Filha de líder da oposição russa morto em 2015 não vê substituto para Navalny

Por Agência de Notícias
17/02/2024 21:45 Atualizado: 17/02/2024 21:45

Zhanna Nemtsova, filha do opositor russo assassinado há quase nove anos perto do Kremlin, Boris Nemtsov, afirmou neste sábado que Alexei Navalny foi um dos mais importantes líderes da oposição ou mesmo o mais importante do século XXI e que não vê neste momento quem o pode substituir.

“Ontem soube que Alexei Navalny foi assassinado na prisão. Precisamos lutar contra o regime que o fez. Gostaria de dizer que Alexei Navalny foi um dos mais importantes políticos da oposição, se não o mais importante da Rússia no século XXI”, disse em um painel da Conferência de Segurança de Munique sobre o futuro da Rússia.

Nemtsova destacou que Navalny foi um homem que formulou a agenda política para enfrentar o presidente russo, Vladimir Putin, inclusive atrás das grades, e na prisão continuava sendo a referência que propôs novas opções e formas de lutar contra o regime.

“Não existe outro homem como esse na arena política e não vejo ninguém que possa ocupar o seu lugar”, disse.

Nemtsova afirmou que o “assassinato de Alexei Navalny é um ato de terror” para assustar não apenas os russos no país, mas também para demonstrar à oposição no exílio que “os riscos são maiores” caso se pronunciem contra Putin.

Por esta razão, expressou seu apoio aos cidadãos russos que ontem e hoje saíram às ruas de todo o país para depositar flores em monumentos dedicados à repressão política.

Segundo a organização OVD-Info, que protege os direitos dos detidos, ao menos 359 cidadãos foram presos em 32 cidades russas entre ontem e hoje por atos de homenagem a Navalny.

“Neste momento, mesmo esta ação simples é muito perigosa” e um ato de “grande bravura”, destacou Nemtsova.

Zhanna Nemtsova, que preside a Fundação Boris Nemtsov para a Liberdade, também falou sobre o momento em que ocorreu a morte de Navalny e a possibilidade de isso ter a ver com a grande popularidade de Boris Nadezhdin, o único candidato ao Kremlin que se opõe à guerra e não foi autorizado pela Comissão Eleitoral Central a concorrer nas eleições presidenciais de março.

“Acho que o grande apoio (para Nadezhdin) que vimos, mais de 10%, que ele recebeu, surpreendeu e assustou as autoridades no poder. Quando viram as filas de pessoas que queriam apoiar Nadezhdin (para registrar sua candidatura), ficaram assustadas”, disse.

“Agora estamos entrando em uma nova era, a era da luta contra o regime sem Alexei Navalny. Podemos nos perguntar quem pode ocupar seu lugar, quem pode se tornar o novo líder”, mas há poucas opções, afirmou.

Nemtsova destacou o movimento de esposas de soldados mobilizados na Rússia, já que um dos seus líderes na véspera pediu que as pessoas saíssem às ruas e depositassem flores em homenagem a Navalny.

Ela lembrou que todos também foram pegos de surpresa pela popularidade adquirida pelo falecido ex-chefe do grupo mercenário Wagner, Yevgeny Prigozhin, que liderou uma rebelião contra a liderança militar russa em junho de 2023 antes de morrer em um estranho acidente de avião.

Tudo isto “mostra que realmente não podemos fazer previsões”, disse a mulher.

Irina Shcherbakova, historiadora e uma das fundadoras da ONG Memorial International – que documentou durante três décadas os expurgos da era stalinista e depois a repressão da Rússia de Vladimir Putin e que foi dissolvida pela Justiça russa em 2022 -, destacou que não é uma coincidência que os russos que depositam flores para expressar o que pensam “deste assassinato” de Navalny o façam em monumentos dedicados às vítimas da repressão política.

Ela disse que as condições de prisão que Navalny, que passou 300 dias no total em celas de punição, teve de suportar são “comparáveis às práticas durante o stalinismo”.

Ela concordou com Nemtsova que “o futuro é incerto” na Rússia, mas estava convencida de que, por mais trágico que possa parecer, “o futuro da Rússia depende de Putin ganhar ou perder a guerra na Ucrânia”.