Monstros, bolinhos e fogos de artifício: lendas do Ano Novo Chinês

26/01/2014 13:55 Atualizado: 26/01/2014 13:55

O Ano Novo Lunar chinês, conhecido como “Guo Nian”, é o feriado tradicional chinês mais importante e famoso. Ele tem uma longa história, que remonta à Dinastia Yin-Shang, no segundo milênio antes de Cristo, ao longo do rio Amarelo. Muitos costumes e lendas foram passados desde então.

Entre os costumes há cerimônias como mostrar respeito aos deuses – incluindo o deus do fogareiro – e aos ancestrais. Outro costume é dar dinheiro em envelopes vermelhos para as crianças. Duas semanas depois, o Festival das Lanternas encerra as celebrações do Ano Novo com lanternas coloridas penduradas por todos os lados.

Fogos de artifício

Fogos de artifício são usados para assustar os maus espíritos. Segundo a lenda, nos tempos antigos, um monstro feroz vivia no fundo de um lago profundo. Cada véspera de Ano Novo, ele emergia a superfície para se alimentar do gado, ferir ou matar seres humanos e causar estragos numa vila perto do lago. Portanto, toda véspera de Ano Novo, os moradores escalariam uma montanha próxima para escapar do monstro.

Um ano, quando os aldeões estavam ocupados se preparando para seu êxodo anual na montanha, um velho mendigo, desconhecido pela aldeia, passou por ali. Ninguém prestou atenção nele, pois todos estavam ocupados embalando seus pertences e se apressando para conduzir suas vacas e ovelhas à distância.

Uma idosa gentilmente deu ao mendigo um pouco de comida e lhe aconselhou a correr para a montanha para ficar a salvo do monstro. O mendigo permaneceu imperturbável e disse à senhora que se livraria do monstro se ela o deixasse ficar em sua casa durante aquela noite.

A mulher pensou que o velho mendigo estava brincando e continuou lhe pedindo para ir para a montanha, mas o homem apenas balançou a cabeça. Assim, a mulher deixou o mendigo ficar em sua casa e pouco depois ela partiu para a montanha com o resto dos aldeões.

À meia-noite, o monstro veio como de costume. Ele vagou pela aldeia escura e deserta até que avistou uma única luz, ela brilhava na casa da hospitaleira senhora. Alguns papéis vermelhos estavam pendurados na porta.

O monstro se dirigiu para a luz e, quando estava quase na porta, uma saraivada de fogos de artifício explodiu em seu rosto, assustando-o abruptamente. Então, a porta se abriu, e o velho mendigo, todo vestido de vermelho, ficou de pé na porta iluminada. O monstro ficou aterrorizado e fugiu às pressas.

Quando os moradores voltaram no dia seguinte, eles ficaram surpresos ao encontrar a vila intacta. A idosa soube com o mendigo o que ocorreu durante a noite. Os moradores se reuniram ao redor de sua casa, olharam o papel vermelho pregado na porta e os restos de fogos de artifício e velas.

Todos ficaram felizes e excitados que poderiam passar o Ano Novo em segurança e foram para casa vestir suas melhores roupas e preparar uma grande festa.

Agora eles sabiam o que assustou o monstro: a cor vermelha, o fogo e o som das explosões. Agora eles sabiam como manter o monstro longe!

Desde então, a cada véspera de Ano Novo, os moradores colocam discos vermelhos com bênçãos de Ano Novo em suas portas, acendem fogos de artifício e conservam velas acesas durante a noite. Na manhã seguinte, todos visitam os amigos e familiares e comemoram.

Fogos de artifício são considerados uma boa maneira de destruir o mal. Os deuses nos céus os teriam usado também. O costume de soltar fogos de artifício foi amplamente difundido até se tornar a mais popular tradição do Ano Novo Chinês.

Bolinhos

Nenhuma celebração do Ano Novo Chinês estaria completa sem petiscos deliciosos. Há um ditado chinês que diz: “A melhor comida é o bolinho de vapor.” Bolinhos de vapor são parte indispensável no Ano Novo e também têm uma longa história.

Há muitos contos populares sobre o bolinho. Um deles afirma que desde tempos antigos, as pessoas têm oferendado bolinhos como um sinal de respeito e gratidão ao deus Pan Gu, que criou o céu e a terra e terminou a escuridão na aurora dos tempos.

Outra lenda é sobre a deusa Nu Wa, que teria criado os seres humanos a partir de argila. Era um dia de inverno terrivelmente frio e as orelhas dos seres humanos recém-criados poderiam facilmente congelar e quebrar. Nu Wa usou um filamento especial para envolver as orelhas dos novos seres humanos e pediu a outros que ajudassem mordendo a outra extremidade do fio.

A partir daí, todos os anos, quando o clima está frio, diz a lenda que as pessoas morderiam um bolinho de vapor na esperança de que isso impediria que suas orelhas congelassem e quebrassem.

Os registros “Guang Ya”, escrito por Zhang Yi no período dos Três Reinos (220-280 d.C.), mencionam um bolinho em forma de crescente que era comido na sopa. Na Dinastia Tang (618-907 d.C.), os bolinhos de vapor da época se popularizaram e se tornaram os populares bolinhos de hoje, que são servidos individualmente ou num prato, como uma sopa. Durante a Dinastia Song (960-1279 d.C.), o bolinho foi chamado de “jiao er” ou “orelha murcha”.

As pessoas no norte da China comem bolinhos na véspera de Ano Novo, na virada da meia-noite ou no início do Ano Novo. Este é o momento para os bolinhos de Ano Novo, servidos com uma sopa típica.

Fazer grandes bolinhos é uma arte demorada. As pessoas dizem que os bolinhos de hoje não são como costumavam ser; pois são feitos em máquinas, já que todos estão ocupados demais para prepará-los manualmente. Para provar um realmente bom, bolinhos feitos à mão não são fáceis de encontrar e experimentar!