Problemas de privacidade no Threads e por que novo aplicativo da Meta não pode ser lançado na Europa

Por Bryan Jung
12/07/2023 00:33 Atualizado: 12/07/2023 00:33

A resposta da Meta ao Twitter, Threads, foi lançada mundialmente esta semana, com exceção dos países membros da UE.

O novo aplicativo vinculado ao Instagram, que agora está disponível em 100 países, até agora não tem planos de lançamento na UE, provavelmente devido aos regulamentos de privacidade do bloco.

Obviamente, existem preocupações muito fortes sobre o processamento de dados de cidadãos da UE, já que a Meta foi penalizada pelos vigilantes de proteção de dados do bloco nos últimos meses.

A empresa já informou à Comissão Irlandesa de Proteção de Dados que não tem planos de lançar o Threads na Europa, informou o The Irish Times.

Até agora, a Meta não comentou oficialmente sobre os supostos problemas com a lei da UE. Mas o Threads não foi ativamente bloqueado pelos reguladores irlandeses, que atuam como o principal executor da privacidade em Bruxelas.

A empresa parece estar descobrindo como lançar seu aplicativo na UE, devido às regras rígidas de proteção de dados.

Regras de privacidade da UE provavelmente são um impedimento para o Threads na Europa 

A nova Lei de Mercados Digitais da UE, que imporá novas regras sobre como as plataformas que agem como “porteiros” [gatekeepers] online podem funcionar na Europa, agora deve ser levada em consideração.

Mais orientações sobre como as empresas de mídia social podem ser aprovadas pela Comissão Europeia para o status de gatekeeper serão divulgadas em setembro.

Enquanto isso, decisões judiciais recentes na UE contra a Meta também provavelmente estão por trás do atraso no lançamento do aplicativo.

As autoridades da UE disseram em janeiro que a base legal que a Meta vinha usando para processar seus dados pessoais de usuários europeus do Facebook e Instagram para veicular anúncios direcionados era ilegal.

A Meta foi multada em US$ 435 milhões, com a grande empresa de tecnologia apelando contra a decisão.

O Tribunal Europeu de Justiça (ECJ) posteriormente decidiu em 4 de julho que o Facebook da Meta não poderia usar “interesse legítimo” para justificar o processamento de dados do usuário para publicidade.

Isso efetivamente acabou com o modelo de anúncios direcionados da Meta.

O ECJ também decidiu que os vigilantes da UE poderiam levar em consideração as violações de privacidade de dados das empresas de tecnologia em investigações antitruste.

Essas decisões são algumas das várias agressões legais da UE aos fundamentos do modelo de negócios da Meta e às grandes empresas de tecnologia americanas em geral.

A Meta também foi impedida de transferir dados de usuários do Facebook da UE para os Estados Unidos e foi multada em US$ 1,3 bilhão após uma repressão dos reguladores europeus de privacidade em maio.

A penalidade veio após uma longa investigação sobre transferências pelo Facebook de dados pessoais de europeus para o exterior, o que é uma violação da lei de privacidade da UE.

Atualmente, a empresa está na Justiça para que a decisão seja revista. Se confirmada, a decisão pode ser a sentença de morte para o Facebook na UE, relatou Quartz.

Alguns europeus já têm acesso ilegal ao novo aplicativo da Meta

Especialistas em privacidade de dados disseram não acreditar que as últimas decisões judiciais foram consideradas um fator importante na decisão da Meta, já que um novo acordo entre Bruxelas e Washington está pendente para criar uma base legal para a transferência de dados para a América.

Apesar da exclusão da Meta do bloco, muitos cidadãos da UE já usam o Threads, alguns usando várias soluções alternativas para colocar o aplicativo em seus dispositivos.

Isso significa que a Meta está processando os dados de cidadãos da UE, mesmo que pretenda evitar isso.

Alguns métodos incluem ter acesso a uma conta de loja de aplicativos fora da UE, transferi-la para um dispositivo Android fora da Google Play Store ou usar uma rede privada virtual, que pode falsificar um local para fazer parecer que o usuário está morando em um país onde o Threads pode ser baixado.

“O fracasso da Meta em lançar o Threads na UE tem mais a ver com a regulamentação europeia do que com o caso de negócios para o lançamento”, disse Niamh Burns, da Enders Analysis, um grupo de pesquisa de mídia, ao The Hollywood Reporter.

A Sra. Burns observou que a configuração do novo aplicativo, que envolve o agrupamento do Instagram e do Threads para criar um “público cativo”, não permitirá que você exclua sua conta do Threads sem excluir o Instagram.

Esse “é o tipo de coisa que os reguladores europeus odeiam”, disse ela.

Os críticos alertam que a política de privacidade do Threads admite que foi projetada para rastrear tudo sobre seus usuários; desde localização, emprego e histórico de navegação até dados financeiros e de saúde, a fim de facilitar melhor a publicidade direcionada.

Os dados seriam enviados para “prestadores de serviços” e “parceiros analíticos”, também conhecidos como empresas terceirizadas de publicidade e marketing.

Na verdade, esses fatores estariam em total violação das regras de privacidade da UE.

Rivalidade incipiente

A rivalidade entre o CEO do Twitter, Elon Musk, e o CEO da Meta, Mark Zuckerberg, está ficando cada vez mais tensa, depois que Musk notou que o aplicativo rival Threads era muito parecido visualmente com o Twitter.

O CEO da Meta disse que criou o Threads como uma resposta ao Twitter e espera que seu aplicativo seja uma alternativa à plataforma, que viu melhorias e caos, depois que seu rival, o Sr. Musk, comprou a plataforma.

O Sr. Zuckerberg disse que mais de 30 milhões de pessoas se inscreveram para usar o Threads nas primeiras 24 horas após seu lançamento.

Poucas horas após o lançamento do Thread, Musk ameaçou processar Zuckerberg e, em 6 de julho, o Twitter enviou uma carta de cessar e desistir à Meta por causa do novo aplicativo de mídia social, informou a ABC News.

O Twitter acusou a Meta de contratar dezenas de ex-funcionários do Twitter que ainda têm acesso aos segredos comerciais da plataforma de mídia social, chamando Threads de “ imitador”.

Um advogado que representa o Twitter, Alex Spiro, acusou a Meta de contratar ex-funcionários do Twitter para desenvolver o Threads, com a intenção de se envolver na “apropriação indevida, sistêmica, intencional e ilegal dos segredos comerciais do Twitter e outras propriedades intelectuais”.

“Com esse conhecimento, a Meta designou deliberadamente esses funcionários para desenvolver, em questão de meses, o ‘Threads’, aplicativo imitador da Meta, com a intenção específica de que eles usem os segredos comerciais do Twitter e outras propriedades intelectuais para acelerar o desenvolvimento do aplicativo concorrente da Meta, violando tanto as leis estaduais quanto federais, bem como as obrigações contínuas desses funcionários perante o Twitter”, escreveu a equipe jurídica do Twitter.

Alguns dias depois de registrar a reclamação, o CEO do Twitter atacou o Sr. Zuckerberg, twittando: “Zuck é um corno” [“Zuck is a cuck”].

O diretor de comunicações da Meta, Andy Stone, postou uma declaração no Threads em relação ao processo, dizendo: “Ninguém na equipe de engenharia do Threads é um ex-funcionário do Twitter – isso simplesmente não é real”.

A lei de direitos autorais dos EUA não cobre ideias, então o Twitter precisaria provar que a propriedade intelectual foi roubada se o caso for a tribunal.

Esta não é a primeira vez que a Meta copiou de perto produtos rivais no passado, incluindo o lançamento em 2020 do recurso Reels do Instagram, que é muito semelhante ao formato de vídeo curto de 20 segundos do TikTok.

O Epoch Times entrou em contato com a Meta para comentar o assunto.

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