EUA lança coalizão internacional contra o fentanil, mas China se nega a participar

Por Eduard Ribas i Admetlla, EFE
07/07/2023 21:47 Atualizado: 07/07/2023 21:47

Os Estados Unidos lideraram nesta sexta-feira a criação de uma coalizão internacional contra o tráfico de fentanil e outras drogas sintéticas, à qual se juntou o México, um dos principais produtores destas substâncias, mas a China se negou a participar.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, presidiu uma reunião virtual com representantes de 97 países e organizações para lançar as bases da nova aliança, que deverá voltar a se reunir em setembro, à margem da Assembleia Geral da ONU.

O fentanil, um opioide sintético 100 vezes mais potente do que a morfina, é fabricado por cartéis mexicanos a partir de precursores químicos adquiridos na China e depois traficado para os Estados Unidos, onde causa milhares de mortes por overdose todos os anos.

Mas a crise vai além disso, com a África e o Oriente Médio sofrendo também de uma crise de consumo de drogas sintéticas como o tramadol e captagon, este último fabricado em grande escala na Síria, alertou a ONU no seu Relatório Mundial sobre Drogas 2023, divulgado na semana passada.

“Se não agirmos em conjunto e com urgência, outras partes do mundo sofrerão as consequências catastróficas que já estão afetando tantas cidades e vilas americanas”, alertou Blinken durante o seu discurso na reunião.

O chefe da diplomacia americana recordou que 110 mil pessoas morreram no ano passado nos Estados Unidos devido a overdose de drogas, principalmente de fentanil, a principal causa de morte entre pessoas de 18 a 49 anos.

Blinken comentou ainda que o setor privado também deve ser envolvido neste esforço, pois uma grande parte destas drogas é fabricada com substâncias químicas que são comercializadas legalmente como medicamentos, cosméticos ou produtos domésticos.

China comunista sem interesse de cooperar contra o tráfico de drogas

Vários precursores químicos utilizados pelos cartéis mexicanos para fabricar fentanil provêm da China, mas Pequim se recusou a participar na reunião de sexta-feira, para a qual tinha sido convidada.

Em chamada com os jornalistas, Todd Robinson, chefe do gabinete de combate ao narcotráfico do Departamento de Estado, disse na quarta-feira que a China não tem cooperado com os Estados Unidos no tráfico de drogas nos últimos meses.

Robinson pediu aos outros países que têm contato com a China que a ajudem a se sentar à mesa de negociações.

O próprio Blinken tentou fazer o mesmo na sua recente viagem a Pequim, onde levantou a questão do fentanil junto às autoridades chinesas como uma das principais preocupações de Washington.

O regime de Xi Jinping negou categoricamente, em abril passado, que estivesse por trás da exportação de precursores do fentanil, em resposta a uma carta que lhe foi enviada pelo presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, pedindo cooperação nesta matéria.

México colabora apesar da tensão

A colaboração entre Estados Unidos e México contra o tráfico de drogas não tem sido a melhor desde que, em março, dois americanos foram assassinados em solo mexicano e a oposição republicana pediu para classificarem os cartéis de droga como organizações terroristas, o que possibilitaria ações diretas no território do país latino-americano.

López Obrador afirma que o fentanil chega aos Estados Unidos diretamente da China e nega que a substância seja fabricada no seu país, apesar de o seu governo ter destruído vários laboratórios clandestinos onde a droga era fabricada.

Apesar de tudo, a nova ministra das Relações Exteriores mexicana, Alicia Bárcena, participou na reunião desta sexta-feira para se juntar à nova coalizão. O conteúdo da sua participação não foi tornado público até o momento.

O que se revelou foi a posição do governo da Colômbia, que, sob a presidência de Gustavo Petro, questionou a guerra militar contra as drogas que vem sendo travada há décadas por Washington.

Nesse sentido, o chanceler colombiano, Álvaro Leyva, manifestou a sua “total disponibilidade” para participar na nova coalizão, propondo a aplicação de “novas políticas” contra as drogas, centradas na saúde pública e nos direitos humanos.

Leyva também lembrou que Colômbia e México estão trabalhando para convocar uma conferência latino-americana neste ano para coordenar a nova política antidrogas.

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