O resgate da Princesa Dragão – Parte 3

23/01/2014 02:30 Atualizado: 23/01/2014 06:08
O estudioso Liu Yi se casa

A Princesa Dragão, a terceira filha do Rei Dragão do lago Dong Ting, era casada com o Príncipe Dragão do rio Jinghe, um dragão cruel e insensível que a maltratou e exilou do palácio.

O jovem estudioso Liu Yi ouviu o triste choro da princesa e se sentiu penalizado pela aflição da donzela. Ele escutou sua tragédia e sabia que era a única pessoa que poderia levar a mensagem da princesa a seu pai, o Rei Dragão do lago Dong Ting.

Sendo uma pessoa compassiva, ele deixou de lado seus interesses pessoais, pois estava a caminho de fazer o exame do serviço civil em Pequim, e partiu determinado a entregar a mensagem da Princesa Dragão.

Após a entrega da carta, uma grande batalha ocorre e a princesa é resgatada em segurança para sua família.

Recompensa não cobiçada

Um grande banquete foi preparado para celebrar o retorno da princesa e também para agradecer a Liu Yi por possibilitar o resgate. A entrega da carta foi transformada em música e sua história cantada e lembrada pelas eras seguintes.

A princesa continuou agradecendo Liu Yi por tê-la tirado da miséria, mas ele estava feliz simplesmente por ter ajudado e não queria qualquer recompensa.

Agora, em trajes da realeza, ela estava muito diferente de quando Liu Yi a conheceu – a menina oprimida, agora estava belíssima e parecia majestosa com um diadema em seus cabelos.

Depois de entornar três bebidas, Qiantang Jun ofereceu a Liu Yi a mão de sua sobrinha em casamento, dizendo que ela estava feliz por fazê-lo em troca de sua boa ação.

Liu Yi ficou inicialmente paralisado e apenas balançava a cabeça, quando finalmente conseguiu que algumas palavras saíssem de sua boca, “Não, não, o mundo terá a impressão que fiz isso apenas por sua beleza e com segundas intenções. Sou um verdadeiro cavaleiro e, como tal, estou sempre pronto a ajudar quem precisa.”

Ainda sob efeito do choque, ele acrescentou, “Como diz o ditado, ‘Um verdadeiro cavaleiro não busca retorno por uma boa ação. Ele faz isso pelo bem dos necessitados.’ Por favor, me desculpe por não aceitar sua proposta, mas tenha certeza, sou um grande admirador da princesa.”

Após dizer isso, Liu Yi deixou o palácio como um verdadeiro cavalheiro e sem aceitar as dádivas que lhe foram oferecidas.

Um partido apropriado

Após retornar para casa, Liu Yi contou a sua mãe tudo o que aconteceu. Sua mãe olhou para ele com espanto e disse, “Há verdadeiras divindades nesta terra.” Ela estava orgulhosa por ele ter feito o que fez e por ter agido como um verdadeiro cavalheiro.

O tempo voou e, de repente, um ano havia se passado. A mãe de Liu Yi queria ver seu filho casado e disse-lhe que homens e mulheres precisam se casar quando atingem a idade adulta.

“Eu escolhi um bom partido para você. Ela é filha da família Lu do condado de Jieyang, não muito longe de nós. A família é boa e a menina tem todas as características de uma boa esposa. Ela é inteligente e trabalhadora. Você terá respeito por ela. Então, aceda ao desejo de sua mãe e escolha o dia do casamento.”

Na noite de seu casamento, Liu Yi não podia acreditar no que via. Sua noiva era o espelho da Princesa Dragão de Dong Ting. Ele contou a sua noiva sua história e que ainda pensava na Princesa Dragão, mas que sempre seria um cavalheiro de palavra e que honraria e prezaria sua noiva.

O coração da jovem foi profundamente tocado e ela confessou que era de fato a princesa de Dong Ting. Ela não conseguia esquecer seu benfeitor Liu Yi; seu coração foi governado pelo velho ditado, “Quem recebeu uma gota de água como gentileza dará a seu benfeitor uma fonte da mesma em troca.” Assim, sua família pensou muito numa maneira de fazer suas esperanças se realizarem.

O tio Qiantang Jun trouxe-a para viver consigo no condado de Jieyang e descobriu uma forma dos dois jovens se amarem e viverem juntos com as graças do céu.

Moral da história

Esta história é uma das amadas lendas chinesas e no passado foi contada como ficção e drama e, mais modernamente, filme. Todos já ouviram esta história na China e podem recontá-la.

Liu Yi permanece como um exemplo do antigo ditado tradicional chinês que um cavalheiro não busca recompensa quando ajuda os outros. Este provérbio esclarece como boas ações devem ser feitas.

Além disso, a história fala sobre como se comportar ao receber um benefício: a pessoa que recebe uma gota de água de bondade dará ao benfeitor uma fonte da mesma em retribuição.

Esses princípios são simples, são princípios universais de moralidade. Eles foram mantidos vivos nos corações dos chineses através dos séculos por meio de histórias como esta, mas hoje foram praticamente abandonados e esquecidos.
Em seu lugar, outro ditado popular prevalece na China hoje, “Todos devem agir por si mesmos. Se assim não for feito, os céus o destruirão.”

Este ditado distorce a sabedoria antiga. Os seres humanos estão perdendo contato com o que os faz humanos e isso é perigoso para o mundo!

Leia também a parte 1 e a parte 2.

Este artigo pertence a série “Histórias da antiga China”; para ler outros artigos da série, clique aqui.