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A verdadeira história por trás da lenda: Jornada para o Oeste

26/12/2022

Uma das peças de dança da Companhia de Artes Shen Yun é chamada “O Rei Macaco leva a melhor sobre Zhu Bajie”, uma furtiva e elegante espiada nos personagens e aventuras da Jornada para o Oeste, um conto clássico chinês. Apesar da peça de dança levar apenas alguns minutos no palco, ela delineia-se a partir de uma longa e complexa história de fé, coragem e redenção.

A Jornada para o Oeste é um dos principais pilares da literatura chinesa. Para enriquecer nossa compreensão e apreciação do espetáculo, devemos voltar ao contexto cultural e histórico que envolve a Jornada para o Oeste.

Escrito durante a Dinastia Ming (século 16), Jornada para o Oeste é um dos quatro grandes romances clássicos da literatura chinesa, sendo os outros, Três Reinos, Foras da lei do pântano e Sonho da Câmara Vermelha.

Desde sua publicação, tem sido e continua a ser a história mais popular contada nos lares chineses. Inúmeras séries de televisão, roteiros e óperas foram adaptados a partir do texto original. Empreendimentos artísticos inteiros prosperaram nesse único trabalho, não diferente de qualquer peça principal de Shakespeare. Alguns atores de ópera chinesa fazem toda a sua carreira baseada na atuação de um único personagem do romance.

Sinopse

Passado durante a Dinastia Tang na China, Jornada para o Oeste descreve as aventuras de um monge e seus três discípulos, um macaco, um porco, e um ogro, em seu caminho para a Índia, para encontrar e trazer de volta as escrituras sagradas budistas. O macaco e o porco fornecem boa parte da ação humorística do romance. O terceiro discípulo, o ogro chamado Sha Wujing, é uma figura confiável, embora de personalidade discreta. Ele serve como um contraste para as travessuras do macaco e de Zhu Bajie (o porco).

Enquanto o grupo atravessa o traiçoeiro caminho para o Oeste, eles encontram provações e tribulações que testam sua força espiritual. Sua busca comum para obter as escrituras, enquanto serve como o enredo principal, é também uma metáfora da busca pessoal de cada personagem pela iluminação.

Ao longo do caminho, cada discípulo enfrenta desafios que se aproveitam de seus defeitos. Por exemplo, o competitivo e violento macaco é frequentemente desafiado por inimigos formidáveis, enquanto Bajie, preguiçoso e mulherengo, tem muitos encontros com a tentação sexual. É um caminho cheio de perigos, com adversários humanos e místicos, em que muitas vezes correm risco de morte.

Em sua jornada, o quarteto enfrenta uma série de 81 tribulações, cada uma testando sua força de vontade e fé. Só quando atravessam com sucesso cada tribulação, eles chegam ao seu destino e, consequentemente, a realização do status celeste, de acordo com seus méritos individuais.

O Rei Macaco

O personagem favorito do livro, o Rei Macaco, ou Sun Wukong, é o discípulo mais capaz que viaja com o monge Xuanzang. Ele é desobediente, mas leal, infantil, mas engenhoso, e as páginas estão cheias de suas façanhas.

Sun Wukong nasceu de uma pedra e depois ganhou poderes sobrenaturais por meio de práticas taoistas. Seus poderes são numerosos, ele pode se transformar em praticamente qualquer objeto ou pessoa usando um de seus 72 feitiços, multiplicar-se assoprando um de seus fios de cabelo, comandar os elementos, e dar saltos no ar de até 54 quilômetros de distância de uma só vez.

Por ser muito talentoso, muitas vezes Sun Wukong se deixa levar pelo seu ego. Por causa dos problemas que causa na Terra, o governante do céu, o Imperador de Jade, recruta-o para trabalhar no estábulo celeste, na esperança de que a posição melhore seu comportamento. No entanto, ao invés de aceitar a posição, Sun Wukong sente seu orgulho ferido e proclama-se igual ao céu. Ele rouba vários elixires da imortalidade do palácio real celeste e volta ao seu reino na Terra para planejar uma rebelião contra o Imperador de Jade e suas forças.

Depois de lutar sozinho, Sun Wukong é derrotado pelo exército de milhares de tropas do céu. Ele é encurralado por um conjunto de forças budistas e taoistas e é mantido num caldeirão para enfrentar seu destino final, sua destruição. Mas ao invés de ser destruído, ele surge do caldeirão, mais vivo e mais poderoso do que nunca. Sem outras opções, o Imperador de Jade apela ao Buda, que sela o macaco insubordinado numa montanha por cinco séculos.

Cinco séculos depois, a Bodisatva Guanyin anuncia que é hora de alguém trazer as escrituras budistas para a China. Ela nomeia o monge Xuanzang para liderar a peregrinação e procurar discípulos que possam protegê-lo na jornada. Ao ouvir a notícia, Sun Wukong se ofereceu para ir, em troca de sua liberdade.

Zhu Bajie

Como Sun Wukong, Zhu Bajie, também chamado de Zhu Wuneng, aceita juntar-se a jornada à Índia para pagar por seus crimes. Quando Sun Wukong e Xuanzang encontram Bajie pela primeira vez, eles o encontram ocupado mantendo uma jovem mulher como refém, enquanto exige do pai dela que a dê em casamento. Depois de lutar com o macaco, Bajie desiste do plano e se junta à peregrinação.

Um ex-marechal celeste, Bajie foi lançado à Terra por tentar seduzir a deusa da lua, que relatou seu mal comportamento ao Imperador de Jade. Em sua encarnação na Terra, ele renasceu como meio homem meio porco.

Zhu Bajie tipifica nossa definição moderna do termo “porco”, ele é preguiçoso, comilão e um mulherengo sem vergonha. Em comparação com o macaco, ele é muito menos poderoso, sendo capaz de apenas 36 transformações, enquanto Sun Wukong tem 72. Desta forma, ele está sempre com ciúmes de Sun Wukong e tenta sabotá-lo.

Apesar de profundamente falho, Zhu Bajie é leal ao seu mestre e possui habilidades que Sun Wukong não possui, tais como a capacidade de combater embaixo d’água. Ele é descrito como carregando um ancinho celeste de nove dentes que pesa mais de cinco toneladas.

No final do romance, após o retorno dos peregrinos à China com as escrituras budistas, cada discípulo atinge a iluminação e o status condizente com seu caráter. O monge Xuanzang e Sun Wukong alcançam o status de Buda, e Sha Wujing se torna um Arhat. Zhu Wuneng, porém, nunca aprendeu totalmente a ser livre de seus desejos. No final da jornada, ele é recompensado por seus serviços com a posição de limpador de altar, ou comedor das sobras de oferendas.

 

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