado pelo divino, partindo da gênese da criação do céu e da terra por Pangu[1], da humanidade por Nüwa[2], da identificação de centenas de ervas medicinais feitas por Shennong[3] e da criação dos caracteres chineses por Cangjie[4], essa cultura transmitida pelos deuses foi estabelecida . “O homem segue a Terra, a Terra segue o Céu, o Céu segue o Tao e o Tao segue o que é natural”[5], dizia Lao-Tsé — a sabedoria taoista sobre a união entre o Céu e a humanidade pulsa nas veias da cultura Chinesa. Há mais de dois mil anos, Confúcio abriu uma escola para ensinar aos estudantes e transmitir à sociedade os ideais do Confucionismo representados pelas cinco virtudes cardeais: benevolência, retidão, decoro, sabedoria e fé — “Grandes aprendizados promovem o cultivo da virtude”, dizia ele[6]. No primeiro século (d.C.), o Budismo de Sakyamuni viajou para o leste em direção à China, dando ênfase à compaixão e à salvação de todos os seres. A cultura chinesa se tornou mais ampla e profunda. Destes eventos em diante, o Confucionismo, o Budismo e o Taoísmo tornaram-se crenças complementares na sociedade chinesa, levando a Dinastia Tang (618- 907 d.C.) a um apogeu de glória e prosperidade reconhecido mundialmente.

Embora a nação chinesa tenha sofrido invasões e ataques diversas vezes na história, sua cultura tradicional demonstrou perseverança e vigor, garantindo que sua essência fosse continuamente transmitida para as gerações posteriores. A unidade entre o Céu e a humanidade representa a cosmologia dos ancestrais chineses — abrangendo nisso que é senso comum a recompensa pela conduta bondosa e a retribuição pelo mal; que não fazer ao próximo aquilo que não se quer feito a si é uma virtude básica; que lealdade, piedade filial, dignidade e justiça formaram os padrões sociais; e que as cinco virtudes cardeais de Confúcio estabeleceram as bases para a moralidade social e individual. Com esses princípios, a cultura chinesa incorporou honestidade, bondade, harmonia e tolerância. Até mesmo as lápides de chineses comuns mostravam reverência “aos Céus, à Terra, ao  monarca, aos pais e professores”. Essa é uma expressão cultural das profundas raízes das tradições chinesas, que incluem adoração ao Divino (Céu e Terra), lealdade ao país (o monarca), valores familiares (pais) e respeito pelos professores. A cultura tradicional chinesa busca a harmonia entre o homem e o universo, e enfatiza a ética e a moral do indivíduo. Foi baseada na fé das práticas de cultivo do Confucionismo, Budismo e Taoísmo que a cultura chinesa proporcionou ao seu povo tolerância, progresso social, proteção à moralidade humana e crenças virtuosas — retas.

Diferente da lei, que prescreve regras rígidas, a cultura exerce uma restrição suave. A lei pune depois que um crime é cometido, enquanto a cultura tradicional, ensinando primeiro a moralidade, previne que crimes aconteçam. A moralidade de uma sociedade é comumente manifesta em sua cultura.

Na história da China, a cultura tradicional teve seu auge durante a próspera Dinastia Tang, coincidindo com o auge do poder da nação chinesa. A ciência também era muito avançada e desfrutava de uma reputação inigualável entre todas as nações. Acadêmicos da Europa, do Oriente Médio e do Japão vinham para estudar em Chang’an, a capital da Dinastia Tang. Países vizinhos tinham a China como Estado suserano. “Uma miríade de países vinham pagar tributos para ter um bom relacionamento com a China, eles se esforçavam para traduzir suas línguas, inúmeras vezes quando necessário,  para superar a barreira do idioma”.[7]

Depois da Dinastia Qin (221-207 a.C.), frequentemente grupos étnicos minoritários ocuparam a China. Isso aconteceu durante as Dinastias Sui (581-618 d.C.), Tang (618-907 d.C.), Yuan (1271-1361 d.C.), Qing (1644-1911 d.C.) e em outras épocas, quando minorias étnicas governaram. Entretanto, quase todos esses grupos étnicos foram assimilados aos costumes chineses. Isso mostra o grande poder de integração da cultura tradicional chinesa. Como disse Confúcio: “[Então], se as pessoas de longe não forem cooperativas, lide com elas por meio do cultivo da [nossa] cultura e virtude”.[8]

Desde que chegou ao poder em 1949, o Partido Comunista Chinês (PCCh) dedicou os recursos da nação para destruir a cultura tradicional da China. Essa intenção doentia não veio do zelo do Partido pela industrialização, nem por um desejo tolo de emular a civilização ocidental. Ela veio, na verdade, da inerente oposição ideológica do Partido à cultura tradicional chinesa. Assim, a destruição da cultura chinesa foi planejada, organizada e sistemática – apoiada pelo uso da violência do Estado. Desde seu estabelecimento, o PCCh nunca parou de “revolucionar” a cultura chinesa na tentativa de destruir completamente seu espírito.

Mais desprezível ainda do que a destruição da cultura tradicional pelo PCCh é o seu mau uso intencional e modificações dissimuladas da cultura tradicional. O Partido deu ênfase aos eventos mais desprezíveis da história da China, coisas que ocorreram sempre que as pessoas divergiram dos valores tradicionais, tais como a luta interna pelo poder dentro da família real, o uso de táticas e conspirações e o exercício da ditadura e do despotismo. O PCCh usou esses exemplos históricos para ajudar na criação de seu próprio conjunto de valores morais, formas de pensar e seu sistema de discurso. Ao fazer isso, o PCCh deu a falsa impressão de que a “cultura do Partido” era na verdade uma continuação da cultura tradicional chinesa. O Partido Comunista tirou proveito até mesmo da aversão de algumas pessoas pela “cultura do Partido” para incitar ainda mais o abandono da autêntica tradição chinesa.

A destruição da cultura tradicional pelo PCCh trouxe consequências desastrosas para a China. As pessoas no país não somente perderam sua orientação e valores morais, como também  foram doutrinadas à força pelas teorias malignas do Partido.

Por que o Partido Comunista Chinês quis sabotar a cultura tradicional?

A longa tradição da cultura chinesa baseada em fé, moralidade e virtude

A autêntica cultura da nação chinesa teve seu início há cerca de cinco mil anos, com o lendário Imperador Amarelo, ou Imperador Huang, considerado o ancestral mais antigo da civilização chinesa. Na verdade, acredita-se que o Imperador Amarelo foi o fundador do Taoísmo, também chamado de escola de pensamento de Huang-Lao. A profunda influência do Taoísmo no Confucionismo pode ser identificada nas palavras de Confúcio, tais como: “Aspire pelo Tao, alinhe-se com a virtude, siga a benevolência e mergulhe nas artes” e “Se alguém ouve o Tao pela manhã, pode morrer sem remorsos à noite”.[9] O Livro das Mutações (I Ching), que descreve manifestações dos Céus e da Terra, do yin e yang, das alterações cósmicas, da ascensão e declínio social e das leis da vida humana, foi considerado pelos estudiosos do confucionismo como “o número um entre os clássicos chineses”. A capacidade preditiva do livro impõem-se além da compreensão e explicações da ciência moderna. Somado ao Taoísmo e ao Confucionismo, o Budismo, especialmente o Zen budismo, exerceu uma sutil, porém profunda, influência nos intelectuais chineses.

O Confucionismo era a parte da cultura tradicional chinesa que enfatizava o convívio no mundo”. Ele se concentrou na ética baseada na família, em que a piedade filial exercia um papel extremamente importante, ensinando que “toda bondade começa com a piedade filial”. Confúcio defendeu “benevolência, retidão, decoro, sabedoria e fé”, mas também disse: “Não são a piedade filial e o amor fraterno as raízes da benevolência?”

A ética familiar pode naturalmente ser estendida para guiar a moralidade social. A piedade filial pode se estender à lealdade dos subordinados ao monarca. Confúcio disse que: “Raramente uma pessoa que cultive a piedade filial e o amor fraterno será capaz de ofender seus superiores10[10] .O amor fraterno é a relação entre irmãos e pode se estender para retidão e justiça entre amigos. Os confucionistas ensinam que, na família, um pai deve ser bom, um filho afetuoso, um irmão mais velho, amigo, e um irmão mais novo, respeitoso. Aqui, a bondade paterna pode se transformar na benevolência do governante a seus subordinados. Enquanto as tradições de uma família puderem ser mantidas, a moralidade social naturalmente será sustentada. Confúcio escreveu em O Grande Aprendizado: “Cultivar a si mesmo, ordenar a família, governar o Estado de forma correta e pacificar tudo sob os Céus”.[11]

O Budismo e o Taoísmo são partes da cultura chinesa que dão ênfase a “transcender o mundo humano”. A influência do Budismo e do Taoísmo pode ser encontrada em todos os aspectos da vida do povo chinês. Práticas profundamente enraizadas no Taoísmo incluem medicina chinesa, qigong, feng shui (geomancia chinesa) e adivinhação. Essas práticas bem como as concepções budistas sobre reinos celestiais e o inferno, sobre as recompensas cármicas para o bem e a retribuição para o malformaram, junto da ética confucionista, o cerne da cultura tradicional chinesa.

As crenças do Confucionismo, Budismo e Taoísmo ofereceram ao povo chinês um sistema moral muito estável, imutável “enquanto houver os Céus”.[12] Esse sistema ético proporcionou as bases para sustentabilidade, paz e harmonia na sociedade.

A moralidade pertence ao reino do espírito; e é, assim, muitas vezes conceitual. A cultura expressa esse tipo de sistema moral abstrato em uma linguagem de compreensão comum — algo que, a exemplo, se condensa nos Quatro Clássicos Chineses, os quatro mais famosos romances da literatura do país.

Observando estas obras, Jornada ao Oeste[13] é uma história mística. O Sonho da Câmara Vermelha[14] começa com um diálogo entre uma pedra espiritual, a Divindade do Espaço Infinito e o Tao do Tempo Sem Limite no Desfiladeiro Sem Sopé da Grande Montanha do Desperdício – esse diálogo oferece pistas sobre o drama humano que se desenvolve no romance. A Margem da Água[15] começa com um conto sobre como o Primeiro-Ministro Hong, oficial encarregado de assuntos militares, acidentalmente liberta 108 demônios. Essa lenda explica a origem dos “108 militantes hábeis”. O Romance dos Três Reinos[16] começa com um aviso celestial sobre um desastre e termina com a inevitável conclusão da vontade Divina: “Os assuntos do mundo correm como a incessante correnteza de um rio; um destino procalamado pelos Céus, infinito em seu alcance, condena a todos”. Outras histórias muito conhecidas, tais como O Romance de Zhou do Leste[17] e A História Completa de Yue Fei[18] , todas começam com lendas similares.

A utilização de mitos por esses romancistas não foi uma coincidência, mas um reflexo da filosofia básica dos intelectuais chineses em relação à natureza e à humanidade. Esses romances influenciaram profundamente o povo chinês. Quando se fala em “retidão”, pensa-se em Guan Yu (160-219 d.C.), dos Três Reinos, mais do que no próprio conceito: pensa-se em como a retidão dele com relação aos amigos transcendeu as nuvens e alcançou os Céus; como sua imutável lealdade a seu superior e irmão de juramento, Liu Bei, ganhou o respeito até de seus inimigos; como sua coragem nas batalhas prevaleceu, carregando-o pelos perigos máximos; em sua heróica resistência final, na batalha perto da cidade de Mai; e sua conversa última, por fim reencontrando postumamente o seu filho como uma divindade. Quando se fala de “lealdade”, o povo chinês naturalmente pensa em Yue Fei (1103-1141 d.C.), um general da Dinastia Song, que serviu a seu país com lealdade e integridade sem limites, e Zhuge Liang (181-234 d.C.), Primeiro-Ministro do Estado de Shu, durante o período dos Três Reinos, que “deu tudo de si até seu coração parar de bater”.

Esses autores vividamente explicitaram a reverência pela lealdade e pela retidão que permeia a cultura tradicional chinesa. Princípios morais abstratos, refletidos nesse arcabouço literário, foram imortalizados em expressões culturais.

O Taoísmo enfatiza a verdade, o Budismo enfatiza a compaixão, e o Confucionismo valoriza a lealdade, a tolerância, a benevolência e a retidão. A compilação do cânone toaísta — Dao Cang — registrou: “Enquanto suas formas diferem, seus objetivos são os mesmos… todos eles inspiram o povo a retornar à bondade.”[19] Esses são os aspectos mais valiosos da cultura tradicional chinesa, baseada nas crenças do Confucionismo, Budismo e Taoísmo.

A cultura tradicional chinesa é preenchida com conceitos e princípios como Céus, Tao, Deus, Buda, destino, predestinação, benevolência, retidão, decência, sabedoria, fidelidade, honestidade, vergonha, lealdade, piedade filial, dignidade – e assim por diante. Muitos chineses podem ser analfabetos, mas ainda assim estão familiarizados com peças e óperas tradicionais. Essas formas culturais foram um importante meio para permitir o aprendizado de valores morais tradicionais. O que decorre é que a destruição da cultura tradicional chinesa pelo PCCh é um ataque direto à moralidade chinesa — que mina as bases para a paz e a harmonia na sociedade.

A maligna teoria comunista se opõe à cultura tradicional

A “filosofia” do Partido Comunista contradiz completamente a autêntica cultura tradicional chinesa — uma cultura que respeita desígnios celestiais. Confúcio pontuou: “A vida e a morte são predestinadas, e a riqueza e a posição social são determinadas pelos Céus.”[20] Tanto o Budismo quanto o Taoísmo são doutrinas que acreditam no Divino, na reencarnação, no ciclo de vida e morte e na causalidade cármica do bem e do mal.
O Partido Comunista, ao contrário, não somente é ateu, como também promove o caos em desafio ao Tao” e em violação de princípios celestes. O Confucionismo valoriza a família, mas o Manifesto Comunista claramente promove a abolição dela. A cultura tradicional diferencia o chinês do estrangeiro, mas o Manifesto Comunista exorta o fim da nacionalidade. A cultura confucionista exalta a bondade ao próximo, mas o Partido Comunista estimula a “luta de classes”. A cultura confucionista defende a lealdade ao monarca e o amor pela nação. O Manifesto Comunista encoraja a eliminação das nações.

Para conseguir e manter o poder na China, o Partido Comunista primeiro teve de plantar em solo chinês sua linha imoral de pensamento. Mao Tsé-Tung proclamou: “Se alguém quiser derrubar um regime político, precisa primeiro criar a opinião pública e fazer o trabalho ideológico preparatório”.[21] O PCCh percebeu que a sua “teoria” comunista — rejeitos do que havia de pior no Ocidente, sustentados pelo cano das armas — não conseguia resistir diante da profunda herança cultural de cinco mil anos da China. Assim, o PCCh destruiu completamente a cultura tradicional chinesa, para que o marxismo e o leninismo pudessem ganhar destaque no cenário político chinês.

A cultura tradicional é um obstáculo para a ditadura do Partido Comunista Chinês

Mao Tsé-Tung disse certa vez, de forma categórica, que ele não seguia nem o Tao nem os Céus.[22] Sem dúvida, a cultura tradicional chinesa serviu como um enorme obstáculo aos planos do Partido Comunista Chinês de desafiar o Tao e à sua luta contra os Céus.

A lealdade, na cultura tradicional chinesa, não significa devoção cega. Aos olhos do povo, o imperador é o “filho dos Céus”, com os Céus acima dele. O imperador nem sempre estaria certo; portanto, havia a necessidade dos observadores apontarem os erros do imperador. O sistema de crônica chinês tinha historiadores que registravam todas as palavras e feitos do imperador. Oficiais eruditos podiam se tornar professores para seus sábios reis e o comportamento do imperador era julgado pelos clássicos confucionistas. Se o imperador era imoral e não iluminado ao Tao, as pessoas podiam se organizar e destroná-lo, como aconteceu quando Chengtang atacou Jie, ou no caso da remoção de Zhou pelo Rei Wu.[23] Essas insurreições, julgadas pela cultura tradicional, não foram consideradas violações de lealdade ou do Tao. Ao contrário, foram vistas como atos para fazer valer o Tao em nome dos Céus.

Quando Wen Tianxiang (1236-1283 d.C.)[24], um conhecido comandante militar na Dinastia Song, foi feito prisioneiro, ele recusou-se a se render aos invasores mongóis mesmo quando o imperador tentou persuadi-lo. Isso porque, como um confucionista, ele acreditava que “O povo é de suprema importância; a nação vem em seguida; e por último, o governante”.[25]

O ditatorial Partido Comunista Chinês não poderia de forma alguma aceitar crenças como essas. O Partido quis canonizar seus próprios líderes e promover um culto à personalidade; então, não poderia aceitar conceitos enraizados há muito tempo, como “Céus”, “Tao” e “Deus” desempenhando um papel de autoridade celestial acima de si próprio. 

O PCCh estava ciente de que o que fazia era considerado o mais abominável e o maior crime  contra os Céus e o Tao se mensurado pelos padrões da cultura tradicional. Eles estavam cientes de que, enquanto existisse a cultura tradicional, o povo não poderia considerar o Partido “grande, glorioso, e correto”. Intelectuais continuariam a tradição de “arriscar a própria vida para advertir o monarca”, de “manter a justiça ao preço da própria vida”[26] e de colocar o povo acima dos governantes. Dessa forma, o povo não se tornaria uma marionete do PCCh e o partido não poderia impor sua ideologia no pensamento das massas.

O respeito da cultura tradicional pelos Céus, pela Terra e pela natureza tornou-se um obstáculo na “batalha contra a natureza” do Partido Comunista Chinês e nos seus esforços de “alterar os Céus e a Terra”. A cultura tradicional valoriza verdadeiramente a vida humana, ensinando que “qualquer situação que envolva a vida humana deve ser tratada com o máximo cuidado”. Esse tipo de percepção atrapalharia os genocídios em massa do PCCh e seu regime de terror. Os elevados padrões morais da cultura tradicional do “Tao celestial” eram um obstáculo à manipulação e interpretação distorcidas da moralidade planejadas pelo Partido. Por essas razões, o PCCh fez da cultura tradicional uma inimiga, na  tentativa de reforçar seu controle.

A cultura tradicional desafia a legitimidade do regime do Partido Comunista Chinês

A cultura tradicional chinesa acredita no divino e nos desígnios dos Céus. Aceitar as ordens dos Céus significa que os governantes têm de ser sábios, seguirem o Tao e se harmonizarem ao destino. Aceitar a crença no divino significa aceitar que a autoridade sobre a humanidade reside nos Céus.

Os princípios do Partido Comunista podem ser sintetizados em sua canção icônica: “Nunca mais as correntes da tradição nos prenderão, levantem-se trabalhadores, não mais em servidão. A terra se erguerá sobre novos fundamentos; nós não somos nada, mas nós seremos tudo”.[27]

O PCCh promove o materialismo histórico, clamando que o comunismo é um paraíso terrestre cujo caminho é traçado pela vanguarda proletária – ou seja, pelo Partido Comunista. Dessa forma, a crença em Deus desafia diretamente a legitimidade do regime do Partido.

Como o Partido Comunista sabota a cultura tradicional?

Tudo o que o Partido Comunista Chinês faz tem um propósito político. Para conseguir, manter e consolidar a sua tirania, ele precisa substituir a natureza humana pela natureza maligna do Partido; e substituir a cultura tradicional chinesa pela cultura do Partido, de “engodo, malícia e luta”. Essa destruição e essa substituição incluem as relíquias culturais, locais históricos e livros antigos, que são tangíveis, assim como coisas intangíveis, como a visão tradicional sobre a moralidade, a vida e o mundo. Todos os aspectos da vida das pessoas estão envolvidos, incluindo seus atos, pensamentos e estilos de vida. 

Ao mesmo tempo, o PCCh considera manifestações culturais insignificantes e superficiais como a “essência”, mantendo-as, para depois usar essa “essência” como fachada. O Partido mantém as aparências da tradição enquanto substitui a tradição verdadeira pela cultura do Partido. Então, ele engana o povo e a sociedade internacional por trás da fachada de estar “continuando e desenvolvendo” a cultura tradicional chinesa.

A extinção simultânea das três religiões

Pelo fato de a cultura tradicional ter suas raízes no Confucionismo, no Budismo e no Taoísmo, o primeiro passo do Partido Comunista Chinês para destruí-la foi extinguir a manifestação dos princípios divinos no mundo humano, erradicando as três religiões correspondentes a eles.

As três religiões mais importantes, o Confucionismo, o Budismo e o Taoísmo, enfrentaram a ruína em diferentes períodos históricos. Tomemos o Budismo como exemplo. Ele sofreu quatro grandes tribulações na História, as quais são conhecidas como “Três Wu e um Zong”, significando a perseguição aos devotos budistas por quatro imperadores chineses. O Imperador Taiwu da Dinastia Wei do Norte (386-534 d.C.), e o Imperador Wuzong da Dinastia Tang (618- 907 d.C.), ambos tentaram extinguir o Budismo para que o Taoísmo prevalecesse. O Imperador Wu3 da Dinastia Zhou do Norte (557-581 d.C.) tentou extinguir o Budismo e o Taoísmo juntos, mas venerava o Confucionismo. O Imperador Shizong da Dinastia Zhou (951-960 d.C.) tentou extinguir o Budismo meramente para usar as estátuas de Buda para cunhar moedas, mas não tocou nem no Taoísmo nem no Confucionismo.

O Partido Comunista Chinês foi o primeiro e único regime que extinguiu as três religiões simultaneamente.

Logo depois que o Partido estabeleceu seu governo, ele começou a destruir templos, queimar escrituras e forçar monges e monjas budistas a retornarem à vida secular. Ele também agiu com truculência para destruir outros centros religiosos. Na década de 1960, restavam pouquíssimos locais religiosos na China. A Revolução Cultural trouxe catástrofes religiosas e culturais ainda maiores na campanha de “Erradicação dos Quatro Velhos”[28], isto é, as velhas ideias, a velha cultura, os velhos costumes e os velhos hábitos.

Por exemplo, o primeiro templo budista na China foi o Templo do Cavalo Branco (Templo Bai Ma)[29], construído no início da Dinastia Han do Leste (25-220 d.C.), fora da cidade de Luoyang, província de Henan. Ele é considerado “o berço do Budismo na China” e “o lar do fundador”. Durante a campanha de “Erradicação dos Quatro Velhos”, o Templo do Cavalo Branco, evidentemente, não pôde escapar da pilhagem.

“Havia uma brigada de produção do Templo do Cavalo Branco perto do templo. O secretário de uma agência do Partido liderou camponeses para destruírem o templo em nome da revolução. As estátuas de barro dos Dezoito Arhats construídas na Dinastia Liao (916-1125 d.C.), com mais de 1000 anos, foram destruídas. A escritura em beiye[30], que um famoso monge indiano trouxe para a China há dois mil anos, foi queimada. Um tesouro único, o Cavalo de Jade, foi esmigalhado em pedaços. Muitos anos depois, o Rei exilado do Camboja, Norodom Sihanouk, fez um pedido especial para homenagear o Templo do Cavalo Branco. Zhou Enlai, o Primeiro-Ministro da China na época, apressadamente ordenou que transportassem para Luoyang a escritura Beiye guardada no Palácio Imperial, em Pequim, e as estátuas dos dezoito Arhats construídas na Dinastia Qing, do Templo das Nuvens Violetas (Templo Biyun), localizado no Parque Xiangshan[31], nos subúrbios de Pequim. Com essa falsificação, uma dificuldade diplomática ficou ‘resolvida’”.[32]

A Revolução Cultural começou em maio de 1966. Na verdade, ela estava “revolucionando” a cultura chinesa de uma forma destrutiva. A partir de agosto de 1966, o fogo violento da campanha de “Erradicação dos Quatro Velhos” incendiou toda a China. Considerados como coisas do “feudalismo, capitalismo e revisionismo”, os templos budistas e taoístas, estátuas de Buda, locais históricos, caligrafias, pinturas e antiguidades se tornaram os principais alvos a serem destruídos pela Guarda Vermelha. Tomemos como exemplo as estátuas de Buda. No topo da Montanha da Longevidade, no Palácio de Verão[33] em Pequim, há mil estátuas coloridas de Buda revestidas com um relevo de vidro. Depois da campanha de “Erradicação dos Quatro Velhos”, todas foram danificadas. Nenhuma delas têm mais um conjunto completo dos cinco órgãos sensoriais.

O que aconteceu na capital repetiu-se pelo restante do país. Nem os locais mais remotos escaparam da profanação.

“Há um Templo Tiantai no distrito de Dai, na província de Shanxi. Ele foi construído no tempo de Taiyan no período da Dinastia Wei do Norte há 1.600 anos, e tinha estátuas preciosas e afrescos. Embora situado em uma colina lateral a certa distância dos assentamentos do condado, as pessoas que participaram na ‘Erradicação dos Quatro Velhos’ ignoraram as dificuldades e não pouparam as estátuas e os afrescos de lá. O Templo Lougan, onde Lao Tsé discursou e deixou o famoso Tao-te Ching, há 2.500 anos, está situado no distrito de Zhouzhi, na província de Shaanxi. Em torno da plataforma em que Lao Tsé discursou, em um raio de 10 li[34], há mais de 50 sítios históricos, incluindo o Templo Venerando o Sábio (Zongsheng Gong), que o imperador Tang Gaozu Li Yuan[35] construiu há mais de 1.300 anos, em respeito a Lao Tsé. Agora, o Templo Lougan e outros locais históricos estão destruídos e todos os sacerdotes taoístas foram obrigados a sair. De acordo com o cânone taoista, uma vez que alguém se torna um sacerdote taoista, ele não pode mais se barbear nem cortar os cabelos. Entretanto, os sacerdotes taoístas, hoje, são obrigados a cortar o cabelo, tirar seus mantos taoístas e tornarem-se membros das comunas populares.[36] Alguns deles se casaram com as filhas dos camponeses locais e se tornaram seus genros. … Nos locais sagrados do Taoísmo, na Montanha Laoshan, na província de Shandong, o Templo da Paz Suprema, o Templo da Mais Alta Iluminação, o Templo da Suprema Clareza, o Templo Doumu, o Convento Huayan, o Templo Ningzhen, o Templo de Guan Yu, ‘as estátuas do divino, os recipientes sacrificiais, os pergaminhos dos sutras budistas, as relíquias culturais, e as placas dos templos foram todos esmagados e queimados’.(…) O Templo da Literatura na província de Jilin é um dos quatro famosos templos do confucionismo na China. Durante a ‘Erradicação dos Quatro Velhos’, ele foi severamente danificado.”[37]

A estratégia comunista para destruir as religiões

Vladimir Lênin disse certa vez: “A forma mais fácil de tomar uma fortaleza é a partir de dentro dela”. Como descendentes do marxismo-leninismo, o Partido Comunista Chinês natural e tacitamente entende isso.

No Sutra Mahayana Mahaparinirvana,[38] Buda Sakyamuni previu que depois do seu nirvana, demônios reencarnariam como monges, monjas e estudiosos budistas para subverter o Darma. É claro que não podemos saber exatamente ao que Buda Sakyamuni estava se referindo. Entretanto, a destruição do budismo pelo PCCh realmente começou com a formação de uma “frente unida” com alguns budistas. Eles até mesmo enviaram membros do Partido para se infiltrarem diretamente na religião e subvertê-la a partir de dentro. Em uma assembleia de críticas durante a Revolução Cultural, alguém questionou a Zhao Puchu, vice-presidente da Associação Budista da China na ocasião: “Você é um membro do Partido Comunista, por que você acredita no Budismo?”

Buda Sakyamuni alcançou a iluminação suprema e completa mediante “preceito, concentração, sabedoria”. Antes de seu nirvana, ele instruiu seus discípulos: “Sustentem e observem os Preceitos. Não os deixem nem os violem”. Ele também alertou: “As pessoas que violam os Preceitos são desprezadas pelos Céus, pelos dragões, pelos fantasmas e pelo divino. Sua má reputação se espalha distante e amplamente… Quando suas vidas terminam, elas sofrem no inferno por seu carma e encontram sua inexorável sentença. Então, elas sairão. E continuarão a sofrer carregando o corpo de fantasmas e animais famintos. Elas sofrerão sem alívio em um círculo sem fim como esse”.[39]

Os monges budistas políticos ignoraram os avisos do Buda. Em 1952, o PCCh mandou representantes para assistir à reunião inaugural da Associação Budista da China. Na reunião, muitos budistas da associação propuseram abolir os preceitos budistas. Eles alegavam que essas disciplinas tinham causado a morte de muitos jovens homens e mulheres. Algumas pessoas até defendiam que “as pessoas deveriam ser livres para acreditar em qualquer religião. Deveria também haver liberdade para os monges e monjas se casarem, beberem álcool e comerem carne. Ninguém deveria interferir nisso”.

Naquela época, o Mestre Xuyun estava na reunião e viu que o Budismo estava se em risco de se extinguir na China. Ele deu um passo à frente, opondo-se às propostas e apelando para a preservação dos preceitos e dos trajes budistas. O Mestre Xuyun foi, então, caluniado e rotulado de “contrarrevolucionário”. Ele foi detido no quarto do abade e proibido de comer e beber. Não tinha permissão para sair do quarto nem mesmo para usar o banheiro.
Também foi obrigado a entregar ouro, prata e armas de fogo. Quando Xuyun respondeu que não tinha nada daquilo, foi espancado tão severamente que seu crânio foi fraturado e sangrou, e suas costelas foram quebradas. Xuyun tinha 112 anos na época. A polícia militar o tirou da cama e o jogou no chão. Quando eles voltaram no dia seguinte e o encontraram ainda vivo, eles novamente o espancaram brutalmente.

A Associação Budista da China, fundada em 1952, e a Associação Taoista da China, fundada em 1957. Ambas claramente declararam em seus estatutos de fundação que estariam “sob a liderança do governo popular”. Na verdade, eles estariam sob a liderança do ateísta Partido Comunista Chinês. 

Ambas as associações indicaram que participariam ativamente das atividades de produção e construção e que executariam as políticas do governo. Elas foram transformadas em organizações completamente mundanas. Porém, os budistas e taoístas devotos e que seguiam os preceitos foram rotulados como contrarrevolucionários ou membros de seitas supersticiosas e sociedades secretas. Sob o slogan revolucionário de “purificando os budistas e taoistas”, eles foram presos, forçados a “serem reformados por meio do trabalho” ou até mesmo executados. Até as religiões oriundas do Ocidente, como o Catolicismo, não foram poupadas.

“Com base nas estatísticas do livro Como o Partido Comunista Chinês Persegue os Cristãos, publicado em 1958, mesmo com o número limitado  de documentos que foram tornados públicos, é revelado que entre os clérigos considerados ‘proprietários de terras’ ou ‘tiranos locais’, uma quantidade surpreendente de 8.840 foram mortos e 39.200 foram enviados para campos de trabalho. Entre os clérigos considerados como ‘contrarrevolucionários’, 2.450 foram mortos e 24.800 enviados para campos de trabalho”.[40]

As religiões são uma forma de as pessoas saírem do mundo secular e se cultivarem. Elas dão ênfase à “outra margem” (o lugar da perfeita iluminação) e ao “Céu”. Sakyamuni era um príncipe indiano. Para procurar mukti, um estado no qual a pessoa obtém paz mental, sabedoria superior, iluminação total e nirvana,[41] ele abriu mão do trono e foi para uma floresta na montanha para cultivar experimentando tribulações e dificuldades. Antes de Jesus se tornar iluminado, o diabo o trouxe para o alto de uma montanha, mostrou a ele todos os reinos do mundo em todo seu esplendor. O diabo disse: “Se você me reverenciar e me adorar, eu lhe darei todas essas coisas”. Mas Jesus não se deixou seduzir. Porém, os monges e pastores políticos que formaram as “frentes unidas” com o Partido Comunista Chinês criaram uma série de farsas e mentiras do tipo “Budismo do mundo humano” e “a religião é a verdade, assim como é o socialismo”. Eles alegaram que “não há contradição entre esta margem e a outra margem”. Encorajaram os budistas e os taoístas a perseguirem a felicidade, a glória, o esplendor, a riqueza e a posição social nesta vida – e mudaram as doutrinas religiosas e seus significados.
O Budismo proíbe matar. O Partido Comunista Chinês matou pessoas como moscas durante a “supressão aos contrarrevolucionários”.[42] Os monges políticos, por causa disso, formularam a justificativa de que “matar os contrarrevolucionários é uma compaixão ainda maior”. Durante a “Guerra de Resistência à Agressão dos eua e Ajuda à Coreia (1950-

1953)[43], os monges foram até mandados diretamente para a linha de frente para matar.

Tomemos o Cristianismo como outro exemplo. Em 1950, Wu Yaozong[44] formou a Igreja dos “Três-Autos”, que seguia os princípios da autoadministração, autossustentação e autopropagação. Ele alegava que estariam se libertando do “imperialismo” e ativamente aderiram à “Guerra de Resistência à Agressão dos EUA e Ajuda à Coreia”. Um bom amigo dele foi feito prisioneiro durante 20 anos por ter se recusado a fazer parte da Igreja dos “Três-Autos”, e sofreu todos os tipos de torturas e humilhações. Quando tal amigo perguntou a Wu Yaozong: “Como você considera os milagres realizados por Jesus?” Wu respondeu: “Eu descartei todos eles”. 

Não reconhecer os milagres de Jesus equivale a não reconhecer o Céu de Jesus. Como alguém pode ser considerado cristão se ele nem reconhece o Céu para o qual Jesus ascendeu? Entretanto, o fundador da igreja dos “Três-Autos”, Wu Yaozong, tornou-se um membro do comitê permanente da Conferência Consultiva Política. Quando ele subiu ao Grande Salão do Povo[45], deve ter esquecido completamente as palavras de Jesus: “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento. Esse é o grande e primeiro mandamento”. (Mateus, 22:37-38) “Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”. (Mateus, 22:21)

“O Partido Comunista Chinês confiscou a propriedade do templo, forçou os monges e monjas a estudarem o marxismo-leninismo para fazer lavagem cerebral neles e os forçou ao trabalho. Por exemplo, em uma ‘oficina Budista’ realizada na cidade de Ningbo, província de Zhejiang, cerca de 25 mil monges e monjas foram forçados, na ocasião, a trabalhar no local. O que é mais absurdo é que o PCCh encorajava os monges e monjas a se casarem para desintegrar o Budismo. Por exemplo, exatamente antes do Dia da Mulher, em 8 de março de 1951, a Federação Feminina na cidade de Changsha, província de Hunan, ordenou que todas as monjas da província decidissem se casar em poucos dias. Além disso, os monges jovens e saudáveis foram forçados a ingressar no exército e enviados aos campos de batalha para servir como bucha de canhão!”[46]

Vários grupos religiosos na China se desintegraram com a violenta supressão do PCCh. As elites genuínas do Budismo  e do Taoísmo foram exterminadas. Entre os que ficaram, muitos voltaram à vida secular e muitos outros se tornaram secretamente membros do Partido Comunista, vestindo a “kesa”[47], trajes taoístas ou longas becas de pastor para distorcerem as escrituras budistas, o cânone taoista e a Bíblia Sagrada, especializando-se em procurar nessas doutrinas justificativas para os movimentos do PCCh.

Destruição de relíquias culturais

A perda das relíquias culturais é uma parte importante da destruição da cultura tradicional conduzida pelo Partido Comunista Chinês. Na campanha de “Erradicação dos Quatro Velhos”, uma gama de livros, caligrafias e pinturas únicas das coleções de intelectuais foram lançadas às chamas ou arruinadas de outras formas. Zhang Bojun[48] tinha uma coleção familiar de mais de 10 mil livros. Os líderes da Guarda Vermelha usaram-nos para fazer fogo e se esquecerem. O que restou foi enviado para fábricas de papel para ser retalhado e convertido em polpa de papel.

Hong Qiusheng, especialista em caligrafia e restaurador de pinturas, era um senhor idoso conhecido como “doutor milagre” em caligrafias e pinturas antigas. Ele havia recuperado incontáveis obras-primas, tais como a pintura de paisagens do Imperador Huizong, da Dinastia Song[49], a pintura de bambu de Su Dongpo[50] e as pinturas de Wen Zhengming[51] e Tang Bohu[52]. Durante muitas décadas, a maioria das centenas de caligrafias e pinturas antigas que foram recuperadas por ele tornaram-se uma coleção nacional de primeira ordem. As caligrafias e pinturas pelas quais ele não poupou esforços foram rotuladas como parte dos ‘Quatro Velhos’’ e lançadas às chamas. Depois de tudo, o Sr. Hong disse chorando: “Mais de 100 jin (50 quilos)[53] de caligrafias e pinturas; levou tanto tempo para queimá-las!”[54]

“Enquanto os assuntos mundanos vêm e vão, 

O antigo, o moderno, para cá e para lá,

Rios e montanhas são imutáveis em suas glórias

E ainda podem ser testemunhados nessa trilha.”[55]

Se o povo chinês de hoje ainda lembrasse um pouco de sua história, eles provavelmente se sentiriam diferentes ao recitarem esse poema de Meng Haoran. Os locais históricos de famosas montanhas e renomados rios foram arruinados e desapareceram na tormenta da “Erradicação dos Quatro Velhos”. 

Não somente o Pavilhão da Orquídea, onde Wang Xizhi[56] escreveu o famoso Prólogo da coleção dos poemas escritos no Pavilhão da Orquídea,[57] foi destruído, a própria sepultura de Wang Xizhi também foi. A antiga residência de Wu Cheng’en[58] na província de Jiangsu foi demolida; a antiga residência de Wu Jingzi[59] na província de Anhui foi esmagada; a placa de pedra entalhada à mão por Su Dongpo, onde ele escreveu seu artigo “A cabana à margem da estrada do velho ébrio”,[60] foi arrancada pela “juventude revolucionária”[61] e os caracteres na pedra foram raspados.

A essência da cultura chinesa foi herdada e se desenvolveu durante milhares de anos. Uma vez destruída, não pôde ser recuperada. Ainda assim, o Partido Comunista Chinês a destruiu barbaramente, sem reservas ou pudor, em nome da “revolução”. Quando, no passado, lamentamos pelo Antigo Palácio de Verão, conhecido como “palácio dos palácios”, queimado pelas Forças Aliadas Anglo-Francesas; quando suspiramos pela Enciclopédia de Yongle,[62]  monumental trabalho destruído pelas chamas da guerra que invasores trouxeram; como poderíamos prever que a destruição causada pelo PCCh tivesse um alcance tão mais amplo, duradouro e penetrante do que a destruição causada por qualquer invasão estrangeira?

Destruição das crenças espirituais

Além da destruição das manifestações materiais das religiões e da cultura, o Partido Comunista Chinês também utilizou ao máximo sua capacidade para destruir a identidade espiritual do povo, formada pela fé e pela cultura tradicional.
Tomemos como exemplo o tratamento do PCCh em relação às crenças étnicas. O Partido considerou as tradições do grupo muçulmano Hui parte dos “Quatro Velhos” — velhas ideias, velha cultura, velhos costumes e velhos hábitos. Por isso, obrigou os membros do grupo Hui a comer carne de porco. Os camponeses muçulmanos e as mesquitas eram obrigados a criar porcos, e, todo ano, cada casa tinha de fornecer dois porcos ao país. A Guarda Vermelha até mesmo forçou o segundo maior Buda vivo tibetano, o Panchen Lama, a comer excremento humano. Eles obrigaram três monges do Templo da Felicidade, que é o maior templo budista construído nos tempos modernos (1921) e localizado na cidade de Harbin, província de Heilongjiang, a carregar um cartaz dizendo: “Para o inferno com os sutras, eles estão cheios de merda”.

Em 1971, Lin Biao, então vice-presidente do Comitê Central do Partido Comunista Chinês, tentou fugir da China, mas morreu quando seu avião caiu em Undurkhan, na Mongólia. Mais tarde, na residência de Lin, em Maojiawan, em Pequim, foram encontradas algumas citações de Confúcio. O PCCh iniciou então um movimento frenético chamado “Criticando Confúcio”. Um escritor chamado Liang Xiao[63] publicou um artigo em A Bandeira Vermelha, uma revista de propaganda do PCCh, intitulado “Quem é Confúcio?”. O artigo descrevia Confúcio como sendo “um louco e retrógrado que queria retardar a história” e “um demagogo perspicaz e enganador”. A isso se seguiu uma série de desenhos e canções maldizendo Confúcio.

Dessa forma, a dignidade e a santidade das religiões e da cultura foram aniquiladas.

Destruição sem fim

Na antiga China, o governo central estendia sua administração somente até o nível dos condados, abaixo dos quais os clãs patriarcais mantinham controle autônomo. Assim, na história chinesa, os episódios de destruição como a “queima de livros e o sepultamento dos estudiosos confucionistas” conduzidos pelo Imperador Qin Shi Huang,[64] na Dinastia Qin (221-207 a.C.), ou as quatro campanhas para eliminar o Budismo, entre os séculos quinto e décimo, chamadas de “Três Wu e um Zong” – foram impostas de cima para baixo e não poderiam erradicar a cultura.

Os clássicos e as ideias confucionistas e budistas continuaram a sobreviver em vastos espaços da sociedade. Já a campanha de “Erradicação dos Quatro Velhos” conduzida pelos jovens estudantes incitados pelo PCCh foi um movimento que se alastrou em toda a nação com “entusiasmo espontâneo”. A extensão do PCCh até as vilas, por meio dos ramos do Partido, controlou a sociedade tão estritamente que o movimento “revolucionário” do Partido se estendeu sem restrições e atingiu todas as pessoas em cada centímetro de terra na China.

Nunca na História qualquer imperador erradicou das mentes das pessoas o que elas consideravam ser o mais belo e o mais sagrado, como o Partido Comunista Chinês fez, através de propaganda caluniosa, desrespeito, violência e crueldade. A eliminação da crença muitas vezes pode ser mais eficaz e duradoura do que a destruição física.

Reformando intelectuais

Os caracteres chineses incorporam a essência de cinco mil anos de civilização. A forma e pronúncia de cada caractere e as alusões idiomáticas e literárias, compostas pelas combinações de caracteres, todas expressam profundos significados culturais. O Partido Comunista Chinês não somente simplificou os caracteres chineses como também tentou substituí-los pelo formato romanizado pinyin, o que removeria toda a tradição cultural da língua e dos caracteres chineses. O plano de substituição dos caracteres falhou, e foi abandonado. Entretanto, os intelectuais chineses que herdaram a mesma cultura tradicional não tiveram a sorte de serem poupados neste movimento de destruição.

Antes de 1949, a China tinha cerca de dois milhões de intelectuais. Embora alguns tivessem estudado em países ocidentais, ainda conservavam ideias confucionistas. O PCCh certamente não podia afrouxar seu controle sobre eles, porque, como membros da tradicional classe da “aristocracia intelectual”, a forma de pensar deles desempenhava um papel importante na formação do pensamento das pessoas comuns.

Em setembro de 1951, o PCCh iniciou um “movimento de reforma do pensamento” em larga escala, a começar pelos intelectuais na Universidade de Pequim, e requisitou a “organização de um movimento (entre os professores nas faculdades, nas escolas primárias e secundárias, e entre os estudantes universitários) para confessar suas histórias fiel e honestamente, de forma a eliminar qualquer elemento contrarrevolucionário”.[65] 

Mao Tsé-Tung nunca gostou de intelectuais. Ele dizia: “Eles [os intelectuais] pretendem estar a par da verdade sobre a qual, efetivamente, muitos chamados intelectuais são bastante ignorantes; e os trabalhadores e camponeses algumas vezes sabem mais do que eles”.[66] “Comparados com os trabalhadores e camponeses, os intelectuais não reformados não são limpos e, em última análise, os trabalhadores e camponeses são as pessoas mais limpas, mesmo que suas mãos estejam sujas e seus pés imundos com esterco de vaca…”[67].

A perseguição do PCCh aos intelectuais começou com várias formas de acusações, indo desde a crítica a Wu Xun, em 1951[68], de “dirigir escolas com dinheiro mendigado”, até o ataque pessoal de Mao Tsé-Tung, em 1955, ao escritor Hu Feng[69], apontado, então, como contrarrevolucionário. No começo, os intelectuais não foram categorizados como uma classe reacionária, mas por volta de 1957, depois que muitos importantes grupos religiosos se renderam ao movimento da “frente unida”, o PCCh pôde focar sua energia nos intelectuais. Foi lançado assim o Movimento Antidireitista.

No final de fevereiro de 1957, o PCCh, alegando querer “deixar florir uma centena de flores e deixar competir uma centena de escolas de pensamento”, convocou intelectuais a oferecerem sugestões e críticas ao Partido, prometendo que não haveria represália. Havia muito tempo que esses intelectuais estavam insatisfeitos com a atuação do regime do PCCh em várias áreas em que o Partido se mostrou sem conhecimento e preparo técnico, com sua matança de pessoas inocentes durante o movimento de “supressão dos contrarrevolucionários” (1950-1953) e pela “eliminação dos contrarrevolucionários” (1955-1957). Eles pensaram que o Partido finalmente havia se tornado aberto e tolerante. Assim,  começaram a expressar seus verdadeiros sentimentos e suas críticas se tornaram mais e mais intensas.

Muitos anos depois, ainda há muita gente que acredita que Mao Tsé-Tung somente começou o ataque aos intelectuais depois que ficou impaciente com suas críticas excessivamente severas. Os fatos mostram uma história diferente.

Em 15 de maio de 1957, Mao Tsé-Tung escreveu um artigo intitulado “As coisas estão começando a mudar” e o distribuiu entre os altos oficiais do Partido Comunista Chinês. O artigo dizia: “Nos últimos anos, os direitistas […] têm demonstrado serem os mais determinados e mais furiosos. […] Os direitistas, que são anticomunistas, estão fazendo uma tentativa desesperadora de provocar um furacão de magnitude sete na China […] e estão muito inclinados a destruir o Partido Comunista”.[70] Depois disso, aqueles funcionários que tinham ficado indiferentes à campanha de “deixar florir uma centena de flores e deixar competir uma centena de escolas de pensamento”, subitamente ficaram  entusiasmados  e  “determinados”.  A  filha de Zhang Bojun conta em suas memórias, no livro O Passado não Desaparece como Fumaça:

“Li Weihan, ministro do Departamento do Trabalho da Frente Unida, chamou pessoalmente Zhang Bojun para convidá-lo a uma reunião de retificação, em que ele pudesse opinar sobre o Partido Comunista Chinês. Foi arranjado que Zhang se sentasse em um sofá na primeira fila. Não sabendo se tratar de uma armadilha, Zhang expôs suas críticas ao Partido. Durante todo o transcorrer da reunião, ‘Li Weihan pareceu estar relaxado. Zhang provavelmente pensou que Li concordava com o que ele dizia. Ele não sabia que Li estava satisfeito em ver a sua vítima cair na armadilha’. Depois da reunião, Zhang foi considerado como o direitista número um na China.”

Podemos citar uma série de datas em 1957 que marcaram as propostas ou discursos de intelectuais fazendo críticas e oferecendo sugestões: em 21 de maio, “Instituto de Modelo Político”, de Zhang Bojun; em 22 de maio, “Visões Antissoviéticas Absurdas”, de Long Yun; em 30 de maio, “Criticando o socialismo feudal do Partido Comunista Chinês”, de Lin Xiling, na Universidade de Pequim; em 31 de maio, “O Partido deveria parar de conduzir as artes”, de Wu Zuguang; em 1º de junho, “O Partido domina o mundo”, de Chu Anping. Todas essas propostas e discursos foram convidados e oferecidos depois que Mao Tsé-Tung já havia afiado suas facas de açougueiro.

Como era previsível, todos esses intelectuais foram, mais tarde, qualificados como direitistas. Havia mais de 550 mil desses tais “direitistas” em toda a nação.

A tradição chinesa diz que “estudiosos podem ser mortos, mas não podem ser humilhados”. O Partido Comunista Chinês foi capaz de humilhar intelectuais negando-lhes o direito de trabalhar e até incriminando suas famílias a menos que eles aceitassem a humilhação. Muitos intelectuais se renderam. Durante essa fase, alguns deles acusaram colegas para salvar a si próprios, o que causou trauma psicológico profundo. Aqueles que não se submeteram às humilhações foram mortos, servindo de exemplo para aterrorizar outros intelectuais. A tradicional “classe erudita”, exemplo da moralidade social, foi assim destruída.

Mao Tsé-Tung disse:

“Sobre o que o Imperador Qin Shi Huang pode fazer alarde? Ele matou somente 460 estudiosos de Confúcio, mas nós matamos 46 mil intelectuais. Em nossa supressão aos contrarrevolucionários, nós também não matamos alguns intelectuais contrarrevolucionários? Eu argumentei com o pessoal pró-democracia que nos acusaram de estarmos agindo como o Imperador Qin Shi Huang. Eu disse que estão errados. Nós o ultrapassamos em uma centena de vezes.”[71]

Na verdade, Mao fez mais do que matar os intelectuais, foi muito mais grave; ele destruiu seus espíritos e seus corações.

Criando uma cultura de fachada mascarada de tradicional enquanto substitui seu conteúdo

Depois que o Partido Comunista Chinês adotou a reforma econômica e uma política de abertura, ele reformou muitas igrejas, bem como templos budistas e taoístas. Também organizou algumas feiras de exibições de templos, tanto na China como no exterior. Esse foi o último esforço do Partido para explorar e destruir o restante da cultura tradicional.

Havia duas razões para o PCCh fazer isso. A primeira é a bondade inerente à natureza humana, que o Partido não conseguiu erradicar e que levará à destruição da “cultura do Partido”. A segunda e mais evidente é que o PCCh pretendia usar a cultura tradicional para maquiar a verdadeira face do Partido, encobrindo sua natureza maligna de  “engodo, malícia e luta”.

A essência da cultura reside em sua profunda conotação moral, enquanto que as formas superficiais só servem como entretenimento. Para encobrir seu propósito de destruir a moralidade, o PCCh restaurou os elementos superficiais da cultura — o entretenimento. Não importa quantas exibições de arte e caligrafia ou festivais culturais com apresentações de danças de dragões e leões o Partido tenha organizado, quantos festivais de comida tenha oferecido ou quanta arquitetura clássica construiu, o Partido está simplesmente restaurando a aparência superficial, mas não a essência da cultura. Enquanto isso, ele promove apresentações culturais tanto dentro como fora da China, com o único e essencial propósito de manter o seu poder político.

Mais uma vez, os templos são um exemplo. Os templos foram feitos para as pessoas cultivarem seu interior; ouvirem os sinos na aurora e os tambores no crepúsculo, adorarem o Buda sob os lampiões. Pessoas leigas na sociedade humana comum também podem se confessar e praticar adoração lá. O cultivo exige um coração puro, livre de buscas. A confissão e a adoração também exigem um ambiente sério e solene. Entretanto, os templos se tornaram locais turísticos com o objetivo de gerar receita. Entre as pessoas que visitam os templos na China hoje, quantas delas vêm para olhar para dentro e avaliar seus erros com um coração sincero e de respeito ao Buda, logo após tomarem banho e trocarem suas roupas?

Restaurar a aparência, mas destruir o significado interior da cultura tradicional é a tática que o PCCh adotou para confundir o público. Seja o Budismo, outras religiões ou formas culturais derivadas, o PCCh as degrada deliberadamente dessa forma.

A cultura do Partido Comunista

Enquanto o Partido Comunista Chinês destruía a cultura tradicional semidivina, ele silenciosamente estabeleceu sua própria “cultura do Partido” mediante contínuos movimentos políticos. A cultura do Partido transformou a geração mais velha, envenenou a geração mais nova e também teve impacto nas crianças. Sua influência foi extremamente ampla e profunda. Mesmo quando muitas pessoas tentavam expor a maldade do PCCh, elas não podiam evitar os paradigmas estabelecidos pelo Partido, sua forma de julgar o bem e o mal, de analisar as coisas e seu vocabulário, o que inevitavelmente carregava a marca da cultura do Partido.

A cultura do Partido não somente herdou a essência maligna da recém-nascida cultura marxista-leninista, mas também combinou habilmente todos os elementos negativos que se acumularam ao longo de milhares de anos da história chinesa com sua filosofia de luta e revolução violenta propagada pelo Partido Comunista. Esses componentes negativos incluem a luta interna pelo poder dentro da família real, a formação de grupos para perseguir interesses pessoais, a utilização de artifícios e armações políticas para fazer outros sofrerem, táticas sujas e conspirações. Em décadas de luta para sobreviver, o Partido Comunista Chinês incansávelmente alimentou, enriqueceu e renovou sua característica essencial de “engodo, malícia e luta”.

O despotismo e a ditadura fazem parte da natureza da cultura do Partido. Essa cultura serve à luta política e à luta de classes. Observando-se quatro aspectos, pode-se entender como é formado o ambiente “humanístico” do Partido, marcado pelo terror e pelo despotismo.

O aspecto de dominação e controle

Uma cultura de segregação

A cultura do Partido Comunista é um monopólio segregado sem liberdade de pensamento, expressão, associação ou crença. O mecanismo de dominação do Partido é semelhante a um sistema hidráulico, que depende de alta pressão e isolamento para manter seu estado de controle. Um mínimo vazamento poderia causar o colapso do sistema. Por exemplo, o Partido recusou-se a dialogar com os estudantes durante o movimento estudantil de 4 de junho de 1989,[72] temendo que se esse vazamento fosse tolerado, trabalhadores, camponeses, intelectuais e militares exigiriam o mesmo. Consequentemente, a China poderia estar se dirigindo para a democracia e a ditadura de partido único estaria em risco. Por isso, os líderes do Partido escolheram cometer assassinatos ao invés de atender ao pedido dos estudantes. Hoje, o PCCh emprega dezenas de milhares de “policiais cibernéticos” para monitorar a internet e bloquear diretamente qualquer site que o Partido desaprove.

Uma cultura de terror

Desde que assumiu a China em 1949, o Partido Comunista Chinês tem usado o terror para oprimir a alma do povo chinês. Com seus chicotes e facas de açougueiro em punho e apontados para o povo, ninguém nunca sabe quando desastres inesperados cairão sobre si, restando apenas a obediência de um povo consumido e aprisionado pelo medo. Defensores da democracia, pensadores independentes, céticos dentro do sistema do Partido e membros de vários grupos espiritualistas se tornaram alvos de assassinato. Os massacres eram utilizados para mandar uma mensagem ao povo:  o Partido espera eliminar qualquer oposição pela raiz.

Uma cultura de controle de rede

O controle do Partido Comunista Chinês sobre a sociedade é total. Há um sistema de registro de residência, um sistema de comitê de moradores do bairro e diversos níveis estruturais do comitê do Partido. Agências do Partido estão estruturadas no nível das companhias. Cada vila tem seu próprio ramo do Partido. Os membros do Partido e da Liga da Juventude Comunista têm atividades regulares. 

O PCCh também faz uso de uma série de slogans do tipo: “Guarde sua própria porta e vigie seu próprio povo”. “Impeça seu povo de apelar para as autoridades”. “Execute resolutamente o sistema de impor obrigações, garanta o cumprimento dessas obrigações e certifique-se onde jaz a responsabilidade. Fiscalize e controle com rigidez. Seja severo com a disciplina e os regulamentos e garanta 24 horas de medidas de controle preventivo e de manutenção”. “A Agência 610[73] formará um comitê de fiscalização para inspecionar e monitorar em intervalos irregulares as atividades em cada região e em cada unidade de trabalho”.

Uma cultura de incriminação

O Partido Comunista Chinês negligenciou completamente os princípios do Estado de Direito da sociedade moderna e promoveu com vigor a política de implicação. Ele usou seu poder absoluto para punir os parentes daqueles que eram rotulados como “latifundiários, “ricos”, “reacionários”, “maus elementos” e “direitistas”, e propôs a teoria da “origem de classe”.[74]

Hoje, o Partido responsabiliza os líderes primários e os reprime publicamente caso eles falhem em seus papéis de liderança, que incluem, por exemplo, tomar medidas adequadas para prevenir que praticantes de Falun Gong cheguem a Pequim para manifestarem-se contra a perseguição injusta do Partido “causando problemas”. Em casos graves, medidas disciplinares são tomadas. 

O sistema de implicação em relação ao Falun Gong exemplifica claramente o funcionamento da cultura de incriminação do PCCh: “Se uma pessoa praticar Falun Gong, todos os membros da família serão demitidos de seus trabalhos”; “Se um empregado praticar Falun Gong, o bônus de cada empregado em toda a companhia será suspenso”.
O PCCh também criou políticas discriminatórias que classificavam as crianças entre aquelas que precisam ser “educadas e transformadas” ou aquelas das “cinco classes negras” (os latifundiários, fazendeiros ricos, reacionários, maus elementos, e direitistas). Promovendo a obediência ao Partido e colocando a sua doutrina acima da lealdade familiar. Sistemas de arquivo pessoal e organizacional e sistemas de realocação temporária foram adotados para assegurar a execução de suas políticas. As pessoas foram encorajadas a acusar e expor as outras e a serem recompensadas por contribuírem com o Partido.

Os aspectos da propaganda

Uma cultura de voz única

Durante a Revolução Cultural, a China ficou saturada de slogans tais como “Instruções Supremas”, “Uma frase [de Mao] carrega o peso de dez mil frases, sendo todas verdades”. Toda a mídia foi incitada a cantar louvores e falar coletivamente em apoio ao Partido. Quando necessário, os líderes de todos os níveis do Partido, do governo, dos militares, dos trabalhadores, da Liga da Juventude e das organizações femininas eram trazidos para expressar seu apoio. Todos tinham de passar por essa dura provação.

Uma cultura para promover a violência

Mao Tsé-Tung dizia: “Com 800 milhões de pessoas, como pode funcionar sem luta?”. Na perseguição ao Falun Gong, Jiang Zemin dizia: “Não haverá punição para os espancamentos até a morte de praticantes de Falun Gong”. O Partido Comunista Chinês defendia a “guerra total” e declarou: “A bomba atômica é simplesmente um tigre de papel… Mesmo que metade da população morresse, a metade restante ainda reconstruiria nossa pátria a partir das ruínas.” 

Uma cultura para incitar o ódio

Tornou-se uma política nacional fundamental “não esquecer o sofrimento das classes pobres e lembrar firmemente da hostilidade com lágrimas e sangue”. A crueldade contra os “inimigos de classe” era elogiada como uma virtude. O PCCh ensinou: “Agarre-se ao seu ódio, mastigue-o e o engula. Plante o ódio no seu coração para que ele brote”.[75]

Uma cultura de fraude e mentiras

Aqui estão alguns exemplos das mentiras do Partido: “O rendimento por mu[76] é superior a 10.000 jin” durante o Grande Salto para Frente (1958); “Nenhuma pessoa foi morta na Praça da Paz Celestial” durante o massacre de 4 de junho de 1989”; “Controlamos o vírus da SARS” em 2003; “Atualmente, é o melhor momento para os direitos humanos na China”; as “Três Representações[77].

A cultura da lavagem cerebral

Estes são alguns dos slogans que o PCCh criou e disseminou para fazer lavagem cerebral nas pessoas: “Não haveria uma nova China sem o Partido Comunista”; “A força central conduzindo nossa causa adiante é o Partido Comunista Chinês e a base teórica que guia nosso pensamento é o marxismo-leninismo”;[78] “Mantenha alinhamento máximo com o Comitê Central do Partido”; “Execute o comando do Partido, quer você o entenda ou não. Mesmo que você não entenda, faça assim mesmo, e seu entendimento deve se aprofundar no processo de execução”.

Uma cultura de adulação

“O Céu e a Terra são grandes, mas ainda maior é a bondade do Partido”; “Devemos todas as nossas conquistas ao Partido”; “Eu tenho o Partido como minha mãe”; “Eu uso minha própria vida para salvaguardar o Comitê Central do Partido”; “Um Partido grande, glorioso e correto”; “Um Partido invencível”; e assim por diante.

A cultura da pretensão

O Partido estabeleceu modelos e fixou exemplos um após o outro e lançou as campanhas de “progresso socialista ideológico e ‘ético” e “educação ideológica”. No fim, as pessoas continuavam a fazer o que sempre fizeram antes de cada campanha. Todas as conferências públicas, sessões de estudo e o compartilhamento de experiências se tornaram “vitrines formais”, enquanto o padrão moral da sociedade continuou degenerando-se vertiginosamente.

O aspecto das relações interpessoais

Uma cultura de inveja

O Partido promoveu “igualdade absoluta” fazendo com que qualquer um que se destaque seja alvo de ataques. As pessoas têm inveja daqueles que têm maior capacidade e daqueles que são mais poderosos, a chamada “síndrome do olho vermelho”.[79] 

Uma cultura de pessoas pisando umas nas outras

O Partido Comunista Chinês promoveu o “lutar cara a cara e denunciar pelas costas”. Delatar os associados, criando material escrito para incriminá-los, fabricando fatos e exagerando seus erros; esses comportamentos desonestos foram usados para avaliar a proximidade à natureza do Partido e o desejo de avançar.

Influências sutis na mente das pessoas e no comportamento externo

Uma cultura que transforma os seres humanos em máquinas

O Partido quer que o povo seja um grupo de “parafusos que nunca enferrujam na máquina revolucionária”, seja uma “ferramenta domesticada para o Partido” ou para “Atacar em qualquer direção que o Partido indicar”; “Os soldados do presidente Mao ouvem o Partido acima de tudo; vão aonde quer que eles sejam necessários e atuam onde quer que haja dificuldades”.

Uma cultura que confunde o certo e o errado

Durante a Revolução Cultural, o Partido Comunista Chinês proferiu: “melhor ter ervas daninhas socialistas do que colheitas capitalistas”. O exército recebeu ordens de atirar e matar no massacre da Praça da Paz Celestial “em troca de 20 anos de estabilidade”. O PCCh “faz ao próximo o que não queria que fosse feito a si mesmo”.

Uma cultura de lavagem cerebral autoimposta e obediência incondicional

“Os escalões inferiores obedecem às ordens dos escalões superiores e todo o Partido obedece ao Comitê Central do Partido.”Lute impiedosamente para erradicar qualquer pensamento de interesse próprio que apareça na sua mente”. “Crie uma revolução nas profundezas de sua alma”. “Mantenha o alinhamento  máximo com o Comitê Central do Partido”. “Unifique as mentes, os passos, as ordens e os comandos”.

Uma cultura de subserviência

“A China estaria no caos sem o Partido Comunista”; “A China é tão vasta. Quem mais poderia liderá-la a não ser o Partido Comunista Chinês?”; “Se a China cair, será um desastre mundial, portanto deveríamos ajudar o Partido Comunista Chinês a manter sua liderança”. Por medo e insegurança, os grupos constantemente oprimidos pelo Partido Comunista Chinês frequentemente parecem ainda mais extremistas do que o próprio Partido.

Há muitos mais exemplos como esses. Todo leitor provavelmente poderia encontrar vários elementos da cultura do Partido em suas experiências pessoais.

As pessoas que vivenciaram a Revolução Cultural podem ainda se lembrar vivamente da “Peça Modelo” das óperas modernas, as letras das canções com palavras de Mao e a Dança da Lealdade. Muitos ainda recordam as palavras do diálogo em A menina dos cabelos brancos,[80] Guerra de túneis[81] e Guerra das minas.[82] Por meio destas obras, o PCCh praticou a lavagem cerebral nas pessoas, forçosamente preenchendo suas mentes com mensagens do tipo “que brilhante e grande” é o Partido; “como o Partido lutou contra o inimigo árdua e valentemente”; “como os soldados do Partido são totalmente devotados ao Partido”; “como eles voluntariamente se sacrificam pelo Partido”; e “como os inimigos são maus e estúpidos”. Dia após dia, a máquina de propaganda do Partido injeta à força em cada indivíduo as crenças que o Partido Comunista considera necessárias. Hoje, se uma pessoa olhar para trás e observar o musical épico O Oriente é vermelho, do PCCh, vai perceber que todo o tema e estilo do show falam em “matar, matar e matar mais”.

Ao mesmo tempo, o Partido Comunista Chinês criou um estilo próprio de linguagem e discurso, incluindo linguagem abusiva nas críticas de massa, palavras de adulação em louvor ao Partido e as banais formalidades oficiais semelhantes ao “ensaio de oito partes”.[83] Ao invés de raciocinar calma e objetivamente, as pessoas são levadas a falar inconscientemente, usando a linguagem predominante, carregada e modelada com pensamentos que promovem o conceito da “luta de classes” e que exaltam o Partido. O PCCh também abusa do vocabulário religioso e distorce o conteúdo dos termos.

Um passo além da verdade é falácia. A cultura do Partido também explora a moralidade tradicional até certo grau. Por exemplo, a cultura tradicional valoriza a fé, e o Partido Comunista finge valorizá-la para promover “a crença e a fidelidade ao Partido”. A cultura tradicional enfatiza a “piedade filial”. O Partido pode colocar uma pessoa na prisão por não sustentar seus pais, mas a verdadeira razão é a de que esses pais se tornariam um “fardo” para o governo. Quando interessa ao Partido, é exigido que as crianças se separem de seus pais. A cultura tradicional enfatiza a “lealdade”. Ainda assim, assinala: “O povo é de suprema importância; a nação vem em seguida; e por último o governante”. A “lealdade” preferida pelo PCCh é a “devoção cega”, tão cega que exige que as pessoas acreditem incondicionalmente no Partido e o obedeçam sem questionar.

As palavras comumente usadas pelo Partido Comunista Chinês são muito tendenciosas. Por exemplo, ele chamou a guerra civil entre o Kuomintang e os comunistas de “Guerra de Libertação”, como se o povo estivesse sendo “libertado” da opressão. Chamou o período pós-1949 de “depois da fundação da nação”, quando na realidade a China já existia desde muito antes disso. O PCCh somente estabeleceu um novo regime político. Os três anos da Grande Fome[84] foram chamados de “três anos de desastres naturais”, quando na verdade não foi um desastre natural, mas, ao contrário, uma calamidade totalmente gerada pelo homem. Entretanto, ao ouvir essas palavras utilizadas na vida diária e sendo imperceptivelmente influenciadas por elas, as pessoas inconscientemente aceitam o conteúdo ideológico que elas contêm, conforme intencionado pelo Partido.

Na cultura tradicional, considera-se que a música é uma forma de moderar os desejos humanos. No Livro da Canção (Yue Shu), volume 24 dos Registros do Grande Historiador (Shi Ji), Sima Qian (145-85 a.C.)[85] disse que a natureza do homem é pacífica; que as suas emoções são afetadas pelas sensações externas e que o sentimento de amor e ódio desperta com base no caráter e sabedoria da pessoa. Se esses sentimentos não são dominados, uma pessoa será seduzida por infindáveis tentações externas e, tomado pelos sentimentos, poderá cometer muitas más ações. Assim, diz Sima Qian, os imperadores do passado usavam rituais e música para moderar as pessoas. As canções deveriam ser “alegres, mas não obscenas; tristes, mas não demasiadamente angustiantes”. Elas deveriam expressar sentimentos e desejos, porém ter controle sobre esses sentimentos. Confúcio disse nos Analetos: “Os trezentos versos de ‘As Odes’ [um dos cinco clássicos compilados e editados por Confúcio] pode ser resumidos em uma única frase: ‘Pense sem maldade’”.

Entretanto, uma coisa tão bela como a música foi usada pelo PCCh como método de fazer lavagem cerebral nas pessoas. Canções como “O socialismo é bom”, “Não haveria uma nova China sem o Partido Comunista” e muitas outras têm sido cantadas do jardim de infância à universidade. Ao cantar essas canções, as pessoas inconscientemente aceitam o significado das letras. Além disso, o Partido roubou a melodia da maioria das canções folclóricas e as substituiu com letras que o louvam. Isso serviu tanto para destruir a cultura tradicional, como para promover o Partido.

Um dos documentos clássicos do Partido Comunista Chinês, o Discurso sobre Literatura e Arte no Fórum de Yan’an, de Mao,[86] colocou os empreendimentos culturais e os militares como “as duas frentes de batalha”. Ele disse que não era suficiente ter um exército armado; também era necessário ter um “exército de arte e cultura”. Ele declarou que “a arte e a literatura deveriam servir à política” e que “as artes literárias da classe proletária (…) são ‘a mola e a propulsão’ da máquina revolucionária”. A partir daí, foi desenvolvido um sistema completo de “cultura do Partido”, com o “ateísmo” e a “luta de classes” no seu centro. Esse sistema vai completamente contra a cultura tradicional.

A “cultura do Partido” prestou notáveis serviços ao Partido Comunista Chinês, ajudando-o a adquirir o poder e controlar a sociedade. Como seu exército, prisões e força policial, a cultura do Partido também é uma máquina de violência, que pratica um tipo diferente de brutalidade — “brutalidade cultural”. Essa brutalidade cultural, destruindo cinco mil anos de cultura tradicional, debilitou a vontade do povo e minou a coesão da nação chinesa.

Hoje, muitos chineses são totalmente ignorantes em relação à essência da cultura tradicional. Alguns até equiparam os 50 anos de “cultura do Partido” aos cinco mil anos da cultura tradicional chinesa. Isso é algo muito triste para o povo chinês. Muitos não percebem que ao se oporem à atualmente chamada cultura tradicional, eles na verdade estão se opondo à “cultura do Partido”, e não à verdadeira cultura tradicional chinesa.

Muitas pessoas esperam substituir o atual sistema chinês pelo sistema democrático ocidental. Na verdade, a democracia ocidental também foi edificada em uma base cultural, notadamente a do cristianismo, que acreditando que “todos são iguais aos olhos de Deus”, respeita a natureza humana e as escolhas humanas. Como poderia a despótica e desumana “cultura do Partido” ser usada como base para um sistema democrático do tipo ocidental?

Conclusão

A China começou a se desviar de sua cultura tradicional na Dinastia Song (960-1279 d.C.), e desde então essa cultura vem experimentando constante degradação. Depois do Movimento de Quatro de Maio, de 1919,[87] alguns intelectuais que estavam sedentos por sucesso rápido e resultado imediato tentaram achar um caminho para a China afastando-se da cultura tradicional e em direção à civilização ocidental. Ainda assim, conflitos e alterações no domínio cultural permaneceram um foco de controvérsia acadêmica sem o envolvimento de forças do Estado. No entanto, quando o Partido Comunista Chinês surgiu, ele elevou os conflitos culturais ao nível de uma luta de vida ou morte para o Partido. Então, o PCCh começou a atacar diretamente a cultura tradicional, usando meios destrutivos, bem como abusos indiretos, “adotando os dejetos e rejeitando a essência”.

A destruição da cultura nacional foi também o processo de estabelecimento da “cultura do Partido”. O PCCh corrompeu a consciência humana e o julgamento moral, fazendo com que o povo desse as costas à cultura tradicional. Se a cultura nacional for completamente destruída, a essência da nação desaparecerá com ela, deixando à nação apenas um nome vazio. Esta não é uma advertência exagerada.

Ao mesmo tempo, a destruição da cultura tradicional trouxe ao público um inesperado prejuízo natural.

A cultura tradicional valoriza a unidade dos Céus e dos seres humanos e a coexistência harmoniosa entre os seres humanos e a natureza. O PCCh expressou alegria sem fim “ao lutar contra os Céus e a Terra”. Essa cultura do Partido trouxe uma degradação direta e séria ao meio ambiente e que hoje assola a China. Tomemos como exemplo os recursos hídricos. Tendo abandonado o valor tradicional de que “um homem nobre valoriza a riqueza, mas faz fortuna de maneira decente”, o povo chinês destruiu e poluiu desenfreadamente o meio ambiente. Atualmente, mais de 75% dos 50 mil quilômetros de  rios da China são impróprios para peixes. Mais de um terço do lençol freático estava poluído no meio da década de 1990 e a situação continua a piorar. Um tipo estranho de “espetáculo” ocorreu no Rio Huaihe: uma criança pequena brincando no rio cheio de óleo acendeu uma faísca que ao tocar a superfície do rio criou uma chama de cinco metros de altura. Conforme o fogo acendeu no ar, mais de dez salgueiros foram calcinados[88] Pode-se perceber facilmente que é impossível para os que bebem essa água não desenvolverem câncer ou outras doenças. Outros problemas ambientais como a desertificação e salinização no Noroeste da China e a poluição industrial em regiões desenvolvidas, todos estão relacionados com a perda do respeito à natureza pela sociedade.

A cultura tradicional respeita a vida. O Partido Comunista Chinês proclama que “a revolta é justificável” e que “a luta contra os seres humanos é cheia de alegria”. Em nome da revolução, o Partido pode matar e deixar morrer de fome dezenas de milhões de pessoas. Isso tem feito as pessoas desvalorizarem a vida, o que encoraja a proliferação de produtos falsificados e venenosos no mercado. Na cidade de Fuyang, província de Anhui, por exemplo, muitos bebês nascidos com saúde desenvolveram membros disformes, corpos magros e fracos e cabeças grandes durante o período de lactação. Oito bebês morreram por causa dessa estranha doença. Após investigação, descobriu-se que a doença foi causada por leite em pó envenenado fabricado por uma indústria inescrupulosa. Algumas pessoas criam caranguejos, cobras e tartarugas com hormônios e antibióticos, misturam álcool industrial com vinho, refinam o arroz com aceleradores industriais e embranquecem a farinha do pão com agentes branqueadores industrializados. Por oito anos, uma indústria na província de Henan produziu mensalmente dezenas de toneladas de óleo de cozinha usando materiais carcinogênicos como resíduos de óleo, óleo extraído de restos de refeições ou outras substâncias descartadas que continham resíduos de óleo depois de usadas. Produzir alimentos venenosos não é um fenômeno local ou regional, mas sim algo comum em toda a China. A destruição da cultura e a consequente degeneração moral contribuíram para essa busca implacável por ganhos materiais fáceis.

A cultura tradicional tem uma imensa capacidade de integração, diferente do monopólio e da exclusividade absoluta da “cultura do Partido”. Durante a próspera Dinastia Tang, os ensinamentos budistas, o Cristianismo e outras religiões ocidentais coexistiam harmoniosamente com os pensamentos taoista e confucionista. A autêntica cultura tradicional chinesa teria conservado uma atitude aberta e tolerante em relação à moderna civilização ocidental. Os quatro “tigres” asiáticos (Singapura, Taiwan, Coreia do Sul e Hong Kong) criaram uma identidade cultural chamada de “neoconfucionista”. Seu progresso econômico provou que a cultura tradicional não é um obstáculo para o desenvolvimento social.

Ao mesmo tempo, a autêntica cultura tradicional julga a qualidade da vida humana tendo por base a felicidade interior mais do que o conforto material externo. “Eu prefiro não ter ninguém falando mal de mim pelas minhas costas, do que ter alguém me elogiando pela frente; prefiro ter paz mental a conforto material”.[89] 

Tao Yuanming (365-427 d.C.)[90] viveu na pobreza, mas conservou um espírito alegre e tinha como passatempo “colher ásteres sob a cerca leste e observar a Montanha do Sul ao longe”.

A cultura não oferece respostas a questões de como expandir a produção industrial ou qual o sistema social a ser adotado. Porém, ela desempenha um papel importante na orientação moral. A verdadeira restauração da cultura tradicional será a recuperação da humildade em relação aos Céus, à Terra e à natureza, o respeito pela vida e o temor ao divino. Isso permitirá que a humanidade viva harmoniosamente com os Céus e a Terra para desfrutar de longevidade outorgada pelos Céus.

 

NOTAS:

 

[1] Pangu foi o primeiro ser vivo e o criador de tudo, segundo a mitologia chinesa.

 

[2] Nüwa foi a deusa-mãe que criou a humanidade, segundo a mitologia chinesa.

 

[3] Shennong (literalmente, “o agricultor celestial”) é uma figura lendária da mitologia chinesa que viveu há cerca de cinco mil anos. Ensinou ao povo antigo as práticas da agricultura. Também lhe é atribuído o mérito de ter arriscado a vida para identificar centenas de ervas medicinais (e venenosas) e várias plantas dessa natureza, que foram cruciais para o desenvolvimento da medicina tradicional chinesa.

 

[4] Cangjie é uma figura lendária da China antiga. Diz-se que foi o historiador oficial do Imperador Amarelo e o inventor dos caracteres chineses. O método Cangjie de introdução de caracteres chineses no computador tem o seu nome.

 

[5] Do Tao-Te Ching (também transliterado como Dao De Jing) de Lao Tsé.

 

[6] Observações iniciais de O Grande Aprendizado, de Confúcio.

 

[7] Dos Registros do Grande Historiador (Shi Ji), de Sima Qian (145-85 a.C.), o primeiro grande historiador chinês. A obra serviu de modelo para a historiografia das dinastias imperiais durante os dois mil anos seguintes.

 

[8] De Os Analetos, de Confúcio.

 

[9] Ibid.

 

[10] Ibid. 

 

[11] Referência a uma declaração de Confúcio em O Grande Aprendizado. Também pode-se traduzir como: “As pessoas sendo cultivadas, suas famílias estarão em ordem. Suas famílias estando em ordem, seus Estados serão corretamente governados. Seus Estados sendo corretamente governados, todo o reino se tornará tranquilo e contente”.

 

[12] Isso se refere a uma declaração feita por Dong Zhongshu (c. 179-104 a.C.), um pensador confucionista durante a dinastia Han. Zhongshu escreveu no tratado Três meios de harmonizar os seres humanos com o Céu (Tian Ren San Ce): “se o Céu permanecer, o Tao não mudará”.

 

[13] Jornada ao Oeste, conhecido também em países ocidentais como O Rei Macaco, escrito por Wu Cheng’en (1506?-1582?), é um dos mais renomados romances clássicos chineses. Ele se baseia na história real de um famoso monge chinês da Dinastia Tang, Xuan Zang (602-664), que fez uma viagem a pé ao que é hoje a Índia, local de nascimento do budismo, em busca dos sutras, os textos sagrados da religião. Na história, Sun Wukong (o Rei Macaco), Zhu Bajie e Sha Wujing foram arranjados pelo Buda para se tornarem discípulos de Xuan Zang e escoltá-lo para o Oeste para obter os sutras. Eles passam por 81 perigos e calamidades antes de finalmente chegar ao seu destina e atingir um estado iluminado.

 

[14] Sonho da Câmara Vermelha, escrito por Cao Xueqin na dinastia Qing, conta uma trágica história de amor que tem lugar numa família aristocrática em declínio. Sonho da Câmara Vermelha (Hung Lou Meng), escrito por Cao Xueqin (ou Tsao Hsueh-Chin) (1715-1763) na Dinastia Qing, é uma trágica história de amor tendo como enredo o declínio de uma família aristocrática. Com esse tema central, a história se desdobra em um vasto e dinâmico panorama da história social. Ela também apresenta um memorável elenco de personagens, sendo os principais, Jia Baoyu e Lin Daiyu. Sua estrutura ampla e meticulosa e sua linguagem primorosa tornaram a obra um ícone dos romance clássicos chineses.

 

[15] Margem da Água é um dos grandes romances clássicos chineses, escrito no século XIV por Shi Nai’an. No enredo, um bando de cento e oito homens e mulheres se junta para se tornarem os foras da lei do pântano. Intriga, aventura, morte, guerra e histórias românticas são narradas em clima de suspense à maneira de um tradicional contador de histórias.

 

[16] O Romance dos Três Reinos, um dos mais famosos romances clássicos chineses, escrito por Luo Guanzhong (1330-1400), baseia-se na história do Período dos Três Reinos (220-280). Ele descreve as intrigas e tensas disputas pelo trono entre três poderosas forças políticas, Liu Bei, Cao Cao e Sun Quan, e destaca prodígios e ousadas estratégias do período.

 

[17] O Romance de Zhou do Leste é um romance originalmente escrito por Yu Shaoyu na Dinastia Ming, revisado e reescrito por Feng Menglong no final da Dinastia Ming, e mais uma vez revisado por Cai Yuanfang na Dinastia Qing. Ele descreve um período histórico de mais de 500 anos durante o Período de Primavera e Outono (770-476 a.C.) e o Período dos Estados Combatentes (475-221 a.C.).

 

[18] A História Completa de Yue Fei foi escrita por Qian Cai na dinastia Qing. Ela descreve a vida de Yue Fei (1103-1142), da Dinastia Song do Sul, um dos mais famosos generais e heróis patrióticos da história chinesa.

 

[19] Essa é uma citação ancestral referenciada do Resumo da Coleção de Escrituras Taoistas (Dao Cang Ji Yao), compilado na Dinastia Qing.

 

[20] De Os Analetos, de Confúcio.

 

[21] Do discurso feito por Mao na 10 ª Sessão Plenária do 8º Comitê Central do Partido Comunista Chinês, 1962.

 

[22] As palavras originais de Mao em chinês eram um trocadilho: Eu sou como um monge segurando um guarda-chuva – sem Tao (ou Fa, trocadilho para “cabelo”) e sem paraíso (trocadilho para céu).

 

[23] Jie foi o último governante da dinastia Xia (c. 2100-1600 a.C.), e Zhou foi o último governante da dinastia Shang (c. 1600-1100 a.C.). Ambos eram conhecidos como tiranos.

 

[24] Wen Tianxiang (1236-1283 d.C.) foi um comandante militar que lutou contra as tropas mongóis para proteger a integridade da Dinastia Song do Sul. Ele foi morto em 9 de janeiro de 1283 por se recusar se render aos mongóis depois de ter sido capturado como prisioneiro.

 

[25] De Mêncio.

 

[26] De uma frase muito famosa de Mêncio, “Vida, e justiça, desejo ambas. Quando eu não puder ter as duas mesmo tempo, eu manterei a justiça ao custo de minha vida”.

 

[27] Do hino comunista, “A Internacional”. Aqui referenciado a partir da edição em inglês de “Os 9 Comentários”. A tradução literal do chinês significa: “Nunca houve um salvador, e nem dependemos de Deus; para criar a felicidade humana, nós dependemos inteiramente de nós mesmos”. A versão comumente utilizada em porutguês diz: “Cortai o mal bem pelo fundo, de pé, não mais senhores, se nada somos em tal mundo, sejamos tudo, ó produtores”.

 

[28] A campanha de “Erradicação dos Quatro Velhos” foi uma campanha política realizada em meados da década de 1960 durante a Revolução Cultural na China. Em agosto de 1966, a Guarda Vermelha declarou “uma guerra contra o velho mundo” e anunciou a intenção de “esmagar todas as velhas ideias, a velha cultura, os velhos costumes e os velhos hábitos”, “incluindo barbearias, alfaiatarias, lojas de fotografias, lojas de livros usados, etc., sem excepções”.

 

[29] O Templo do Cavalo Branco, o primeiro monastério budista na China, foi construído em 68 d.C., no décimo primeiro ano de Yong Ping, na Dinastia Han do Leste (25-220 d.C.).

 

[30] O beiye é uma planta subtropical pertencente à família das palmeiras, cujas folhas grossas eram utilizadas para fazer registos nos tempos antigos, antes da invenção do papel.

 

[31] O Parque Xiangshan, também chamado de Parque das Montanhas Perfumadas, está localizado a 28 km a noroeste do centro de Pequim. Inicialmente construído em 1186, na Dinastia Jin, tornou-se uma estância de verão para as famílias imperiais durante as dinastias Yuan, Ming e Qing.

 

[32] De Quantas relíquias culturais foram postas em chamas, de Ding Shu. Tradução livre.

 

[33] O Palácio de Verão, localizado a 15 km de Pequim, é o maior e mais bem preservado jardim real na China, com uma história de mais de 800 anos.

 

[34] Um “li” é uma unidade chinesa de comprimento (1 li corresponde a 0,5 quilómetros ou 0,3 milhas).

 

[35] O Imperador Gaozu da Dinastia Tang, que governou de 618 a 626, também conhecido por Li Yuan, foi o primeiro imperador da Dinastia Tang. 

 

[36] Na República Popular da China, as comunas populares (Renmin Gongshe) eram, no passado, o mais alto dos três níveis administrativos nas áreas rurais no período de 1958 até cerca de 1982. As comunas tinham funções governamentais, políticas e econômicas. Elas eram as maiores unidades coletivas e estavam divididas em brigadas de produção e equipes de produção. Depois de 1982, foram substituídas pelos municípios.

 

[37] De Quantas relíquias culturais foram postas em chamas, de Ding Shu. Tradução livre.

 

[38] O Sutra Mahayana Mahaparinirvana é supostamente o último sutra Mahayana de Buda, proferido no último dia de sua vida terrena. Afirma-se que constitui a quintessência de todos os sutras Mahayana.

 

[39] Do Taisho Tripitaka, Vol. T01, No. 7, Sutra Mahayana Mahaparinirvana. Tradução livre.

 

[40] Tradução livre a partir do livro A Teoria e Prática da Supressão das Religiões pelo Partido Comunista Chinês, de Bai Zhi. 

 

[41] “Nirvana”, no budismo ou no hinduísmo, é um estado de paz e harmonia felizes, além dos sofrimentos e paixões da existência individual; um estado de unidade com o espírito eterno.

 

[42] A campanha de “supressão aos contrarrevolucionários” em 1951 lidou violentamente com os “contrarrevolucionários”, incluindo bandidos, gangsters locais, espiões, ex-membros do Kuomintang, e associações religiosas. De acordo com registros publicados pelo PCCh, mais de dois milhões de pessoas foram executadas até 1952, embora o número real possa ser ainda maior.

 

[43] A “Guerra de Resistência à Agressão dos eua e Ajuda à Coreia”, assim chamada pelo Partido Comunista Chinês, estourou em 1950. No Ocidente, é mais conhecida como “Guerra da Coreia”.

 

[44] Wu Yaozong (1893-1975) e outros publicaram, em 1950, a obra Meios do cristianismo chinês empregar forças na construção da nova China, também chamado de Manifesto de inovação dos Três-Autos, o que posteriormente constituiu os “Três-Autos” da igreja chinesa.

 

[45] O Grande Salão do Povo, construído em 1959, está localizado no lado oeste da Praça da Paz Celestial. É um local de reuniões do Congresso Nacional do Povo da China.

 

[46] De The Theory and Practice of the Chinese Communist Party’s Suppression of Religions [Teoria e Prática da Supressão das Religiões pelo Partido Comunista Chinês]. Tradução livre.

 

[47] A túnica kesa é a túnica ou batina de um monge budista.

 

[48] Zhang Bojun (1895-1969) foi um dos fundadores da “Liga Democrática da China”, um partido democrático na China. Ele foi considerado como o “direitista número um”, em 1957, por Mao Tsé-Tung, e foi um dos poucos “direitistas” não “retificados” depois da Revolução Cultural.

 

[49] Imperador Huizong da dinastia Song, também conhecido por Zhao Ji (reinou entre 1100 e 1126).

 

[50] Su Dongpo (1036-1101) foi um famoso poeta e escritor chinês da dinastia Song. Foi um dos oito grandes mestres de prosa das dinastias Tang e Song.

 

[51] Wen Zhengming (1470-1559) foi um pintor chinês da dinastia Ming.

 

[52] Tang Bohu (1470-1523) foi um famoso académico, pintor e poeta chinês da dinastia Ming.

 

[53] O “jin” é uma unidade de peso utilizada na China. Um jin equivale a 0,5 quilogramas, ou cerca de 1,1 libras.

 

[54] De Quantas relíquias culturais foram postas em chamas, de Ding Shu. Tradução livre.

 

[55] De um poema de Meng Haoran (689-740), um conhecido poeta da Dinastia Tang.

 

[56] Wang Xizhi (321-379), da dinastia Jin, é o mais famoso calígrafo da história.

 

[57] O original do Prólogo de Lan Ting, alegadamente escrito por Wang Xizhi em 353, no auge da sua carreira, é universalmente reconhecido como a peça mais importante da história da caligrafia chinesa.

 

[58] Wu Cheng’en (c. 1506-1582) foi um romancista e poeta chinês da dinastia Ming. É autor de Jornada ao Oeste, um dos quatro romances chineses mais conhecidos.

 

[59] Wu Jingzi (1701-1754) foi um elegante escritor da dinastia Qing e autor de História não oficial dos académicos (Rulin Waishi).

 

[60] Prosa escrita por Ouyang Xiu (1007-1072), um dos oito grandes mestres da prosa das dinastias Tang e Song.

 

[61] Nome alternativo para membros da Guarda Vermelha.

 

[62] A Enciclopédia de Yongle (Yongle Dadian) é uma enciclopédia compilada por 2000 acadêmicos da dinastia Ming em 1403-1408 sob a organização do imperador Yongle. Consistia em mais de 22.000 volumes manuscritos com 370 milhões de palavras, ocupando 40 metros cúbicos. Atualmente, apenas cerca de 800 volumes foram parcialmente recuperados, tendo os restantes sido destruídos ou perdidos. Alguns especialistas a consideram a primeira e maior enciclopédia do mundo.

 

[63] “Liang Xiao” representa um grupo de escritores, entre os quais Zhou Yiliang, cujo envolvimento no grupo de escritores lhe valeu uma carta anônima de um velho amigo referindo-se à “extrema falta de vergonha”.

 

[64] Imperador Qin Shihuang (259-210 a.C.), nascido Ying Zheng, foi o primeiro imperador na história da China unificada. Ele padronizou os códigos legais, a linguagem escrita, moedas, pesos e medidas e ordenou a construção da Grande Muralha. Todas essas medidas tiveram uma grande e profunda influência na história e cultura chinesas. Ele ordenou a queima de livros de várias escolas, incluindo os do confucionismo e taoísmo; e uma vez ordenou que 460 estudiosos do confucionismo fossem queimados vivos. Esses eventos mais tarde foram chamados pela história de “a queima dos livros e a queima dos estudiosos confucionistas”. Ele construiu um imenso mausoléu para si – e o Exército de Terracota da Tumba do Imperador Qin tornou-se conhecido como a Oitava Maravilha do Mundo.

 

[65] Mao, Tsé-Tung. Os Escritos de Mao Tsé-Tung, 1949-1976 (Vol. 2). Tradução livre a partir do original em chinês.

 

[66] Mao, Tsé-Tung. Retificar o Estilo de Trabalho do Partido (1942) por Mao Zedong. Tradução livre a partir do original em chinês.

 

[67] Mao, Tsé-Tung. 在延安文艺座谈会上的讲话 (Zài Yán’ān Wényì Zuòtánhuì Shàng de Jiǎnghuà) [Discursos sobre literatura e arte no Fórum de Yan’an], 1942. Tradução livre a partir do original em chinês.

 

[68] Wu Xun (1838-1896), originalmente Wu Qi, nasceu em Tangyi, província de Shandong. Tendo perdido seu pai muito cedo, sua família ficou pobre. Ele teve de mendigar comida para alimentar sua mãe e ficou conhecido como “o mendigo da piedade filial”. Depois que sua mãe morreu, a mendicância se tornou sua única forma de sobreviver. Ele depois dirigiu escolas gratuitas com o dinheiro da caridade.

 

[69] Hu Feng (1902-1985), estudioso e crítico literário, se opôs à política de literatura doutrinária do PCCh. Ele foi expulso do partido em 1955 e condenado a 14 anos de prisão.

 

[70] Mao, Tsé-Tung. 事情正在起变化. de: MAO, Tsé-Tung. 毛泽东选集 [Trabalhos Selecionados de Mao Tsé-Tung]. Vol. 5. Pequim: Editora do Povo, 1957. Tradução livre.

 

[71] QIAN, Bocheng. Oriental Culture. 4. ed. Tradução livre

 

[72] O movimento estudantil de 4 de junho foi iniciado por estudantes universitários que defendiam reformas democráticas na China entre 15 de abril e 4 de junho de 1989. A sua posterior repressão pelo Exército Popular de Libertação é geralmente referida como o massacre de 4 de junho ou Massacre da Praça da Paz Celestial, vide referências anteriores nesta obra.

 

[73] A Agência 610 foi criada especialmente para perseguir o Falun Gong, com poder total sobre cada nível da administração do Partido e sobre todos os outros sistemas políticos e judiciários. É uma polícia política fora das vias regulares governamentais, similar à Gestapo nazista.

 

[74] A teoria da origem de classe (ou linha de sangue ou pedigree) afirma que a natureza de uma pessoa é determinada pela classe da família em que ela nasce.

 

[75] Da canção da ópera moderna A Lenda da Lanterna Vermelha, uma popular “peça modelo” oficial desenvolvida durante a Revolução Cultural (1966-1976).

 

[76] Um “mu” é uma unidade de área utilizada na China. Um mu corresponde a 0,165 acres.

 

[77] A teoria de Jiang Zemin, analisada no Comentário Cinco. As “Três Representações” alegam que o Partido tem sempre de representar a tendência do desenvolvimento das forças produtivas da China, a orientação da cultura avançada da China e os interesses fundamentais da maioria dominante do povo chinês.

 

[78] CONGRESSO NACIONAL DO POVO, 1., 1954, Pequim. Documentos da Primeira Sessão do Primeiro Congresso Nacional do Povo da República Popular da China. 1954.

 

[79] “A síndrome dos olhos vermelhos”, equivalente à expressão ocidental “olho gordo”, descreve uma pessoa que, quando vê outra pessoa fazendo algo melhor do que ela, se sente invejosa e desconfortável e pensa que deveria estar condição melhor que outros.

 

[80] Uma “peça modelo” oficial, criada durante a Revolução Cultural (1966-76). A lenda folclórica chinesa “A menina dos cabelos brancos” é a história de uma imortal que mora em uma caverna e tem poderes sobrenaturais para premiar a virtude e punir o vício, defender o correto e restringir o mal. Entretanto, no drama “moderno” chinês, ópera e balé, ela foi descrita como sendo uma menina que foi forçada a fugir para uma caverna depois de seu pai ser espancado até a morte por haver recusado casá-la com um velho senhor de terras. Ela ficou com os cabelos brancos por falta de nutrição. Esse se tornou um dos mais conhecidos dramas “modernos” na China e instigou o ódio pela classe dos latifundiários.

 

[81] Guerra de Túneis (Didao Zhan) é um filme de propaganda de 1965 que o PCC usou para retratar seus guerrilheiros em resistência heróica lutando contra os invasores japoneses a partir de redes de túneis subterrâneos na China central durante a Segunda Guerra Mundial.

 

[82] Guerra de Minas (Dilei Zhan) é um filme de 1962 feito para retratar os guerrilheiros do PCCh na província de Hebei que supostamente lutaram contra os japoneses usando minas terrestres caseiras.

 

[83] O ensaio em oito partes (Baguwen) é um estilo de composição literária prescrito para os exames da função pública imperial. É associado à rigidez da forma e à pobreza de ideias.

 

[84] A Grande Fome da China de 1959-1961 é a maior fome da história da humanidade. O número estimado de mortes não naturais causadas pela fome varia entre dezoito milhões e quarenta e três milhões.

 

[85] Vide nota 7

 

[86] Mao, Tsé-Tung. 在延安文艺座谈会上的讲话 (Zài Yán’ān Wényì Zuòtánhuì Shàng de Jiǎnghuà) [Discursos sobre literatura e arte no Fórum de Yan’an], 1942. Tradução livre a partir do original em chinês.

 

[87] O Movimento Quatro de maio foi o primeiro movimento de massas da história moderna da China, com início a 4 de maio de 1919. Foi uma reação às repartições territoriais decorrentes da Primeira Guerra Mundial que fortaleceu no público chinês um sentimento de abuso por potências estrangeiras já crescente no país à época.

 

[88] De Alerta sobre o Rio Huaihe (1995) de Chen Guili. Tradução livre a partir do original em chinês

 

[89] Do Prólogo para Ver Li Yuan Regressar a Pangu (看李猿回盤古序), de Han Yu (768-824), um dos oito grandes mestres da prosa das dinastias Tang e Song. Tradução livre.

 

[90] Tao Yuanming (365-427), também conhecido como Tao Qian, foi um grande poeta chinês.