Mito chileno ensina princípios de coragem e amor

15/05/2014 16:44 Atualizado: 15/05/2014 16:44

São muitos os mitos e lendas que envolvem nossas raízes. Pelas mãos de nossos ancestrais, cada povo, cada rio, cada montanha, tem uma história para contar. Agora, trago a todos uma história que ensinou a uma tribo inteira os princípios de coragem e amor. Trata-se da lenda da formação dos três lagos: Llanquihue, Todos os Santos e Chapo.

Antes da chegada dos colonizadores à América, entre os vulcões Osorno e Calbucos, vivia uma tribo chamada Mapuche (na língua mapudungun, gente da terra), que dedicava seus dias à diversão, aos vícios e muito pouco ao trabalho. A tribo era dominada por Pillán, um espírito maligno que usava as “machis” – bruxas – para atormentar a todos, fazendo-os perder a razão por meio de poções, além de utilizar o fogo, a fumaça e o enxofre para assustá-los. Na verdade, Pillán era o espírito do vulcão.

Os chefes da tribo se reuniram em um conselho sem saber o que fazer, discutiram por um tempo, e de repente, do nada, apareceu um ancião dizendo que precisavam oferecer a mais virtuosa virgem da tribo em sacrifício, e a partir de então, mudar urgentemente o comportamento de todos, regressando aos valores morais perdidos para não dar mais oportunidades ao malvado espírito que os atormentava.

O sacrifício consistia em extrair o coração da donzela, cobri-lo com um ramo de canela e levá-lo à colina Pichi Juan. Lá surgiria uma ave do céu que consumiria o sacrifício. Sem ninguém perceber, o ancião desapareceu da mesma forma que chegou.

O cacique da tribo procurou entre todas as jovens e, quão grande foi sua tristeza ao descobrir que a mais virtuosa de todas era sua filha caçula Licarayén. ‘A escolhida’, com grande valentia, aceitou o fardo com a condição de que tudo fosse feito pelas mãos de seu amado, pois seu coração pertencia a ele.

Quiltrapiqu era seu prometido, um guerreiro valente e forte, com o qual se casaria na próxima primavera. Com grande dor em seu peito, o jovem se dispôs a preparar o leito do ritual com as flores mais belas e perfumadas. O jovem extraiu o coração de sua amada, o entregou ao cacique. Então, o rapaz mais forte da tribo cobriu o coração com um ramo de canela e subiu à colina Pichi Juan colocando-o sobre a maior pedra do local conforme a orientação do ancião.

Toda a tribo aguardava o milagre ao pé da colina, quando um grande condor desceu do céu e engoliu o coração da jovem, então o grande pássaro pegou o ramo de canela e voou para a cratera do vulcão onde jogou o ramo. Naquele momento começou a nevar. A neve caia justamente das nuvens escuras que rodeavam o vulcão; parecia que a alma da jovem sacrificada estava retornando para o seu amado.

Naquele instante, o valente guerreiro e prometido se jogou sobre a ponta de uma lança partindo assim o seu coração, então rapidamente as flores do local de sacrifício da amada criaram raízes e formaram o mais belo palácio, beleza como aquela nunca tinha sido vista por nenhum olho humano. Nevou por dias, meses e anos. A neve começou a derreter; quando derreteu a ponto de alcançar as terras cultiváveis, a água formou os três lagos: Llanquihe, Todos os Santos e Chapo.