Uma perseguição diabólica sem precedente – Capítulo 7

Perseguindo os pacíficos: uma resposta política

12/12/2019 11:09 Atualizado: 12/12/2019 11:09

Originalmente publicado em inglês em 2016, o Epoch Times tem o orgulho de republicar “Uma perseguição diabólica sem precedente: um genocídio contra o bem na humanidade” (editores Dr. Torsten Trey e Theresa Chu. Clear Insight Publishing, 2016). O livro ajuda a entender a extração forçada de órgãos que ocorre na China, explicando a causa fundamental dessa atrocidade: o genocídio cometido pelo regime comunista chinês contra os praticantes do Falun Gong.

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Capítulo 7: Perseguindo os pacíficos: uma resposta política

Por Edward McMillan-Scott

Em 2006, Pequim estava se preparando para sediar as Olimpíadas de 2008 e eu estava visitando a cidade como vice-presidente para direitos humanos e democracia do Parlamento Europeu. A China estava se preparando para mostrar ao mundo que era uma potência mundial responsável que progredira econômica e politicamente. Liu Jingmin, vice-presidente do Comitê Olímpico de Pequim, disse que permitir que Pequim sediasse os Jogos “ajudaria o desenvolvimento dos direitos humanos”. Em um quarto de hotel sujo com as cortinas fechadas, aprendi a verdade por trás da fachada do progresso da China.

Na realidade, a China havia endurecido sua repressão aos dissidentes políticos e religiosos antes dos Jogos. Os praticantes do Falun Gong, uma prática espiritual pacífica que combina meditação com o cultivo das virtudes fundamentais da verdade, compaixão e perseverança, foram brutalmente reprimidos desde 1999, quando o Partido Comunista Chinês (PCC) ficou com medo de que o movimento se tornasse uma força organizada que pudesse ameaçar o Partido. Eu vim a saber que o regime chinês havia descido ao genocídio.

Aqueles que conheci em 2006, alguns ex-prisioneiros de consciência, reformadores e dissidentes, me falaram da perseguição brutal que eles e suas famílias enfrentaram nas mãos do Partido Comunista Chinês. Conversei com Niu Jinping, que havia cumprido dois anos de prisão por praticar o Falun Gong. Sua esposa, Zhang Lianying, ainda estava na prisão e ele estava encarregado de cuidar da filha de dois anos. A última vez que ele viu sua esposa, seu corpo inteiro estava coberto de hematomas devido aos repetidos espancamentos que ela recebeu enquanto os torturadores tentavam fazê-la denunciar o Falun Gong. Após sua libertação da prisão, ela me enviou uma lista de “50 torturas” que os guardas da prisão usavam para tentar fazê-la renunciar ao Falun Gong. O espancamento que ela sofreu foi tão grave que ela entrou em coma enquanto estava na prisão.

O mais terrível é que pessoas confirmaram o que eu só ouvia sussurrar até então, o regime chinês estava realizando a extração força dos órgãos de praticantes do Falun Gong presos, para vendê-los para a crescente indústria de transplante de órgãos. Cao Dong, que também havia sido preso por praticar o Falun Gong, me disse com lágrimas nos olhos que viu o cadáver do seu amigo, um colega praticante, no hospital da prisão com orifícios e lacunas onde os órgãos foram removidos.

No mês seguinte, o ex-parlamentar canadense David Kilgour e o advogado de direitos humanos David Matas publicaram um relatório examinando as alegações da extração forçada de órgãos de praticantes do Falun Gong que haviam sido presos, a primeira investigação do tipo. O relatório concluiu sombriamente que “houve e continua a existir hoje a pilhagem de órgãos em larga escala de praticantes do Falun Gong contra sua vontade”. Um ano depois, Manfred Nowak, relator-especial sobre tortura das Nações Unidas, emitiu um relatório que corroborava os achados de Kilgour e Matas. Ele declarou que: “A extração de órgãos foi infligida a um grande número de praticantes do Falun Gong em uma grande variedade de locais com o objetivo de disponibilizar órgãos para operações de transplante.”

Após minhas reuniões em Pequim, todos aqueles com quem me encontrei foram detidos pelo Partido Comunista Chinês. Alguns desapareceram, outros foram torturados. Naquela época, nenhuma declaração foi feita pelos líderes nacionais europeus, com medo de ofender a crescente superpotência econômica.

Desde então, a atitude do mundo em relação à China mudou. Na preparação para as Olimpíadas de 2008, eu coordenei um boicote internacional aos Jogos, em vista dos repetidos abusos dos direitos humanos na China. Várias figuras de alto nível se juntaram ao boicote. O diretor de cinema norte-americano Steven Spielberg e o príncipe britânico Charles se recusaram a participar da cerimônia, assim como o presidente do Parlamento Europeu, o presidente da Comissão Europeia e o comissário de relações exteriores da União Europeia. O artista chinês de renome internacional Ai Weiwei, que coprojetou o estádio Ninho de Pássaro onde os Jogos Olímpicos ocorreram, expressou seu apoio ao boicote, chamando o regime do seu país de origem de “nojento”.

Eu continuei a fazer campanha por reformas na China. No Parlamento Europeu, os membros adotaram várias resoluções solicitando à China que respeite os direitos humanos e ponha fim à brutal perseguição ao Falun Gong. Fui anfitrião de vários eventos de alto nível para manter o foco nesse problema. Em janeiro de 2013, recebi no Parlamento Enver Tohti, um ex-cirurgião da China que deu um poderoso testemunho descrevendo como ele foi forçado a remover os órgãos de um prisioneiro enquanto este ainda estava vivo.

O Parlamento mantém pressão constante sobre a chefe de política externa da UE, Catherine Ashton, para levantar questões de direitos humanos e diálogos comerciais com a China. De fato, a promoção do comércio e dos direitos humanos não precisa ser mutuamente exclusiva; a Alemanha registrou um crescimento explosivo no comércio com a China na última década, mas também adotou uma abordagem robusta aos direitos humanos.

Os Estados Unidos também se tornaram muito mais críticos em relação à China e seu desrespeito aos direitos humanos. Na véspera do 24º aniversário do Massacre da Praça da Paz Celestial, quando milhares de manifestantes foram brutalmente reprimidos pelo Partido Comunista Chinês, o Departamento de Estado dos EUA emitiu uma declaração pedindo ao governo chinês que acabe com o assédio dos participantes do evento e vindique as vítimas. O Congresso dos EUA também está adotando uma posição mais firme. Antes da visita de Obama à China em junho, o presidente do Comitê de Relações Exteriores, Robert Menendez, escreveu uma carta aberta ao presidente Obama, pedindo-lhe que levantasse a questão dos contínuos abusos de direitos humanos na China, incluindo a perseguição do regime ao Falun Gong.

Palavras duras muitas vezes foram combinadas com ações firmes. No início de 2011, o dissidente chinês cego Chen Guangcheng escapou da prisão domiciliar do Partido Comunista Chinês e viajou para a embaixada dos EUA em Pequim. Para grande desgosto do regime chinês, ele recebeu refúgio na embaixada dos EUA e apoio na sua batalha contra o regime chinês. Um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China criticou o envolvimento dos EUA no caso de Chen, exigindo desculpas e alertando os EUA sobre interferirem novamente nos assuntos domésticos da China de tal maneira. Chen Guangcheng agora vive como homem livre nos EUA com sua esposa e filha, e o vazio das ameaças do regime chinês se tornou aparente.

Para aproveitar a oportunidade do foco na questão dos direitos humanos na China, Chen Guangcheng e eu lançamos uma aliança transatlântica sobre direitos humanos e democracia em Washington e Bruxelas. O Projeto Defendendo as Liberdades, em associação com a Anistia Internacional e a ChinaAid, pede aos membros do Parlamento Europeu e aos congressistas dos EUA que adotem e façam campanha em nome dos prisioneiros de consciência de todo o mundo; vários prisioneiros de consciência chineses notórios estão no lista. Gao Zhisheng, o advogado cristão de direitos humanos que assumiu a causa do Falun Gong em 2005 e que passou muitos anos na prisão, é a minha escolha.

No lançamento da iniciativa em Washington, tive o privilégio de ver novamente meu velho amigo Niu Jinping, que não via desde a nossa reunião inicial no hotel de Pequim em 2006. Como Chen, ele agora está aproveitando a vida como homem livre com sua família nos EUA, mas também continuando sua luta por uma China livre e justa. Sua esposa, Zhang Lianying, aparentemente se recuperou completamente desde os horrores que experimentou nas mãos do regime chinês.

Ao longo da história, não houve um único regime autoritário que não desmoronou no final. O apoio político internacional destacou as rachaduras no sistema de repressão brutal da China. O apoio contínuo e crescente aos assediados, presos e torturados pelo regime os ajudará na luta pelos direitos e liberdades básicos que muitos consideram garantidos. Não devemos vacilar agora.

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