Quando censurando a internet, siga o líder

18/04/2010 00:00 Atualizado: 18/04/2010 00:00

Uma tela de computador em Pequim mostra a página inicial do Google.cn. Trinta e sete países foram analisados num novo relatório sobre a liberdade na internet mostrando que 15 deles estão envolvidos em “bloqueio substancial” de websites políticos, sendo a China a vanguarda de controle e vigilância. (Frederic J. Brown/Getty Images)A China lidera na repressão a internet–e outros estão chegando junto

Quando redutos do regime de Mubarak no Egito desligaram todo o acesso do país à internet em janeiro passado, isso foi considerado um movimento “sem precedentes” para uma economia moderna. Mas, na verdade, os técnicos egípcios apenas copiaram o que a China foi pioneira e bem sucedida 18 meses antes.

De julho de 2009 a maio de 2010, as autoridades chinesas cortaram a província noroeste inteira de Xinjiang do resto do mundo. Em seguida, eles enviaram tropas de choque para realizar prisões em massa e acabar com os protestos étnicos relacionados.

Um novo relatório sobre a liberdade na internet mostrou que os governos ao redor do mundo não resistem em investigar a vida online de seus cidadãos. Dos 37 países analisados, os pesquisadores descobriram que 15 deles estavam envolvidos em “bloqueio substancial” de websites políticos. A vanguarda de controle e vigilância é a China comunista, com os instrumentos mais sofisticados do mundo de censura online e monitoramento.

O “Freedom on the Net 2011” (Liberdade na Net 2011), um relatório da Freedom House, uma organização de direitos civis com sede em Washington, também mostra como as técnicas de cooptação e censura online, desenvolvidas pelas autoridades chinesas, estão sendo adotadas por outros Estados.

Nem todas as formas de controle da internet utilizam a abordagem de cortar o acesso. Potencialmente, o mais perigoso é o método cuidadoso e com muitas nuances, no qual fontes de informações externas são bloqueadas, enquanto um ambiente doméstico e simpático ao regime é promovido.

Você realmente vê essa questão da China e do Partido Comunista Chinês estarem na vanguarda de desenvolvimento desses modelos de controle da internet.

O resultado é uma aparente comunidade vibrante online, superficialmente semelhante a outros lugares, mas a verdade é que todo discurso só tem lugar dentro dos limites estabelecidos pelas autoridades.

O Partido Comunista Chinês tem sido mais inovador aqui. Eles bloquearam o Facebook, YouTube e Twitter, e permitiram clones domésticos como o Renren, Youku e Sina, que são muito mais fáceis de controlar. Como empresas regulares, eles competem num mercado próspero, mas o governo “terceiriza” a censura e exigências de propaganda: ao lado de seus departamentos de marketing estão os censuradores domésticos, e o fracasso em bloquear conteúdos indesejados significa a perda da licença para atuar no mercado.

Fazendo os “hosts” serem responsáveis pelas informações publicadas em seus sites, impedindo que os portais da internet produzam suas próprias notícias, tornando-os fontes de propaganda do Estado, manipulando e restringindo os resultados de pesquisas, e sustentando hordas de comentadores de fórum subservientes, “você acaba por se encontrar num ambiente autocontido, quase uma intranet”, disse Sarah Cook, a coautora do relatório, em entrevista por telefone.

“Você realmente vê essa questão da China e do Partido Comunista Chinês estarem na vanguarda do desenvolvimento desses modelos de controle da internet”, disse Cook.

E acrescentou: “Nenhum outro país, exceto talvez o Irã, chegue perto.”

Depois de entrar na noosfera, essas ideias são adotadas por outros ditadores. O Cazaquistão e o Vietnã começaram a exercer controles similares sobre suas redes sociais, bloqueando as de uso livre e direcionando os cidadãos aos espaços virtuais que são mais facilmente controláveis. O Camboja e a Venezuela já aprovaram leis que oferecem maior poder ao Estado sobre a infraestrutura de telecomunicações.

Ativistas e outros que estabelecem seus próprios websites podem tê-los fechados, ou agentes do governo podem incapacitá-los com ciberataques.

A China é líder na guerra cibernética, tendo como alvo tanto os governos ao redor do mundo como também ativistas de direitos humanos. Estes podem receber e-mails contendo vírus escondidos em anexos que, quando abertos, permitem que o agente do regime chinês ganhe acesso ao computador do destinatário.

Na China e em outros lugares, a disseminação generalizada do poder de publicação levou a diversificação do dissidente. Enquanto isso permite uma maior liberdade para participar no discurso político, também aumenta os alvos da repressão, como acontece na China hoje.

Cheng Jianping, uma mulher de 46 anos, por exemplo, foi condenada a “reeducação” através do trabalho forçado após postar uma mensagem sarcástica no Twitter. E um tibetano de 19 anos foi levado sob custódia após olhar fotos do Dalai Lama online.