Pressão e preocupações atormentam classes média e alta de Hong Kong

06/03/2014 11:20 Atualizado: 06/03/2014 11:20

O terceiro suicídio em três semanas no JPMorgan Chase ocorreu algumas semanas atrás, quando o gerente de projeto Dennis Li pulou para a morte da torre de escritórios do banco em Hong Kong. Li, de 33 anos, teria sido demitido. O incidente chocou o Distrito Central de Hong Kong e levantou a discussão sobre a pressão enfrentada por funcionários do JPMorgan, bem como sobre as classes média e alta de Hong Kong em geral.

“Muitas pessoas estão frustradas”, disse Tsui, outro funcionário do grande banco americano. Ele disse que ficou chocado ao saber do suicídio de Li, e que há atualmente muita pressão e demissões devido à desaceleração geral no investimento bancário.

O sr. Chan, um gerente de projeto de investimento bancário, disse que, depois que Li pulou da torre Chater House, “a notícia se espalhou por todo o Centro, e meus colegas falaram e discutiram sobre isso no almoço ou por meio de SMS. É assustador passar pela Chater House. Essa tragédia ocorreu pouco depois do Ano Novo Chinês, o que é um mau presságio.”

JPMorgan sob investigação

O FBI está investigando o JPMorgan e pelo menos outros seis grandes bancos por possível violação das leis antissuborno, informou o New York Times. Em 2006, o JPMorgan criou um projeto chamado “Esquema de Filhos”, em que eles contrataram filhos de dignitários chineses do continente em troca de obterem contratos de empresas estatais.

O NYT citou documentos classificados do governo dos EUA afirmando que o JPMorgan busca negócios lucrativos com um número de companhias de seguros chinesas. Xiang Junbo, presidente da Comissão Reguladora de Seguros da China, recomendou a filha de um amigo da família para o CEO do JPMorgan, Jamie Dimon, durante uma reunião em junho de 2012, informou o NYT.

Após o JPMorgan contratar Tang Xiaoning, o filho de Tang Shuangning, presidente da China Everbright Group, o JPMorgan fez vários grandes negócios com o China Everbright Group, segundo o NYT. O jornal também revelou que por meio do “Esquema de Filhos”, o JPMorgan contratou mais de 30 filhos de oficiais-príncipes da China, o que é um segredo aberto em sua sede em Hong Kong. Se for verificado que o JPMorgan ou outros bancos estão violando as leis antissuborno, as autoridades podem decidir processar indivíduos ou bancos.

Más perspectivas para a classe média

O incidente de suicídio no JPMorgan provocou reflexões sobre os problemas que enfrentam a classe média de Hong Kong. Com altos preços dos imóveis, caos social e ambiente político em deterioração desde que Leung Chun-ying se tornou o chefe-executivo de Hong Kong, a classe média vive um dilema.

Dados anunciados em 2013 por Knight Frank LLP mostram que os preços dos imóveis residenciais de Hong Kong aumentaram 28% no ano passado, mais do que em qualquer outro lugar do mundo.

Choi Yung Mei, editora da Open Magazine, tem uma filha que acabou de voltar para Hong Kong depois de se formar nos Estados Unidos. Sua filha gasta HK$ 8 mil (c. US$ 1.031) para dividir um apartamento de menos de 27 metros quadrados no distrito Sha Tin.

Choi disse que os jovens da idade de sua filha não estão otimistas com o ambiente atual em Hong Kong. “Com um salário mensal de HK$ 40 mil [c. US$ 5.154], não se pode realmente pagar um apartamento. Se você comprar uma unidade com uma sala e dois quartos, custa 5-6 milhões, e você tem de pagar uma hipoteca mensal de dezenas de milhares. É triste para a classe média”, disse Choi.

Ela disse que muitos jovens e pessoas da classe média estão considerando emigrar para lugares como Taiwan, que recentemente se tornou mais atraente. “Depois que Leung Chun-ying assumiu o comando, toda a sociedade se tornou muito tensa, e há um sentimento de insegurança.”

Segundo analistas políticos, depois que Leung Chun-ying foi empossado, ele adotou o estilo do Partido Comunista Chinês (PCC), apoiando a luta de um grupo contra outro, a fim de polarizar a sociedade. Por exemplo, ele usou organizações pró-Partido Comunista para reprimir grupos como os praticantes do Falun Gong e democratas, e tem implementado políticas imobiliárias rigorosas e incitado o ódio pelos ricos.

Dados da Secretaria de Segurança Hong Kong mostram que 3.900 pessoas de Hong Kong emigraram para o exterior no primeiro semestre de 2013, um aumento de 8,3% em comparação com o mesmo período do ano anterior.

Em resposta à crescente tendência de emigração em Hong Kong e Macau, o Ministério do Interior de Taiwan anunciou um endurecimento das regras de imigração para pessoas desses lugares. Em poucos meses, a taxa mínima será dobrada de aproximadamente HK$ 1,31 milhão (c. US$ 168.791) para cerca de HK$ 2,63 milhões (c. US$ 338.870).

O sr. Yam, o CEO de uma empresa de contabilidade no Centro, disse que pretende imigrar para o exterior com sua esposa e filho. “A classe média em Hong Kong está enfrentando muita pressão agora, e o custo de vida é muito alto”, disse o sr. Yam. “Depois que Leung Chun-ying subiu ao palco, não vemos absolutamente qualquer esperança. Para a próxima geração, é melhor imigrar para o exterior.”