Falun Gong: Uma antiga meditação revivida no mundo moderno

25/12/2017 06:00 Atualizado: 26/12/2017 00:41

Na antiga China, as pessoas acreditavam num poder maior, além do mundo material, diz Frank Zhao, um praticante do Falun Gong da China continental. As pessoas vivam em harmonia com a natureza e acreditavam que o bem seria recompensado com o bem e o mal seria punido.

O Sr. Zhao disse que sempre sentiu desde pequeno que aquilo que os antigos chineses diziam era verdade, mas ele não podia visualizar como alguém poderia combinar os antigos valores com o mundo moderno.

“Eu simplesmente não podia acreditar que quando uma pessoa morria, ela simplesmente desaparecia, por isto tenho muito interesse na teoria do Tao e nos Deuses. Então… eu tenho esta percepção, eu quero harmonizar ambos, viver na sociedade moderna com uma vida moderna e ao mesmo tempo me cultivar.”

O Falun Gong, comenta ele, permite-lhe conciliar estes caminhos aparentemente divergentes. “Você pode viver uma vida normal e ao mesmo tempo ser uma boa pessoa e cultivar e melhorar a si mesmo”, afirmou ele.

O Falun Dafa (“O Grande Caminho da Roda da Lei”), também conhecido como Falun Gong (“Qigong da Roda da Lei”), tem sido descrito de diversas formas, inclusive como uma “prática de cultivo do coração”. No entanto, ela é descrita no website do Falun Dafa como “uma prática de cultivo de alto nível guiada pelas características ou princípios do universo – Verdade, Compaixão e Tolerância.”

Combinando elementos da Escola Buda (compaixão) e da Escola Tao (verdade), o emblema do Falun carrega ambos os símbolos simultaneamente – os símbolos Yin e Yang (também conhecido como símbolo Taichi) da Escola Tao e as srivatsas ou swastikas (conhecidas como wan em chinês) da Escola Buda.

A “prática” envolve quarto posições de exercícios em pé e um quinto exercício em meditação sentada, que se assemelham a outros exercícios de qigong. É o “cultivo”, no entanto, que diferencia o Falun Gong.

“Cultivadores do Falun Dafa se esforçam para cultivar o xinxing [a natureza da mente ou o carácter]”, como diz no website, e, desta forma, harmonizando-se com os três princípios universais.

“Quanto mais alto alguém for capaz de elevar o xinxing, mais profundo são os entendimentos apresentados no Zhuan Falun [o livro principal do Falun Dafa].”

John Deller, porta-voz da Associação do Falun Dafa em Nova Gales do Sul, diz que foram os ensinamentos que realmente o atraíram ao Falun Dafa, quando ele começou a praticar cerca de 10 anos atrás.

Tendo ensinado Tai Chi e artes marciais por mais de 20 anos, o Sr. Deller disse que estava familiarizado com o qigong, mas comenta, “Eu encontrei a universalidade dos princípios – verdade, compaixão e tolerância – mais puros, e isto simplesmente me levou a querer saber mais sobre o Falun Dafa.”

Diagnosticado e tratado pela doença de Hodgkinson, uma forma de câncer virulento, alguns anos antes, o Sr. Deller diz que o Falun Dafa o tem deixado saudável e num estado de mente positivo.

“Eu sou capaz de ficar mais calmo e não reagir às coisas, e de olhar para dentro num conflito ao invés de culpar os outros.”

Segundo o site do Falun Dafa, este possui uma longa história e tem sido ensinado secretamente ao longo das eras passando de um único mestre a um único discípulo.

Foi ensinado ao público pela primeira vez em 1992 pelo Sr. Li Hongzhi (referido pelos praticantes como “Mestre” ou “Professor”) na cidade de Changchun, China. À medida que o Sr. Li palestrava ao redor do país, as pessoas começaram a compartilhar suas experiências individuais e a prática se espalhou rapidamente.

Em 1998, foi estimado que pelo menos 70 milhões de pessoas aderiram à prática apenas na China, diz o website.

Thomas Dodson, hoje residente da Austrália, aprendeu a prática enquanto vivia em Paris há 12 anos. Ele visitou a China no início de 1999, antes da repressão e perseguição iniciadas em julho do mesmo ano, e ficou na cidade de Changchun, uma experiência que ele disse nunca vai esquecer.

“Era incrível na época porque cada família tinha um membro, senão dois, praticando o Falun Gong”, disse ele, observando que Changchun na época tinha uma população em torno de 7 milhões de pessoas.

“No segundo dia em que estive lá, um evento especial foi organizado pelo Ministério do Esporte e mais de 10 mil praticantes se reuniram para demonstrar os exercícios”, disse ele.

O Sr. Dobson disse que havia “locais de prática em todos os lugares”, com algum dos locais tendo duas sessões apenas na parte da manhã, com cerca de 200 participantes em cada sessão.

“Se você fosse um praticante do Falun Gong lá, seria muito respeitado”, comentou ele.

“Ter uma cidade inteira realizando o cultivo pessoal – isto era muito impressionante.”

Jennifer Zeng é autora do livro Witnessing History (Testemunhando a História, ainda sem tradução para o português), um relato exaustivo sobre as torturas que sofreu num campo de trabalho forçados por praticar o Falun Gong.

Hoje, residente da Austrália, a Sra. Zeng diz que todos falavam sobre o Falun Dafa antes da perseguição.

“Você não precisava fazer propaganda; as pessoas estavam realmente entusiasmadas em compartilhar com suas famílias e amigos, com todos que encontrassem, porque estavam animados em descobrir algo tão bom”, disse ela.

A Sra. Zeng, assim como muitos outros que adotaram a prática, experimentaram notáveis benefícios na saúde, o que lhe permitiu levar uma vida normal depois de ter passado anos encamada com hepatite C, algo que ela adquiriu numa transfusão de sangue.

Esta, no entanto, não é a principal razão pela qual ela continua praticando.

“Eu sempre estive procurando pela verdade última do universo. O Falun Dafa respondeu a todas as minhas perguntas em relação à vida.”