Relatórios sobre extração ilegal de órgãos sugerem mudanças, diz especialista

14/05/2012 03:00 Atualizado: 14/05/2012 03:00

Zhou Yongkang, membro do Comitê Permanente do Partido Comunista, supervisiona o aparato de segurança da China, que se envolveu na extração generalizada e ilegal de órgãos de prisioneiros da consciência. (Liu Jin/AFP/Getty Images)No ano passado, um adolescente na China vendeu um de seus rins para que pudesse comprar um Apple iPad 2. Mais de um ano depois, a mídia estatal controlada da China focou na história e publicou uma série de comentários sobre o mercado negro de órgão chinês. A publicação do que é geralmente considerada informação altamente sensível, o abuso de transplante de órgãos, coincide com uma furiosa batalha no topo da liderança do regime.

A história do comércio de rim, relatada pela mídia estatal Diário de Guangming em 17 de abril ecoada amplamente na mídia chinesa, é sobre um estudante de 17 anos da província de Anhui, de sobrenome Wang, que queria um Apple iPad 2, mas não tinha dinheiro. O jovem conectou-se com um agente de órgãos online, que disse que um rim poderia ser comercializado por 20 mil yuanes (3200 dólares), e então fizeram um acordo. Mas a operação, realizada sem o consentimento dos pais na província de Hunan, não ocorreu bem e deixou o estudante com sérios problemas de saúde.

A questão é por que, neste momento, a mídia estatal chinesa deu tanta exposição ao comércio de órgão ilegal da China, um tópico que tem sido cuidadosamente evitado no passado?

Frank Xie, um professor da Universidade da Carolina do Sul Aiken, acredita que há uma razão, e que o calendário é bem calculado pelos líderes do Partido Comunista Chinês (PCC). Ao deixar algumas novidades sobre o transplante de órgãos abusivo entrarem na consciência pública, os líderes do Partido estão posicionando as coisas para a divulgação inevitável da notícia maior: o uso de prisioneiros da consciência, praticantes do Falun Gong particularmente, como doadores forçados de órgãos. A prática resultou em dezenas de milhares de mortes, de acordo com a investigação de especialistas.

Uma vez que eles entenderam que seria impossível ocultar a história para sempre, os líderes do PCC estão trazendo a questão deliberadamente na mídia agora, como um prelúdio para atacar e derrubar Zhou Yongkang, o chefe das forças de segurança, argumentou Xie numa entrevista com a Rádio Som da Esperança.

Zhou é o líder do poderoso Comitê dos Assuntos Político-Legislativos, que controla a polícia, a polícia armada, e todos os aspectos da aplicação da lei. Ele também é membro do Comitê Permanente do Politburo, o grupo de nove membros que governa o país. Zhou também tem sido a figura principal na realização da perseguição ao Falun Gong, sob as ordens do seu patrono político Jiang Zemin, o ex-líder do regime que iniciou a sangrenta campanha.

Bo Xilai, um oficial que foi recentemente derrubado na luta política da elite, também está envolvido, diz Xie.

Em 1999, quando o ex-líder do PCC, Jiang Zemin, ordenou a perseguição, Bo era prefeito de Dalian, província de Liaoning, e estava do lado de fora da elite do PCC. Bo se tornou um executor entusiasta da perseguição nos seus primeiros anos, o que lhe deu o suporte político do então líder Jiang, garantindo uma rápida ascensão na hierarquia do Partido.

A província de Liaoning se tornou um centro para os maus-tratos mais graves de praticantes do Falun Gong, de acordo com a Organização Mundial para Investigar a Perseguição ao Falun Gong. Essa organização de direitos humanos relata que a província de Liaoning investiu 930 milhões de yuanes (112,3 milhões de dólares) ao longo de três anos, a partir de 2002, na construção e remodelação de prisões em toda a província. Mais de 500 milhões de yuanes (60,41 milhões de dólares) foram gastos apenas em Masanjia, transformando-o numa cidade-prisão, que agora ocupa 133 hectares e é capaz de deter 10 mil pessoas.

A província de Liaoning também se tornou o “epicentro” da colheita de órgãos forçada de praticantes vivos do Falun Gong, de acordo com o pesquisador independente Ethan Gutmann.

Dado que a questão da captação de órgãos envolve tanto Bo Xilai como Zhou Yongkang, e à luz da recente liberdade em buscar o que geralmente tem sido um tema muito sensível, Xie sugere que isso poderia ser o prelúdio para o expurgo de Zhou e da exposição dos crimes dele e de seus aliados políticos.

“Aparentemente, altos oficiais do governo chinês entendem que os crimes da maligna colheita de órgãos de pessoas vivas já não podem ser encobertos”, disse o Prof. Xie. “Expor evidências desta questão extremamente sensível serve para expor os crimes de Zhou Yongkang, que tomou uma posição política oposta contra os líderes atuais.”