Educação na China em crise orçamentária

29/03/2011 00:00 Atualizado: 29/03/2011 00:00

Alunos da escola elementar numa sala de aula em Hefei, Anhui, China em setembro de 2010. De acordo com um artigo do China Economic Weekly de 8 de março, os gastos em educação foram reduzidos em 1.6 trilhões de yuanes (243 bilhões de dólares) entre 2000 e 2009. (AFP/Getty Images)

Educadores alertam que muitas escolas “não têm sequer o que é preciso para ser uma escola”

O orçamento para a educação na China nunca atingiu a meta do governo de 4% do Produto Interno Bruto (PIB). Em 2004, os gastos em educação de todo o mundo tiveram uma média de 4,7% do PIB, mas neste mesmo ano a China gastou em educação 2,79% do seu PIB.

O China Economic Weekly analisou as informações publicadas pela Secretaria da Fazenda do Ministério da Educação em seu Livro Estatístico da China de 2009; e o Departamento Nacional de Estatística revelou que as despesas de educação na China tem sido inferiores a 4% do PIB entre 2000 e 2009.

O Planejamento da Reforma Educativa e Desenvolvimento da China, publicado em 1993, recomendou que as despesas de educação deveriam ser aumentadas gradualmente para 4% do PIB, chegando a este nível em 2000.

No entanto, num relatório de 8 de março, o China Economic Weekly revelou que se a China tivesse gasto anualmente 4% do PIB em educação entre 2000 e 2009, teriam sido injetados 243 bilhões de dólares a mais no sistema de ensino durante estes 10 anos.

Em contraste, em 2010, a China gastou cerca de 3 bilhões de yuanes (455 bilhões de dólares) para construir uma ferrovia de alta velocidade, segundo informou o Shanghai Securities News em abril de 2010. O Ministério das Ferrovias investiu 152 bilhões em ferrovias de alta velocidade em 2009. No final de 2009, o ministério estava endividado em 197 bilhões de dólares.

O economista He Qinglian comenta que o sistema educativo chinês tornou-se uma vergonha. Taiwan gasta cerca de 10% do seu PIB em educação. Mesmo a nação africana de Gana gasta uma porcentagem maior do PIB em educação do que China.

As autoridades chinesas alegam dificuldades financeiras

Um exemplo de algumas reações online a estas notícias mostram uma forte rejeição a política educacional do regime.

“Agate”, nativo de Baoding e que trabalha na Primeira Escola Secundária da cidade de Gaobeidian, Hebei, disse num comentário online: “Um professor em seus 40 faz 1.300 yuanes (197 dólares), menos que um trabalhador imigrante (3.500 yuanes, 530 dólares) por mês. No futuro, quem desejará se tornar um professor?”

Uma pessoa da cidade de Qingdao comentou: “Não admira que muitos não possam pagar para ir à escola, ou porque tantas escolas desabaram e tantas crianças não têm dinheiro para ir para a escola primária ou frequentar a universidade. O governo deve ao sistema de ensino 1,6 bilhões de yuanes!”

Outro internauta da cidade de Simao sob o pseudônimo de “Fonte da Vida” disse: “Eu estou furioso! Eu me perguntava por que os professores são tão pobres. Tenho trabalhado por 16 anos como professor de bacharelado e me pagam 2.200 yuanes (333 dólares) por mês. Como eu posso sobreviver?”

“Fanfuduan”, oriundo da cidade de Guangyuan disse: “Olhe para a escola de nossa aldeia; os alunos nem sequer têm um laboratório para fazer experiências, isto sem mencionar as salas de multimídia. Os escritórios regionais de educação estão sempre nos dizendo ‘[vocês] têm de entender que estamos passando por dificuldades financeiras aqui…'”

De acordo com a Comissão Nacional de Trabalho para Mulheres e Crianças e as informações publicadas pela Federação de Todas as Mulheres Chinesas em junho de 2010, existem 19,82 milhões de jovens imigrantes menores de 18 anos na China, e a taxa de abandono destas crianças é de 9,3%. Além disto, metade destas crianças em idade escolar deixam as aulas cronicamente.

A Educação é um fardo familiar

Num fórum na Universidade de Pequim em 2009, o professor Yuan Liansheng, da Escola de Administração da Universidade Normal de Pequim, confirmou que nas áreas rurais, os salários dos professores e a qualidade da educação são baixos.

“Em áreas tecnologicamente mais avançadas, tais como Guangdong, ainda há alunos que se sentam em edifícios oscilantes construídos dezenas de anos atrás. Eu li num jornal que uma escola no oeste estava sem refeitório, centenas de estudantes tinham de almoçar no pátio de recreação. As áreas rurais têm pouco financiamento para a educação e para os salários dos professores. Muitas escolas não têm sequer o que é preciso para ser uma escola.”

“Há uma enorme lacuna em nossa educação”, disse o professor Yuan. Segundo ele, a dívida está na casa dos bilhões de yuanes. “A imensa dívida indica que não há financiamentos suficientes e adequados no orçamento do governo.”

O Professor Yuan disse que os encargos financeiros sobre a educação para cada família é superior à média internacional. “Nosso governo é responsável por 65% do total dos custos da educação. Entretanto, na maioria dos países, incluindo a Índia, o governo paga mais de 75%, ou até mesmo cerca de 80% dos custos em educação”.

“O montante que o governo gasta em educação satisfaz apenas as necessidades básicas da educação deste país. O sistema de ensino depende consideravelmente das famílias dos alunos, criando maior pressão econômica sobre a maioria deles”, concluiu Yuan.