O resgate da Princesa Dragão – Parte 1

17/01/2014 01:05 Atualizado: 20/01/2014 01:22

Através dos séculos, lendas chinesas têm sido passadas de geração a geração e, às vezes, essas histórias ganham vida própria com novos eventos e personagens acrescentados, embora preservem os mesmos princípios da lenda original que transmitem.

A lenda de Liu Yi entregando uma carta da Princesa Dragão tem crescido em popularidade desde que foi narrada e ouvida pela primeira vez na antiga China. Todas as versões concordam que a história se originou na Dinastia Tang, no período Zhenyuan (785–805 d.C.).

Vou recontar a história que lembro melhor entre as diferentes versões que escutei.

Um choro distante

Um jovem estudioso chamado Liu Yi da província de Hubei na China, localizada próxima ao rio Yangtzé e ao norte do lago Dongtin, estava a caminho de Pequim para fazer o exame imperial anual pela posição de funcionário público. Passar nesse exame era necessário para qualquer um que desejava servir o imperador e ajudar no governo do país.

Em seu caminho, ele passou pelo rio Jingle, que corre ao longo da montanha Kongton, na parte oriental da província de Gansu. Caminhando à margem do rio num dia frio de inverno, Liu Yi sentia o vento gélido do norte empurrando-o fortemente. Ele se sentia como um andarilho solitário no que parecia ser um deserto desolado.

Prosseguindo, com o frio vento do norte como único companheiro, ele não podia supor que existisse outro ser humano em algum lugar neste cenário inóspito. No entanto, parecia que ele tinha ouvido alguém chorando à distância e, por isso, ele decidiu procurar a fonte do choro e saber que tristeza teria se abatido sobre este desconhecido.

Ao se aproximar do som, ele viu uma jovem, tremendo de frio, no meio de um rebanho de ovelhas. Segurando um chicote na mão, esperando para se defender e com o rosto banhado em lágrimas, ela continuou a chorar tristemente.

A triste pastora

Liu Yi, sentindo pena, se aproximou e perguntou, “Jovem senhorita, você está no gelo e na neve, sem uma única grama para as ovelhas comerem.” Ela não respondeu, mas chorou ainda mais tristemente. Isso comoveu Liu Yi que perguntou novamente, “Jovem senhorita, você pode me dizer o que a aflige? Existe algo que eu possa fazer para ajudar?”

Levou bastante tempo até ele conseguisse ouvir a razão da tristeza dela. Ela lhe contou que era a terceira filha do Rei Dragão do lago Dong Ting e a terceira princesa no palácio do lago Dong Ting. Seu pai havia casado-a com o filho mais novo, o último de dez príncipes, do Rei Dragão do rio Jinghe.

Ela continuou a história de sua tristeza e relatou algo que não era conhecido quando seu pai a casou com Jinghe. Ela disse com certo medo nos olhos que não era geralmente conhecido que os dragões de Jinghe eram brutos, cruéis, insensíveis e obstinados. Seu marido tinha todos esses traços e a tratava mal.

Além disso, ele só pensava em si e negligenciava seu dever de príncipe com a população local. As pessoas necessitavam de água para cuidar dos campos e terem colheitas suficientes, mas ele não deixava chover e se recusava a olhar a seca e os desastres que os locais sofriam.

Esta jovem princesa havia sido criada para tratar bem os outros. Então, ela tentava seriamente mudá-lo para fazer o que é certo, deixar chover quando necessário e proporcionar um clima ameno. Ela pediu ao esposo que permitisse ao povo viver em paz e felicidade.

Seu marido se recusou ouvi-la e ficou muito irritado com sua sugestão. Seus pais se aliaram a ele e ficaram tão chateados quanto o filho por suas sugestões benevolentes. Como reprimenda, eles tomaram o instrumento mágico que a permitia manter contato com sua família e a baniram do palácio. Eles a fizeram uma pastora e deram a ela um rebanho de ovelhas para cuidar.

O rebanho de ovelhas era mais do que simples ovelhas. Elas eram mágicas, soldados que eram usados para fazer trovão, chuva e relâmpagos. Mas tendo de cuidar desse rebanho mágico, ela se sentia torturada mental e fisicamente. Para tornar sua situação ainda mais dolorosa, ela não podia se comunicar com sua família e esclarecer a situação.

Levando uma mensagem

Ao ouvir isso, Liu Yi não pôde deixar de sentir indignado, sabendo que outro ser era maltratado por querer fazer o que era certo e bom.

Ele perguntou a ela, “Como posso ajudá-la a escapar desta miséria?”

A princesa respondeu com profundo agradecimento em seu coração, “Você é um homem justo. Eu ficarei endividada e muito agradecida por sua ajuda. Você seria meu benfeitor.”

E continuou, ainda olhando para ele, “Você precisa entregar uma carta minha a meus pais. Mas isso o desviaria de seu caminho e atrasaria sua jornada a Pequim para fazer seu exame. Você pode não ter tempo para entregar minha carta e eu não me sentiria confortável se você se saísse de seu caminho por minha causa.”

Não havia dúvida na mente de Liu Yi que ele estava determinado a ajudá-la. Ele disse, “Como pode um verdadeiro homem negligenciar o sofrimento de outro por ganho pessoal? Estou disposto a adiar meu exame para outro momento.”
A princesa rasgou um pedaço de sua roupa, mordeu seu dedo do meio e escreveu a nota com seu sangue.

A nota dizia, “Pai: sua terceira filha está vivendo na miséria, menosprezada e maltratada. Ela pode morrer a qualquer momento devido às circunstâncias que enfrenta. Por favor, venha resgatar sua filha o quando antes.”

Leia também a parte 2 e a parte 3.

Este artigo pertence a série “Histórias da antiga China”; para ler outros artigos da série, clique aqui.