Combinar comida é bom para que?

16/03/2012 00:00 Atualizado: 16/03/2012 00:00

Separar fontes concentradas de proteínas e carboidratos durante a refeição ajuda na digestão. (Photos.com)

Combinar a comida é um termo utilizado para descrever práticas nutricionais de separar fontes concentradas de proteína (por exemplo, carne, peixe e ovos) e carboidrato (por exemplo, pão, batata, arroz e massa) na hora da refeição. Aqueles que seguem essa fórmula, frequentemente alegam que isso ajuda na digestão.

Em parte, a razão da combinação da comida ajudar na digestão está relacionada ao fato de que proteína e amido possuem processos diferentes responsáveis por sua digestão. A proteína é inicialmente melhor digerida em ácido, enquanto o alcaloide é o meio de escolha para a digestão dos carboidratos.

Além disso, as enzimas digestivas usadas para digerir proteína no intestino delgado são diferentes daquelas utilizadas para digerir carboidratos. Separar a proteína dos carboidratos deveria, teoricamente, facilitar a digestão.

Alguns dizem que isso não é verdade e que o corpo humano foi feito para digerir diferentes tipos de alimentos de uma só vez. Eu não tenho certeza se este é o caso, uma vez que, em relação ao tempo que temos na Terra, é provável que na maioria das vezes comêssemos uma comida de cada vez, como carne, peixe, nozes, ou alguma outra caça ou algo colhido. É provável que apenas recentemente começamos a fazer esses tipos de comidas misturadas, como nós conhecemos hoje.

Se o corpo está adaptado ou não a comidas misturadas, não é algo especialmente importante. Isso porque não há muita dúvida quanto ao fato de que algumas pessoas não digerem bem a comida. Até alguns anos atrás, havia um teste disponível aqui no Reino Unido que permitia testar de forma relativamente objetiva a capacidade de digestão. Ele empregava o consumo de uma cápsula, que continha eletrodos de pH sensíveis, capazes de ler o nível de acidez no estômago e prover informações da provável capacidade de digestão no intestino delgado. Há alguns anos atrás, eu fiz esse teste em pessoas que reclamavam de dispepsia (indigestão, azia e refluxo de ácido). A maioria desses indivíduos foi diagnosticada como tendo excesso de ácido. Porém, a grande maioria mostrou não ter ácido suficiente, o que prejudicava a digestão no intestino delgado.

Indivíduos com baixa capacidade digestiva podem achar que as comidas ficam presas depois de ingeridas, causando indigestão. Se os níveis ácidos estão baixos, isso pode inclusive aumentar o risco de refluxo, uma vez que o ácido é muito importante para o fechamento da válvula que leva ao estômago (a válvula gastrointestinal). Então, baixos níveis de ácido podem levar os conteúdos ácidos do estômago a escapar pelo esôfago, o que pode ser sentido como azia.

E o que isso tudo tem a ver com combinar a comida? Bem, como propõem os autores, separar a proteína e carboidrato na refeição pode facilitar a digestão. Eu não sei se isso de fato ocorre ou não. Porém, quando indivíduos com dispepsia comem de acordo com os princípios da combinação de comida, geralmente os sintomas aliviam na hora. Então, o meu parecer é que combinar comida tem mérito considerável para indivíduos que sofrem de sintomas digestivos.

Em termos práticos, isso significa comer tanto proteínas quanto carboidratos com comidas “neutras”, como saladas e vegetais verdes. Então, o que nós vamos ter são pratos como bife e salada, omeletes e salada, vegetais ao curry e arroz ou macarrão com molho de tomate (sem carne). Eu encorajo não vegetaríamos a usar carne ou peixe acompanhado de vegetais (que não o tomate) como um padrão para seus pratos principais.

Curiosamente, muitos indivíduos com dispepsia que adotaram a dieta com baixo carboidrato descobriram que seus problemas digestivos melhoraram consideravelmente ou desapareceram. Uma razão para isso se deve ao fato da dieta com baixo carboidrato ser geralmente balanceada (proteína e vegetais, sem batata).

Outro motivo está relacionado ao fato de que certas comidas podem acionar sintomas dispépticos, e, na prática, o principal agressor parece ser o trigo. Indivíduos em dietas com pouco carboidrato frequentemente abstém-se de trigo, outro motivo que os faz achar que a nova dieta realmente ajuda.

No geral, eu sou um fã assumido de combinar a comida, e penso que isso tem o seu mérito para os indivíduos com sintomas que indicam uma má função intestinal.

No entanto, mesmo para pessoas com digestão relativamente boa, essa prática ainda pode ser útil. Acredito que o jantar é um bom momento para considerar a combinação de alimentos. Ajudar a digestão pode melhorar o sono e também reduzir o risco de refluxo. Somado a isso, outra medida simples que pode melhorar a digestão é mastigar completamente a comida e não beber muito líquido durante a refeição, mesmo duas horas depois.

O Dr. John Briffa é um médico de Londres e escreve sobre saúde, com interesse em nutrição e medicina natural. Seu website é Drbriffa.com