Um ano após triunfo eleitoral, Petro enfrenta crise em seu governo

Por Agência de Notícias
19/06/2023 19:32 Atualizado: 19/06/2023 19:32

O maior triunfo da esquerda na Colômbia, a eleição de Gustavo Petro como presidente, completa seu primeiro ano com o governo em dificuldades para realizar as prometidas transformações sociais e com escândalos em seu entorno.

Em 19 de junho de 2022, Petro, candidato do Pacto Histórico, atingiu o auge de sua carreira política com sua eleição como presidente da Colômbia no segundo turno, com 11,2 milhões de votos (50,44%) graças à sua proposta de mudança que agradou principalmente a classe média, que tradicionalmente resistia ao seu nome.

“A partir de hoje a Colômbia muda, a Colômbia é outra”, disse Petro em seu discurso de vitória, no qual propôs um “grande acordo nacional” em um país amplamente dividido e, embora tenha iniciado seu mandato em 7 de agosto com um gabinete plural, as rachaduras não demoraram muito para aparecer.

Com dificuldades lançou seu plano de “paz total”, que contempla negociações com a guerrilha do Exército de Libertação Nacional (ELN), dissidentes das FARC e grupos de origem paramilitar, e também conseguiu que o Congresso aprovasse sua reforma tributária, mas acabou aí sua lua de mel.

Reformas em dúvida

Sem maioria legislativa e sem sinais até aqui de que pode ampliar a base de apoio a seu governo, o presidente luta agora para obter a aprovação de suas polêmicas reformas da saúde, trabalhista e da previdência.

Diante dos retrocessos, endureceu o discurso, apostando no apoio do povo, como se estivesse em campanha, e questionando a separação de poderes ao alegar que o Congresso, por não aprovar suas reformas, desconsidera a vontade popular que o levou à presidência.

“O governo tem de ter claro para onde vai e parece que não tem claro para onde vai. Se o governo dá uma guinada e dá sinais de que um dia vai para um lado e no outro dia vai para outro, o que faz é alimentar a incerteza e, com a incerteza, as políticas públicas se tornam muito mais difíceis de aplicar”, opinou na sexta-feira o ex-presidente Juan Manuel Santos (2010-2018).

Assim como quando foi prefeito de Bogotá (2012-2015), o presidente optou por trocar ministros que não representam o petrismo puro e elevou o tom com a imprensa, alvo constante de suas críticas.

“Estamos a um ano da vitória, se essa pesquisa for verdadeira, agradeço ao povo por saber resistir às investidas dos meios de comunicação que são capital dos homens mais ricos”, escreveu ontem no Twitter ao comentar uma suposta pesquisa divulgada pelos seus seguidores nas redes que dão ao seu governo uma aprovação de 47,7% e uma reprovação de 43,3%.

Esses números contrastam com outra pesquisa realizada em 2 de junho, pela empresa Invamer, que aponta uma aprovação à sua gestão de 33,8%, enquanto a reprovação está em 59,4%.

“As pesquisas dizem que a aceitação do Petro é baixa e isso deixa muito a desejar, já que ele nem completou um ano no cargo. Sua imagem está corroída por tudo o que aconteceu no governo”, disse em entrevista à EFE o ex-senador de esquerda Jorge Robledo, que foi seu companheiro no partido Polo Democrático.

O Escândalo de Sarabia e Benedetti

Mas o que mais afetou o governo é o escândalo de suposto abuso de poder e escutas telefônicas ilegais envolvendo Laura Sarabia, ex-chefe de gabinete de Petro, e Armando Benedetti, ex-embaixador na Venezuela.

A vítima é Marelbys Meza, ex-babá de Sarabia, acusada de roubar uma pasta com dinheiro, o que desencadeou uma investigação irregular da segurança presidencial que foi vazada para a imprensa, aparentemente por Benedetti, como parte de disputas internas por cargos.

Os dois renunciaram em 2 de junho e Benedetti, que foi fundamental para a eleição de Petro pelos votos que obteve para o presidente na costa atlântica, ameaçou revelar supostas irregularidades no financiamento de sua campanha, para a qual disse ter conseguido 15 bilhões de pesos (cerca de R$ 16,6 milhões).

Em outra reviravolta da crise, uma semana depois, o tenente-coronel da polícia, Óscar Dávila, designado para a segurança presidencial e relacionado com o interrogatório e interceptações ilegais da babá, foi encontrado morto, presumivelmente por suicídio.

“Ali se combinam várias coisas, cada uma à sua maneira muito grave”, declarou Robledo sobre o abuso de poder e as ameaças de Benedetti de “contar onde conseguiu 15 bilhões de pesos, insinuando que eram de origem obscura”.

A oposição, por sua vez, fará amanhã uma manifestação que ajudará a medir se tem mais força ou não do que Petro, que há duas semanas convocou o povo às ruas para defender suas reformas.

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