China usa empréstimos na América Latina para promover seus objetivos políticos e militares

Cooperação da China com regimes autoritários ​facilitou um notável 'retrocesso democrático' no Equador, Bolívia e Venezuela, afirma relatório

22/12/2021 16:33 Atualizado: 22/12/2021 16:33

Por Autumn Spredemann

SANTA CRUZ, Bolívia – O governo socialista da Argentina luta para conter a hemorragia monetária, recessão econômica e hiperinflação, enquanto as negociações com a China continuam sobre comércio e alívio da dívida.

A nação tem um histórico estabelecido de inadimplência de empréstimos, mesmo antes da China concordar em fornecer US $19 milhões adicionais ao governo argentino em 2020.

O analista de relações China-América Latina, Fernando Menéndez, afirmou ao Epoch Times que, embora os empréstimos de Pequim na região possam parecer arriscados do ponto de vista tradicional, no final, eles ainda saem favorecidos.

“Porque se o pagamento não funcionar, eles podem simplesmente confiscar os bens”, declara Menendez.

Grande parte dos problemas econômicos da Argentina decorrem da falta de coerência das políticas macroeconômicas, segundo Nestor Castañeda, membro do Instituto das Américas e professor do University College of London.

O economista Martin Rapetti afirma que o subproduto dessas políticas é evidente no produto interno bruto per capita, que é o mesmo hoje na Argentina e durante o regime peronista de 1974. No entanto, há uma diferença notável agora: a desigualdade de renda é muito mais alta.

“Enquanto o renascimento fiscal da Argentina depende da China, vemos um padrão perceptível emergindo em toda a América Latina, particularmente onde prevalecem os governos socialistas.”

Expandindo seu alcance

Um briefing do Congresso dos EUA, em novembro de 2021, descreve as preocupações sobre a influência expandida da China na região por meio de empréstimos e investimentos.

O relatório afirma que a China está aprofundando suas relações políticas e militares estratégicas com as nações latino-americanas, observando que a cooperação com regimes autoritários, como o de Nicolás Maduro, facilitou um notável “retrocesso democrático” no Equador, Bolívia e Venezuela.

Na Venezuela, os empréstimos da China ultrapassam US $60 bilhões, o máximo que ela deu a um país estrangeiro, mas o país continua atolado em uma das recessões econômicas mais profundas da história.

No início deste ano, a International Development Finance Corporation dos Estados Unidos interveio e concordou em ajudar o Equador a reembolsar bilhões de dólares em empréstimos chineses, com a condição de que a China fosse excluída de sua rede de telecomunicações.

A dívida do Equador com a China originou-se do ex-presidente democrático socialista, Rafael Correa, cujo governo deixou de pagar seus empréstimos em 2008.

Menéndez destaca que o fato da China emprestar dinheiro a governos com pouca visão econômica, com possibilidade de adquirir ativos oferecidos pelas nações assediadas, foi uma manobra de xadrez magistral.

“Com todos aqueles campos de petróleo na Venezuela e sua incapacidade de pagar os empréstimos chineses, você deve se perguntar quem os possui hoje”, afirmou ele.

A Venezuela também possui as maiores reservas comprovadas de petróleo do mundo.

Um denominador comum entre os diferentes governos latino-americanos e sua relação com os empréstimos chineses é o acesso restrito a outros mercados de crédito para alívio da dívida.

Quando essa situação ocorre em países em desenvolvimento, cria um padrão de endividamento que acaba em dependência econômica, segundo o Conselho Econômico e Social das Nações Unidas.

A Argentina deixou de pagar empréstimos a credores estrangeiros nove vezes, cinco deles desde 1980.

A principal diferença entre a China e outros credores estrangeiros é que Pequim está mais relutante em se reestruturar quando governos superendividados revelam bolsos vazios.

Conquistando amigos e votos

Deixando de lado as possíveis aquisições e empréstimos, o governo dos Estados Unidos está mais preocupado com a posição política e militar que a China está obtendo por meio desses negócios.

Um exemplo digno de nota é o estabelecimento de uma estação espacial administrada pelo Exército de Libertação do Povo (PLA) na região da Patagônia, no sul da Argentina, em 2015.

A construção de projetos similares de “uso duplo” na América Latina entrega à China a capacidade de aumentar sua futura presença militar, de acordo com o Congresso dos Estados Unidos.

Em vez de garantir ativos, Menendez afirma que a China está ganhando amigos e votos a seu favor.

Ele explicou que, por meio de grandes empréstimos e investimentos da China, os países latino-americanos provavelmente os favorecerão em situações que exijam votos para políticas, como as das Nações Unidas.

E um desses investimentos é a “Iniciativa Um Cinturão, Uma Rota” (BRI).

Lançada em 2013 como uma série de projetos de investimento de diversos escopos em países em desenvolvimento, a iniciativa é comercializada como meio de estreitar relações globais por meio da criação do que é chamado de “corredores comerciais”.

Embora pareça boa no papel, os riscos potenciais da iniciativa em países com infraestrutura menos estável incluem dívida insustentável, degradação ambiental e uma falta geral de transparência com os projetos, de acordo com uma avaliação do Banco Mundial.

Em 2017, o Panamá tornou-se o primeiro país latino-americano a ingressar no BRI, poucos meses após mudar sua aliança diplomática de Taiwan para a China.

Dezoito dos 33 países da América Latina e do Caribe devem aderir à iniciativa nos próximos anos.

Argentina, Brasil e México expandiram suas relações econômicas com a China, mas ainda não abraçaram totalmente a BRI.

A chefe da divisão América Latina e Caribe do International Trade Center, Claudia Uribe, afirma: “A China está promovendo a ideia de que cooperar na área de infraestrutura significa reduzir custos logísticos e, dessa forma, está vendendo o modelo BRI”.

“Não há passeios gratuitos, mas interesses estratégicos”, acrescenta Uribe.

Segundo dados científicos da revista Nature, os outros grandes endividados da América Latina com a China são o Brasil (US $28,2 bilhões), a Argentina (US $17,1 bilhões) e o Equador (US $18,4 bilhões).

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