Lições sobre ser um bom vizinho

Por Zhi Zhen
22/07/2023 13:25 Atualizado: 22/07/2023 13:25

Na cultura chinesa, ser bondoso com os demais era um princípio básico da vida em sociedade e as relações de amizade estabeleciam as fundações da justiça social.

A vida em sociedade requer que as pessoas interajam umas com as outras. A cultura tradicional chinesa põe ênfase na virtude e na ética em consideração às relações interpessoais, incluindo as relações entre vizinhos. Alguns provérbios antigos dizem: “Um dos grandes tesouros de um país é ter pessoas virtuosas que são bondosas com seus vizinhos”, “Tentar seguir o Tao, ajudar os que enfrentam dificuldades e ter compaixão com os vizinhos, certamente trará boa sorte.”

Há muitas histórias sobre pessoas nobres, bondosas e tolerantes ajudando os demais. A seguir algumas crônicas a respeito:

Tao Yuanming escolhe viver no sul de seu povoado

Tao Yuanming (365-427) era um renomado poeta durante a Dinastia Jin. Escreveu num poema: “Pensei em me instalar no sul do povoado não porque gostasse mais das casas dali, mas sim porque escutei que ali havia pessoas com corações puros e quis passar o tempo com elas.” Assim, ele escolheu viver no sul do povoado porque gostava dos corações puros e simples dos aldeões que moravam ali.

Da mesma forma, Tao Yuanming era uma pessoa de coração simples. Ele cultivava a terra diariamente e escrevia poemas para expressar suas aspirações. Ele se contentava com um estilo de vida simples e frugal e apreciava viver de acordo com o Tao.

Ele descreveu sua amizade com seus vizinhos num poema: “Nos reunimos frequentemente e cada um expressa seus pontos de vista aberta e francamente. Quando um de nós descobre um artigo maravilhoso, nós o lemos juntos, quando alguém tem perguntas ou dúvidas, discutimos juntos.” Os vizinhos ajudavam-se mutuamente e tinham uma relação harmoniosa, o que formou um ambiente benéfico ajudando a reforçar seus valores morais e a colaboração entre eles.

Sima Hui entrega seu porco

Sima Hui da Dinastia Han do Oeste era um erudito famoso. Um dia, seu vizinho perdeu um porco. O fato era que o porco de Sima Hui era muito parecido com o porco de seu vizinho. O vizinho pensou sem razão que o porco de Sima Hui era o seu. Sima Hui não discutiu com ele e disse simplesmente: “Se é o seu então leve-o.”

Alguns dias depois, o vizinho encontrou seu porco perdido. Ele sentiu-se envergonhado e devolveu o porco de Sima Hui. Este último lhe consolou dizendo que era comum cometer tais erros entre vizinhos. Além disso, Sima Hui lhe agradeceu por ter se mostrado compreensivo e por estar disposto a corrigir seu erro, o que comoveu seu vizinho. Mais tarde as pessoas chamaram Sima Hui de “O Sr. Espelho de Água” em referência ao seu caráter puro e reto.

Zi Rudao era caridoso com seus vizinhos

Zi Rudao da Dinastia Yuan vivia na região de Qihe na província de Shandong. Ele estava sempre feliz de fazer coisas boas e era conhecido por sua gentileza. Um companheiro de Zi Rudao e alguns outros aldeões eram tão pobres que não tinham o suficiente para sobreviver. Zi Rudao deu a cada um deles um terreno agrícola e assim eles puderam alugar a terra para os camponeses e ganhar um pouco de dinheiro. Um ano depois, quando uma peste se propagou, dizia-se que havia uma variedade de melão que curava a doença ajudando a suar muito. Zi Rudao comprou muitos desses melões além de outros alimentos e arriscou-se a contrair a peste indo de porta em porta distribuir os itens na região contaminada. Desta forma, ele salvou muitas pessoas.

Às vezes, ele dava farinha e vagens de seu kaoliang (sorgo chinês) aos necessitados na primavera. Ele permitia que eles devolvessem o dinheiro após as colheitas e sem interesse. Se as colheitas eram poucas e as pessoas não tinham o suficiente para lhe devolver o empréstimo, Zi Rudao queimava o recibo. Ele dizia frequentemente a sua família: “Acumular cereais é preparar-se para a fome futura. No entanto, se temos um ano de más colheitas, temos de ajudar nossos vizinhos menos afortunados.”

Yang Zhu vende seu burro

Yang Zhu da Dinastia Ming (1368-1644) era o chefe da Tabela de Ritos. Ele passeava em seu burro na corte real ou onde quer que fosse. Ele gostava muito de seu burro e, cada dia que voltava da corte, ele alimentava e cuidava bem dele.

O vizinho de Yang Zhu era um homem de idade que teve um filho com sua esposa com quase 60 anos. O casal estava feliz, porque não tinham conseguido ter um filho até terem idade avançada. Entretanto, o bebê chorava sem parar toda vez que escutava o zurro do burro, o que incomodava muito a família. O vizinho não se atrevia a dizer nada a Yang Zhu, porque ele era um funcionário de alto escalão. No entanto, como o menino se assustava tanto e não podia comer bem, o vizinho decidiu falar com Yang Zhu para comentar sobre o problema. Yang Zhu vendeu imediatamente o burro sem titubear. Desde então, quando ia a corte real ou a outro local, ele ia caminhando.

Antigos ditados chineses dizem: “Uma pessoa é autêntica somente se seu espírito é benevolente”, “Tenha boas relações com seus vizinhos” e “Uma pessoa é virtuosa somente se cada uma de suas palavras for dita e cada um de seus atos forem feitos para o bem dos outros.” Estas frases falam sobre ter retidão como critério para julgar as coisas. Temos de ser estritos consigo mesmos e tolerantes com os demais. Devemos ter um coração de bondade e de simpatia e ter a vontade de dar atenção, oferecer nossa ajuda e ter consideração pelos outros como se estivéssemos na mesma situação que a pessoa.

Melhorar os valores morais individuais é um meio de influenciar os outros para que sejam bons. Fazendo assim, nossa sociedade será harmoniosa, cheia de relações interpessoais de amizade, o que é uma fundação sólida para a justiça social.

Este artigo pertence a série “Histórias da China Antiga “; para ler outros artigos da série, clique aqui.