Experiências de quase morte: 30 anos de pesquisa – Parte 4

Por Stephanie Lam
03/06/2023 16:33 Atualizado: 03/06/2023 16:40

Esse artigo é o quarto de uma série de cinco artigos sobre experiências de quase morte.

Nos últimos 50 anos, o fenômeno intitulado de Experiência de Quase Morte (EQM) começou a chamar a atenção das pessoas. Pessoas que eram declaradas mortas, ou que chegaram perto da morte, falam de experiências como ter saído de seus corpos, ido a outros reinos, ou encontrado pessoas mortas, desenvolvendo a ideia de que a mente é independente do cérebro.

Por séculos, as pessoas ponderam a respeito da questão mente-cérebro e nunca chegam a nenhuma conclusão. Alguns acreditam que o cérebro e a mente são a mesma coisa, enquanto outros dizem que são duas entidades separadas.

Antes nessa série, exploramos diferentes aspectos das EQMs. Após 30 anos de pesquisa, as descobertas mostram que as EQMs são experiências reais e algo além do entendimento da atual ciência. Mas o que as EQMs nos revelam? O que podemos aprender com elas?

Os pesquisadores de EQM Robert e Suzanne Mays desenvolveram uma teoria para explicar o fenômeno. A teoria, publicada num periódico científico, foi apresentada por Robert Mays na conferência da Associação Internacional de Estudos de Quase Morte (IANDS, no original em inglês) de 2011.

Analisando as características as EQMs, Robert e Suzanne Mays propõem que a mente é uma entidade independente do cérebro e que existe como um campo de energia que pode interagir com neurônios no córtex cerebral, a partir de trocas elétricas. Durante uma EQM, Robert e Suzanne Mays acreditam que a mente sai do cérebro, e quando o experienciador da EQM volta à vida, a mente se une ao cérebro novamente, mas a conexão não é tão forte como antes.

Consistentes com o fenômeno de quase morte e com as pesquisas mais modernas a respeito do cérebro, eles sugerem que a mente é o local onde reside a consciência, mas quando conectada com o corpo é necessária atividade elétrica no cérebro para se estar consciente.

Então, para explicar por que pessoas podem ver-se fora de seus corpos e observarem-se deitados na cama, eles propõem que a mente também assume a forma de um corpo, o que também explica o fenômeno de membros fantasmas, em que pessoas que perderam algum membro ainda podem sentir sua existência.

Para apoiar a teoria de Robert e Suzanne, os pesquisadores relataram o caso de M.G., que não tem seus dedos da mão esquerda desde o nascimento, mas possui o sentido de seus dedos fantasmas. Quando ela “toca” outras pessoas com seus dedos fantasmas, os outros podem sentir o toque. Quando ela toca a parte de trás da cabeça dos outros, ela pode até mesmo provocar imagens em suas mentes.

Houve também um caso em que uma pessoa gravemente ferida num acidente de carro numa noite de nevoeiro relatou sair de seu corpo, voar para uma casa, e pular para cima e para baixo gritando por socorro fora da janela do segundo andar. Um homem que estava no segundo andar ouviu aquele que estava numa EQM e chamou a polícia. Depois que a polícia chegou, o homem relatou ter visto uma névoa na forma de um homem pulando fora da janela.

Em outra ocasião, uma criança experimentando uma EQM deixou seu corpo e ficou perto de um cão num playground, e o cão abanou o rabo, deu um pulo e latiu para ele. Robert propôs que o “corpo-mente” pode ser visível para os cães porque o espectro visual dos cães é diferente do nosso.

A criança também contou que fez cócegas no nariz de uma paciente três vezes, e a cada vez a paciente espirrou.

Robert ainda relatou casos em que essas pessoas relataram ir para o corpo físico de outras pessoas. Num exemplo, um homem tentou cometer suicídio por enforcamento, mas lamentou ter feito isso durante sua EQM, então, ele entrou no corpo de sua esposa para se comunicar com ela e procurar ajuda. Depois que ele fez contato com ela, ela disse, “Oh, meu Deus”, pegou uma faca, e foi direto onde o marido estava para cortar a corda.

Outro caso documentado envolveu George Rodonaia, M.D. e Ph.D. em neuropatologia, que passou por uma EQM sendo declarado morto por três dias. Durante sua EQM, ele experimentou ir para dentro da cabeça de sua esposa e ouvir os pensamentos dela, pensando que ele já estava morto, sobre os homens com quem poderia se encontrar e que poderiam se tornar seus futuros maridos. Sua esposa confirmou que de fato teve esses pensamentos antes de seu marido voltar à vida.

Esta teoria pode explicar os efeitos secundários das EQMs. Se a mente é de fato um campo de energia, que depois de uma EQM não está tão firmemente unido com o cérebro, é possível que isso possa afetar os dispositivos eletrônicos fora do corpo, a sensação de perceber os pensamentos dos outros (telepatia), e outras capacidades paranormais.

Porque as atividades neurais associadas com a consciência estão em sua maioria na substância cinzenta do córtex cerebral, Robert e Suzanne propõem que uma interface para a interação entre a mente e o corpo físico existe lá, especificamente nos dendritos apicais das células piramidais.

Isto está de acordo com a teoria apresentada por David LaBerge e Kasewich Ray do Simon, Rock e Stanley Laboratório de Física Elétrica, publicado no periódico Neural Networks em 2007, que a elevada atividade do dendrito apical sustenta a base neural da consciência.

Até o momento, não temos como saber até que ponto essa teoria é verdadeira. Como Bruce Greyson, M.D. disse na conferência da IANDS, “nós apenas arranhamos a superfície da EQM”. Mas até agora, esta teoria é consistente com os atuais resultados, e é um ponto de partida para uma interpretação científica dos fenômenos das EQMs.

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