Quem é Cacique Raoni, indígena condecorado por Macron

Indígena, que esteve na posse de Lula e subiu a rampa do Palácio do Planalto, é ativista ambiental histórico

Por Redação Epoch Times Brasil
27/03/2024 20:32 Atualizado: 27/03/2024 20:32

O cacique Raoni Metuktire, líder do povo kayapó, foi condecorado na terça-feira (26) em Belém como cavaleiro da Ordem Nacional da Legião de Honra da França. Entregue pelo presidente francês, Emmanuel Macron, esta é a maior honraria civil concedida pelo país europeu aos seus cidadãos e a estrangeiros com atividades de destaque globalmente.

Ao lado de Macron, o presidente Lula defendeu que o indígena recebesse o Prêmio Nobel da Paz.

“Posso te dizer, companheiro Raoni, não tem ninguém no planeta Terra que mereça ganhar o Prêmio Nobel da Paz mais do que você, pelo que você fez na sua passagem pelo planeta Terra”, disse Lula, dirigindo-se diretamente ao cacique. 

Quem é o Cacique Raoni?

Raoni é liderança indígena com reconhecimento internacional. Ele recebeu o título de Membro Honorário da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) em 2021. Em 2020 foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz, mas não levou o título. Em 2011, foi homenageado com o título de cidadão honorário da cidade de Paris ativismo em defesa da floresta amazônica e de povos indígenas.

De acordo com informações de um site mantido pela Planète Amazone, ONG francesa ligada a Raoni, ele nasceu por volta de 1932 na aldeia Krajmopyjakare, localizada no nordeste do Mato Grosso. A data precisa do nascimento não é clara. Naquela época, o povo kayapó era nômade e mantinha pouco contato com o mundo exterior.

O indígena, que compareceu à posse de Lula e acompanhou-o enquanto subiam a rampa do Palácio do Planalto durante a cerimônia, teve o seu primeiro encontro com homens brancos em 1954.

Durante esses anos, os irmãos Orlando, Cláudio e Leonardo Villas-Bôas exploravam a região em serviço do governo federal, identificando áreas para projetos governamentais e assentamentos humanos. Em uma dessas expedições, em 1954, os irmãos Villas-Bôas conheceram Raoni. Foi por meio deles que o líder kayapó aprendeu a falar português. Naquele momento, o indígena teria chegado à conclusão de que culturas externas seriam prejudiciais para o seu povo.

Nas telas

O reconhecimento internacional de Raoni foi impulsionado por um encontro com o cineasta belga Jean-Pierre Dutilleux em 1973. 

O filme “Raoni”, produzido pelo europeu ano depois, contou com uma versão em inglês narrada pelo ator americano Marlon Brando. Recebeu uma indicação ao Oscar e foi exibido no Festival de Cannes. No Brasil, foi premiado como o melhor filme em Gramado.

Em 1987, Dutilleux apresentou Raoni ao músico britânico Sting durante uma visita ao Parque Indígena do Xingu. Entre abril e junho de 1989, os dois realizaram uma turnê conjunta, proporcionando a Raoni uma visibilidade ainda maior.

Raoni assumiu ao longo de décadas o papel de representante de uma parte dos povos indígenas, embarcando em diversas viagens ao redor do mundo. Explorou regiões do Canadá para encontrar os esquimós, visitou o Japão e recebeu apoio do ex-presidente francês Jacques Chirac. A partir de 2010, liderou uma campanha contra a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, quando teceu duras críticas às gestões petistas de Lula e Dilma Rousseff — chegando a declarar que a ex-presidente teria que matá-lo em frente ao Palácio do Planalto para permitir a construção da barragem.

Em entrevista ao jornal O Globo em outubro de 2023, Raoni voltou a criticar Lula por demora no cumprimento de promessas. No encontro do dia 26 de março, o indígena pediu ao presidente brasileiro que não aprove a construção da ferrovia Ferrogrão, citando preocupações com desmatamento.