Especialistas alertam sobre a responsabilidade internacional quanto à extração ilegal de órgãos na China

23/03/2012 00:00 Atualizado: 23/03/2012 00:00

AUTOR FAMOSO: O advogado de direitos humanos David Matas, coautor do livro

Uma equipe de investigadores e especialistas pede às empresas farmacêuticas maior responsabilidade ética nas relações com a China

No âmbito do Congresso Americano de Transplantes em 1º de maio de 2011, um grupo de especialistas da Filadélfia advertiu sobre a responsabilidade da comunidade global sobre os transplantes de órgãos provenientes de extrações forçadas que, segundo eles, ocorrem sistematicamente na China.

O fórum, intitulado Comunidade Mundial de Transplante numa Encruzilhada Médica viu-se com um salão cheio.

Organizado pela ONG Médicos Contra a Extração Forçada de Órgãos (DAFOH, acrônimo em inglês), a exposição explicou como a comunidade de transplantes no Ocidente deveria responder ao uso de órgãos retirados de prisioneiros executados e de fontes não-identificadas por parte do regime comunista chinês, uma prática “inaceitável de acordo com as normas éticas médicas internacionais”, disseram eles.

As empresas farmacêuticas

De acordo com os palestrantes da mesa-redonda, as empresas farmacêuticas têm desempenhado um papel importante em ajudar a perpetuar a prática antiética da extração forçada de órgãos através do ensaio de medicamentos na China.

O Dr. Eric Goldberg, diretor médico da ICON, uma empresa global de investigação clínica, disse que o baixo custo da realização de ensaios clínicos na China, cerca de 15% menor que nos EUA, é muito atraente para empresas farmacêuticas que procuram desenvolver drogas com um orçamento limitado num ambiente de depressão econômica, acrescentando que a China também oferece às empresas o benefício de acelerar o processo de desenvolvimento dos medicamentos por ter um grande número de pacientes e menos regulamentação.

“As questões que tratamos no FDA, no EMA, [e] no Health Canada, simplesmente não existem na China. O monitoramento é muito menor”, disse Goldberg.

No entanto, segundo os palestrantes do evento, enquanto muitas companhias farmacêuticas internacionais têm realizado investigações na China, não muitas estão dispostas a reconhecer o seu papel na imoral extração forçada de órgãos na China.

David Matas, renomado advogado de direitos humanos e coautor com David Kilgour do livro “Colheita Sangrenta: A Extração Ilegal de Órgãos de Praticantes do Falun Gong na China”, citou como exemplo a companhia farmacêutica suíça Roche.

De acordo com a investigação de Matas e Kilgour, nos anos 2002-2006 houve 41.500 operações de transplante, para as quais o regime chinês não poderia fornecer uma fonte doadora. Eles acreditam que os prisioneiros do Falun Gong são a fonte mais provável destes órgãos.

Ao ser questionado sobre a questão das fontes não identificadas de órgãos em relação aos pacientes de transplante de órgãos na China, a resposta da Roche, que o Sr. Matas mostrou em seu slide na mesa redonda de domingo, foi: “A Roche não é responsável pelo fornecimento de órgãos … A Roche não tem o direito de saber a fonte de órgãos para transplante.”

O ex-diretor geral da Roche e atual presidente do conselho disse: “Na China não há obstáculos de ordem ética ou cultural para a medicina de transplantes”, que segundo o Sr. Matas, esta declaração indica que a prática de ensaios clínicos da Roche na China são realizadas conscientemente e não mostram preocupação com as práticas não-éticas por trás das mesmas.

Aos olhos dos expositores do evento, o desconhecimento por parte das empresas quanto às fontes dos órgãos transplantados não é uma razão aceitável.

“Eles não podem dizer que não sabem a procedência do órgão. Não podem dizer que não se importam de onde veio o órgão”, disse o Dr. Caplan, professor de bioética da Universidade da Pensilvânia, na Filadélfia, EUA, que foi um dos expositores do evento e o principal orador do Congresso Americano de Transplantes de 2011.

A Roche ganhou dois prêmios vergonha em 2010: o Prêmio Olho Público da Suíça e o Prêmio Olho Público das Pessoas por “conduta coorporativa irresponsável”. Em setembro de 2010, o Triodos, um banco de investimento holandês, parou de investir na Roche.

O Sr. Matas apresentou uma lista de vigilância das empresas farmacêuticas multinacionais que têm conduzido testes clínicos na China de medicamentos para evitar rejeição de transplantes de órgãos, entre os quais estão as empresas Wyeth (agora parte de Pfizer), Novartis, Roche, e Astellas. Estes testes foram realizados em pacientes que recebem órgãos extraídos na China.

No mês passado, sobre a questão da imoral extração forçada de órgãos na China, o Epoch Times tentou solicitar comentários de uma série de empresas farmacêuticas, quatro das quais estão na lista de vigilância do Sr. Matas. Tanto a Isotechnika, uma companhia biofarmacêutica com sede em Alberta, Canadá, como a Novartis, uma empresa farmacêutica com sede em Basiléia, Suíça, responderam.

Launa Aspeslet, representante da Isotechnika, disse por telefone ao Epoch Times que a empresa estava ciente do problema e iria enviar um representante para participar da mesa-redonda para saber mais sobre o assunto. O que resultou na participação do representante na mesa-redonda de domingo.

Eric Althoff, um porta-voz da Novartis, entregou uma resposta escrita via correio eletrônico.

A declaração disse que a Novartis apoia a Declaração de Istambul e a Declaração de Direitos Humanos das Nações Unidas, acrescentando: “Estamos comprometidos a trabalhar com as autoridades e as sociedades de transplante para aumentar a consciência pública sobre a doação de órgãos e para garantir que mais altos padrões internacionais sejam adotados e observados.”

Não houve respostas via correio eletrônico ou telefonema da Pfizer ou Astellas.

Responsabilidade profissional

As exposições dos oradores concordaram unanimemente que é o momento para a comunidade mundial de transplante dar um passo adiante, para acabar com as práticas imorais da extração forçada de órgãos na China.

A falta de controle na China não exime os profissionais médicos de transplante da sua responsabilidade de manter-se em dia com o padrão internacional de ética médica.

Outro orador do evento, o Dr. Gabriel Danovitch, diretor médico do Programa de Transplante Renal e Pancreático do Departamento de Medicina da UCLA, disse que a comunidade mundial de transplante tem o poder de realizar mudanças positivas no governo chinês.
“Nós não temos mísseis ou tanques. Mas temos algum poder na virtude da aceitação profissional.”

Ele manifestou a sua profunda preocupação com a falta de perspectiva crítica sobre a China na comunidade de transplantes. Os principais conselhos editoriais de revistas médicas continuam aceitando pesquisas sobre transplantes de órgãos na China.

Um exemplo usado pelo Dr. Danovitch nos slides foi um artigo publicado no Diário Americano de Transplantes em 2010, que tem uma frase que fornece uma análise crítica da prática duvidosa da extração de órgãos na China. Segundo o Dr. Danovitch: “O procedimento na China também tem a vantagem de ser muito acessível e relativamente barato comparado aos centros ocidentais. (…) Também é possível adquirir um órgão num tempo relativamente curto.”

Encorajou a sociedade ocidental de transplante a usar o seu poder para fazer uma mudança positiva na China. “Se assim não fizermos vamos desperdiçar a oportunidade”, disse ele.

O Dr. Goldberg deu um testemunho pessoal de como ele exercia a sua influência profissional. Depois de conhecer a situação da extração forçada de órgãos na China, ele convenceu a sua empresa de excluir a China dos seus ensaios clínicos.

“Felizmente para mim e para o mundo, recebi o apoio de que necessitava”, disse Goldberg, que estava muito orgulhoso e feliz por sua empresa, a ICON.

“Existem implicações comerciais para uma empresa multibilionária por fazer a coisa certa, e me orgulho por isto”, acrescentou.

O Sr. Erping Zhang, porta-voz do Falun Gong e um dos oradores, destacou a importância dos profissionais de transplante assumirem total responsabilidade sobre o tema.

“A história vai julgar não só o que temos feito, mas também o que não fizemos quando tivemos oportunidade”, disse Zhang.

A atrocidade da extração forçada de órgãos de praticantes vivos do Falun Gong na China é o tema central do documentário Entre a Vida e a Morte, que ganhou um prêmio na categoria “Reportagem Investigativa – Documentário de Notícias” do Hugo Television Awards em 2011.