Ex-professora abre caso em tribunal de direitos humanos contra Instituto Confúcio

10/11/2012 23:32 Atualizado: 20/04/2014 21:25
Escolas hospedeiras canadenses parecem desconhecer as políticas discriminatórias do Instituto
Sonia Zhao fala sobre a perseguição ao Falun Gong na China numa manifestação em Toronto em agosto. (Gordon Yu/The Epoch Times)

Uma ex-instrutora do Instituto Confúcio chinês na Universidade McMaster no Canadá, apresentou uma denúncia no Tribunal de Direitos Humanos de Ontário por alegada discriminação nas práticas de contratação do instituto.

Sonia Zhao, uma chinesa que veio para o Canadá em 2010 para ensinar chinês no Instituto Confúcio (IC) na McMaster, diz ter sido obrigada a assinar uma declaração prometendo não praticar o Falun Gong, também conhecido como Falun Dafa, para obter sua posição.

Os ICs são organizações sem fins lucrativos financiadas pelo regime comunista chinês, com centenas de filiais em todo o mundo. Embora os institutos sejam alardeados como promotores da língua e cultura chinesas, eles têm sido citados por agências de inteligência como organizações usadas pela China para ampliar seu “poder brando”.

A Associação do Falun Dafa do Canadá inicialmente alertou a McMaster sobre a prática discriminatória. Após a perda de contato com a universidade, Sonia Zhao, que deixou o IC em 2011, abriu um processo no Tribunal de Direitos Humanos de Ontário (TDHO) em setembro.

O Epoch Times relatou no ano passado que o IC tinha publicou uma estipulação em inglês em seu website principal afirmando que professores dos institutos não devem ter “qualquer registro de participação no Falun Gong”.

O Falun Gong é uma prática de meditação espiritual cujos adeptos na China enfrentam perseguição severa do regime.

IC, parte da McMaster

Em sua resposta ao caso do TDHO, a McMaster argumentou que como Sonia Zhao assinou o acordo com o Hanban, a organização supervisora dos ICs na China, o tribunal não tem jurisdição sobre o assunto.

O advogado de direitos humanos David Matas, que representa Sonia Zhao no caso, diz que o argumento não se sustenta já que o IC não é uma entidade autônoma. “A realidade é que o Instituto Confúcio é parte da McMaster”, diz Matas. “O Hanban não é realmente quem administra – eles estão apenas submetendo [os instrutores].”

A McMaster é nomeada como empregadora de Sonia Zhao em seu visto de trabalho canadense. “O réu (McMaster) não pode fugir de sua responsabilidade de respeitar as normas do Código de Direito Humanos de Ontário delegando suas responsabilidades de contratação a um agente fora da jurisdição e fazer vista grossa para práticas discriminatórias de contratação de seu agente contratador”, escreveu Matas num relatório enviado ao TDHO e obtido pelo Epoch Times.

A McMaster também argumentou que não tinha conhecimento da diretriz do Hanban proibindo praticantes do Falun Gong de ensinarem. Matas diz que a instrução é encontrada em inglês no website do Hanban e que deveria ser conhecida pela McMaster – se eles não conheciam, isso significa que “não fizeram seu dever de casa”. A McMaster não respondeu a pedidos de comentários.

Outras escolas canadenses também parecem não ter conhecimento das políticas discriminatórias de contratação dos ICs, embora a declaração relativa ao Falun Gong esteja disponível no website do Hanban.

Barb Pollock, vice-presidente de relações externas da Universidade de Regina, que em 2011 decidiu sediar um Instituto Confúcio, disse ao Epoch Times no ano passado que não sabia desta diretriz. “Não está em nosso acordo. As estipulações em nosso acordo tem tudo a ver com a liberdade acadêmica”, disse ela.

No entanto, Pollock admitiu que a contratação é feita pelo instituto e que a universidade só analisa uma proposta de aluguel depois que já foram selecionados pelo IC controlado por Pequim.

Sandy Forster, diretora de currículo das Escolas Públicas Edmonton (EPE), que têm parceria com ICs em Edmonton, disse ao Epoch Times que não tinha ouvido falar sobre esta regra de contratação e não poderia comentar. As EPE recebem ocasionalmente professores convidados do IC.

Após as observações de Matas ao tribunal em resposta as reivindicações da McMaster, Matas diz que os dois lados já concordaram em buscar a mediação. De acordo com Matas, a McMaster ainda não confirmou estar comprometida que a política discriminatória seja terminada.

Medo de punição

Sonia Zhao, cuja mãe foi presa na China por praticar o Falun Gong, diz ter sido avisada que seria punida por violar o acordo que assinou com o IC, que, entre outras coisas, proibia-a de praticar o Falun Gong.

Por isso, ela escondeu sua crença no Falun Gong, enquanto trabalhava na McMaster. “No Instituto Confúcio, os funcionários são enviados da China e eu preciso ter cuidado para não deixá-los saber que sou praticante do Falun Gong. Eu só temia que, se eles descobrissem, algo aconteceria comigo”, diz Sonia Zhao.

Para Sonia Zhao, as memórias dolorosas de sua mãe sendo arrastada para a prisão mais de uma vez por causa de sua crença no Falun Gong deixaram-na amedrontada de voltar à China e ela finalmente decidiu sair do IC. Ela já recebeu o status de refugiada no Canadá.

“Propaganda Ultramarina”

Li Changchun, o chefe da propaganda do Partido Comunista Chinês (PCC) e 5º membro mais poderoso do Comitê Permanente do Politburo, chamou o IC de “uma parte importante na propaganda chinesa no estrangeiro”.

Ele foi ao Canadá no início deste ano e teve uma reunião com o primeiro-ministro Stephen Harper. Li Changchun também participou da cerimônia de abertura de um Instituto Confúcio na Universidade Carleton durante sua visita.

O fato de que um oficial tão alto do PCC tenha comparecido na abertura do instituto denota a importância que o PCC atribui aos ICs.

Richard Fadden, chefe da agência de segurança canadense (CSIS), disse que os ICs estão sob o controle de embaixadas e consulados chineses e os associou com alguns outros esforços do regime para influenciar a política canadense sobre a China.

Em 2008, quando tropas paramilitares chinesas foram enviadas para reprimir os protestos tibetanos, um instrutor do IC da Universidade de Waterloo reuniu seus alunos para condenar reportagens “anti-China” na imprensa ocidental, levando uma rede de televisão canadense a pedir desculpas.

Um juiz israelense determinou em 2009 que a Universidade de Tel Aviv violou a liberdade de expressão e cedeu à pressão da embaixada chinesa quando fechou uma exposição de arte realizada por um estudante que retratava a opressão ao Falun Gong na China por medo de perder seu IC e outras regalias bancadas pelo regime chinês.

Outras escolas e organizações hospedeiras dos ICs no Canadá incluem a Universidade Brock, o Instituto de Tecnologia da Colúmbia Britânica, a Universidade de Sherbrooke (em parceria com o Colégio Dawson), a Universidade de Waterloo, o Conselho Escolar do Distrito de Toronto e o Departamento de Educação de New Brunswick.

A Universidade de Colúmbia Britânica e a Universidade de Manitoba não hospedam o IC.

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