Regime chinês ameaça independência da mídia de Taiwan

18/10/2012 18:26 Atualizado: 31/10/2012 18:28
Um logo da Next Media em Taipei, Taiwan, em 17 de outubro de 2012. (Sam Yeh/AFP/Getty Images)

A mídia de Taiwan, a pequena ilha-nação perto da costa sul da China, foi classificada em segundo lugar em liberdade na Ásia em 2011, ficando logo após o Japão. Mas há anos Taiwan tem enfrentado ameaças a sua independência midiática enquanto o regime comunista chinês usa suas próprias empresas de mídia, ou aquelas que ele patrocina, para penetrarem na opinião pública taiwanesa e o atual governo, em muitos casos, simplesmente ignora.

Sob o atual governo nacionalista de Taiwan, liderado por Ma Ying-jeou desde 2008, as relações entre Taipei e Pequim têm ficado cada vez mais quentes. Especialistas dizem que políticas conciliatórias de Ma Ying-jeou tiveram a consequência não intencional de dar ao regime chinês uma maior oportunidade para se infiltrar na mídia de Taiwan.

O empresário taiwanês Tsai Eng-meng, presidente do grupo ‘Want Want China Times’, é citado por críticos como o exemplo perfeito da invasão do regime chinês.

Segundo a revista Forbes, Tsai Eng-meng era o homem mais rico de Taiwan em 2012: ele é dono de uma gigante de comida e bebida na China de 2,9 bilhões de dólares em receitas. Em sua carreira paralela como um magnata da mídia, ele é dono de jornais, revistas, emissoras de televisão e, mais recentemente, de uma rede a cabo em Taiwan.

Tsai Eng-meng é bem conhecido por apoiar o regime chinês e pelo apoio que ele recebe em troca. Numa entrevista com o Washington Post, Tsai Eng-meng sugeriu que ninguém realmente morreu no massacre da Praça da Paz Celestial em Pequim, quando milhares de estudantes foram ceifados pelo fogo das metralhadoras e esmagados por tanques.

Ele também teria recebido ajuda regulamentar do governo Ma Ying-jeou. Em 25 de julho, a Comissão Nacional de Comunicações (CNC) aprovou a aquisição do ‘China Network Systems’, o segundo maior provedor de televisão a cabo na ilha, pelo grupo ‘Want Want China Times’.

Segundo a Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), esta expansão significaria que a empresa de Tsai Eng-meng seria capaz de controlar um terço da mídia de Taiwan, incluindo 23% de todos os assinantes de TV a cabo.

A FIJ também disse, “as empresas de mídia de Tsai Eng-meng já aceitaram receitas de publicidade do continente sem notificar seus leitores”, e apontou que Tsai Eng-meng “indiretamente admitiu que o grupo houvesse assumido compromissos editoriais”.

Embora a CNC tenha imposto condições rigorosas no acordo e que a ‘Want Want China Times’ deve satisfazer, as preocupações sobre a postura política de Tsai Eng-meng e sua influência na paisagem midiática de Taiwan cresceu para muitos jornalistas e críticos.

“As pessoas estão extremamente desconfortáveis a ponto de estarem zangadas com ele, sabendo que ele tem uma postura pró-China e que defendeu publicamente que Taiwan seja parte da China”, disse Ketty Chen, uma cientista política da Universidade Nacional de Taiwan, numa entrevista com o Financial Times.

“Essa é a principal razão pela qual as pessoas não querem que ele se torne o Rupert Murdoch de Taiwan”, acrescentou Ketty Chen.

A cobertura de mídia nos negócios controlados por Tsai Eng-meng já é fortemente positiva sobre o crescimento econômico da China e mínima a respeito dos abusos de direitos humanos no país comunista, segundo Kuang Chung-hsiang, um professor da Universidade National Chung Cheng que falou com a Associated Press.

“Os chineses não precisam realmente atuar na mídia de Taiwan, mas apenas deixar os interesses comerciais fazerem o serviço”, disse Kuang. “O desaparecimento de reportagens negativas sobre a China, sem dúvida, tem relação com o desejo das estações de TV de acessarem o mercado do continente.”

No início de setembro, cerca de 10 mil estudantes e jornalistas protestaram em frente à sede do grupo ‘Want Want China Times’ de Tsai Eng-meng, exigindo que ele renunciasse. Esse foi o maior protesto relacionado à mídia na história de Taiwan.

No final de setembro, estudiosos da mídia apelaram à CNC para formular prontamente regras temporárias para regular a propriedade entre mídias em resposta à preocupação pública com a monopolização dos meios de comunicação, informou o Taipei Times. A FIJ tem feito exigências semelhantes.

Outra mudança recente na propriedade da mídia deixou preocupados os amigos da liberdade de imprensa em Taiwan. Jimmy Lai, outro magnata da mídia de Hong Kong que possui a Next Media, anunciou recentemente planos de vender seu negócio de notícias em Taiwan, incluindo impressos e empresas de televisão, por 600 milhões de dólares, para Jeffrey Koo Jr. do Chinatrust Financial.

“Taiwan perde uma mídia independente que pode ser uma vigia do governo e recebe outra controlada por uma empresa familiar pró-China”, disse Kuang Chung-Hsiang ao Businessweek.

Um estudo feito em março pela Fundação para o Avanço da Excelência da Mídia descobriu que o regime chinês pagou por centenas de artigos em cinco dos maiores jornais de Taiwan antes das eleições presidenciais taiwanesas em janeiro.

O Global Post citou Chang Chin-hua, um professor de jornalismo da Universidade Nacional de Taiwan, dizendo, “Isso não pode ser tolerado. Isso contraria o profissionalismo e a ética do jornalismo, engana os leitores que não sabem em que acreditar, destrói a própria função da notícia e a confiança dos leitores e é também um problema de segurança nacional.”

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