“Pesadelo ético”: cientistas chineses implantam genes do cérebro humano em macacos

Muitos cientistas americanos viajam para a China para realizar experimentos que são eticamente inaceitáveis nos Estados Unidos

16/04/2019 19:06 Atualizado: 16/04/2019 19:07

Por Daniel Holl, Epoch Times

Cientistas chineses implantaram genes do cérebro humano em macacos, dando um passo adiante no que foi descrito como o reino do “pesadelo ético” da manipulação genética.

Em um estudo publicado no mês passado pelo National Science Review de Beijing, uma revista da Academia Chinesa de Ciências patrocinada pelo Estado, foi relatado que os cientistas inseriram o gene humano MCPH1, que está relacionado ao desenvolvimento do cérebro, em 11 embriões de macacos através de um vírus que o transportou para o cérebro dos animais.

Dos 11 macacos rhesus usados no experimento, seis morreram. Experimentos foram realizados nos cinco restantes.

“O uso de macacos transgênicos para estudar genes humanos relacionados à evolução do cérebro é um caminho muito arriscado”, disse James Sikela, geneticista que trabalha com primatas na Universidade do Colorado, para a revista MIT. Technology Review.

Macaco rhesus leva seu bebê nos braços no Parque Nacional de Hlawga em Mingaladon (Ye Aung Thu / AFP / Getty Images)
Macaco rhesus leva seu bebê nos braços no Parque Nacional de Hlawga em Mingaladon (Ye Aung Thu / AFP / Getty Images)

Ciência Abstrata ou Abstração da Ciência?

O experimento, de acordo com a equipe científica chinesa, foi uma tentativa de compreender o processo evolutivo que levou à inteligência humana. Os pesquisadores acreditam que o gene MCPH1 pode fornecer parte da resposta.

Os cientistas realizaram uma série de testes em macacos transgênicos, incluindo ressonâncias magnéticas e testes de memória, que mostraram que os macacos tinham melhor memória de curto prazo e tempos de reação mais rápidos do que o grupo de controle. Seus cérebros também demoraram mais para se desenvolver, semelhante ao que acontece em humanos.

Embora a equipe chinesa afirme que suas descobertas são significativas, outros cientistas continuam céticos.

Martin Styner, cientista da computação da Universidade da Carolina do Norte, co-autor do estudo, disse à MIT Technology Review que estava considerando remover seu nome do documento. O artigo de Styner limitou-se a ensinar aos estudantes chineses como usar dados de ressonância magnética para coletar informações sobre o volume do cérebro, disse ele.

“Quando fazemos experimentos, precisamos ter uma boa compreensão do que estamos tentando aprender, para ajudar a sociedade, e esse não é o caso aqui”, disse Styner à MIT Technology Review.

“Eu não acho que seja um bom caminho.”

“Eles estão tentando entender o desenvolvimento do cérebro. E eu não acho que eles estão conseguindo”.

Dois macacos rhesus se abraçam na neve no zoológico de Zhengzhou em 27 de janeiro de 2018 em Zhengzhou, província de Henan, China (Foto por VCG / VCG via Getty Images)
Dois macacos rhesus se abraçam na neve no zoológico de Zhengzhou em 27 de janeiro de 2018 em Zhengzhou, província de Henan, China (Foto por VCG / VCG via Getty Images)

Barbara J. King, professora emérita de antropologia do William and Mary College, disse em uma entrevista por e-mail para a Vox que a justificativa para o experimento está errada.

“Dos macacos geneticamente modificados, seis morreram, número maior do que aqueles que viveram, então, desde o primeiro momento, vemos que o procedimento é muitas vezes letal”, disse King.

Esse tipo de experimento é “um pesadelo ético”, acrescentou.

“Os custos são terrivelmente altos e os benefícios para a humanidade estão se aproximando de zero; é cada vez mais reconhecido que os modelos animais simplesmente não funcionam bem para estudar processos humanos complexos”, disse King.

“Que direito temos de submeter esses primatas a procedimentos grotescos desse tipo?”

Outra questão sobre macacos

A China tem estado na vanguarda de avanços científicos questionáveis. Em janeiro, cientistas chineses clonaram intencionalmente macacos com genes que lhes causaram doenças congênitas debilitantes. A intenção declarada dessas modificações era usar esses macacos como modelos para criar diferentes doenças baseadas em genes.

Os cientistas modificaram seus genes para perturbar os ciclos naturais de sono do macaco ou os ritmos circadianos. Espera-se que os macacos tenham uma vida cheia de ansiedade, depressão e esquizofrenia.

Na China, uma indústria de criação de macacos cresceu nos últimos anos para alimentar a crescente demanda dos testes científicos, de acordo com a The Atlantic. Essas instalações criam macacos para uso em pesquisas nacionais ou, principalmente, para exportação para pesquisadores no exterior. O preço de um único macaco é muito menor também na China: apenas US$ 1.500, comparado a US$ 6.000 nos Estados Unidos.

The Atlantic informou que muitos cientistas americanos viajam para a China para realizar experimentos que são eticamente inaceitáveis nos Estados Unidos. Enquanto isso, o regime chinês também aumentou o financiamento desses projetos de pesquisa ao longo dos anos.

Em novembro passado, um pesquisador chinês causou um grande impacto na comunidade científica depois que alegou ter alterado o DNA de um par de gêmeas humanas, editando os genes embrionários das meninas para supostamente aumentar sua imunidade ao vírus HIV. Embora o cientista He Jiankui tenha sido publicamente repreendido e demitido de sua posição na universidade, outros suspeitaram que ele poderia ter recebido apoio do Estado.