Queimadas em áreas florestais atingem níveis históricos na Amazônia e no Pantanal, com impacto severo sobre biomas e agricultura.
O período de seca de 2024 registrou um recorde histórico de queimadas em áreas de formação florestal no Brasil, segundo relatório da Embrapa publicado na terça-feira (22). As principais regiões afetadas foram a Amazônia e o Pantanal mato-grossense, segundo mapeamento da organização.
Os estados de Mato Grosso, Pará e Amazonas foram os mais impactados. São Félix do Xingu (PA) teve 3.846 focos de queimadas em áreas de mata, o maior número no país. Altamira (PA), Novo Progresso (PA) e Apuí (AM) também apresentaram mais de dois mil focos de incêndio.
O número total de focos de calor em 2024 ultrapassou 200 mil entre maio e setembro. Esse número representa um crescimento expressivo em comparação aos cerca de 90 mil focos registrados durante a seca de 2023.
A intensificação das queimadas foi observada principalmente em agosto, conforme relatado pelo pesquisador Daniel Pereira Guimarães, da Embrapa Milho e Sorgo. Utilizando dados do sensor Modis, presente nos satélites Aqua e Terra da NASA, Guimarães apontou que seis municípios brasileiros ultrapassaram cinco mil focos de calor.
Entre esses municípios estão São Félix do Xingu, com 7.657 focos, e Altamira, com 6.687 focos no mesmo período. As áreas florestais não estão adaptadas ao impacto das queimadas, o que resulta em grandes perdas de vegetação.
Biomas de campo, como o Cerrado e as pastagens, têm maior capacidade de recuperação com o retorno das chuvas. Além da devastação da vegetação, o grande volume de matéria seca queimada contribuiu para o aumento da poluição atmosférica no país.
Guimarães destacou as alterações nos índices de vegetação capturados por imagens de satélite, refletindo os danos causados pelo fogo e a escassez de água nos rios da região. A agricultura também foi fortemente impactada.
Os canaviais foram os mais afetados, com mais de quatro mil focos de queimadas em 2024, em contraste com apenas 650 focos no ano anterior. A estiagem impactou diretamente a produtividade, tanto pela ação do fogo quanto pelo estresse hídrico.
Lavouras de soja e áreas de fruticultura sofreram perdas devido à queima da matéria orgânica e à deficiência de água. Já as lavouras de café, embora tenham registrado baixa incidência de queimadas, também sofreram com a falta de água na zona radicular.
O fim da estiagem veio apenas com a chegada das chuvas em outubro, mas os prejuízos ambientais e econômicos são incalculáveis. Segundo Guimarães, a intensidade das estiagens destacou a necessidade de ações mais eficazes para mitigar os danos causados pela seca.
As chuvas registradas variaram entre as regiões: próximas às normais climatológicas no Sudeste e Nordeste, acima da média no Sul e abaixo da média no Norte. Os efeitos da estiagem de 2024 foram agravados pela perda de água dos solos, altas temperaturas, baixos índices de umidade relativa do ar e ação dos ventos.
Esses fatores resultaram em uma secagem precoce das gramíneas e perda excessiva de folhagem em áreas florestais. Segundo Daniel Guimarães, “nossas bases de informações, principalmente as obtidas a partir de sensores orbitais, são suficientes para o monitoramento em tempo real e para orientar as tomadas de decisões mais assertivas”, apesar disso, a resposta foi considerada insuficiente para evitar a tragédia.