Movimentos recentes do banco central da China para afrouxar os controles de taxa de empréstimos e recusar-se a injetar dinheiro durante uma grave crise de liquidez em junho parecem sinalizar que o primeiro-ministro chinês Li Keqiang está falando sério sobre realizar a reforma econômica. No entanto, qualquer esperança de reforma política desapareceu quando o líder chinês Xi Jinping intensificou a retórica e o simbolismo maoistas.
Li Keqiang pediu menos controle político na economia e disse que o governo deve delegar poder para manter o crescimento.
Diferentemente de Li Keqiang que busca soltar as rédeas, Xi Jinping tenta fortalecer o poder do Estado e seu controle ideológico. Como um príncipe – descendente da geração de fundadores do Partido Comunista Chinês (PCC) –, em particular, Xi Jinping está relutante em mudar o antigo sistema, segundo um artigo da Open Magazine de Hong Kong no início de junho. Alguns analistas estão convencidos de que os dois objetivos entrarão em conflito.
Permanecendo vermelho
Numa visita de inspeção a Xibaipo, uma antiga base revolucionária na província de Hebei, entre 11-12 de julho, Xi Jinping pediu aos membros do PCC que “garantam que a cor vermelha da China nunca mude”.
Xi Jinping também destacou a importância das “duas obrigações”, o núcleo do espírito de Xibaipo, que foi definido pelo ex-líder chinês Mao Tsé-tung mais de 60 anos atrás, quando ele advertiu os camaradas do PCC que eles “devem permanecer modestos, prudentes e livres da arrogância e imprudência em seu estilo de trabalho” e “devem preservar o estilo de vida simples e duro de luta”.
Ele continuou: “É exatamente porque o PCC tem persistido em praticar as duas obrigações que o PCC é capaz de resistir ao teste do tempo e manter a relação de carne e sangue com as massas.”
De acordo com o Mao, no entanto, as duas obrigações são embasados pela “arma marxista-leninista da crítica e autocrítica”, citado por Chen Ziming, um estudioso independente da política do PCC. Chen advertiu que a promoção da “crítica e autocrítica” poderia levar a campanhas políticas do estilo Revolução Cultural.
O passado
Durante uma viagem a Guandgong em dezembro passado, Xi Jinping lamentou o colapso da União Soviética e observou: “Não houve um único ‘verdadeiro homem’ disposto a se levantar e resistir.”
E num encontro importante do PCC em novembro passado, Xi Jinping disse que, embora o socialismo com características chinesas tenha tomado forma durante o período de reforma e abertura, “isso também foi baseado no sistema socialista estabelecido desde 1949 e nos mais de 20 anos seguintes de construção do socialismo”.
“As pessoas não podem negar o que foi feito antes da reforma e abertura com base no que acorreu depois e vice-versa”, acrescentou Xi Jinping. Suas observações provocaram uma acalorada discussão online, uma vez que não negar o que foi feito antes é dizer que o povo chinês não deve negar os desastres que a Grande Revolução Cultural trouxe ao país.
Sete tabus
Um texto conhecido como “Documento Central No. 9”, emitido em maio pela Gabinete Geral do Comitê Central da China, alertou as autoridades para combaterem os “valores ocidentais perigosos”. Ele também pediu aos jornalistas e professores universitários que estivessem cientes dos “sete tópicos proibidos”: os valores universais, a liberdade de imprensa, a sociedade civil, os direitos dos cidadãos, as aberrações históricas do PCC, a “classe capitalista privilegiada” na China e a independência do poder Judiciário.
Mao, um “elemento positivo”
A razão pela qual há um revivalismo maoista é porque Xi Jinping e os príncipes chegaram a um consenso sobre seguir o caminho que tem sido chamado de “socialismo nacionalista” e manter o Estado autoritário de partido-único, especificamente liderado pelos príncipes, segundo Li Weidong, um ex-editor-chefe e comentarista político que tem mantido contato constante com os príncipes pelos últimos anos.
“Para conseguir isso, eles optaram por reviver o maoismo e usar Mao como seu ‘elemento positivo’”, disse Li Weidong numa entrevista para um artigo da Deutsche Welle de 4 de julho.
Xi Jinping tem promovido seu sonho chinês desde dezembro passado. Isto inclui a meta de construir uma sociedade de bem-estar até o 100º aniversário do PCC em torno de 2021, quando Xi Jinping ainda será líder do PCC.
“Xi Jinping espera que a renda média do povo chinês aumente de 6 para 12 ou 15 mil dólares e que o PIB da China dobre para mais de 100 trilhões de yuanes [c. US$ 17 bilhões] até 2021”, disse Li Weidong. Neste ponto, a China ainda será a segunda maior economia do mundo e será capaz de se equiparar aos EUA, disse ele.
Desde que o “grande rejuvenescimento da nação chinesa” seja realizado até lá, “quaisquer erros do passado, incluindo erros cometidos por Mao, podem ser perdoados”, disse Li Weidong. O PCC poderá provar que trouxe glória à China por meio da aplicação do modelo chinês, reforçando assim sua legitimidade para governar, acrescentou ele.
Futuro da China
Li Weidong é pessimista sobre o futuro da China sob a liderança de Xi Jinping. Ele disse que o líder chinês está numa missão para resguardar o império vermelho dos príncipes e que Xi Jinping resolutamente rejeita a reforma política e os valores universais e teimosamente permanece no caminho do socialismo nacionalista para realizar seu “Sonho da China”.
Além disso, Xi Jinping e Li Keqiang têm cantado músicas diferentes. O socialismo nacionalista de Xi Jinping pode colidir com a liberalização econômica de Li Keqiang e tornar-se um obstáculo para a reforma econômica, argumentou Li Weidong.
A economia chinesa continuará na descendente nos próximos anos devido aos anos de monopólio das empresas estatais gerenciadas pelos príncipes e por seus comparsas da elite, comentou Li Weidong. Ele concluiu: “Sem uma reforma política que vise especificamente à classe capitalista privilegiada, o caminho que Xi Jinping tomar não funcionará.”
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