Tibetanos, déficit comercial e ‘Morte pela China’

03/11/2011 00:00 Atualizado: 04/09/2013 18:59
O Senador Consiglio Di Nino discursa para 500 tibetanos na Colina do Parlamento em Washington, EUA. Protestantes também se reuniram para pedir ao Canadá e outra nações que condenem os abusos do regime chinês no Tibete (Matthew Little/Epoch Times)
O Senador Consiglio Di Nino discursa para 500 tibetanos na Colina do Parlamento em Washington, EUA. Protestantes também se reuniram para pedir ao Canadá e outra nações que condenem os abusos do regime chinês no Tibete (Matthew Little/Epoch Times)

‘Morte pela China’ tornou-se uma espécie de tema do dia 2 de novembro de 2011, enquanto centenas de manifestantes tibetanos na Colina do Parlamento, na capital do EUA, denunciavam a repressão na China. Ao mesmo tempo, deputados participavam de um fórum com o coautor de um livro do mesmo nome.

Enquanto os tibetanos formavam a palavra ‘Enough’ (Basta) com seus corpos, uma declaração a respeito dos suicídios recentes de monges no Tibete, muitos deles adolescentes, o autor Greg Autry descrevia o processo gradual de destruição que o regime chinês inflige ao mundo ocidental.

Segundo ele, os líderes chineses têm uma capacidade única que é compartilhada com o fundador da Apple, Steve Jobs: a capacidade de distorcer a realidade.

“Os funcionários e amigos de Jobs descreveram que ele tinha essa habilidade de ser capaz de olhar diretamente nos olhos de alguém enquanto mentia impunimente”, disse Autry.

“Os líderes do Partido Comunista Chinês cresceram com uma confiança similar em sua infalibilidade e poder para definir a verdade como soberanos de um vasto Estado totalitário.”

Autry mencionou que pouco importa como o regime maltrata a população, engana nas relações comerciais, espiona e viola informações de outros governos, ou se prepara abertamente para a guerra, o Ocidente continua sob o feitiço de seu “permanente sorriso falso”.

Ao convencer os países ocidentais a lutar para o acesso às riquezas prometidas do mercado chinês, o regime comunista teve sucesso em mantê-los relativamente em silêncio sobre tudo, desde tarifas até violações ambientais e dos direitos humanos.

Autry argumenta que a força militar chinesa aumenta mais rapidamente que seu Produto Interno Bruto (PIB), e que seus investimentos principais em equipamentos, incluindo caças-bombardeiros stealth J-20 e mísseis balísticos anti-porta-aviões, sugerem a preparação para um confronto mais ofensivo do que defensivo.

As agressivas reinvindicações territoriais chinesas no mar do sul da China criaram inquietações na região, disse Autry, apontando para os rápidos esforços do Vietnã em aprimorar seu equipamento militar com a compra de seis submarinos russos.

De acordo com ele, os esforços em transformar Pequim num cidadão global responsável falharam e as esperanças de que um aumento do comércio com a China reduziriam os enormes déficits comerciais provaram-se falsas.

O coautor do livro ‘Morte pela China’ (Death by China) (à esquerda), Greg Autry, e o ex-membro do parlamento canadense David Kilgour (centro) olham diretamente, enquanto Yiyang Xia fala durante um fórum na Colina do Parlamento, EUA (Matthew Little/Epoch Times)
O coautor do livro ‘Morte pela China’ (Death by China) (à esquerda), Greg Autry, e o ex-membro do parlamento canadense David Kilgour (centro) olham diretamente, enquanto Yiyang Xia fala durante um fórum na Colina do Parlamento, EUA (Matthew Little/Epoch Times)

Déficit comercial em crescimento

O déficit comercial dos EUA com a China aumenta em 1 bilhão de dólares ao dia, 2% de seu PIB. Essa é a diferença entre o crescimento anêmico de 1,5% atual e um saudável 3,5% que deveriam ter, explica Autry. Esse déficit continua aumentando, exatamente como no Canadá. O déficit comercial do Canadá com a China chegou a 1,84% de seu PIB em 2006, ou seja, 26,8 bilhões, e a 1,86% em 2009, isto é, 28,5 bilhões de dólares.

“Somente isso já justificaria nossa recessão”, disse Autry, referindo-se aos seus compatriotas norte-americanos.

Autry chamou os países para unirem-se e pressionar o regime chinês quanto aos direitos humanos e à política econômica, em vez de lutarem entre si por favores que nunca se materializam.

O primeiro-ministro canadense, Stephen Harper, disse recentemente ao Commonwealth Business Forum que a China não pode mais continuar a aumentar seus excedentes comerciais com uma taxa de câmbio inflexível. Autry sugere que, como os EUA, outros países deveriam fazer pressão sobre Pequim para que deixe o Yuan fluir livremente.

Antes da apresentação de Greg Autry, o fórum começou pela intervenção imprevista de Dicki Chhoyang, uma membra canadense do gabinete do parlamento tibetano no exílio, assim como o ministro da Educação.

Enquanto seus compatriotas tibetanos realizavam um de seus maiores protestos na Colina do Parlamento, em Washington, D.C., Chhoyang disse aos participantes que o Tibete enfrenta continua repressão, com dez pessoas mortas numa manifestação recente. A polícia chinesa permanece dentro e fora dos templos e jornalistas não têm acesso à região.

Os manifestantes tibetanos em Ottawa solicitaram a Stephen Harper que se manifestasse, assim como outros líderes mundiais, no encontro do G20 na França, contra a repressão ao Tibete e o agravamento da situação no condado de Ngaba, no Tibete oriental, onde quatro rapazes e uma mulher incendiaram-se.

Esperar que o regime chinês resolva tais questões significaria ter confiança em suas palavras, uma estratégia que ele utiliza para desviar os críticos, disse Yiyang Xia, diretor sênior da fundação Política e Pesquisa em Washington, D.C.

O Sr. Xia abordou a questão do sistema judiciário chinês e explicou como ele evoluiu ao longo das décadas de controle comunista. Inicialmente, o Partido Comunista Chinês (PCCh) agia diretamente como poder Judiciário, mas agora ele controla tudo através de comitês especiais a portas fechadas.

“Entretanto, a realidade é que os dirigentes em Pequim não têm a intenção de instaurar o regime da lei e do direito, seja a curto ou em longo prazo”, disse ele.

Agência 610

Segundo o Sr. Xia, ao longo dos anos, o PCCh criou uma série de leis, conforme encontradas em outros países, mas quando chegou a hora de violar estas leis, coisa que o PCCh já fazia sistematicamente em casos particulares, ele desenvolveu uma entidade extrajudicial para contornar o sistema completamente.

Essa organização, a Agência 610, tal como uma Gestapo, têm a responsabilidade de suprimir o Falun Gong.

Enquanto no passado o PCCh realizou tais repressões através de movimentos políticos, visando crentes, proprietários de terras, intelectuais e outros, em 1999, ele teve de adotar outra abordagem, quando lançou sua campanha de perseguição ao Falun Gong a fim de não quebrar a ilusão de um moderno sistema judiciário, disse Xia.

Por essa razão, a Agência 610 se reporta diretamente ao Comitê Central do Partido e é capaz de conduzir a perseguição sem qualquer base legal e de utilizar o monopólio do Estado sobre a informação para justificar a repressão.

David Kilgour, ex-membro do parlamento e ex-secretário de Estado canadense, disse que incidentes como o de Wang Yueyue, uma menina de dois anos que foi esmagada por dois veículos na China, sem que ninguém que passava pelo local a socorresse, revelam a influência do regime sobre a população.

Kilgour disse que devido ao medo de represálias e de serem envolvidos, os espectadores estavam relutantes em ajudar a menina, um sentimento comum em países autoritários, de acordo com o chefe de departamento do Globe and Mail de Pequim, Mark MacKinnon, citado por Kilgour.

Dezoito pessoas viram Yueyue agonizando e ninguém fez nada. Ela faleceu no hospital devido aos ferimentos.