Queda da bolsa de valores revela o que EUA precisam aprender sobre a China

A razão fundamental que obrigou Pequim a se curvar diante de Trump em Buenos Aires é que, desde outubro, a economia chinesa entrou em "modo de colapso"

14/12/2018 13:46 Atualizado: 14/12/2018 13:46

Por Jennifer Zeng, Epoch Times

No dia 4 de dezembro, a Dow Jones Industrial Average despencou quase 800 pontos, uma queda aparentemente causada pela ignorância dos ocidentais sobre a China.

De acordo com vários meios de comunicação, os investidores acreditaram nas notícias publicadas pela mídia estatal chinesa que apresentavam uma descrição totalmente diferente daquela da Casa Branca sobre a reunião entre o presidente Donald Trump e o líder comunista chinês Xi Jinping na cúpula dos líderes do G-20 em Buenos Aires, na Argentina.

Como resultado, os investidores pensaram que muito menos havia sido alcançado na reunião do que a Casa Branca e Trump anunciaram, e ficaram com medo de que nada tivesse sido feito para conter a guerra comercial EUA-China.

O analista econômico Qin Peng comentou que a reação dos analistas ocidentais foi muito ingênua. Na China, o público que é capaz de “pular a Grande Muralha do Firewall” e acessar fontes noticiosas ocidentais sabe muito bem como interpretar a propaganda do regime chinês. Se a Casa Branca não diz a mesma coisa que o regime, você tem que acreditar na Casa Branca. Em geral, supõe-se que a verdade é o oposto do que o regime informa.

Segundo Qin, a queda de 4 de dezembro mostra que não apenas os investidores não souberam interpretar a propaganda do regime, mas também não entenderam o significado do que aconteceu em Buenos Aires e qual é a situação atual na China.

Trump lucrou bastante

Qin afirmou que, até onde ele consegue ver, Trump ganhou muito na reunião.

Pequim foi forçada a sentar-se à mesa de negociações e a falar sobre coisas que afirmava veementemente que nunca falaria.

Pequim praticamente concordou com tudo o que Trump pediu, incluindo “iniciar imediatamente negociações sobre mudanças estruturais em relação à transferência forçada de tecnologia, à proteção da propriedade intelectual, às barreiras não tarifárias, às invasões e crimes cibernéticos, aos serviços e à agricultura”.

A China passou a comprar carne suína dos Estados Unidos. Poderá também passar a comprar soja norte-americana a partir de janeiro, e poderá reduzir ou eliminar as tarifas sobre automóveis e outros produtos da América do Norte.

Crise “potencialmente fatal”

O motivo principal para a repentina vontade de Pequim de querer chegar a um acordo, e que os investidores internacionais não conseguiram captar, é que o Partido Comunista Chinês (PCC) enfrenta uma crise “potencialmente fatal”, explicou Qin.

“Uma economia em deterioração, desemprego em massa e Trump apontando para alvos específicos como a ZTE, a fabricante de semicondutores Fujian Jinhua, apoiada pelo Estado chinês, e o Departamento de Desenvolvimento de Equipamentos da China e seu diretor, Li Shangfu, tudo isso colocou em perigo a própria existência do regime do PCC. É isso o que realmente preocupa e aterroriza o Partido. No entanto, a mídia internacional não percebeu e não publicou nada sobre isso”, disse Qin.

O povo chinês tem medo do que o futuro lhe reserva. Em 25 de julho, tanto Xinhua quanto o Diário do Povo publicaram um artigo intitulado “Estatísticas preliminares mostram que o número de pessoas em nosso país que retornaram às suas cidades de origem para procurar novos trabalhos alcançou 7,4 milhões”.

Quando esta manchete apareceu nos jornais, os internautas chineses tiraram printscreens e as espalharam pelas redes sociais, dizendo: “Que maneira criativa de falar sobre desemprego!”.

Nas redes sociais da China, muita atenção está sendo dada a uma carta escrita pelo proprietário de uma fábrica. Nas discussões geradas como resultado, os internautas passaram a repetir o ditado chinês “yi ye zhi qiu”: Quando você vê uma folha cair, você sabe que o outono está chegando.

Na carta, o dono da fábrica na cidade de Dongguan, na província de Guangdong, fortemente industrializada, pediu desculpas a seus empregados por fechar a empresa e fugir, porque ele não tem como pagar seus fornecedores. Ele pediu a seus funcionários que vendam a fábrica e fiquem com o dinheiro. Disse que preferia que seus funcionários a vendessem do que o Estado a tomasse dele.

Ele também pediu a seus funcionários que adotem seus dois cães (um deles é uma cadela prenha) ou que os soltem e os deixem livres.

Qin salientou que o comércio na China tradicionalmente fecha para o Ano Novo Lunar e, enquanto está fechado, eles fazem seus balanços e pagam suas dívidas. Este ano, é possível que muitas empresas não voltem a abrir porque, como aconteceu com o dono da fábrica em Dongguan, elas não poderão pagar seus fornecedores.

Milhões de pessoas podem se juntar às fileiras dos desempregados e farão isso em um momento politicamente delicado.

O Ano Novo Chinês cairá no dia 6 de fevereiro de 2019 e o feriado vai durar cerca de duas semanas. No início de março, o regime chinês realiza sua cúpula anual de uma semana de duração, as “Duas Sessões”, que consistem nas sessões plenárias do Congresso Popular Nacional e do Comitê Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês.

Qin disse que o PCC teme que se algo der errado enquanto esses eventos estiverem em andamento, isso pode ser desastroso para o Partido.

Dá para ter um vislumbre do modo de pensar do PCC, disse Qin, através de sua atitude em relação ao despejo da população de “classe baixa” de Pequim no ano passado. A comunidade internacional protestou contra as ações do secretário do Partido em Pequim, Cai Qi, mas o PCC acredita que fez um ótimo trabalho ao expulsar os “elementos instáveis” depois de dois anos contínuos de desaceleração econômica.

“Modo de colapso”

A razão fundamental que obrigou Pequim a se curvar diante de Trump em Buenos Aires é que, desde outubro, a economia chinesa entrou em “modo de colapso”, disse Qin.

Pela primeira vez, o crescimento da receita tributária da China entrou em patamares negativos, com uma queda anual de 3,1% em outubro. Segundo fontes internas, acrescentou Qin, o crescimento do PIB no terceiro trimestre foi de 4%, e não de 6,5% anunciado oficialmente.

A situação econômica da China é complexa devido à sua dependência de produtos agrícolas importados.

A China não é autossuficiente em termos de soja e carne suína, e depende em grande parte das importações. Depois que a China impôs uma tarifa de 62% sobre a carne de porco dos Estados Unidos, 240 mil toneladas de carne suína foram importadas da Rússia. Isso pode ter sido a causa do surto de peste suína africana em todo o país, causando grandes perdas para os agricultores chineses.

De fato, a China foi forçada a importar carne suína dos Estados Unidos mesmo antes da reunião entre Trump e Xi na Argentina. De acordo com informações do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos publicadas em 26 de novembro, a China experimentou a maior demanda por carne suína desde a guerra comercial, que soma 3.348 toneladas este ano, e 9.384 toneladas para o ano que vem. Juntas, elas foram as maiores vendas para a China desde abril de 2017.

Outra complicação enfrentada pelo regime chinês é que os Estados Unidos estão tornando mais difícil para o PCC roubar tecnologia. Desde o relatório da Seção 301 produzido em março sobre o roubo de tecnologia praticado pela China, uma série de medidas foram tomadas, entre elas a exigência de que a China renuncie ao seu plano “Made in China 2025”, que visa atingir o domínio em dez áreas de alta tecnologia, e assim pôr fim à transferência forçada de tecnologia. Os Estados Unidos impuseram novas restrições aos investimentos chineses e estão investigando o plano “Mil Talentos” chinês, além de outras iniciativas.

Junto com a crescente pressão sobre o regime chinês, os Estados Unidos estão formando uma coalizão mundial contra o PCC. Nos estágios iniciais da guerra comercial, o PCC tentou formar uma aliança com o Japão e países europeus para lutar contra o “unilateralismo” e o “protecionismo” dos Estados Unidos. No entanto, o PCC descobriu que os países estavam assinando ou planejando assinar acordos comerciais com os norte-americanos. Enquanto isso, a iniciativa chinesa “Um Cinturão, Um Caminho” está sendo contraproducente, causando publicidade negativa em todo o mundo ao revelar seus acordos de empréstimo extorsivos.

Qin argumentou que, por estas razões, o PCC optou por ceder em alguns pontos, tal como aconteceu muitas vezes no passado. Mas os Estados Unidos devem ficar alerta e não dar tempo ou espaço para o dragão vermelho se recuperar.