Vice-primeiro-ministro australiano pede suspensão da extradição de Assange, fundador do WikiLeaks

Assange não violou nenhuma lei australiana no momento de suas ações e não estava nos EUA quando ocorreu o evento, afirma vice-primeiro-ministro

14/12/2021 15:09 Atualizado: 14/12/2021 15:09

Por Victoria Kelly-Clark

O vice-primeiro-ministro australiano, Barnaby Joyce, pediu ao governo dos Estados Unidos para que desista de sua busca pela extradição do fundador do WikiLeaks, o australiano Julian Assange.

Assange, que está atualmente preso no Reino Unido, pode ser levado para a América após a decisão de um tribunal britânico de que ele poderia ser extraditado para enfrentar acusações de uma suposta conspiração para obter e divulgar informações confidenciais que revelaram alegações de crimes de guerra cometidos pelos militares dos EUA no Afeganistão e Iraque.

Em um artigo de opinião para o Sydney Morning Herald, na terça-feira, Joyce pediu que o fundador do Wikileaks enfrentasse os tribunais britânicos pelos supostos crimes ou fosse enviado de volta à Austrália. O vice-primeiro-ministro também questionou por que Assange agora poderia ser extraditado quando seus crimes não foram uma violação das leis australianas e não foram cometidos nos Estados Unidos.

“Assange não roubou nenhum arquivo secreto dos Estados Unidos; A cidadã americana, Chelsea Manning, fez isso”, declarou Joyce. “Na Austrália, ele recebeu um prêmio Walkley de jornalismo pelo feito”.

“Assange não violou nenhuma lei australiana no momento de suas ações. Assange não estava nos Estados Unidos quando ocorreu o evento que estava sendo deliberado em um tribunal agora em Londres. A questão então é: por que ele deve ser extraditado para os Estados Unidos? Se ele insultasse o Alcorão, seria extraditado para a Arábia Saudita?” afirmou ele.

Barnaby Joyce se pronuncia à imprensa em Canberra, na Austrália, no dia 16 de fevereiro de 2018 (Michael Masters / Getty Images)
Barnaby Joyce se pronuncia à imprensa em Canberra, na Austrália, no dia 16 de fevereiro de 2018 (Michael Masters / Getty Images)

O vice-primeiro ministro questionou se os australianos comuns concordariam com isso.

“Imagine o momento de uma porta de correr, e não foi Assange, mas você que estava no tribunal na Grã-Bretanha”, escreveu Joyce.

“Se  formos complacentes com este processo de extradição de um australiano para os EUA por infringir suas leis, mesmo quando ele não estava naquele país, e acharmos isso justo, estamos preparados para aceitá-lo como um precedente para aplicação a quaisquer outras leis de qualquer outra nação a algum dos nossos cidadãos?”

Joyce também exortou a Grã-Bretanha a defender os direitos e liberdades que sempre aspirou em uma democracia, afirmando que “uma sociedade decente faz o investimento para defender a condição básica de todos a estes direitos”.

“Você pode julgar uma sociedade se a proteção e aplicação desses direitos são ativamente buscadas pelo Estado de uma forma em que todos sejam verdadeiramente iguais”, declarou ele.

Os Estados Unidos buscam a extradição de Assange desde 2012, após o fundador do WikiLeaks ser investigado por acusações de agressão sexual na Suécia.

No entanto, Assange fugiu da investigação, correndo para a embaixada do Equador, onde permaneceu no exílio até ser expulso, em 2019.

As acusações de agressão sexual contra ele na Suécia foram, eventualmente, retiradas.

Apoiadores do fundador do Wikileaks, Julian Assange, se reúnem do lado de fora do Royal Courts of Justice,  durante o recurso do governo dos EUA contra uma decisão de um juiz britânico de que Assange não deveria ser extraditado, em Londres, na Grã-Bretanha, no dia 11 de agosto de 2021 (Henry Nicholls / Reuters)
Apoiadores do fundador do Wikileaks, Julian Assange, se reúnem do lado de fora do Royal Courts of Justice,  durante o recurso do governo dos EUA contra uma decisão de um juiz britânico de que Assange não deveria ser extraditado, em Londres, na Grã-Bretanha, no dia 11 de agosto de 2021 (Henry Nicholls / Reuters)

No dia em que foi expulso da embaixada equatoriana, os Estados Unidos o indiciou por acusações de hack e após algumas semanas, o acusaram de acordo com a Lei de Espionagem dos Estados Unidos.

Esse caso foi desenvolvido durante a administração Trump e se concentra em sua publicação de arquivos diplomáticos e militares vazados por Chelsea Manning, uma ex-analista de inteligência do Exército, em 2010.

A acusação alega que Assange participou de uma conspiração de hack criminoso, oferecendo-se para ajudar a encobrir as atividades de Chelsea Manning em uma rede de computadores segura e se engajando em um esforço mais amplo para encorajar hackers a obter material secreto e enviá-lo ao WikiLeaks.

Também acusa o australiano de violar a Lei de Espionagem por meio de sua solicitação e publicação de informações que o governo dos Estados Unidos considerou secretas.

Assange está detido na prisão de Belmarsh, em Londres, desde que foi preso sob a acusação de invasão.

O editor-chefe do WikiLeaks, Kristinn Hrafnsson, afirmou em um comunicado que, com a decisão da Suprema Corte, a vida de Assange “está mais uma vez sob grave ameaça, assim como o direito dos jornalistas de publicar material que governos e corporações considerem inconveniente”.

“Trata-se do direito de uma imprensa livre publicar sem ser ameaçada por uma superpotência agressora”, afirmou Hrafnsson.

Apoiadores de Assange se reuniram em frente ao Supremo Tribunal em Londres na sexta-feira, segurando cartazes exigindo sua libertação. Muitos de seus apoiadores consideram Assange um herói por expor o que eles descrevem como abuso do poder do Estado e por defender a liberdade de expressão.

Os promotores dos EUA, no entanto, retratam Assange como um inimigo perigoso do Estado, cuja decisão de divulgar os arquivos confidenciais colocou em risco a vida das fontes citadas no material vazado.

“Essas fontes humanas incluíam afegãos e iraquianos locais, jornalistas, líderes religiosos, defensores dos direitos humanos e dissidentes políticos de regimes repressivos”, afirmou o Departamento de Justiça ao anunciar 18 acusações contra Assange, em maio de 2019.

“As ações de Assange arriscaram sérios danos à segurança nacional dos Estados Unidos em benefício de nossos adversários e colocam as fontes humanas não editadas em grave e iminente risco de danos físicos graves e / ou detenção arbitrária”, declarou o Departamento de Justiça.

Tom Ozimek contribuiu para este artigo

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