Quando o marxismo se torna evangelho | Opinião 

Por Augusto Zimmermann
25/04/2024 16:06 Atualizado: 25/04/2024 16:06
Matéria traduzida e adaptada do inglês, originalmente publicada pela matriz americana do Epoch Times.

Em 17 de outubro de 2022, cerca de 300 padres e freiras católicos se reuniram com o então candidato à presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, para declarar abertamente seu apoio a ele no segundo turno das eleições que ocorreriam em 30 de outubro daquele ano.

Esses líderes católicos vieram de diferentes partes do país para declarar publicamente seu apoio ao candidato da extrema esquerda.

Eles também transmitiram o mesmo apoio que outros padres e freiras de várias dioceses, instituições e congregações católicas.

Naquela ocasião, esses padres e freiras também produziram uma Carta Aberta intitulada “Compromisso de Padres e Religiosos com o Presidente Lula”.

No documento, eles alegaram uma suposta “manipulação da população por meio de notícias falsas” e “discursos de ódio cheios de preconceitos”.

Obviamente, essas são acusações falsas usadas pela extrema esquerda para minar a democracia e a liberdade de expressão.

Totalitarismo com características de Lula

Como todos sabem, o governo Lula no Brasil controla totalmente a grande mídia do país e empresas de alta tecnologia como Google, Facebook, Uber, Instagram e WhatsApp estão fornecendo dados cadastrais e números de contato para o regime.

No comando desse vasto esquema de censura está Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral e juiz do Supremo Tribunal Federal. Ele está liderando um esforço incansável para sufocar a dissidência política, incluindo a prisão de indivíduos por conteúdo compartilhado na Web.

Brazilian former president (2003–2010) and presidential candidate for the leftist Workers Party (PT), Luiz Inácio Lula da Silva, speaks during a meeting with nuns, priests and other members of the clergy, in São Paulo, Brazil, on Oct. 17, 2022. (Nelson Almeida/AFP via Getty Images)
O ex-presidente brasileiro (2003-2010) e candidato à presidência pelo Partido dos Trabalhadores (PT), Luiz Inácio Lula da Silva, fala durante uma reunião com freiras, padres e outros membros do clero, em São Paulo, Brasil, em 17 de outubro de 2022. (Nelson Almeida/AFP via Getty Images)

Em 21 de novembro de 2024, o Presidente Lula concedeu ao Ministro Alexandre de Moraes a Medalha Rio Branco, uma honraria conferida apenas àqueles que realizam “serviços meritórios e virtudes cívicas” para o governo.

De acordo com o jornalista americano Michael Shellenberger, “o presidente Lula da Silva está participando do impulso em direção ao totalitarismo… O que Lula e Moraes estão fazendo é uma violação ultrajante da Constituição do Brasil e da Declaração dos Direitos Humanos das Nações Unidas”.

O amor não é para os ricos, dizem os padres radicais

Infelizmente, muitos são os padres brasileiros que acreditam em uma forma de “teologia da libertação” que postula que os “oprimidos” estão cometendo um “pecado” por não se rebelarem contra o suposto “sistema capitalista”.

Esses padres consideravam que o desejo transmitido nas encíclicas papais de uma coexistência harmoniosa entre as classes sociais era um “autoengano”.

De acordo com Leonardo Boff, ex-padre católico, o sistema capitalista equivale ao “666” da prostituta da Babilônia.

“Não há cura para esse sistema. Ele precisa ser superado”, afirma.

Sob esse tipo de pensamento radical, o mais tarde Cardeal Joseph Ratzinger, mais conhecido como o antigo Papa Bento XVI, comentou:

“O desejo de amar a todos aqui e agora, apesar de sua classe, e de ir ao seu encontro com os meios não violentos de diálogo e persuasão, é denunciado como contraproducente e contrário ao amor.

“Se alguém sustenta que uma pessoa não deve ser objeto de ódio, afirma-se, no entanto, que, se ela pertence à classe objetiva dos ricos, ela é principalmente um inimigo a ser combatido.”

When Marxism Becomes Gospel
Um padre usando uma máscara facial realiza uma missa na Igreja de Nosso Senhor do Bonfim em meio à pandemia do coronavírus (COVID-19) em Salvador, Brasil, em 13 de agosto de 2020. (Bruna Prado/Getty Images)

Leonardo Boff deixou o sacerdócio em 1992, mas continua sendo uma figura católica de destaque no Brasil.

Em seu livro de 1987, “O socialismo como desafio teológico”, ele postula que os antigos regimes comunistas da Europa Oriental, especialmente a União Soviética, “ofereceram a melhor possibilidade objetiva de viver mais facilmente no espírito dos Evangelhos e de observar os Mandamentos”.

Ao retornar de uma visita à União Soviética em 1987, apenas alguns anos antes do colapso do comunismo na Europa Oriental, ele notoriamente argumentou que esses regimes opressivos eram “altamente éticos e… moralmente limpos” e que ele “não havia notado nenhuma restrição à liberdade de expressão nesses países”.

Quando o Sr. Boff foi convocado na década de 1980 pela Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé ao Vaticano, os dois únicos cardeais do Brasil o acompanharam ao interrogatório.

Responsável por questões de fé e doutrina, esse órgão da Igreja solicitou a Boff que explicasse seu conceito de “divisão eclesial do trabalho”, pelo qual a hierarquia da Igreja supostamente se engajava “na expropriação gradual dos meios de produção religiosa do povo cristão”.

Priest Omar Raposo (C) prays during the burial of the Brazilian football legend Mario Zagallo at São João Batista cemetery in Rio de Janeiro, Brazil, on Jan. 7, 2024. (Lucas Figueiredo/Getty Images)

O padre Omar Raposo (centro) reza durante o enterro da lenda do futebol brasileiro Mario Zagallo no cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro, Brasil, em 7 de janeiro de 2024. (Lucas Figueiredo/Getty Images)O fato de os dois únicos cardeais do país o terem acompanhado ao interrogatório foi interpretado como “apoio sem precedentes” às suas posições radicais.

É claro que o interesse que os extremistas têm em se infiltrar na Igreja Católica não é tão difícil de explicar. Nenhum empreendimento revolucionário pode ser bem-sucedido em uma sociedade profundamente religiosa como o Brasil sem o apoio do poderoso clero católico.

Assim como em outras nações latino-americanas, a Igreja Católica “ainda pode legitimar ou desacreditar determinados valores e atitudes com profundo impacto sobre as perspectivas das pessoas”.

Reconhecendo isso, o revolucionário cubano-argentino Ernesto Che Guevara declarou certa vez: “Quando os cristãos tiverem a coragem de se comprometer completamente com a revolução latino-americana, a revolução latino-americana será invencível.”

O caso de Frei Betto

Um desses padres radicais é Carlos Libânio Christo, OP, ou Frei Betto, um ativista político e frade dominicano.

Frei Betto acusa as pessoas torturadas nos gulags cubanos, ou executadas por esse governo comunista, ou que conseguiram fugir do país-ilha, de serem, sem exceção, criminosas ou profundamente egoístas.

Assim ele sugeriu em um artigo de 4 de janeiro de 2004, publicado pelo principal jornal brasileiro, a Folha de S. Paulo:

“Se Cuba é tão avançada socialmente, por que algumas pessoas tentam fugir desse país?

“A economia cubana é socialista e não aceita que indivíduos façam turismo fora do país, ou seja, não aceita a evasão de capital para fins de gratificação individual.

“Isso, no entanto, não impede que qualquer cidadão cubano viaje para o exterior às custas do Estado por motivos científicos, artísticos, comerciais ou diplomáticos. Quanto àqueles que abandonaram Cuba em busca do ‘estilo de vida americano’, não ouvi falar de nenhuma dessas pessoas tentando melhorar as condições dos pobres nos países onde estão vivendo agora.

A versão marxista do “Evangelho”

No Brasil de hoje, um problema básico decorre do fato de que muitos padres ainda adotam conceitos marxistas radicais em suas visões teológicas. O marxismo, é claro, não favorece a democracia nem o estado de direito.

Como Vladimir Lênin explicou com sinceridade em uma palestra proferida em 1919, no marxismo, a lei é principalmente um mecanismo “para manter as outras classes subordinadas obedientes à classe única”.

Na teoria jurídica marxista, a função do judiciário é basicamente manter todos subjugados à classe dominante que controla o Estado, seja ela qual for.

É claro que o mundo já sabe que, no Brasil, um presidente socialista impopular foi eleito por meio de um sistema eleitoral controverso. Agora, ele está usando os principais juízes federais para perseguir e prender seus dissidentes políticos.

(Da esquerda para a direita) O presidente da França, Emmanuel Macron, ao lado do presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, durante uma visita oficial ao Brasil no Palácio do Planalto em Brasília, Brasil, em 28 de março de 2024. (Claudio Reis/Getty Images)

(Da esquerda para a direita) O presidente da França, Emmanuel Macron, ao lado do presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, durante uma visita oficial ao Brasil no Palácio do Planalto em Brasília, Brasil, em 28 de março de 2024. (Claudio Reis/Getty Images)Durante a eleição presidencial de 2022, esses membros do judiciário federal emitiram várias ordens contra supostas “notícias falsas”. Eles ordenaram que as redes sociais removessem milhares de publicações e prenderam vários apoiadores do presidente anterior sem julgamento por publicações nas mídias sociais que, segundo eles, “atacavam as instituições do Brasil”.

Há cerca de 14 anos, durante o segundo mandato do presidente Lula, ele enviou uma carta ao presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) agradecendo-o pelo “apoio recebido da Igreja Católica durante seus quase oito anos de mandato”.

O documento afirma que o apoio da Igreja foi fundamental para que o governo socialista implementasse suas políticas mais radicais. Antes disso, a CNBB já havia publicado um documento declarando que a “teologia da libertação” de orientação marxista não era apenas “oportuna”, mas também “útil e coerente com os Evangelhos”.

Em uma nação que é majoritariamente católica, tanto em cultura quanto em “espírito”, essa infiltração de marxistas radicais na Igreja brasileira resultou em apoio a um regime socialista que não respeita o estado de direito e é atualmente responsável por violações grosseiras e inconstitucionais dos direitos humanos e liberdades fundamentais.