“Twitter Files Brazil” revela que perfis de esquerda também foram monitorados pelo TSE

Por Fernanda Salles
25/04/2024 19:41 Atualizado: 25/04/2024 19:41

Os jornalistas responsáveis pela divulgação do “Twitter Files Brazil, publicaram uma nova edição da investigação na última segunda-feira (22), que revela que usuários de diversos espectros políticos, incluindo políticos de esquerda, foram alvo do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e da Polícia Federal para coleta de dados e censura no Twitter.

David Ágape, um dos três jornalistas envolvido na investigação, destacou em seu perfil no X (antigo Twitter) que, apesar da direita ter sido frequentemente citada como alvo principal de censura e perseguição, casos de censura também ocorreram com perfis de esquerda durante a campanha eleitoral de 2022.

Ele expôs novos e-mails internos do Twitter que revelam a surpresa dos funcionários da plataforma diante das ordens de censura que receberam. De acordo com Ágape, um dos perfis censurados, o @BolsoflixReal, era associado a uma plataforma anônima que visava refutar os argumentos propagados por Bolsonaro e seus apoiadores. O site de reunia vídeos críticos ao ex-presidente, destinados a serem distribuídos via WhatsApp. 

Print de um dos perfis censurados na plataforma X

Ainda de acordo com o jornalista, assim como no caso do Bolsoflix, houve uma situação semelhante em que o TSE ordenou a retirada do ar do site “http://verdadenarede.com.br”, vinculado à campanha de Lula. A justificativa foi que o site e o perfil associado no Twitter, @verdadenarede, estavam enganando o público ao se apresentarem como uma agência independente de checagem de fatos, quando na realidade faziam parte da campanha eleitoral oficial.

Em resumo:

I- O TSE ordenou que dados dos usuários que tuitaram hashtags contra e a favor do voto impresso fossem entregues pelo Twitter. Parlamentares podem ter sido afetados;

II- O TSE ordenou o bloqueio das redes sociais do 

@PCO29, um partido político de esquerda, por causa de críticas à corte e ao processo eleitoral. O Partido permaneceu bloqueado por todo o período eleitoral de 2022;

III- Perfis de esquerda no Twitter foram bloqueados a pedido do TSE por causa de publicações em outras plataformas.”

Mapeamento de usuários através de hashtags 

Como mostrado nas primeiras edições do Twitter Files Brazil, uma das estratégias empregadas pelas autoridades brasileiras para identificar usuários sujeitos a censura foi o monitoramento de hashtags específicas. Agora, a investigação revelou que o TSE suspeitava que hashtags referentes a campanhas no Twitter sobre uma proposta legislativa de voto impresso estavam sendo usadas em discussões que poderiam “influenciar ou manipular a opinião pública sobre o sistema eleitoral”.

Conforme publicado pelo jornalista David Ágape, os pedidos de censura espantaram a equipe do Twitter, que em conversa interna destacou o caráter incomum dos pedidos provenientes desta investigação. Segundo Diego de Lima Gualda, Diretor Jurídico do Twitter para a América Latina, o TSE pressionou por dados privados de usuários sob a justificativa de “circunstâncias excepcionais” e queria usar o Twitter como uma máquina de precognição de crimes para ‘antecipar possíveis atividades ilegais’.”

Os nomes da deputada federal e pré-candidata à Prefeitura de São Paulo, Tabata Amaral (PSB), e da ex-prefeita da cidade, Luiza Erundina (PSOL), também estavam entre os perfis monitorados pelo uso da hashtag #VotoImpressoNão em suas publicações no antigo Twitter.

Ágape revela outro caso que envolve o apresentador da Rede Globo, Felipe Andreoli, que foi alvo de investigação pela Procuradoria-Geral da República (PGR). Andreoli liderou campanhas de cancelamento contra o jogador de vôlei Maurício Souza, acusado pela esquerda de comportamento “homofóbico”. Mais tarde, Andreoli mesmo se tornou alvo de cancelamento devido a tuítes considerados preconceituosos que ele publicou em 2010. Embora o apresentador tenha se desculpado e afirmado que hoje é uma “pessoa melhor”, o Ministério Público Federal enviou ao Twitter um pedido de “preservação” dos IPs associados a esses tuítes. O Twitter recusou-se a atender ao pedido, argumentando que não recebeu as URLs específicas, apenas capturas de tela, e que o procedimento não estava em conformidade com o Acordo de Assistência Judiciária em Matéria Penal (MLAT).

Confira a denúncia completa: https://twitter.com/david_agape_/status/1782519661101207715