“Colocaram na cabeça dos índios que podiam invadir fazendas” – A luta oculta dos povos indígenas | Entrevista exclusiva – parte 2

Por Danielle Dutra
09/01/2023 13:37 Atualizado: 09/01/2023 15:06

A discussão sobre territórios indígenas no Brasil é vasta e controversa. Na segunda parte desta entrevista exclusiva conduzida pela editora de agronegócio do Epoch Times, Danielle Dutra, uma ativista afirma que centenas de povos foram instrumentalizados politicamente pelo Partido dos Trabalhadores quanto ao assunto.

Confira neste link a primeira parte da entrevista, tratando de políticas públicas quanto a indígenas no governo Bolsonaro, manifestações e mais.

Danielle Dutra:  Você poderia falar um pouco sobre a situação dos povos indígenas no país ao longo dos anos?

Indígena: Então, assim, falar de povos indígenas no Brasil é muito complicado, porque não é um só povo. São mais de 300 etnias diferentes, com um tipo de vida diferente, com dificuldades diferentes, mas todas sendo manipuladas pela esquerda, pelo PT, principalmente agora, sendo perseguidos.

 No caso,  eu não posso dizer 100%, que é uma perseguição indireta, eu posso dizer que houve diversos conflitos contra os povos indígenas. Porque colocavam na cabeça dos índios o seguinte: “nós somos os donos da terra. Então nós podemos ocupar qualquer terreno que nós quiséssemos”. Então eles colocaram na cabeça dos índios que eles podiam invadir fazendas, mas isso é crime de invasão de propriedade no Código Penal.

E a esquerda colocava na cabeça dos índios que era uma “retomada”, uma “operação de retomada”, de “retomar”, de “resgatar” uma terra que era deles e, depois de retomada, iriam lutar pela demarcação. Com isso, vários índios morreram por pistoleiros de fazendeiros que estavam defendendo sua propriedade privada que estava sendo invadida.

E houve muita morte e várias lideranças foram assassinadas com isso. E resultado dessa retomada, lá na Bahia ainda acontece isso no Mato Grosso do Sul ainda acontece isso também. Mesmo no governo Bolsonaro. 

Danielle: Você pode citar alguns casos que geraram esses conflitos causados entre os indígenas e fazendeiros? 

Indígena: Eu soube no ano passado que três indígenas guaranis kaiowás foram mortos por capangas de fazendeiros europeus por causa das retomadas. E tem vários casos e muita coisa para contar e muita coisa para disputar. 

Tem casos no Maranhão, onde indígenas buscavam alimentos no lixão. Não sei se isso ainda acontece, mas na época do PT acontecia muito isso, de índios faziam pedágios ilegais em rodovias e cobrarem pedágio ilegal para os caminhões que passavam para poder ter uma sobrevivência, um modo de sobreviver. 

Os índios também bloqueavam rodovias, saqueavam caminhões para poder sobreviver, para poder ter algum tipo de alimento para comer. Sabe, a fome era demais, a fome era grande e isso a mídia, a grande mídia nunca noticiou. A mídia sempre noticiou que índios bloquearam rodovias em protesto, mas não dizia sobre o protesto. Não falava sobre o que era o protesto.

Só falava que índios tomaram Brasília em protesto, mas não dizia o que era o protesto. O que os índios estavam fazendo, entende? Então, assim sempre foi tudo muito ocultado. Não é de agora que a grande mídia vem ocultando coisa séria. 

Sabe, sempre tudo que foi contra o governo PT, a mídia ocultou, por mais volumosa que fossem as nossas manifestações, como foram as manifestações contra a usina de Belo Monte, quando chegamos a juntar 7000 pessoas na Avenida Paulista, 4000 índios em Brasília! E todas essas manifestações foram ocultadas!

 Todas essas ocultações que acontecem agora no governo Bolsonaro, isso também existia na época do governo PT, e tudo que era contra o governo PT era ocultado, principalmente se fosse por parte dos índios, porque nós indígenas, nos manifestamos contra o governo PT, contra os desmandos do governo PT, contra os descasos do governo PT.

E a manipulação na cabeça dos índios vem assim: “se você retomar aquela terra e pedir demarcação, a terra vai ser de vocês e vocês vão viver bem” e não é isso que acontece. 

Danielle: Como começou o Movimento contra a Usina de Belo Monte?

Indígena: Então, assim, eu considero que todo esse movimento patriótico começou comigo e mais três indígenas também, que chegaram da etnia Cala Paulo e moram aqui em São Paulo, no Embu das Artes, na cidade de Embu das Artes. 

Porque em 2011, quando nós começamos toda essa mobilização contra a usina de Belo Monte, ficávamos só nós ali na Avenida Paulista, com cartolina na mão, trajados de indígenas com os nossos trajes indígenas e gritando no semáforo. Quando o semáforo fechava, a gente ia para o meio da rua e ficava gritando:

  • “Fora PT, Belo Monte não, Xingu vivo sim!”

 E nisso foi chamando a atenção das pessoas e mais gente foi chegando nas nossas manifestações, mais gente foi participando.

Até que a gente conseguiu um número bem expressivo de pessoas no movimento Frentes de Ação para o Xingu e a partir daí surgiu a Revoltados Online e depois da Revoltados Online, surgiu nas ruas o Vem Pra Rua, o MBL. O MBL, na verdade, nunca foi um movimento patriótico, mas surgiu daí. 

Aí teve aquela manifestação de 2013 dos “20 centavos”, que na verdade não era pelos 20 centavos, e se tornou uma coisa bem patriótica. E daí? Não parou mais. Só que eu fiquei no escuro porque, como eu te disse, eu sempre fazia o trabalho de bastidores, sempre ficava no backstage, como você falou.

Danielle:  E quanto à demarcação indígena?

Indígena: Nós temos a Raposa Serra do Sol como exemplo do processo de demarcação. Começou no governo Fernando Henrique Cardoso, e tiveram três projetos para demarcação da Raposa Serra do Sol. O projeto de demarcação em “Ilhas”, só onde tinham as aldeias indígenas e deixaram as fazendas fora da demarcação, porque lá existia toda uma estrutura de trabalho entre os fazendeiros e os indígenas. 

Os indígenas trabalhavam para os fazendeiros. Tinha toda uma agricultura e um plantio de arroz muito grande, gado que até mesmo índios criavam porque trabalhavam com fazendeiros que criavam gado, e acabavam criando seu próprio gado todo.

E houve o projeto, era um projeto que pegava toda a área. Entende? O projeto pegava toda a área, e a terceira opção era não decidir. E o Fernando Henrique optou por não decidir. Quem ficou para demarcar foi o Lula.

E o Lula acabou escolhendo uma segunda opção, que era demarcar toda uma área em conjunto. Nisso, os fazendeiros que ficavam dentro da área de demarcação da Raposa Serra do Sol foram tidos como invasores. 

E se você procurar no YouTube, você encontra vídeos da época do conflito terrível que houve naquela região. A reintegração de posse sempre é muito violenta, e os fazendeiros que estavam lá há 80 anos, por exemplo, já estavam sendo [tratados] como invasores de uma terra que não era deles. Então eles tiveram que ser expulsos. Daí não tem mais plantio de arroz, não tem mais criação de gado… 

Só com o governo Bolsonaro que os índios começaram a plantar novamente! Os índios Macuxi, que ficam na localidade da Raposa Serra do Sol, [por exemplo]. Mas tem muitas, muitas aldeias que não plantam porque não podem.

Os esquerdistas falam que os índios não querem plantar, mas a maioria dos índios quer plantar! Eles querem produzir, mas não podem! E viram no Bolsonaro uma luz no fim do túnel. Só que aí aconteceu a fraude nas eleições que todos nós sabemos, e os índios se sentiram lesados por essa fraude, foram para Brasília protestar, lutar pelo Brasil, lutar por justiça. E aconteceu o que aconteceu. O cacique Serere Xavante foi preso. A comunidade xavante do cacique Serer foi uma das beneficiadas pelo novo programa do governo Bolsonaro, que beneficiava os índios.

Danielle: Porque você saiu do Movimento Indígena?

 Indígena: Só para você saber como foi a minha saída do Movimento Indígena em 2017 ou 2018, não lembro bem, houve uma manifestação na frente da Prefeitura de São Paulo dos povos indígenas de São Paulo, contra a municipalização da Sesai, que a Secretaria Especial de Saúde Indígena, e eu fui convidada por um índio amigo meu da etnia Karen.

E quando eu estive lá, falei com todo mundo. Normalmente cumprimentei a todos os guaranis que estavam lá e, de repente, as mulheres guaranis se juntaram e vieram em torno de mim e me pediram para eu me retirar da manifestação. 

Como eu estava próxima de ter uma aula ali perto, uma aula de geopolítica, eu já teria que sair mesmo. Eu falei:

  •  “Não, eu tenho uma aula agora, eu vou ter que sair mesmo. Então eu estou indo. Vou sair.”  

Aí, uma das mulheres indígenas falou: 

  • “Você trabalha na Funai e não ajuda a gente”

Aí eu peguei e falei:

  •  “Eu nunca trabalhei na Funai.” 

E quando eu me virei para responder isso, estavam todos me filmando.  E aí eu falei para as câmeras dos celulares que eu nunca trabalhei na Funai, que eu nunca tive cargo na Funai, e essa nunca foi minha intenção. 

E eu me senti muito agredida, apesar de não terem levantado uma mão contra mim. Eu me senti muito humilhada com a falta de gratidão que tiveram comigo, porque eu sempre fiz tudo que estava ao meu alcance para ajudar os povos indígenas, independente da etnia que fosse. 

E eu estava de repente, estava sendo tratada daquela forma humilhante, como se eu fosse uma ameaça para eles, quando, na verdade, a ameaça estava constantemente dentro das aldeias, na figura das pessoas não indígenas que são de esquerdas pertencentes a partidos políticos como o PT,  como o PC do B.

Então, naquele dia, eu decidi me afastar do movimento indígena. 

Só agora, com a chegada do presidente Bolsonaro que me convidaram para fazer parte de um movimento indígena, para criar o movimento indígena só de índios patriotas que eram contra a esquerda e contra as ONGs. E aí eu dei a ideia do nome Índios Patriotas. E assim foi fundado um grupo.

E hoje, o grupo tem uma quantidade razoável de indígenas e representantes de comunidades indígena. Lá, debatemos o andamento do governo, as conquistas dos povos indígenas com o governo Bolsonaro e quais foram os povos indígenas que foram beneficiados.

Danielle: Qual o impacto desse movimento em sua vida?

Indígena: Mas é isso. A mídia sempre ocultava tudo, sempre estava escondendo tudo. E quando a mídia falava a respeito dos índios, era sempre de uma forma pejorativa. Isso sempre aconteceu de uma forma pejorativa e isso causou na sociedade um efeito colateral onde sempre se fala em integrar o índio na sociedade. Mas quando o índio quer se integrar na sociedade, a própria sociedade o rejeita. 

Eu mesmo já fui vítima de preconceitos absurdos aqui na cidade, até na minha própria faculdade de Direito. Chegaram para mim, perguntaram o que é que eu estava fazendo lá, se o meu lugar era no meio do mato, sabe? 

E enfrentei muitos preconceitos de indígenas também, porque eu sou mestiça. Eu não sou índia pura. Eu sou mestiça tanto de pai quanto de mãe, e isso sempre foi muito doloroso para mim, porque eu pensava: “Poxa, os índios já sofrem tanto preconceito da sociedade que foi implantada durante tantos anos”. Essa mística de que o índio é curandeiro, o índio é feiticeiro, o índio fuma cachimbo da paz com aquela música ridícula do Gabriel, o Pensador, sabe?

E isso, os próprios índios praticando preconceito contra uma indígena mestiça. Isso sempre me doeu muito, tanto preconceito dos não índios aqui na cidade contra o preconceito de alguns índios aldeados, entende? Isso foi uma coisa que sempre doeu muito, sempre.

 

Opiniões expressas por entrevistados e colunistas não necessariamente expressam a opinião do Epoch Times.

Continua na parte 3….

 

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