Os incêndios em canaviais no Brasil ameaçam a produção de açúcar, etanol e energia no próximo ano. Além de prejudicar a safra atual, o fogo atinge canaviais em rebrota, essenciais para a safra 2025/26. Especialistas alertam para as graves consequências a longo prazo, com perdas significativas e incêndios em expansão.
Em entrevista com o Globo Rural, Ricardo Pinto, sócio da RPA Consultoria, explica que o maior problema não é a cana queimada que pode ser colhida rapidamente, mas sim as plantas já colhidas antes dos incêndios e que estavam em rebrota. “Esse fogo afeta a cana para o ano que vem”, ressalta. O impacto é mais grave nas áreas onde o fogo atingiu plantas jovens.
No estado de São Paulo, entre 23 de agosto e 10 de setembro, cerca de 181 mil hectares de cana foram destruídos pelo fogo, sendo 95 mil hectares de lavouras já colhidas e em rebrota. Segundo a Orplana, os prejuízos aos produtores já chegam a R$ 1,2 bilhão, com tendência de agravamento, já que os incêndios continuam e a seca deve durar até o fim de setembro.
José Guilherme Nogueira, presidente da Orplana, também afirma ao portal que a queima das canas em rebrota pode causar atrasos na colheita, necessidade de replantio e até perda total de áreas produtivas. Paulo Figueiredo, professor da Unesp, explica que o fogo desidrata as células da cana e pode eliminar a parte aérea da planta, agravando os danos.
Além da destruição das plantas em rebrota, a formação de cinzas é um problema grave que exigirá manejo para recuperar o solo. Figueiredo alerta que incêndios prolongados podem elevar a temperatura do solxo e danificar as gemas da cana, essenciais para a rebrota. “Se os danos são amplos, é preciso replantar tudo. E as áreas replantadas agora não deverão estar maduras para colheita no ano que vem”, explica.
Os incêndios também eliminam microorganismos essenciais para a ciclagem de nutrientes e a fertilidade do solo. Sem esses organismos e com a perda da palha protetora, o risco de erosão aumenta, especialmente em áreas com relevo acidentado. Esses impactos serão sentidos nos próximos anos.
O replantio das áreas afetadas traz desafios financeiros aos produtores, que enfrentam altos custos e juros elevados para financiamento. Com a safra futura comprometida, o setor vive um cenário incerto, com impactos que podem perdurar por várias temporadas.