Álvaro Uribe fala sobre avanço da China e ameaça à América Latina

Uribe expressou preocupação com acordos militares entre China e Venezuela, o que considera uma ameaça para países como a Colômbia

02/02/2022 15:57 Atualizado: 02/02/2022 15:57

Por Alicia Marquez 

O ex-presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, se pronunciou quanto ao progresso e a ameaça da China na América Latina na abertura de um ciclo de seminários do think tank espanhol, Fundação para Análise e Estudos Sociais (FAES), na segunda-feira.

Trata-se do projeto da FAES chamado “China e a rivalidade entre as grandes potências na América Latina: repercussões para a Espanha”, que é um ciclo de 6 seminários no total onde vários especialistas latino-americanos, espanhóis e americanos de alto nível falarão sobre a infiltração da China na América Latina e suas repercussões nos EUA e na União Europeia, que acontecerá de 31 de janeiro a 14 de março.

Na conferência inaugural, o ex-presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, destacou os retrocessos democráticos na América Latina no contexto da pandemia e afirmou ainda que “com o coronavírus, a China não venceu a guerra comercial contra os EUA, mas criou simpatias na América Latina”, devido à sua diplomacia de vacinas na região.

“O primeiro conhecimento em tempo real que minha geração teve quando estávamos nas bancadas universitárias na China, foi o conhecimento do apoio às guerrilhas latino-americanas com o objetivo de implantar o modelo comunista da época na versão de Mao Tsé-Tung”, relatou Uribe.

“Minha geração naquela época em muitas universidades latino-americanas, incluindo a minha, muitos de nossos professores não nos deram outra oportunidade senão escolher alguns dos aspectos socialistas para o futuro, seja o de Mao Tsé-Tung na China, ou o Castrista na ilha de Cuba ou o modelo soviético da época ou o modelo vietnamita”, acrescentou.

Também ressaltou que, além do apoio da China aos guerrilheiros, especialmente ao Exército de Libertação Popular (ELP), houve uma grande distribuição de propaganda do regime chinês – incluindo a revista China Vermelha, as Quatro Teses Filosóficas de Mao Tsé-tung e toda a literatura relacionada ao a revolução comunista na China.

“Começamos a ver seu enfraquecimento antes mesmo da queda do Muro de Berlim, em 1989, o que, por exemplo, resultou na guerrilha colombiana EPL, que foi apoiada pela China, facilitando um acordo durante os governos de Barco e Gaviria e participando da Constituinte colombiana [Assembleia Nacional] de 1991”, afirmou Uribe, destacando que essa era a primeira era do que a China poderia ser no final dos anos 1940, após Mao Tsé-Tung assumir o poder.

Acrescentou que surgiu então a China do comércio e do investimento, destacando a importância da “competição da China continental e de Taiwan”, apontando que na América Latina havia muitos países que mantinham relações diplomáticas com Taiwan, mostrando solidariedade política na região com Taipei “mas à medida que o poder econômico da China continental cresceu e começou a aparecer na América Latina com investimentos, com comércio etc., eles imediatamente começaram a deslocar Taiwan”.

O ex-presidente colombiano também acrescentou que o progresso comercial da China na América Latina tem permeado principalmente a economia sobre a política.

Destacou que no caso de Honduras, que ainda mantém relações diplomáticas com Taiwan, “Xiomara de Celaya anunciou que estabelecerá relações diplomáticas com a China continental, o que implica uma ruptura com Taiwan”, acrescentando que Taipei ainda mantém acordos comerciais com muitos países.

No caso da Colômbia, o país possui relações diplomáticas com a China, afirma, mas também relações comerciais com Taiwan; no caso da Nicarágua, Violeta Barrios de Chamorro manteve relações com Taiwan, porém, com a chegada de Daniel Ortega em 2007, que se mantém no poder desde então, romperam relações com Taipei e estabeleceram relações com a China continental, no caso da República Dominicana, o país fez o mesmo em 2018. O Paraguai continua com sua preferência por Taiwan, além de algumas ilhas do Caribe.

Álvaro Uribe expressou sua preocupação com os acordos militares entre a China e a Venezuela, que considera uma ameaça para países como a Colômbia, relatando que “a ditadura da Venezuela se orgulha de manter acordos militares com a China”, já que compartilha 2.216 quilômetros de linha de fronteira.

Uribe também destacou que a estratégia da China de privilegiar os negócios em detrimento da política se manifesta claramente no caso de seu papel como fornecedor de tecnologia 5G no Brasil, Chile e até no Peru. E para a China, os atrativos da América Latina e do Caribe são que possuem “10% das reservas (mundiais) de petróleo, 6% de gás, 50% de cobre, 50% de prata, 26% de terras férteis e 24% da oferta mundial de carne bovina”.

“A China passou a atuar como provedor financeiro na região”, relatou Uribe, acrescentando que Pequim é “uma espécie de banco de resgate para Venezuela, Equador e Argentina”.

Com informações da EFE. 

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